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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Emilie Rose Cunningham

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

As regras da sedução, n.º 2131 - novembro 2016

Título original: The Playboy’s Passionate Pursuit

Publicada originalmente por Silhouette® Books

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9209-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Se gostou deste livro…

Prólogo

 

Na guerra, não há soldados ilesos.

José Narosky

 

9 de Setembro de 1971

 

Preacher deitou-se na cama, com as mãos na nuca, a olhar para o tecto por cima da sua cabeça. Apesar de já passar da meia-noite e de estar estourado, depois de um dia a fazer a patrulha, não conseguia dormir.

À distância, chegou-lhe o som das bombas. Mais ao perto, ouvia roncar.

Olhou para a cama do lado e pensou dar-lhe um pontapé para dizer ao seu companheiro que se voltasse para o outro lado… mas decidiu não o fazer. Que ele não conseguisse dormir não implicava que Eddie «Bala», tivesse que ficar acordado.

Eddie «Bala». Preacher sorriu perante a ironia do nome. Eddie era o tipo mais lento do esquadrão. Falava devagar, caminhava devagar. Mas a alcunha que lhe tinham posto no campo de recrutamento permanecera com ele. Tal como o seu, Preacher.

O seu nome verdadeiro era Vincent Donnelly, mas há muito tempo que ninguém o tratava assim. Era provável que já nem respondesse se alguém o chamasse pelo nome próprio.

A alcunha não fora escolha sua, mas preferia-a a «Cobarde», que era como alguns dos seus companheiros lhe chamavam nas costas. Não gostava da palavra nem do que ela significava. Ele não era um cobarde. Mas custava-lhe a aceitar a ideia de matar outro ser humano.

Sabendo que não conseguiria dormir, levantou-se da cama, esperando que um passeio lhe silenciasse os pensamentos. Uma vez na rua, parou para olhar à sua volta. Do outro lado da cerca viu uma sombra na vigia e dirigiu-se para lá, disposto a conversar com quem estivesse de guarda.

Quando se aproximou, ouviu o clique metálico de um fuzil.

– Sou eu, o Preacher.

– Já imaginava que fosses tu.

Reconhecendo a voz de Pops, o capitão, Preacher aproximou-se e sentou-se ao seu lado.

– Uma noite tranquila?

Pops disse que sim com a cabeça, sem deixar de olhar para o campo coberto de mato que se estendia a oeste do acampamento.

– Ouvi qualquer coisa há momentos atrás. Pensei que poderíamos ter companhia, mas não voltei a ouvir nada desde então.

– Podia ser um animal. Vimos uns cães selvagens esta tarde quando vínhamos para aqui.

– É possível.

Ao perceber o tom de dúvida na voz de Pops, Preacher olhou fixamente para ele.

– Achas que anda alguém por aí?

O seu companheiro levantou um ombro, mas manteve o olhar fixo no mato que tinham à frente.

– É melhor estar preparado para isso do que deixar que nos apanhem desprevenidos.

Preacher assentiu solenemente e ficaram um longo momento em silêncio antes de Pops olhar para ele de novo.

– Continuas com insónias?

Envergonhado por aquilo que alguns podiam considerar uma fraqueza, Preacher inclinou a cabeça.

– Sim. Não consigo controlar as vozes que estão dentro da minha cabeça.

– As vozes?

– Sim, é como se os dois lados do meu cérebro mantivessem uma conversa…

– Já experimentaste mandá-las calar? – brincou Pops.

Rindo, Preacher negou com a cabeça.

– Não, isso ainda não tentei.

– Experimenta. Eu, quando me deito na cama, fecho os olhos e penso na minha casa, na minha mulher ao meu lado… essas imagens tranquilizam-me bastante.

– A mim não me serve de nada. Quando penso na minha casa ainda é pior. A Karen estará bem sem mim? Já terá caído o primeiro dente ao Vince?

Pops passou a espingarda para a mão esquerda e passou o outro braço pelos ombros de Preacher.

– Preocupas-te demais, homem. Tens de aprender a esquecer tudo. Acredita, o teu filho vai sobreviver à queda do seu primeiro dente, tal como nós todos sobrevivemos. E confia na tua mulher. Tenho a certeza de que é capaz de seguir em frente mesmo sem ti ao seu lado. Ela é capaz, não é?

– Claro que sim. A Karen parece frágil, mas é muito dura. E Vince… bom, o menino é feito da mesma massa que ela – Preacher suspirou. – Contei-te que está a começar a sair sozinho do berço? A Karen disse-me isso na sua última carta.

– Daqui a nada já está a conduzir – brincou Pops.

– Vá lá, não me ponhas essas ideias na cabeça. Eu já me preocupo mais do que o suficiente.

Com um sorriso, o capitão levantou-se para esticar as pernas.

– Tenho que ir à casa de banho. Importas-te de guardar o posto por mim?

Preacher agarrou na espingarda que lhe estendia.

– Não há problema. De qualquer forma, também não consigo dormir…

Quando Pops se afastou, deixou a espingarda apoiada à parede e começou a vigiar o mato à sua frente, aguçando o ouvido. Tinha feito uma primeira inspecção e começava uma segunda quando ouviu um estalido nas suas costas.

Levantou-se de um salto, colocou a espingarda em posição, a culatra apoiada no ombro, o cano apontado na direcção do ruído e esperou.

Depois do que lhe pareceu uma eternidade, ouviu algo parecido com um galho a partir-se. Aquele ruído era como um trovão naquele silêncio. Afirmando para si mesmo que, seguramente, seria Pops, Preacher andou para a frente. Queria chamar o capitão, verificar que era ele quem se aproximava, mas o treino mostrara-lhe o perigo de denunciar a sua posição a um possível inimigo.

Um suor frio cobria-lhe a testa e o lábio superior. Preacher parou um momento para limpar o suor do rosto com o braço e depois continuou a andar. Quando chegou à latrina, apoiou as costas na cerca de bambu que a rodeava e esperou, de ouvido atento, com a espingarda segura contra o peito. Dez segundos. Vinte. O suor caía-lhe pelo rosto e ensopava-lhe a camisa. Trinta segundos. Quarenta.

Movendo-se devagar, inclinou-se para ver a entrada da latrina…

O sangue gelou-lhe nas veias ao ver a cena que tinha à sua frente: Pops estava deitado no chão, imóvel como um morto, enquanto um vietcong, vestido com a tradicional farda preta, estava sentado sobre ele, com uma mão levantada. A luz da lua reflectia-se na folha da faca que brandia…

Preacher abriu a boca para gritar-lhe que parasse, que soltasse Pops. Mas não saiu som algum. Paralisado pelo medo, observou, como se fosse em câmara lenta, a mão a baixar e a lâmina que se dirigida ao peito do capitão…

No seu cérebro começaram de novo as vozes. Uma das vozes era a sua própria e a outra a de um velho agricultor que os convidara, a ele e aos seus companheiros, para um copo num bar do Texas, antes de apanharem o avião que os levaria ao Vietname.

– Vocês têm medo? – tinha-lhes perguntado.

– Eu sim – admitiu Preacher. – Nunca matei um homem. Não sei se conseguirei fazê-lo.

O sorriso do agricultor estava cheio de compreensão e piscou-lhe o olho como um pai faria ao seu filho.

– Calculo que te seja mais fácil quando vires os vietcongs começarem aos tiros.

Mas estava errado, pensou Preacher enquanto via descer a folha da faca, aproximando-se do peito de Pops. Pops, o seu capitão, o homem que o treinara, que o defendera quando os outros lhe chamavam cobarde, estava prestes a morrer e ele não conseguia apertar o gatilho para o salvar.

Não podia deixá-lo morrer, pensou, desesperado. Não ali, daquela forma. Tinha uma mulher à sua espera em casa, um filho a caminho…

Apertando os dentes, colocou ao ombro a culatra da espingarda e apontou. A cabeça do vietcong estava na mira da arma. Mas, por muito que quisesse salvar a vida do capitão, não era capaz de apertar o gatilho.

Uma raiva incontrolável começou a crescer no seu interior, como um inferno vermelho que lhe queimava o sangue. Agarrando na espingarda, Preacher abriu a boca e disparou. O som que saiu da sua garganta cortou o silêncio da noite como um machado.

Antes que o inimigo tivesse tempo de reagir, Preacher passou a espingarda por cima da sua cabeça para usá-la como cepo sobre a sua garganta.

O vietcong, surpreendido, caiu para trás, soltando a faca. A arma bateu no chão a um metro das suas botas e Preacher afastou-a com um pontapé, chegando-se para trás para apontar directamente à sua cabeça. Viu ódio nos olhos daquele homem… mas não viu medo.

Depois ouviu um gemido e olhou para o lado para verificar que Pops estava bem mas, ao fazê-lo, o vietcong meteu uma mão debaixo da camisa. Temendo que trouxesse uma arma escondida, Preacher cravou o cano da espingarda no seu peito.

– Quieto!

O inimigo decidiu não obedecer à ordem e Preacher viu aparecer a culatra de uma pistola um milésimo de segundo antes de ele lha apontar à cabeça…

O som que se seguiu foi ensurdecedor, fazendo eco por todo o acampamento. Preacher deu um passo atrás e o seu olhar ficou gelado diante da cara do vietcong. Viu a surpresa do homem reflectida nos seus olhos, viu como a luz desaparecia deles… Quando olhou para o seu peito e viu o sangue que jorrava do buraco teve de conter as náuseas.

Ouviu, então, um grito do outro lado da cerca de bambu e percebeu que o disparo despertara o alarme no acampamento. Um segundo depois, os soldados estavam de pé e a assumir as suas posições.

Preacher percebeu que alguém lhe punha a mão no ombro. Sabia, sem olhar, que era Pops.

– Estás bem?

– Sim. E tu?

– Só um golpe na cabeça, graças a ti. Mais um segundo e ter-me-ia cortado o pescoço.

Eddie «Bala» apareceu à entrada da latrina, meio vestido e ainda descalço.

– Tudo bem por aqui?

Pops assentiu com a cabeça e depois apontou para o vietcong com a mão.

– O inimigo entrou no perímetro. Ordena vigilância total do campo e depois confirma que todos os que fazem guarda estão no seu posto. Quando terminar aqui, farei um relatório.

Eddie olhou para a espingarda que Preacher continuava a segurar e abriu muito os olhos.

– Foste tu que o mataste?

Preacher abriu a boca, mas depois fechou-a e deixou cair a cabeça.

– Já tens as tuas ordens – lembrou-lhe Pops.

Eddie «Bala» pôs-se em sentido.

– Sim, meu capitão.

Preacher fechou os olhos, mas a imagem do homem morto aos seus pés, com o sangue a jorrar da ferida no peito, estava gravada no seu cérebro. Matara um homem para salvar a vida de outro. Quem lhe dava a ele o poder de decidir quem tinha de viver e quem tinha de morrer? Ele não era Deus.

Como se tivesse lido os seus pensamentos, Pops apertou-lhe o ombro.

– Não penses mais nisso. Lembra-te que quando vestiu a farda, este soldado sabia que estava a pôr a sua vida em risco, tal como tu e eu quando vestimos a nossa.

– Isso não muda nada.

– Na guerra só há uma regra, amigo: matar ou deixar que te matem.

Preacher cerrou os dentes, sentindo aquela profunda raiva de novo.

– Odeio esta maldita guerra. Odeio o que faz às pessoas, o sofrimento que causa, as vidas que ceifa.

Pops afastou o olhar do homem que jazia no solo.

– Esta guerra não é diferente das outras. E será igual às próximas.

Preacher afastou-se, enfurecido.

– Como consegues encarar isto dessa maneira? – gritou, frustrado. – Como consegues dormir à noite sabendo que há gente a morrer à tua volta?

– É como te disse há pouco: fecho os olhos e penso na minha mulher e no meu filho. Estou a lutar por eles, pela segurança deles.

– E o que é que acontece quando isto terminar? Quando voltares para casa? Vais esquecer-te de tudo o que se passou aqui, de tudo o que viste, de tudo o que fizeste? Vais apagá-lo da tua mente como se nunca tivesse acontecido?

O capitão abanou a cabeça, entristecido.

– Não sei. Neste momento a única coisa que posso fazer é permanecer alerta para tentar garantir que vou voltar para casa. Com o resto preocupo-me quando estiver lá – suspirou, agarrando na espingarda. – És um bom homem, Preacher. De todos os soldados com quem servi, és o único que sairá desta guerra com os mesmos princípios e os mesmos valores que tinha quando chegou.

Ele apertou os lábios.

– Eu não me sinto o mesmo homem. Sinto-me… não sei, como se tivesse sido marcado para sempre.

Pops assentiu.

– Uma vez li uma frase… não me lembro quem a disse, mas era algo assim: «Na guerra, não há soldados ilesos.» Lembro-me de ter pensado que quem disse aquilo devia estar louco. Mas, agora, a frase parece-me fazer todo o sentido.

– Sim – assentiu Preacher. – Faz todo o sentido.

Habituando os olhos à escuridão, Pops olhou ao longe por uns instantes.

– Sei que dificilmente acreditarás nisto, mas os soldados que voltam para casa vão carregados de uma responsabilidade maior do que a dos que ficam aqui.

– Porquê?

O capitão bateu-lhe no ombro.

– Concentra-te em voltar para casa, Preacher. Quando chegares lá, saberás o que quero dizer. Vais perceber – disse, enquanto se afastava. – Tu, mais do que ninguém, saberás.