desj875.jpg

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Leslie Lafoy

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Sonhos tornados realidade, n.º 2167 - dezembro 2016

Título original: The Money Man’s Seduction

Publicada originalmente por Silhouette® Books

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9221-7

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Se gostou deste livro…

Prólogo

 

Bem, minhas queridas companheiras, para aquelas de entre vocês que mais recentemente se uniram ao grupo das mentes investigadoras, informo-vos que há alguns meses que estamos na TNMS, Temporada da Nomeação do Milionário Solitário. Assumo muito seriamente a minha responsabilidade como vossa provedora de confiança de informação vital e garanto-lhes que tenho constantemente as orelhas bem atentas ao mais ligeiro rumor ou especulação sobre quem pode ser o eleito do ano. E, minhas caras, dado que os rumores são absolutamente chocantes, ainda não estou preparada para revelar os nomes desta ninhada de gatos de ouro escondidos no saco do Pai Natal. Mas, para aquelas de entres vós que se sentiram inspiradas por moi a recompilar mexericos por sua conta… Bem, queridas, liguem-me. Almoçamos juntas e podemos comparar notas. Já sabemos que a investigação tem as suas recompensas…

 

 

Sam Balfour deixou o jornal em cima da mesa.

– Já leste isto? – nem esperou a resposta. – Bem te avisei que esta barracuda não te deixaria em paz. Ainda não sabe nada em concreto ou, pelo menos, assim espero. Caso contrário, não estaria a atrasar a entrega de nomes às suas leitoras. Raios, deveria ligar-lhe eu mesmo. Assim, talvez percebesses que chegou o momento de parar este estúpido jogo.

S. Edward Balfour IV, conhecido pelo seu sobrinho como tio Ned, limitou-se a sorrir enquanto cobria o jornal de Sam com uma pasta verde escura que tirou da primeira gaveta da secretária.

– Trata disto, por favor, antes que saias a correr para ligares a essa mulher e marques um almoço com ela.

Sam suspirou, olhando para a pasta. Verde, claro. Quantas pastas para guardar papéis como essa teria o tio Ned na gaveta?

– Eu falo mas não tu não me ouves. Estou só a tentar proteger-te, como sabes.

– E eu agradeço o teu carinho e preocupação – disse Ned. – Isso não significa, porém, que esteja preparado para abandonar o projecto de Maureen. Certifica-te, por favor, que os fundos habituais são enviados dentro de uma semana.

Sam olhou para a carta dirigida ao director que o seu tio tinha rodeado com um círculo antes de procurar o nome do jornal na parte superior da página.

– Continuas a tentar ampliar a tua rede cada vez mais para encontrares candidatos, não é? Nunca ouvi falar desse lugar, está no mapa?

– Poderia mandar-te a ti em vez de mandar o Bruce e assim poderias descobrir por ti próprio.

– E implicar-me no projecto ainda mais do que já estou? Obrigado, mas preferiria que me fizessem uma endodontia – disse Sam. Não ia conseguir convencer Ned. Pelo menos, por agora não. Fechou a pasta e colocou-a sob o braço. – Providenciarei para que Bruce viaje no avião da companhia.

– O Bruce é um bom homem. Muito discreto.

– Três hurras para o Bruce – Sam estava quase a sair do escritório do tio, mas hesitou por um instante. – Sabes uma coisa, tio Ned? Não sei se devo considerar esta Emily Raines uma boa ou uma má escolha. Não sei que resultado será o melhor para ti.

– Pensas demasiado, Sam. Deverias aprender a sentir. A autêntica felicidade é dar, não o que sucede depois de entregar o presente. Tudo o que ultrapassa o processo do concurso está fora das nossas mãos.

Capítulo Um

 

Não havia ninfas seminuas a lançarem pétalas nem o Porsche vermelho era exactamente um coche encantado, mas o homem, esse sim, era um autêntico deus grego. Emily Raines apoiou o braço na polidora, ainda desligada, e observou o estranho pela janela. Alto, de ombros largos, lábios finos e com um cabelo escuro longo o suficiente para ondular na brisa. Já para não falar na elegância com se movia enquanto procurava o casaco no banco traseiro do carro…

Emily sorriu e perguntou-se se as calças dele seriam ajustadas por algum alfaiate de maneira a adaptarem-se perfeitamente às nádegas quando se agachava… Se o senhor todo-poderoso estava ali em Augsburg, Kansas, para distribuir candidaturas pelas ninfas, então estava tentada a preencher uma.

– Emily!

Uma metade do seu cérebro reconheceu a amiga, que chegava de algum lugar do velho edifício, mas a outra metade continuava com a fantasia de togas, divãs e uvas.

– Estou a dizer-te – afirmou Beth – que este assunto é claramente um acto de má fé.

O homem olhava para um lado e para o outro da rua. Talvez estivesse perdido.

– És tão pessimista… Tão contabilista…

Poderia armar-se em simpática e ir perguntar-lhe se precisava de alguma informação.

– Sou é realista – retorquiu Beth, agitando uns papéis no ar. – Tendo a fazer bem as contas, tal como a maioria das pessoas normais. Quinze mil ou vinte mil por um telhado novo. Escolhe.

– Que profissional parece mais capacitado para ficar com a obra? – perguntou, enquanto o Adónis dirigia a sua atenção para ela… e parava.

O seu coração bateu um pouco mais, excitado de antecipação.

– Francamente, pareciam ambos terem levado uma carga de pancada.

Muito bem, estava a cruzar a rua. Tinha o tempo exacto para pensar em algo.

– E por falar em empreiteiros espancados – disse rapidamente, voltando-se para Beth. –Poderias ir falar novamente com o electricista até eu poder ir ter com ele? – fez um gesto com a cabeça em direcção à rua. – Parece que vamos ter uma visita.

Beth olhou pela janela, arqueou uma sobrancelha, ajeitou um caracol ruivo atrás da orelha e sorriu.

– Grita se precisares de ajuda – ofereceu, rindo e dirigindo-se para a porta traseira do escritório. – Alto, que o edifício é grande.

Ajuda? Ora! Emily deu uma olhadela pela janela para calcular o tempo que tinha e depois começou a desenrolar casualmente o cordão da polidora. O sino por cima da porta tocou. Emily esboçou aquilo que, esperava, parecesse um sorriso sereno mas agradavelmente cheio de surpresa nos lábios e olhou em frente.

– Olá – disse o Adónis.

«Oh, acalma-te, coração meu», disse uma voz dentro dela.

– Olá – ouviu-se a si própria a responder enquanto o via olhar surpreendido para a sua t-shirt de Jackson Hole.

O olhar continuou a descer até às pontas desfiadas dos calções de ganga cortados e, mais para baixo, suave como seda, até à parte alta das suas botas de trabalho. Voltou para cima para, por fim, olhá-la nos olhos.

Adónis sorriu e nos seus olhos brilhou uma deliciosa mistura de culpa e prazer.

Emily manteve sob controle o seu próprio sorriso e conseguiu conter as mais que evidentes notas de esperança da sua voz enquanto perguntava:

– Que posso fazer por si?

A culpa desapareceu do seu sorriso e nos seus olhos brilhou a compreensão.

– Sou Cole Preston e perguntava-me se teria visto a minha avó esta manhã, Ida Bentley. Disse que vinha para aqui.

Bem, aquilo era ainda melhor. Não era um completo estranho. Emily sorriu.

– A Ida é adorável. Uma mulher realmente incrível.

A tristeza substituiu o prazer nos seus olhos enquanto assentia.

– Também tem algumas mazelas que fazem com que não esteja tão saudável quanto antes. E tenho um livro de cheques para prová-lo.

– Bem, pois – disse Emily num tom diplomata enquanto sentia um nó a formar-se no estômago. – Tenho-me dado conta de que a cabeça da Ida tende a andar um pouco à deriva de vez em quando.

– Mais do que um pouco – replicou ele, – e esse de vez em quando é cada vez mais frequente.

– Acho que está muito bem para uma mulher de oitenta e tantos – disse Emily, saindo em defesa da sua idosa amiga. – Não só se veste impecavelmente, como sabe sempre usar a roupa perfeitamente adequada ao tempo e ocasião. E a sua companhia é deliciosa. Tem vindo todos os dias desde que começámos a trabalhar no edifício e teve algumas ideias maravilhosas para as aulas que vamos dar quando abrirmos.

– Presumo que sejam aulas de dança moderna – disse num tom frio, distante e, definitivamente, desaprovador.

– Claro – respondeu Emily. – A sua avó era bailarina profissional. A julgar pelo álbum de recortes que nos mostrou, foi muito aplaudida no seu tempo.

– Isso era então. Isto é agora. O tempo dela terminou.

– Perdão? – perguntou, enquanto imaginava Ida num icebergue arrastado pelo mar.

– As pessoas deveriam deixar de encher a cabeça da minha avó com ideias sobre ela ainda poder dançar.

E lá se ia por água abaixo a fantasia de ele ser o Senhor Maravilhoso. Aquele homem, de facto, tinha um corpo de sonho, mas o fato impecável e o corpo atlético eram apenas o disfarce de alguém com a sensibilidade emocional de… de… bem, depois pensaria em algo frio e sem coração.

Por enquanto, só conseguia pensar em como fora patética ao desejar vê-lo deixar cair a sua toga de deus e partilhar as suas uvas com ela. Abanando a cabeça, e enterrando a sua mais inspirada fantasia dos últimos anos, Emily ligou a polidora à corrente.

– É evidente que não estamos de acordo sobre as capacidades da sua avó – respondeu, encolhendo os ombros. – E é também evidente que ela é muitíssimo mais amável e menos sentenciosa do que o neto.

Ele catrapiscou e abriu a boca para responder mas ela nem lhe deu oportunidade de falar.

– Não vi a Ida esta manhã, senhor Preston, talvez esteja no café ou na loja de presentes. Pode tentar lá.

– Bem, talvez até seja melhor que não esteja aqui – disse, ou não percebendo, ou fazendo de conta que não percebia, que ela estava a despachá-lo. – Dá-me a oportunidade de tratar deste negócio.

Negócio? Ela não era um negócio. Ela era uma associação comunitária sem fins lucrativos para apoiar idosos. Ou seria, quando o edifício estivesse terminado. Não precisava de ouvir as opiniões dele. Agarrando o cabo da polidora com a clássica pose de «estou a trabalhar, acabemos com isto», olhou-o nos olhos. Ou pelo menos tentou. O olhar dele levou-a a outra viagem fantástica.

Emily perscrutou as suas longas e magras pernas, a largura do seu peito, o modo como o seu cabelo preto roçava a borda engomada do colarinho da camisa… Arqueou uma sobrancelha.

Talvez tivesse posto de parte demasiado depressa a ideia de uma aventura tórrida. Não procurava o príncipe encantado nem uma história que terminasse como um «e foram felizes para sempre…». Cole Preston era escultural, ardente e, sem dúvida, interessante. Seria uma vergonha desperdiçar tal oportunidade.

E não apenas uma vergonha; poderia até ser crime. Tanto quanto deixar perdidas no provador de uma loja um par de calças de ganga perfeitas ser um crime contra os deuses das compras. As coisas maravilhosas surgiam no nosso caminho por algum motivo e era um grande erro não as aproveitar devidamente. E ela não queria arriscar-se a ofender os deuses dos bons momentos.

– De que tipo de negócio quer tratar, senhor Preston?

– Sabe se está cá uma tal Emily Raines?

«Uma tal Emily Raines». Bem, como diria Ida, perfeitamente educado. O homem parecia não conseguir parar de cavar o seu próprio túmulo.

– Eu sou Emily Raines – disse, lacónica.

Ele não só pestanejou, como recuou um pouco sobre os saltos dos seus elegantes sapatos italianos. Emily não lhe deixou tempo para recuperar o equilíbrio.

– Dizia que tinha algo para falar comigo, senhor Preston. O que é? Tenho um electricista à espera para dizer-me quanto vai custar trazer este edifício para o século XX.

– Para o caso de não ter notado – replicou, com um sorriso decididamente forçado, – estamos no século XXI.

– Na verdade – disse docemente Emily, – já me tinha apercebido, senhor Preston, mas não me posso permitir modernizar totalmente este edifício no que diz respeito à electrificação, portanto finais do século XX, por enquanto, será suficiente.

Cole levantou a cabeça e olhou para as manchas de bolor nas telhas do tecto.

– Onde pensou ir buscar o dinheiro para pagar aos electricistas?

A comoção durou-lhe apenas um nanossegundo, depois foi substituída pela ira. Apoiou os quadris no balcão antigo e cruzou os braços.

– As aulas de etiqueta são no colégio.

– Desculpe? – atirou, após aclarar a garganta.

– Disse que as aulas de etiqueta são dadas no colégio. A aula está pensada para raparigas adolescentes – prosseguiu, continuando a gozar, – mas tenho a certeza que, dada a sua óbvia necessidade delas, o deixarão participar.

Os seus olhos escuros brilharam enquanto cerrava o queixo.

– A aula começou há poucos minutos – acrescentou ela. – Se se apressar, acho que ainda não perdeu muito. Tenho a certeza que haverá uma secção sobre a falta de educação patente em inquirir uma desconhecida sobre pormenores da sua situação financeira.

– Há alguma secção – perguntou com suavidade, – sobre como é ilegal roubar o dinheiro dos cheques da segurança social a idosas senis?

Era uma acusação directa, mas não ia lançar-se numa apaixonada autodefesa. Isso implicaria uma admissão de culpa. E como ela não estava disposta a sentir nem um pingo de culpa, não ia dar-lhe a satisfação de colocar-se tão facilmente à defesa. Não, não ia responder-lhe.

– Quem pensa que está a roubar quem, senhor Preston?

– Suspeito que está a roubar, ou pelo menos a tentar, a minha avó.

Emily contou em silêncio até cinco antes de responder.

– E que, exactamente, o leva a pensar em algo assim?

– A minha avó pensa apoiar este… este… – olhou em volta com uma sobrancelha arqueada.

– O edifício era um armazém – explicou Emily. – Estou em processo de transformá-lo num centro artístico para a terceira idade. E o senhor deveria saber que não recebemos nem um centavo de…

– E, por mim, também nunca o receberão.

Desta vez teve que contar até seis.

– Olhe – disse Emily, tensa, – vamos esclarecer uma coisa, senhor Preston. A sua avó nunca falou sobre doar nada mais que o seu tempo e o seu considerável talento artístico. Se me tivesse oferecido dinheiro, eu tê-lo-ia recusado. Isto…

Cole fez um ruído a meio caminho entre o suspiro e o sopro.

Se a polidora não pesasse tonelada e meia, agarrava-a e dava-lhe com ela na cabeça.

– É hábito seu andar por aí insultando a ética e a integridade das pessoas que conhece?

– Só aquelas que acho que estão a tentar aproveitar-se da má cabeça da minha avó.

Era evidente que com aquele homem era impossível falar. Ia acreditar apenas no que queria acreditar e nem os factos nem o que dissesse fariam com que mudasse de opinião. E dada essa desgraçada realidade, não fazia sentido desperdiçar forças.

– O senhor deve ser o mais est…

Ouviu-se o sino da porta e Emily fechou a boca no mesmo instante. Estava prestes a atirar-lhe um olhar tipo «tente ser uma pessoa civilizada pelo menos uns cinco segundos», quando uma voz conhecida disse num tom alegre e brilhante:

– Oh, estava mesmo a contar que se conhecessem hoje.

– Sim, acabamos de conhecer-nos, Ida – respondeu Emily enquanto Cole sorria e dava um beijo na face à sua elegante avó. Depois acrescentou: – Embora não seja capaz de imaginar por que desejavas que nos conhecêssemos.

Ida soltou um risinho e deu uma palmada no braço do neto.

– O Cole ladra mas não morde, querida. Não quero ir para um desses lares de terceira idade, não vou. Bem pode ele dar pontapés no ar e ranger os dentes sempre que quiser. Não vai servir de nada.

Um lar de terceira idade? Emily juntou todas as peças num segundo. Atirando-se ao que, segundo as suas contas, seria o terceiro assalto do tipo «de quantas formas posso ser desagradável?» para com Cole, disse:

– Estamos a falar de um lar para pessoas que precisam de assistência?

– Sim – respondeu ele com um breve e tenso anuir de cabeça. – Estaria melhor lá.

– A sério? – perguntou Emily, aceitando o desafio. – Quem? Você?

– Manda-o para o Inferno, Emily – disse Ida. – A Beth está cá? – deu umas palmadas na sua mala Gucci. – Trouxe-lhe um pouco do oléo de jojoba que arranjei em Santa Fé no ano passado.

Como podia uma pessoa tão doce e generosa ser parente de semelhante presunçoso?

– Está lá atrás a falar com o electricista – disse Emily, encontrando-se com o olhar convencido de Cole Preston.

Ida assentiu e dirigiu-se às traseiras, dizendo, enquanto saía:

– Cole, ajuda a Emily, por favor. Essa máquina, seja lá para que for, é demasiado grande para ela sozinha.

Cole nem se mexeu. E apesar de ele não parecer ter vontade alguma de ajudar, Emily quis ter a certeza.

– Toque-lhe e morre aqui mesmo.

– Não levantaria um dedo para ajudá-la – replicou. – Não quero ser considerado cúmplice quando a prenderem por fraude.

– Pois, ter que se defender no julgamento poderia distraí-lo do seu objectivo de encerrar a sua avó num balde de lixo para vegetais.

– Balde de lixo para vegetais? – repetiu ele, arqueando as sobrancelhas e com uma expressão divertida nos lábios.

Com a pulsação acelerada, Emily olhou para o chão e tentou reconquistar a sua repentinamente perdida indignação. Deus, nem sequer se conseguia lembrar do que tinha dito que levara àquela mudança de humor dele. E sua. Maldição. O primeiro assalto tinha versado sobre a crença dele de que os idosos não podiam fazer nada mais que sentarem-se numa cadeira de baloiço e verem passar o dia. O segundo assalto fora a propósito da afirmação de que ela vigarizava velhinhas. O terceiro começara com a alusão a internar Ida num lar. Ah, já sabia sobre que queria falar.

– É o senhor é o único neto de Ida? – perguntou Emily de repente.

A sua expressão divertida desapareceu num instante.

– Sou o seu único parente vivo – respondeu, recuperando o tom frio. – É minha responsabilidade cuidar dela e assegurar-me de que não faz nada fisicamente perigoso ou economicamente pouco recomendável.

aftershave

Pelo menos, consolou-se Emily enquanto partia em busca de Ida, Beth e os electricistas, atirara-lhe uma última frase fabulosa.

Aquilo do «desagradável traseiro» fora uma verdadeira inspiração. Sorriu ao imaginá-lo a parar frente ao primeiro espelho que encontrasse para observar o seu próprio rabo. Sim, não era lá grande triunfo, mas era seu. Suspeitava que, no mundo de Cole Preston, até a mais pequena vitória contava.