Editado por Harlequin Ibérica.
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© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.
Algo mais do que trabalho, n.º 2165 - dezembro 2016
Título original: Married to His Business
Publicada originalmente por Silhouette® Books
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.
Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.
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I.S.B.N.: 978-84-687-9219-4
Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.
Página de título
Créditos
Sumário
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Epílogo
Se gostou deste livro…
Quando Kendall Scarborough viu o seu chefe atirar o telemóvel pela janela, pensou que talvez aquele não fosse um bom dia para lhe apresentar a demissão… outra vez. Mas ia fazê-lo… outra vez. E desta vez não ia voltar com a palavra atrás.
Era indiscutivelmente do mais apropriado que uma das suas últimas tarefas como secretária de Matthias Barton fosse encomendar-lhe um telemóvel novo. Um bom número deles jazia no fundo da fonte diante da fachada norte do edifício da Barton Limited, onde ficava o escritório do seu chefe. Era um empresário brilhante, mas já tinha demonstrado que esses «artefactos», como os chamava, e ele, eram totalmente incompatíveis.
Kendall ajeitou os óculos, pegou na caneta que levava sempre atravessada no carrapito e tirou do bolso das calças um bloco de notas, onde anotou: Pedir um telemóvel.
– Senhorita Scarborough, tome nota… – começou a dizer Matthias enquanto fechava a janela.
– Já está anotado, senhor – interrompeu-o ela. – Desta vez encomendar-lhe-ei um Nokia; tenho a certeza que lhe dará melhor resultado.
– Obrigado – respondeu ele.
Sentou-se de novo à secretária e pegou nas cartas que ela lhe tinha levado para que as assinasse.
Kendall inspirou profundamente, tentando reunir coragem suficiente para lhe dizer o que queria dizer-lhe. Sempre a tinha intimidado, desde o dia em que entrara na companhia para trabalhar para ele há cinco anos. Nessa altura ela acabava de se licenciar na universidade, e tinha ficado maravilhada por um homem tão jovem estar já à frente da sua própria empresa. Matthias tinha feito trinta e dois anos há pouco e só tinha cinco mais do que ela, mas estavam a anos-luz.
Ao começar a trabalhar para ele, Kendall tinha-se proposto observá-lo com atenção para descobrir o segredo da sua fulgurante ascensão, mas tinha demorado pouco a decidir que não queria emulá-lo. Matthias era um autêntico viciado no trabalho. A empresa era tudo para ele.
Ela, que além da sua titulação universitária tinha um mestrado em Gestão de Empresas, tinha sido consciente desde um primeiro momento que podia aspirar a um lugar melhor do que o de secretária de direcção, mas tinha pensado que lhe seria útil para adquirir experiência e que o facto de nadar entre os «tubarões» a prepararia para esse mundo ao qual teria de se enfrentar mais adiante.
No entanto, o que a princípio tinha pensado que fossem apenas uns dois anos tinham-se transformado em cinco, e estava mais que curtida para dar cabo desses tubarões. Já ia sendo hora de deixar aquele trabalho
– Bem. Por onde íamos? – perguntou-lhe Matthias.
– Eh… o senhor acabava de concluir a sua conversa telefónica com Elliott Donovan, da The Springhurst Corporation, e eu… – inspirou de novo e disse-lhe de seguida: – Eu estava a ponto de lhe apresentar a minha demissão com duas semanas de pré-aviso.
E dessa vez não ia conseguir fazê-la mudar de opinião.
Matthias levantou a cabeça ao ouvi-la proferir tais palavras e arregalou os olhos.
– Senhorita Scarborough… achava que já tínhamos falado sobre isso.
– E falámos, senhor; várias vezes – assentiu ela. – E precisamente por esse motivo parece-me que não deveria surpreendê-lo. Agora que o seu casamento com a senhorita Conover foi cancelado, já não…
– O facto de termos cancelado os nossos planos não significa que já não a necessite.
Kendall teve que se conter para não arregalar os olhos.
Tecnicamente o casamento não tinha sido cancelado. Simplesmente a data tinha sido adiada, bem como se tinha alterado o lugar onde se realizaria o banquete… e também o noivo, já que Lauren Conover, a ex prometida do seu chefe, ia casar-se agora com o irmão gémeo deste, Luke.
Matthias não tinha entrado em detalhes a respeito da ruptura do compromisso, mas a Kendall a notícia não a tinha surpreendido. Matthias tinha pedido Lauren em casamento só porque perseguia a fusão da Barton Limited com a empresa do seu pai, e Lauren tinha aceitado porque… A verdade era que Kendall desconhecia a razão de ela ter aceitado. Só tinha falado uma ou duas vezes com Lauren, mas não lhe parecera que ela estivesse apaixonada por Matthias, e provavelmente não o estivesse. Caso contrário, não se teria apaixonado imediatamente pelo seu irmão gémeo.
Pelo que se dizia, já que ela não conhecia Luke Barton, os irmãos não podiam ter uma personalidade mais diferente apesar de serem gémeos.
– Não vejo em que poderia fazer-lhe falta – respondeu. – Esta é a época com menos actividade do ano, e nas últimas semanas adiantei o trabalho de um mês – relembrou-lhe. – Agora que adiámos essa viagem que tinha a Estugarda, já não tem nenhum compromisso no estrangeiro nem nenhuma conferência até Setembro. Não há nada tão urgente que a pessoa que me substitua não consiga pôr-se em dia. De facto, terá tempo de sobra para fazê-lo. E de todas as formas, vai passar o mês de Julho inteiro na cabana do seu amigo, portanto parece-me que é o momento perfeito para que eu…
– Não pode ir-se embora, senhorita Scarborough; necessito que fique aqui enquanto eu cá não estiver – interrompeu-a Matthias. – Mesmo com todos os preparativos que fiz…
«Quererá dizer que eu fiz», pensou ela, mal-humorada. Não era um assunto de trabalho, mas como de costume tinha-lho incumbido a ela.
–…é muito tempo; não posso deixar isto desatendido durante um mês inteiro.
De modo que essa era a desculpa que ia utilizar desta vez, pensou Kendall. Não sabia exactamente o que ia fazer um mês inteiro numa cabana nas margens do lago Tahoe. O único que sabia era que em Janeiro tinha recebido uma carta do advogado de um amigo que tinha tido na universidade. Este tinha falecido, e o seu último desejo antes de morrer tinha sido que os melhores amigos que tinha tido na universidade, seis no total, entre os quais se incluía também Luke, passassem um mês naquela cabana.
Matthias tinha dado com ela em louca para que lhe reorganizasse a agenda e pudesse lá passar o mês de Abril, que era o que lhe tinha calhado; quando não foi a alteração da data de uma viagem à Alemanha, foi que voltasse a reorganizar tudo para que pudesse trocar de mês com o seu irmão Luke, a quem lhe tinha calhado o mês de Julho em sorte.
Kendall teria preferido que tivesse ido em Abril, e não só porque lhe teria economizado todo esse fazer e desfazer. O lago Tahoe era onde ela ia fazer um cursinho de formação para o seu novo trabalho na primeira semana de Julho, e não queria nem imaginar que coincidiriam na zona.
– Não posso, senhor – reiterou-lhe. – Ofereceram-me um bom lugar noutra empresa e eu aceitei. Além disso, disseram-me que terei que fazer um seminário formativo de uma semana. Começa no dia um de Julho, dentro de duas semanas, depois do qual iniciarei as minhas novas funções.
Matthias não disse nada durante um bom bocado. Simplesmente reclinou-se e cruzou os braços. O modo como a estava a perscrutar fez com que Kendall se sentisse ainda mais nervosa.
– Já aceitou o lugar?
Kendall assentiu. Tinha de se mostrar firme e segura de si própria.
– Eh… sim?
Estupendo. Em vez de ter soado como uma afirmação taxativa, mais parecera uma pergunta. Isso demonstrava que não tinha uma grande confiança em si própria.
– Importar-se-ia de me dizer em que empresa?
Kendall preparou-se mentalmente para a reacção do chefe, pois sabia que não lhe ia agradar nada a resposta.
– Bom… eh… na OmniTech Solutions? – respondeu, e de novo soou como se lho tivesse perguntado em vez de o ter afirmado. «Pelo amor de Deus, Kendall, tens vinte e sete anos; não cinco», repreendeu-se irritada. – Vou ser a nova subdirectora e vou estar à frente do Departamento de Relações Públicas da empresa.
Matthias franziu o sobrolho.
– OmniTech? – repetiu. – Quem diabo lhe ofereceu um lugar na OmniTech?
Kendall perguntou-se como teria adivinhado que não tinha sido ela quem lhes tinha mandado o curriculum.
– Stephen DeGallo – respondeu.
Matthias voltou a franzir o sobrolho.
– O presidente da companhia ofereceu-lhe o lugar de subdirectora? – repetiu com palpável incredulidade.
Kendall não via o que poderia haver de tão incrível nisso. Estava mais do que capacitada para esse trabalho.
– Sim, senhor – respondeu reprimindo arduamente a irritação.
Matthias olhou-a com os olhos semicerrados.
– Stephen DeGallo nunca coloca pessoas alheias à empresa em lugares importantes; não se fia de estranhos. A OmniTech funciona com uma política de ascensões.
– Bom, o Stephen disse…
– O Stephen? – repetiu ele bufando. – Já o trata pelo nome próprio?
– Ele insistiu para que o fizesse, senhor – respondeu Kendall. «Ao contrário dele», acrescentou para com os seus botões, que não lhe tinha permitido nenhum tipo de confiança com ele, apesar de já trabalhar como sua secretária há cinco anos. – Disse-me que o meu curriculum era impressionante. Para o caso de estar esquecido, formei-me com a qualificação Cum Laude na Universidade de Stanford, e foi lá que também fiz um mestrado em Gestão de Empresas.
Matthias esboçou um sorriso trocista.
– Oh, sim, claro, tenho a certeza que o DeGallo deve estar muito impressionado com o seu… curriculum – respondeu reclinando-se ainda mais no assento. – Não se apercebe que a única razão pela qual lhe ofereceu esse lugar é porque a OmniTech está a disputar connosco a conta Perkins? É evidente que espera que lhe diga tudo o que fizemos até agora para conseguir que seja nossa.
Aquele dardo envenenado teve em Kendall o efeito que o chefe pretendera, mas quando lhe respondeu fê-lo com muita calma.
– Isso demonstraria uma falta absoluta de ética profissional da parte dele, senhor. Inclusive poderia ser delito penal. Não só me parece impossível que espere que eu lhe proporcione esse tipo de informação, como também deve saber que eu jamais o trairia desse modo.
– Ah, não? – inquiriu ele, fitando-a longamente.
Kendall ficou boquiaberta.
– Com certeza que não. Como pode sequer perguntar-me isso?
Matthias ergueu-se.
– Senhorita Scarborough… Será que não aprendeu nada nestes anos em que tem trabalhado para mim? No mundo dos negócios não existem bons samaritanos. Ninguém anda por aí a fazer favores, e o Stephen DeGallo muito menos! – disse-lhe. – Já que se passou para a concorrência, compreenderá que não posso correr o risco de tê-la nestes escritórios nem mais um minuto. As duas semanas de pré-aviso já não serão necessárias; está despedida. Recolha as suas coisas imediatamente. Farei com que a Sarah chame a segurança para que a acompanhem até à saída. Tem dez minutos.
Dito isso, pegou nas cartas que Kendall lhe tinha levado e dedicou-se a assiná-las sem voltar a alçar a vista para ela.
Kendall jamais teria esperado que reagisse de semelhante forma. Tinha achado que, como sempre, tentaria convencê-la para que ficasse com as desculpas mais inverosímeis.
Nunca teria imaginado que a despediria, mesmo que fosse trabalhar para a concorrência. A Barton Limited tinha muitos concorrentes. De facto, ter-lhe-ia sido bastante difícil encontrar uma só empresa no sector que não competisse com a Barton Limited.
Mas, sobretudo, tinha suposto que lidaria com aquilo como aquilo que era, um assunto de negócios, não de um modo… pessoal.
Pessoal? Não, isso era impossível. Matthias Barton jamais levava nada a peito, de forma pessoal. Se tinha reagido assim era simplesmente porque temia perder aquela conta. Isso era o único que lhe importava.
– Sim, senhor – respondeu com aspereza.
Deu meia volta e saiu do escritório sem olhar para trás.
Assim que Kendall deu meia volta, Matthias alçou a vista, mas foi só para maldizer em silêncio quando esta fechou a porta, tapando-lhe a visão.
Também não era que houvesse propriamente alguma coisa para ver. Kendall Scarborough não era nenhuma beleza. Usava óculos de bibliotecária, o cabelo apanhado num carrapito de professora primária e duvidava que sob essa roupa masculina que vestia sempre houvesse sequer curvas.
Claro que essa falta de elementos atractivos era precisamente um dos motivos pelos quais a tinha contratado, cinco anos atrás, porque o último que queria era uma secretária com a qual sentisse desejo de intimar.
Uma mulher bela era algo a que lhe resultava muito difícil resistir.
Considerava ter encontrado a solução para esse problema ao ter-se comprometido com Lauren Conover, mas as coisas tinham acabado por dar para o torto. Não só lhe tinha parecido que Lauren era a mulher adequada para um homem da sua posição, como além disso o casamento teria implicado a fusão da sua empresa com a do pai dela.
Lauren era bela, inteligente e chique e, mesmo que entre eles não se tivesse ateado a fagulha da paixão, poderiam ter vivido numa bonita casa, ter tido crianças… mas o seu irmão Luke tivera que se intrometer e estragar tudo.
No entanto, não fora Luke que tinha estragado as coisas com Kendall… que era tudo o que esperava de uma secretária: pragmática, profissional e eficiente. Nos últimos cinco anos tinha sido o seu calendário, a sua assessora, a sua consciência… e a sua espia.
Aquela última palavra fez Matthias contrair o rosto. Não tinha sido justo ao acusá-la de transmitir informação a Stephen DeGallo. Claro que não lhe cabia a menor dúvida que o motivo de DeGallo para a contratar fora precisamente esse; tentar sacar tantos nabos da púcara quanto pudesse. Na verdade, não achava Kendall capaz de traí-lo, mas tinha-o irritado tanto que tivesse aceitado um trabalho sem lhe dizer nada antes, e que ainda por cima se tratasse de um lugar na OmniTech…
Nas vezes anteriores, quando lhe tinha dito que queria abandonar o trabalho, tinha sempre conseguido dissuadi-la. Sabia o que Kendall valia, sabia que podia aspirar a muito mais do que a ser secretária de direcção, mas… poderia ter escolhido outra empresa.
Matthias soprou e abanou a cabeça. Enfim, teria de se desenvencilhar sem ela. Contrataria outra secretária e problema resolvido! Não podia ser tão difícil encontrar outra secretária pragmática, profissional e eficiente; outra secretária que se transformasse no seu calendário, na sua assessora e na sua consciência. Diria a Kendall que tratasse disso.
Precisamente quando ia apertar o botão do intercomunicador lembrou-se do que tinha estado a ponto de fazer. Tinha estado a ponto de pedir a Kendall, a mulher que acabava de despedir e que acabava de insultar, que procurasse alguém para a substituir.
Abanou a cabeça e riu-se entre dentes, mesmo que não tivesse graça nenhuma. A verdade era que era incapaz de fazer absolutamente nada sem Kendall, e aquilo era uma loucura.
Era o capitão do navio, o que comandava o leme; tinha ganho o seu primeiro milhão de dólares pouco depois de um ano após sair da universidade, e nesse momento era o dono de uma companhia multimilionária com filiais no mundo inteiro.
Que mal vinha ao mundo por ter ficado sem secretária? Contrataria outra e moldá-la-ia a seu gosto. Enfim, como tinha dito Kendall, estavam na época com menos actividade do ano.
Poderia desenvencilhar-se perfeitamente sem ela. Com certeza que sim.