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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Dolce Vita Trust

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Lembraças do passado, n.º 2169 - dezembro 2016

Título original: Claiming His Runaway Bride

Publicada originalmente por Silhouette® Books

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9223-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Era sua esposa?

Como poderia ter esquecido algo assim?

E a alguém como ele?

Belinda observou o silencioso desconhecido que estava ao lado do seu pai, aos pés da cama do hospital. Era alto e parecia que a sua roupa de design lhe ficava grande de mais. O desconhecido tinha a mão esquerda metida no bolso das calças, enquanto a direita descansava sobre uma brilhante bengala negra.

Nem sequer sabia o seu nome. Como podia ser casada com ele sem sequer saber isso? Sentiu o medo a invadi-la.

Os seus olhos verdes brilhantes não se afastavam do seu rosto. Uma expressão velada, quase em fúria, cruzava-lhe as faces. Mas a sua expressão permanecia insondável.

As duras linhas do seu rosto denotavam uma vontade de ferro. Via-se que não era um homem que tolerasse parvoíces.

Belinda respirou nervosamente. Não o conhecia, como podiam esperar que fosse para casa de um perfeito desconhecido?

Olhou com temor para o seu pai. O sorriso que ele lhe retribuiu parecia falso e as rugas do seu rosto pareciam mais profundas do que habitualmente. De imediato, o desejo que sentia de sair daquele quarto de hospital de Auckland desapareceu e o local tornou-se antes uma espécie de santuário.

Então, passou-lhe pela cabeça uma ideia perturbadora.

– Se és meu marido, por que não estavas aqui ao meu lado, como os meus pais? Já saí de coma há duas semanas.

Belinda reparou numa troca de olhares entre o seu pai e o homem que garantia ser seu esposo e viu como o pai assentia quase imperceptivelmente.

– O acidente que te fez perder a memória também me feriu a mim. Agora estou preparado para voltar a casa. Contigo.

Belinda pressentia que havia algo que ele não estava a dizer. E aquilo que ele calava provocou em Belinda uma ansiedade maior do que saber que também ele tinha estado hospitalizado. Ninguém lhe contara detalhes sobre o acidente que a havia deixado em coma durante um mês. Durante as últimas duas semanas, os médicos tinham-lhe feito todo o tipo de exames para tentarem descobrir a causa da sua amnésia, tendo chegado à conclusão que havia qualquer relação com o golpe na cabeça que sofrera no acidente. Ouvira as frases «amnésia traumática» e «amnésia histérica» pronunciadas em voz baixa.

A última fizera-a estremecer. Perguntava-se se a «opção» de esquecer uma parte da sua vida, que para toda a gente estava repleta de emoção, alegria e paixão, a transformava numa louca. Ou tinha alguma boa razão para querer esquecer?

Voltou a observar o desconhecido. O ter estado hospitalizado explicava o motivo de a roupa não lhe assentar perfeitamente. Então, surgiu-lhe outro pensamento: Teriam feito coincidir a sua alta médica com a dela? Uma fúria de protesto tomou conta dela.

Estava a ser manipulada.

– Não, não vou. Não irei para casa contigo. Nem sequer te conheço! – o seu tom de voz reflectia pânico.

O desconhecido semicerrou os olhos e cerrou o queixo.

– Chamo-me Luc Tanner, e tu és Belinda Tanner… A minha esposa. Obviamente, virás para casa comigo – concluiu, fazendo um gesto com a cabeça para o pai dela. – Achas que o teu pai estaria disposto a perder-te de vista se eu fosse uma ameaça para a sua preciosa filha? Descansa, tu conheces-me bem.

O seu tom de voz implicava algo que não soube discernir mas que lhe provocou um calafrio na espinha. Abanou ligeiramente a cabeça para livrar-se daquela sensação.

– Por que não posso ir para casa com o meu pai? Pelo menos até recuperar a memória.

– E se nunca a recuperares? Teremos que esquecer o nosso casamento para sempre? Dos votos que trocámos?

Aquela era uma boa pergunta. E se não voltasse a recuperar os meses que tinha perdido? E por que razão conseguia lembrar-se de tantas coisas mas nada sobre o seu noivado ou casamento, nada sobre o amor que, supostamente, partilhavam?

Belinda estremeceu. Teriam partilhado a intimidade? Claro que sim. Naquele exacto momento, por mais que lutasse contra isso, sentia o seu corpo derreter perante a proximidade do corpo dele. Era um homem muito atraente apesar do seu ar introvertido. As suas faces coraram enquanto observava o rosto dele: a cicatriz rosada que lhe cruzava o rosto da maçã do rosto ao queixo, o nariz rectilíneo, a sensual curva dos lábios… Teriam dormido juntos, sentindo o cheiro da pele de cada um, partilhando prazer? Teria ela acariciado aquele cabelo cor de areia?

Quando ele voltou a falar, sentiu a voz do desconhecido como uma carícia sensual de veludo sobre a sua pele.

– Belinda, sei que estás com medo, mas sou teu marido. Se não confias em mim, em quem vais confiar? Conseguiremos superar isto – garantiu-lhe com doçura. – E se nunca recuperares a tua memória, construiremos novas recordações.

Novas recordações? Por que razão essa ideia lhe estaria a causar uma pontada no coração? Dirigiu um olhar suplicante para o pai.

– Papá?

– Ficarás bem, querida. Além disso, sabes que eu e a tua mãe tínhamos planeado fazer uma grande viagem. Adiámos a ideia por causa do acidente. Agora que tu e Luc estão novamente bem podemos retomar os nossos planos. Vai para casa com Luc, querida. Vai tudo correr bem.

Era imaginação sua ou o tom do seu pai soava muito enfático?

Luc estendeu a mão esquerda para ela, uma mão onde brilhava o ouro da aliança de casamento. Um anel que, supostamente, ela lhe teria colocado enquanto declarava o seu amor por ele à frente de várias testemunhas.

Belinda deu-se conta, subitamente, de que a sua mão, pelo contrário, estava nua. Nem sequer havia uma marca no dedo em que, supostamente, deveria ter usado a aliança.

– Ah, sim, claro. Os teus anéis – Luc deslizou a mão pelo bolso da frente do seu casaco e tirou dois anéis. Aproximou-se da cama, coxeando. – Permite-me – os seus dedos pareceram-lhe surpreendentemente quentes. Curvaram-se em redor da mão de Belinda num gesto terno e, ao mesmo tempo, claramente possessivo enquanto a ajudava a pôr-se em pé.

Deslizou pelo seu dedo o anel de platina com uma linha de diamantes brancos encastrados. A luz do quarto despertou o brilho flamejante das pedras e Belinda lutou contra o tremor que lhe atravessou o corpo, contra a impressão de ter sido marcada como propriedade de Luc Tanner. Uma desconcertante sensação de déjà vu tomou conta dela quando na sua cabeça surgiu a imagem de Luc a colocar-lhe o anel no dedo, noutro momento, noutro lugar. Fez um esforço por agarrar-se àquela recordação, por tomar consciência dos meses perdidos, mas a imagem desapareceu tão rapidamente como tinha chegado, deixando-a vazia e só.

Então, sentiu os longos dedos de Luc a deslizarem outro anel no seu dedo até fazê-lo descansar ao lado da aliança de casada. Aquele resplandecente diamante azul acinzentado brilhava com um fogo frio. Belinda conteve a respiração perante o tamanho e beleza daquela pedra.

– Eu… eu escolhi isto?

Luc franziu as suas escuras sobrancelhas numa expressão que o fez parecer ainda mais temível.

– Também não te lembras disto? Durante um momento, parecera-lhe que sim.

– Não – respondeu ela num sussurro. – Não me lembro de nada.

– Encomendei este anel para ti no dia em que te conheci.

– No dia em que nos conhecemos? Mas… como? – Belinda olhou para ele surpreendida.

Luc susteve-lhe o olhar.

– Nesse dia soube que serias minha mulher.

O riso de Belinda pareceu-lhe forçado, até mesmo para si mesma.

– E eu não tinha voto na matéria?

– Belinda – Luc pronunciou as sílabas do seu nome com cuidado, fazendo-as soar como uma carícia. – Antes, amavas-me. E voltarás a amar-me.

Levou a mão dela aos lábios e depositou um suave beijo nos nódulos. Os seus lábios pareceram-lhe surpreendentemente frescos e um calafrio de desejo cruzou o seu corpo. Que sentiria se ele a beijasse? Serviria isso para desbloquear o passado e as memórias enterradas na sua mente?

Luc puxou-a para si. O calor do seu corpo atravessou-lhe a roupa e chegou até à sua pele. Ela afastou-se o suficiente para romper aquele incómodo contacto que lhe fizera acelerar a pulsação. O seu corpo parecia-lhe estranho e, no entanto, sentia-se, ao mesmo tempo, atraída por ele. Se tinham estado casados, tinham partilhado a intimidade e teria decerto alguma recordação física no inconsciente.

– O helicóptero está à espera. Não podemos obstruir o heliporto do hospital durante mais tempo do que o absolutamente necessário.

– Helicóptero? Não vamos de carro? Vamos para muito longe?

– A fazenda Tautara fica a sudeste do lago Taupo. Talvez voltar lá te ajude a lembrar.

– O lago Taupo… Mas isso fica a quatro horas de carro daqui. E se…?

A sua voz foi-se apagando, indefesa. Lá, não haveria ninguém para ajudá-la se os medos que povoavam a sua mente se tornassem mais fortes do que pudesse suportar.

– E se… o quê? – atirou Luc, cerrando os lábios com uma expressão dura.

– Nada.

Belinda deixou cair ligeiramente a cabeça, permitindo que o seu longo cabelo lhe cobrisse a cara para ocultar assim as repentinas lágrimas que lhe queimavam os olhos. As suas entranhas gritavam-lhe que aquilo não era o correcto, mas não conseguia recordar porquê. Os médicos tinham-lhe dito que com o tempo recuperaria a memória, que devia deixar de forçar-se. Mas, naquele momento, o buraco negro da sua mente ameaçava apoderar-se dela.

– Então, vamos.

Belinda deu dois passos ao lado de Luc e depois parou, levando-o a perder ligeiramente o equilíbrio e a usar a bengala para recuperar a estabilidade. Teria recuperado completamente do acidente? Tinha a sensação de que essa era uma pergunta que não devia fazer, ele era demasiado orgulhoso para admitir defeitos físicos ou fraquezas. Afastando-se de Luc, voltou-se para o seu pai com os braços estendidos para dar-lhe um abraço.

– Vemo-nos em breve, papá. Diz à mamã que a amo – observou o seu rosto uma vez mais para tentar econtrar alguma pista sobre o motivo de se sentir tão fora de lugar quanto uma colecção de alta costura da estação anterior, mas o seu pai evitou olhá-la directamente nos olhos. Limitou-se a abraçá-la com força como se não quisesse deixá-la ir-se embora.

– Dir-lhe-ei. Não pôde vir à visita hoje mas, em breve, iremos ver-te os dois – garantiu Baxter Wallace com voz tensa.

– Baxter – a voz de Luc cortou o ar com uma precisão de fino aço e o seu pai deixou cair os braços ao longo do corpo.

– Vá lá, querida, vai tudo correr bem. Espera e verás – animou-a.

– Claro que vai tudo correr bem. Por que haveria de ser de outra maneira? – Luc colocou o braço de Belinda no seu e abriu caminho para a porta.

Mais tarde, quando o helicóptero saiu do heliporto, Belinda tentou lembrar-se por que tinha ficado tão contente quando a médica lhe dissera que teria alta naquela mesma tarde. Agora, já não se sentia tão feliz. As únicas coisas que tinha eram a roupa que levava posta e os anéis no dedo, anéis que lhe pareciam tão estranhos como o homem que era seu marido. Nem sequer tinha uns óculos escuros para proteger-se da intensa luz do sol da tarde.

Olhou de soslaio para o seu marido, que se sentara ao lado do piloto na cabina. O seu marido. Por muito que lhe dissessem o contrário, era um desconhecido e, fundo no seu coração, sabia que ele continuaria a sê-lo por muito, muito tempo.

«Antes, amavas-me. E voltarás a amar-me».

As palavras dele ecoaram dentro da sua cabeça mas, logo a seguir, pensou em como ele não tinha dito nada sobre os seus sentimentos por ela. Nem uma só palavra de amor saíra dos lábios dele. Aquela certeza provocou-lhe um nó no estômago.

 

 

Os doridos ossos de Luc experimentaram uma sensação de alívio quando o seu helicóptero se aproximou da fazenda Tautara, chamada assim porque estava situada no alto da colina frente ao rio que ia dar ao maior lago da Nova Zelândia. Fez um esforço por não esfregar a anca para aliviar a dor de estar sentado na cabina do helicóptero. Aceitara que não estava capaz de, pelo menos daquela vez, pilotar ele mesmo o aparelho. Recuperar-se da anca partida levara-lhe mais tempo do que o esperado quando uma infecção no osso atrasou a reabilitação. O facto de saber que a sua esposa estava a apenas uns andares dele, presa a um coma que deixara os médicos perplexos, servira para acelerar a sua recuperação. Belinda saiu do coma precisamente quando ele começou a sua terapia intensiva e aceitou o desafio de recuperar a força anterior do seu corpo. Não queria parecer um inválido na primeira vez que ela o ia ver depois do acidente. Esforçara-se muito naquela última semana mas tinha valido a pena. Já estava quase em casa.

Com ela.

O helicóptero seguiu o caminho de um dos afluentes do lago, no qual Luc realizava com frequência expedições de pesca à truta com os seus hóspedes famosos, e sentiu-se à vontade naquela paisagem familiar. Sentia a energia da terra lá em baixo. Sim, ali curar-se-ia mais depressa e estaria no comando dos seus próprios progressos. No comando da sua vida. Como devia ser.

Olhou de soslaio para trás, onde Belinda olhava fixamente pela janela. Um feroz sentimento de posse apoderou-se dele. Era sua. Com memória ou sem ela, as coisas voltariam a ser como deveriam ter sido sempre… Antes do acidente.

Os seus olhos azuis cinza pareciam transparecer seriedade enquanto olhava em volta com o rosto pálido e os punhos cruzados sobre o colo. Mal se tinha mexido durante todo o voo. Luc supôs que estaria a reflectir. Não se lembrava de como o tinha conhecido. Não se lembrava do noivado nem do dia do casamento. Não se lembrava do acidente. Uma parte dele desejava que nunca o fizesse.

Quando o helicóptero ganhou altura, voaram em círculos em redor da fazenda de Tautara. Luc sorriu. Aquela fazenda era um monumento ao seu sucesso e poder, e era conhecida no mundo inteiro entre os ricos e famosos, até mesmo pela realeza. E era o seu lar, algo que nunca antes tivera. Recordou as palavras com as quais o seu pai o atazanava a cada momento: «Nunca chegarás a nada. Não alcançarás nada do que te propuseres».

«Enganaste-te, velho», disse para si próprio. «Possuo tudo o que tu nunca tiveste».

Sim, agora que tinham regressado, tudo correria bem.

O piloto aterrou o helicóptero na pista, desenhada para tal, e Luc desceu, voltando-se depois para ajudar Belinda a descer da cabina. Caminharam em silêncio para a casa que se erguia frente a eles. Belinda parou.

– Passa-se alguma coisa? – perguntou Luc, contendo-se para não agarrá-la por um braço e arrastá-la até à entrada.

– Eu estive aqui antes?– perguntou, hesitante.

– Claro. Muitas vezes, antes do casamento.

– Deveria lembrar-me de algo, mas não consigo.

Luc percebeu a sua frustração e sentiu uma breve mas evidente simpatia por ela. Aquela sensação desapareceu tão depressa quanto tinha chegado.

– Entremos. Talvez algo te estimule a memória.

Pegou-lhe na mão e experimentou uma sensação de alívio quando os seus delicados dedos se curvaram em redor dos seus, como se tivesse medo de dar mais um passo sem tê-lo ao lado. Surgiu-lhe nos lábios um sorriso e, com os dedos da outra mão, apertou com força a cabeça da bengala feita à medida, uma lembrança da incapacidade que permaneceria para sempre como legado do seu curto casamento.

Mesmo que Belinda nunca recuperasse a memória, tinha-a de volta a Tautara, ao lugar a que pertencia. Após cruzarem a porta e pisarem o parqué neozelandês, entraram no impressionante vestíbulo com aspecto de catedral. Luc conteve um grunhido de vitória. Agora, nada interferiria com os seus planos. Ninguém rejeitava Luc Tanner e saía triunfante… E muito menos a sua bela esposa.