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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2012 Janice Maynard. Todos os direitos reservados.

IMPOSSÍVEL RESISTIR, N.º 1119 - Março 2013

Título original: Impossible to Resist

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

Publicado em português em 2013

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® ™. Harlequin, logotipo Harlequin e Desejo são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-2568-0

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo Um

 

Jacob Wolff já tinha visto muitas mulheres nuas na vida. Conhecia o corpo feminino por dentro e por fora. Afinal de contas, era médico.

Mas, quando Ariel Dane entrou pelo consultório adentro, totalmente vestida, Jacob perdeu a sensatez e teve um impulso como homem e não como médico.

– Pode sentar-se, menina Dane – convidou ele, refugiando-se atrás da sua secretária.

Ela fingiu que não tinha ouvido e, num passo rápido e nervoso, aproximou-se da janela que dava para o bosque, ficando de costas para ele.

Jacob aproveitou a oportunidade para observá-la. Estava magra, talvez até demasiado. Sem dúvida que era por influência da moda que imperava em Hollywood. Ariel Dane era uma estrela. E, ao vê-la em carne e osso pela primeira vez, compreendeu o porquê. Ela era extraordinária. Etérea.

Tinha o cabelo apanhado num simples rabo de cavalo que lhe realçava as bonitas feições do rosto. Ele sentou-se na cadeira, um pouco inquieto. O silêncio não o aborrecia. Não se importava de esperar que ela começasse a falar. O que o atormentava era a sua ereção. Há imensos anos que não estava com uma mulher e já tinha aprendido a vencer o desejo sexual e raramente deixava que o instinto tomasse conta de si mesmo. No entanto, a presença daquela musa sexual do grande ecrã, fê-lo reconhecer que também era humano.

– Como é que obteve o meu contacto, menina Dane? – perguntou ele, quebrando com o silêncio.

Ela olhou para ele, disponibilizando-se a responder.

– Conhece o Jeremy Vargas, não é verdade? O ator.

– Pouco. A minha cunhada Olivia é que é amiga dele.

Ariel anuiu e voltou a olhar para o bosque que se via da janela.

– Viu-me numa festa há pouco tempo e disse-me que tinha um aspeto de m... – disse ela, interrompendo-se inesperadamente. Olhou para ele olhos nos olhos – Digamos que o que ele me disse não foi muito agradável. Aconselhou-me a marcar uma consulta consigo e fez questão de me dar o seu contato.

– Mas também existem médicos em Hollywood.

– O Jeremy diz que você é muito discreto devido ao que tem sofrido com a imprensa ao longo destes anos por causa da sua família. Por isso, aconselhou-me a vir aqui. É mesmo discreto? A imprensa cor-de-rosa daria bom dinheiro para ter acesso aos meus exames médicos. Não tenho mais ninguém a quem recorrer e não confio em ninguém.

– Felizmente, não preciso do seu dinheiro, menina Dane. Eu e a minha família desprezamos a imprensa cor-de-rosa. De qualquer forma não se preocupe, o seu segredo está bem guardado comigo.

– Obrigada – agradeceu ela deixando escapar um suave suspiro. – Não imagina o que isso significa para mim – acrescentou ela, cruzando os braços.

O vestido chegava-lhe aos joelhos, o que deixava ver as suas pernas intermináveis e elegantes. O tecido fino do vestido ajustava-se aos seus pequenos seios e deixava transparecer o contorno dos seus mamilos. O mais provável era que ela não usasse sutiã, pensou Jacob, com a boca seca.

– Devo avisá-la, menina Dane, que não tenho muita experiência com distúrbios alimentares. Mas, se preferir, posso aconselhar-lhe uma clínica especializada.

– Bom, parece que o meu aspeto deve de ser pior do que eu imagino – disse ela, surpreendida.

– Você é magnífica – observou ele. – Mas é óbvio que não está bem, que está doente. Um médico como eu apercebe-se dessas situações.

Ela olhou-o nos olhos com a cabeça bem levantada.

– Devoro batidos, batatas fritas e pizzas, e o meu metabolismo funciona na perfeição. Não gosto de vomitar. Não tenho nenhuma desordem alimentar – afirmou ela, esboçando um sorriso quase implacável. – Coloque-me à frente um prato de comida de plástico e poderá confirmar que estou a falar a sério.

Jacob sentiu-se aliviado. A anorexia e a bulimia eram doenças muito perigosas. Além disso, não era a especialidade dele.

Então, ocorreu-lhe outra ideia. Seria consumidora de drogas? A sua reputação de adita a festas era bem conhecida por toda a gente, inclusive por um homem que vivia prendido pelos seus encantos. Mas Jacob não era tolo. Sabia perfeitamente que a imprensa gostava de exagerar, no bom e no mau sentido. De qualquer modo, dar-lhe-ia o benefício da dúvida.

– É verdade, quer comer alguma coisa? Posso preparar-lhe alguma coisa rápida ou chamar alguém que nos possa trazer comida.

– Estou bem – afirmou ela e prendeu o olhar nas fotos que estavam no consultório. Fixou-se num retrato emoldurado na mesa. – Quem são estas pessoas?

– Eu e os meus irmãos, quando éramos adolescentes – respondeu ele. Aquela foto era uma das preferidas dele. – O nosso pai levou-nos a fazer rafting no rio Colorado. Eu lembro-me perfeitamente, foram as nossas únicas férias todos juntos. A nossa mãe e a nossa tia foram sequestradas e assassinadas quando éramos pequenos e o meu pai sempre teve medo que acontecesse o mesmo connosco.

– Lamento imenso – sussurrou ela com um tom sincero. – Eu tenho ouvido algumas coisas sobre o sofrimento da vossa família. Mas, ao conhecer-te, fico ainda mais impressionada.

– Isto foi há imenso tempo – observou ele, encolhendo os ombros. – Quase toda a gente conhece a nossa história. Que idade tem?

– Vinte e dois anos.

Credo. Nem sequer ainda tinha nascido aquando da grande tragédia dos Wolff.

– Enviei-lhe essa informação por correio eletrónico – recordou-lhe ela, apontando para ele verificar. – Num relatório muito completo de sete páginas.

– Eu não esperava vê-la tão cedo – confessou ele. Recebera a mensagem na noite anterior. – E não tive tempo de a ler – acrescentou. – Temos mais em comum do que pensa, menina Dane. A minha família é perseguida pelos paparazzi há anos, desde que a minha mãe e a minha tia foram assassinadas. Os assassinos nunca foram apanhados e, por isso, de vez em quando, a história volta à tona.

– Lamento – repetiu ela. – Também sei que devia ter esperado que me chamasse para a consulta, mas não tenho muito tempo.

– Já tem algum diagnóstico? – perguntou ele, preso a um medo irracional.

Ariel anuiu, incapaz de parar de andar às voltas pelo consultório. Ele ouviu-a ao mesmo tempo procurava sinais de uma doença terminal. Apesar de ela estar muito frágil, estava com uma boa cor e não parecia que o cancro tivesse deixado impressões no corpo dela.

Mas ao pensar no assunto, o médico encolheu-se de medo e tentou manter as suas lembranças no passado.

– Tem algum vício?

Ela ficou estupefacta. Aproximou-se dele devagar e ele deixou-se escorregar pela cadeira.

– Vai sempre direto ao assunto, não é?

Separados só por uns centímetros, ele conseguia distinguir-lhe a cor dos olhos. A beleza dela era clássica, invulgar. Infelizmente, a maioria dos realizadores de cinema não sabia aproveitar aquela imagem e convertiam-na num ídolo sexual para os seus sucessos de bilheteira.

– Não a posso ajudar se não me contar a verdade.

Sem dar resposta, Ariel levantou-se e começou a andar às voltas no consultório novamente.

– Porque seguiu medicina?

Jacob engoliu em seco, contendo-se para não a obrigar a sentar-se e poder, assim, cheirar-lhe o perfume.

– Quando mataram a minha mãe, perguntei ao meu pai porque é que os médicos não fizeram nada. Eu era pequeno e não compreendia que tinha morrido de imediato por causa de uma bala e o meu pai disse-me apenas que ninguém teria conseguido salvá-la.

– E acreditou? – adivinhou ela com um olhar sensível.

– Era uma criança – afirmou ele, encolhendo os ombros. – Nesse mesmo momento, decidi que queria ser médico para que outras pessoas não tivessem de sofrer o que nós sofremos.

– Que bonito.

– Mas iludido.

– Não pode negar que é um bom médico.

– Os médicos não são deuses, apesar do que alguns dos meus colegas tentam transparecer.

– Se tem tantas dúvidas da sua profissão, porque continua a exercê-la?

– Sei bem o que é não ter vida privada e o que é o mundo inteiro especular sobre nós e sobre as pessoas que estão à nossa volta. Por isso, quando posso, ajudo as pessoas que não têm possibilidades financeiras para receber cuidados médicos. Quando não estou em consulta, a minha paixão é fazer investigação sobre a leucemia. Porque tenho tempo e dinheiro para isso.

– Porquê a leucemia?

– Quando tinha sete anos, o meu melhor amigo era filho de um homem que trabalhava nos estábulos. Ele chamava-se Eddie. Diagnosticaram-lhe leucemia e, apesar do meu tio e do meu pai o terem levado aos melhores médicos e terem pagado o tratamento dele, ele morreu com oito anos.

– É um gesto admirável.

– Adoro o meu trabalho – reconheceu ele.

– E qual é a questão com as pessoas pobres e desfavorecidas?

– A família Wolff faz grandes doações aos Médicos sem Fronteiras. Eu e o meu irmão Kieran construímos várias clínicas aqui e no estrangeiro. Nós não viramos as costas aos mais necessitados, por isso não tem de se sentir mal com o facto de receber uma atenção médica privilegiada.

– Demasiado tarde – ela esboçou um sorriso. – Sou uma pessoa muito malcriada, já percebeu? – avisou com amargura.

– Custa-lhe o constante assédio por parte da imprensa?

– Sim. Já devia estar habituada ao fim de tantos anos – disse ela, nervosa, secando as lágrimas que lhe caíam pelo rosto com as mãos.

– Sente-se, menina Dane, por favor – ofereceu ele, estendendo-lhe a caixa de lenços de papel.

– Chame-me Ariel – disse ela e sentou-se.

Jacob tentou não olhar para ela enquanto a saia lhe subia um pouco, mostrando aquelas pernas perfeitas.

– É um nome muito bonito. Gosta do seu trabalho?

– Não existe um trabalho perfeito, doutor Wolff. E você devia saber isso.

– Tem razão – reconheceu ele, recostando-se na cadeira, enquanto perguntava a si próprio se conseguiria prestar cuidados médicos à mulher que estava à sua frente. Por momentos, só conseguiu pensar no sabor que teriam aqueles lábios perfeitos. – Vai dizer-me porque veio à Montanha Wolff?

– Fale-me deste lugar – pediu ela. – A casa principal parece um castelo.

– É o lugar onde crescemos.

– É bastante impressionante. Está rodeado por um bosque selvagem fabuloso. A estrada mais próxima fica a muitos quilómetros de distância. Não é mau.

– Foi uma prisão para nós – admitiu ele, mordendo a língua. Não tinha motivos para partilhar os seus sentimentos com uma paciente. – Acho que devemos concentrar-nos em si, Ariel. E pode tratar-me por Jacob.

– E se eu preferir tratá-lo por doutor Wolff?

– Pensava que as pessoas do cinema fugiam desses formalismos – observou ele, frustrado consigo mesmo pela excitação que sentia.

– Prefiro manter a distância com um homem que me pode ver nua.

Jacob engoliu novamente em seco.

– Acho que fizeste uma viagem perdida, Ariel. Não te posso ajudar.

– Ainda não te disse qual é o problema – afirmou ela, olhando para ele com desconfiança.

– Vais dizer-me ou não? – perguntou ele.

– Porque estás aborrecido?

– Não estou aborrecido. Estou ocupado. Estava a trabalhar num projeto quando chegaste.

– A maioria dos homens arranja tempo para mim.

– Pensava que estavas à procura de um médico, não de um homem – lembrou-lhe ele.

– Talvez até precise dos dois.

– Acho que não nos estamos a entender, Ariel. Vais dizer-me porque vieste aqui?

Ela corou. Abanou a cabeça num gesto de derrota e desistência. Estaria a representar para o convencer? perguntou-se ele.

– Ariel? – perguntou Jacob, repreendendo-se a si próprio em silêncio por ser incapaz de manobrar a conversa. Mas aquela mulher era demasiado bonita, parecia ter sido feita para deixar qualquer homem louco.

– Fala comigo. O que tiveres para dizer não vai sair deste consultório, mesmo que não seja eu a tratar-te. Prometo.

Ela humedeceu os lábios com a ponta da língua e levantou a cabeça.

– Preciso de contratar-te durante os próximos dois meses.

– Como teu médico pessoal? – perguntou ele, sem compreender.

– Não. Como meu namorado.

 

 

Ariel sentiu-se envergonhada. Fora demasiado direta. Mas havia qualquer coisa em Jacob Wolff que a desequilibrava.

Por um lado, não se parecia nada com o médico que ela imaginara. Esperara encontrar um quarentão de bata branca e de óculos, um ombro em que pudesse procurar consolo.

Em vez disso, Jacob Wolff era jovem, muito atraente e deixava-a muito nervosa. Os olhos cinzentos dele pareciam ver através dela.

Tinha o cabelo castanho, bem cortado. Usava um casaco feito à medida que lhe realçava os ombros largos. Tinha o ventre plano e os músculos eram fortes.

Ariel passava a vida rodeada de homens bonitos com abdominais de ginásio. Mas Jacob Wolff superava a maioria dos homens que ela conhecia. A sua calma, a sua segurança e a sua intensidade tornavam-no irresistível.

Nesse momento, no entanto, ele não parecia muito contente com a situação. Jacob franziu a testa e o corpo dele estava tenso, como se desejasse que aquela consulta terminasse o mais rapidamente possível.

– Desculpa, mas não estou a perceber. Teu namorado? – perguntou ele.

– Pronto, o termo «namorado» é um pouco infantil – admitiu ela, corando. – E tu és um homem maduro.

– Queres dizer velho? – perguntou ele. – Bom, sei perfeitamente que estou a entrar na casa dos trinta, enquanto tu ainda és uma menina.

– Não me fales como se fosses o meu pai – defendeu-se ela. – Não sou ingénua. Em Hollywood, namorisca-se com os meninos para desanuviar. Tive de crescer depressa.

– Pareces ter uns dezasseis anos.

– Mas não tenho. Ninguém ia duvidar que somos um casal. A minha mãe diz que por dentro sou muito velha.

– Estás a afastar-te do tema. E para que precisas de um namorado? Não andas a sair com um desses rapazes famosos?

– Foi apenas uma foto. Surpreende-me que a tenhas visto – comentou ela com curiosidade.

– Posso viver como um eremita mas até pessoas como eu sabem o que é a internet e tu estás nas notícias todos os dias. Não sabias?

– Não vejo as notícias – afirmou ela com um sorriso sedutor.

– Surpreende-me – respondeu ele e recostou-se novamente na cadeira, esfregando as mãos. – A tua sorte é que não cobro à hora. E não ficas muito bem no papel de paciente.

– E tu ias passar por um péssimo namorado.

Ele encolheu os ombros.

– Já te cansaste de mim? – perguntou ele, fingindo um longo suspiro. – É a história da minha vida.

– Não acredito. Não imagino nenhuma mulher a dar-te para trás.

Jacob fez um ar expressivo e olhou para o relógio.

– Sê sincera comigo ou vai-te embora, Ariel.

Ela corou novamente ante a rapidez dele.

– Estou doente – disse Ariel baixinho, a pensar que fizera a viagem em vão. Jacob Wolff não era o tipo de homem que se deixava manipular pelos encantos femininos, pensou ela.

Ele olhou para ela com desconfiança.

– É uma piada? Sinto-me como se estivéssemos a representar uma peça de teatro em que eu não conheço o guião.

– A verdade é que me intimidas bastante. Não é suposto os médicos serem atentos e compreensivos? – perguntou ela, lançando um sensual sorriso.

– Não estamos na cama, Ariel. Continua a falar – insistiu ele. – Explica-te.

– É verdade – sussurrou ela, estremecendo pelo modo como ele pronunciara a palavra cama. – Estou doente. Por isso é que preciso que sejas o meu namorado.

Pela voz mansa dela, apercebeu-se que Ariel estava prestes a derrubá-lo.

– Começa pelo princípio. Não te vou julgar nem interromper, prometo. Quero ajudar-te, Ariel. Podes confiar em mim.

O consultório ficou, de repente, completamente em silêncio. Sentindo-se sufocada, Ariel quis abrir a janela para deixar entrar ar fresco, juntamente com os sons do bosque. Mas conteve-se.