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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2015 Michelle Conder

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Escondida no harém, n.º 2110- octubre 2016

Título original: Hidden in the Sheikh’s Harem

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9233-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

O príncipe Zachim Bakr Al-Darkhan tentou não bater com porta ao sair dos aposentos que o seu meio-irmão ocupava durante a sua breve visita. Nadir recusava-se com teimosia a ocupar o seu lugar no trono de Bakaan. E isso deixava Zachim numa posição muito delicada.

– Está tudo bem, Alteza?

Bolas! Estivera tão preocupado que não vira o velho empregado que o servira desde criança e, naquele momento, esperava por ele por baixo de um dos arcos do corredor do palácio.

Não. Nada estava bem. Com cada dia que passava sem ter um governante, o povo ficava cada vez mais agitado. O pai morrera há duas semanas, mas já havia rumores de que algumas tribos insurgentes estavam a reagrupar-se para atacar.

Como a tribo de Al-Hajjar. No passado, as suas famílias tinham pertencido a dinastias rivais até, há dois séculos, os Darkhan terem vencido os Hajjar numa guerra brutal e, com isso, terem criado ressentimentos difíceis de apagar com o tempo. Mas Zachim sabia que o atual líder da tribo, Mohamed Hajjar, odiava o pai, não só pela história passada, mas também porque o culpava pela morte da esposa grávida há dez anos.

A verdade era que o pai fora um tirano cruel que governara sob um império de terror e se vingara sem piedade quando não alcançava o que queria. Como resultado, Bakaan era um reino perdido na escuridão e no passado, tanto no que dizia respeito às suas leis como em relação às infraestruturas. Ia ser um desafio enorme trazê-lo para o século XXI.

Nadir estava mais bem qualificado do que ele para esse desafio. Não só porque tinha um grande talento para a política, mas porque era o primogénito. Se o irmão ocupasse o trono, Zachim poderia dedicar-se ao que fazia melhor, alimentar e gerir a mudança com o povo.

Já começara a fazê-lo depois de a mãe lhe ter rogado para ir ao palácio há cinco anos, quando Bakaan estivera à beira de uma guerra civil. As revoltas tinham sido encorajadas por uma das tribos da montanha, onde alguém publicara uma proclamação a detalhar todos os fracassos do rei e a incitar a mudança. A maioria das acusações contra o pai tinham sido certas, embora Zachim tivesse cumprido com o seu dever e tivesse acalmado os ânimos populares. Depois, preocupado com o estado em que o país se encontrava, deixara de lado o seu estilo de vida ocidental e ficara para mitigar os danos que o pai, cada vez mais narcisista e paranoico, causara ao povo. A morte chegara ao rei antes de ter mudado de ideias, o que fazia com que o filho se sentisse vazio por dentro. Por isso e porque o velho monarca nunca o considerara mais do que um possível sucessor ao trono.

– Alteza?

– Lamento, Staph – desculpou-se Zachim, afastando as lembranças, e começou a dirigir-se para a sua ala privada do palácio, enquanto o empregado acelerava o passo para o seguir. – Não, nada está bem. O meu irmão é muito teimoso.

– Não quer regressar a Bakaan?

Não. Zachim sabia que Nadir tinha boas razões para se recusar, mas também sabia que o irmão nascera para ser rei e que, se conseguisse superar o ressentimento, gostaria do trabalho de governar o seu pequeno reino.

Percebendo que Staph mal conseguia segui-lo, Zachim diminuiu o ritmo.

– Agora, tem outras coisas em que pensar.

Nadir acabara de descobrir que tinha uma filha e estava decidido a casar-se com a mãe. Zachim surpreendera-se muito, pois o irmão nunca acreditara no amor, nem no casamento. Ele, pelo contrário, sempre desejara ter uma família para a tratar muito melhor do que o pai os tratara.

De facto, estivera prestes a pedir a mão de uma mulher uma vez, antes de o terem chamado para o país. Amy Anderson tinha todos os requisitos que procurava numa mulher. Era sofisticada, educada e loira. O seu noivado decorrera sem complicações, embora algo tivesse feito com que Zachim repensasse as coisas. Nadir não o ajudara muito, quando o acusara de sempre ter escolhido as mulheres erradas.

Zachim despediu-se de Staph e entrou nos seus aposentos. Tirou a roupa a caminho do duche, lavou-se com a água a arder e deitou-se na cama. Combinara encontrar-se com o irmão à hora do almoço do dia seguinte, para que pudesse abdicar diante do conselho. No entanto, esperava que Nadir recuperasse a prudência antes disso.

Quando o som de uma mensagem vibrou no seu telemóvel, tirou-o imediatamente da mesa de cabeceira, agradecido por poder distrair os seus pensamentos. Era o seu bom amigo Damian Masters, com quem costumava fazer corridas de lanchas.

«Tens um convite para uma festa privada no teu correio eletrónico. Ibiza. Dei o teu endereço privado à princesa Barbie. Espero que não te importes. D.»

Ena, ena! Zachim não acreditava no destino e nos sinais, mas estivera a pensar em Amy, a princesa Barbie, como os amigos costumavam chamar-lhe. E ali estava.

Quando abriu o correio eletrónico, lá estava a mensagem em questão.

 

«Olá, Zachim, sou Amy.

Há muito tempo que não falamos. Disseram-me que vais à festa de Damian em Ibiza. Espero ver-te. Poderemos conversar?

Beijos,

Amy.»

 

Um sorriso malicioso desenhou-se no rosto do príncipe. Pelo tom da sua mensagem e pelos beijos da despedida, intuiu que talvez quisesse fazer mais do que conversar. Mas o que queria?

Pensativo, entrelaçou as mãos atrás da cabeça. Talvez não tivesse pensado muito nela nos últimos cinco anos, mas o que importava? Gostaria de verificar o que sentia ao vê-la outra vez. Assim, saberia se podia continuar a considerá-la uma candidata para ser a mãe dos futuros filhos.

Sem prestar muita atenção, enviou uma resposta curta, indicando que, se fosse à festa, falariam. No entanto, em vez de se sentir melhor, sentiu-se pior.

Cansado dos pensamentos sombrios que ameaçavam não o deixar dormir, levantou-se, vestiu as calças de ganga e uma t-shirt e dirigiu-se para a garagem do palácio. Entrou no todo-o-terreno e, depois de se despedir dos guardas, dirigiu-se para o deserto vasto e silencioso que rodeava a cidade. Sem pensar e deixando-se guiar pelo seu ânimo inquieto, saiu da estrada e levou o carro pelas dunas, iluminadas pela lua cheia.

 

 

Duas horas depois, atirou o bidão vazio de combustível para o banco de trás e praguejou em voz alta. Não se apercebera do tempo que passara ao volante nem de como se afastara. E ficara preso no meio do deserto sem gasolina e sem rede no telemóvel.

Sem dúvida, o pai teria chamado a sua impulsividade de arrogância. Para ele, fora apenas uma estupidez. Não devia ter entrado no deserto dessa maneira.

Bolas!

Naquele momento, ouviu movimento atrás dele e, quando se virou, viu que vários homens montados a cavalo apareciam no horizonte. Estavam vestidos de preto, com os rostos cobertos pelos keffiehs tradicionais para impedir que a areia lhes entrasse no nariz e nos olhos. Assim, era impossível saber se eram amigos ou inimigos.

Em poucos minutos, quando cerca de vinte estranhos estavam à frente dele, quietos e sem falar, Zachim adivinhou que deviam ser inimigos.

Devagar, observou cada um deles. Talvez conseguisse acabar com dez, dado que tinha uma pistola e uma espada. Embora talvez fosse melhor tentar ser diplomático primeiro.

– Suponho que nenhum de vocês tenha um bidão de gasolina, pois não?

O som de movimento numa das selas de couro fez com que Zachim fixasse a atenção no homem que estava no centro do grupo, que devia ser o líder.

– És o príncipe Zachim Al-Darkhan, orgulho do deserto e herdeiro ao trono, não é assim?

Bom, o pai não estaria muito de acordo com o título «orgulho do deserto» e também não era o herdeiro direto, mas Zachim pensou que não era o momento ideal para pensar nos detalhes.

– Sou.

– Ena, que coincidência – declarou o estranho, que olhava para ele fixamente com uns olhos cor de ónix.

Levantara-se um pouco de vento, mas a noite continuava limpa e, no céu, brilhava a lua cheia que o impulsionara a queimar a sua frustração com um dos seus passatempos favoritos.

O chefe do grupo dirigiu-se a um dos seus homens. Desmontou devagar e aproximou-se, até parar à frente de Zachim com uma postura desafiante. Ele manteve a expressão impassível, pensando que, se iam lutar com ele um a um, sairia a ganhar.

Então, os outros dezoito desmontaram também.

Muito bem, aquilo já era demasiado. Era uma pena que as suas armas estivessem no carro.

 

 

Farah Hajjar acordou, de repente, a meio da noite. Nunca dormia bem com a lua cheia. Era como um mau presságio para ela. A mãe morrera numa noite de lua cheia. Não conseguira adormecer naquela noite e chorara até ficar sem forças. Já não tinha doze anos, mas não o superara. Tal como não vencera o seu medo dos escorpiões… Algo difícil quando se vivia num deserto onde havia escorpiões às centenas.

Levantou-se na cama e, ao longe, ouviu um cavalo a relinchar.

Interrogou-se se o pai estaria de regresso de uma das suas reuniões de uma semana para discutir o futuro do país. Depois da morte do horrível rei Hassan, era da única coisa que falava. Disso e do seu temor de que o príncipe déspota Zachim governasse como o pai. O príncipe tivera uma vida de conto de fadas antes de voltar a Bakaan há cinco anos, se o que as revistas cor-de-rosa que ela lia contavam fosse verdade. Por isso, suspeitava que o pai tinha razão sobre o herdeiro ao trono. E isso seria mau para o povo.

Bocejando, ouviu o galope de mais cavalos e questionou-se o que estaria a acontecer. Se o pai tivesse de se ausentar mais um dia ou dois, era quase melhor. A verdade era que, por muito que ela tentasse, nunca conseguia agradá-lo. Para ele, as mulheres só serviam para tecer e ter filhos. De facto, casara-se pela segunda vez com a intenção de ter um filho varão e repudiara a esposa quando não o conseguira.

O pai não entendia o desejo de independência de Farah e ela não compreendia porque é que ele não aceitava que também tinha cérebro e sabia como usá-lo. Para cúmulo, estava decidido a casá-la, algo que ela não queria. Na sua opinião, havia dois tipos de homens no mundo: os que tratavam bem as esposas e os que não. Mas nenhum deles apoiaria a independência total da esposa, nem a sua felicidade.

Farah sabia que o pai agia guiado pela crença de que as mulheres precisavam da proteção de um homem. E ela ficara sem recursos para lhe demonstrar o seu erro.

Com um suspiro, virou-se para o outro lado, recordando como o amigo da infância pedira permissão para a cortejar. Amir era o braço direito do pai, por isso pensava que era o melhor partido para a filha. Infelizmente, Amir era igualmente machista e ela não queria casar-se com ele.

Como castigo, o pai proibira-a de receber mais revistas ocidentais, pois culpava-as das suas ideias loucas. A verdade era que Farah só queria ser diferente. Queria fazer mais do que trazer material educativo de contrabando para a aldeia. Queria mudar a situação das mulheres em Bakaan e defender os seus direitos. E sabia que não teria nenhuma possibilidade de o conseguir se se casasse.

O mais provável era que não tivesse nenhuma oportunidade em qualquer caso, mas isso não a impedia de tentar e, de vez em quando, ultrapassar os limites que o pai marcava.

Frustrada e irritada, pressentindo que algo terrível estava prestes a acontecer, acomodou-se na almofada e perdeu-se num sono inquieto e pouco reparador.

 

 

Uma sensação de inquietação acompanhou-a durante os dias seguintes, até a amiga chegar a correr até ela quando estava a limpar a manjedoura dos camelos e tudo piorar.

– Farah! Farah!

– Calma, Lila – tranquilizou-a Farah, deixando a pá de lado. – O que aconteceu?

Lila tentou recuperar o fôlego.

– Não vais acreditar, mas Jarad acabou de voltar do acampamento secreto do teu pai e… – começou a jovem e baixou o tom de voz, embora não houvesse mais ninguém por ali, para além dos camelos. – Diz que o teu pai sequestrou o príncipe de Bakaan.

Capítulo 2

 

Sentindo-se culpada por ter estado a desfrutar da ausência do pai, Farah correu para os estábulos e montou o cavalo branco. Se o que Lila dizia era verdade, o pai podia enfrentar a pena de morte por essa temeridade.

Como se conseguisse perceber o seu desassossego, o Raio de Lua relinchou e levantou a cabeça.

– Calma – tranquilizou-o Farah, embora precisasse mais de se acalmar do que o cavalo. – Corre como o vento. Tenho um mau pressentimento.

Pouco depois, entrou no acampamento secreto, desmontou e entregou o cavalo a um dos guardas para que lhe desse água. Estava a escurecer e, nas tendas, estavam a fazer-se os preparativos para passar a noite. De um dos lados do acampamento estava o deserto e, do outro, as montanhas, banhadas pelos últimos raios do entardecer.

No entanto, naquele dia, não tinha tempo para se deleitar com a sua beleza, pensou Farah. Estava muito nervosa, rezando para que Lila se tivesse enganado.

– O que estás a fazer aqui? – perguntou Amir, num tom seco e com o rosto tenso, ao vê-la a aproximar-se da tenda do pai.

– E tu? – replicou ela, cruzando os braços num gesto desafiante. Não estava disposta a deixar-se intimidar pelo seu antigo amigo da infância.

– Isso não é um assunto teu.

– Se o que me disseram é verdade, é – contradisse ela e respirou fundo. – Por favor, diz-me que não é verdade.

– A guerra é coisa de homens, Farah.

– Guerra? – repetiu ela e praguejou como um homem teria feito, enfrentando o olhar de desaprovação de Amir. – Portanto, é verdade – sussurrou. – O príncipe de Bakaan está aqui?

Amir cerrou os dentes.

– O teu pai está ocupado.

– Está lá dentro?

Farah referira-se ao príncipe, mas ele não entendeu.

– Não pode ver-te agora. As coisas são… Delicadas.

Uma forma muito subtil de o descrever, pensou ela. A tensão podia sentir-se no acampamento.

– Como aconteceu? Sabes que o meu pai é um homem velho e amargurado. Era a tua responsabilidade cuidar dele.

– Continua a ser o chefe de Al-Hajjar.

– Sim, mas…

– Farah? És tu? – chamou o pai, da tenda.

Ela sentiu um nó no estômago. Por muito machista e autoritário que fosse, era a única pessoa que tinha no mundo e amava-o.

– Sim, pai – confirmou Farah e, passando à frente de Amir, entrou na tenda.

O espaço estava iluminado com candeeiros a óleo, dividido por uma zona para comer e outra para dormir, com uma cama ampla e um círculo de almofadas. Vários tapetes cobriam o chão para o isolar do frio da noite.

O pai parecia cansado. Os restos do jantar ainda estavam na mesa.

– O que estás a fazer aqui, menina? – perguntou ele, com o sobrolho franzido. As mulheres não eram bem-vindas no santuário privado do chefe da tribo.

Farah conteve-se para não responder que só queria cuidar dele. A sua relação nunca fora muito afetuosa.

– Ouvi dizer que sequestraste o príncipe de Bakaan – indicou, rezando para que não fosse verdade.

O pai esfregou a barba branca, um gesto que significava que estava a pensar se devia responder ou não.

– Quem te disse isso?

– É verdade, então? – perguntou ela, sentindo-se embargada pela preocupação.

– A notícia não pode espalhar-se. Amir, encarrega-te disso.

– É óbvio.

Farah não se apercebera de que Amir a seguira para dentro. Virou-se para ele e, ao prestar mais atenção, apercebeu-se de que tinha um olho arroxeado.

– Como aconteceu isso?

– O que importa?

Farah interrogou-se se fora o príncipe que lhe dera um murro, mas não indagou mais.

– Mas porquê? Como?

Amir deu um passo à frente com o rosto tenso.

– O arrogante príncipe Zachim pensou que podia atravessar as dunas com o carro a meio da noite sem ter nenhuma reserva de combustível.

– E? – inquiriu Farah, olhando para o pai.

– E capturámo-lo.

Ela pigarreou, tentando não pensar o pior.

– Porque fizeram isso?

– Porque não queremos que outro Darkhan tome o poder e ele é o herdeiro.

– Pensei que o irmão mais velho era o herdeiro.

– O miserável Nadir vive na Europa e não quer ter nada a ver com Bakaan – indicou Amir.

– Isso não vem ao caso – replicou ela, abanando a cabeça. – Não podem… sequestrar um príncipe sem mais nem menos!

– Quando se souber que o príncipe Zachim já não está disponível, o país desestabilizar-se-á ainda mais e ficaremos com o poder que sempre nos pertenceu por direito próprio.

– Pai, as guerras tribais de que falas acabaram há centenas de anos. Eles ganharam. Não achas que está na hora de deixar o passado para trás?

– Não, não me parece. A tribo de Al-Hajjar nunca reconhecerá o poder dos Darkhan e não consigo acreditar que a minha própria filha me fale assim. Sabes muito bem o que me arrebataram.

Farah suspirou. Sim, o rei recusara-se a abastecer as regiões contíguas a Bakaan com provisões médicas, entre outras coisas. Por isso, ninguém pudera salvar a vida da sua mãe grávida, o tesouro mais querido do pai. Ela nunca bastara para acalmar a sua dor.

O pai continuou a enumerar tudo o resto que os Darkhan lhe tinham roubado: terra, privilégios, liberdade. Eram as mesmas histórias que ouvia desde pequena. E, na verdade, estava de acordo com a maioria das suas acusações. O falecido rei de Bakaan fora um tirano egoísta que nunca se preocupara com o povo.

No entanto, na sua opinião, sequestrar o príncipe Zachim não era uma maneira de resolver os velhos problemas. Sobretudo, quando era uma ofensa que se pagava com a prisão ou a morte.

– Como é que isto vai melhorar as coisas e trazer a paz? – inquiriu ela, apelando ao seu sentido racional.

O pai encolheu os ombros.

– O país não terá nenhuma oportunidade com ele no trono. É muito poderoso.

Sim, Farah ouvira dizer que o príncipe Zachim era poderoso. Também ouvira dizer que era muito bonito, o que as fotografias que vira publicadas na imprensa cor-de-rosa confirmavam. Embora não se preocupasse com o aspeto dele!

– E o que se passará agora? O que fará o conselho de Bakaan?

Pela primeira vez desde que Farah entrara, o pai mostrou-se inseguro. Levantou-se e começou a dar voltas pela tenda.

– Ainda não sabem.

– Não sabem? – repetiu ela, franzindo o sobrolho. – Como é possível que não saibam?

– Quando estiver pronto para revelar os meus planos, fá-lo-ei – afirmou o pai.

Isso significava que não tinha nenhum plano, adivinhou ela.

– Além disso, não é algo de que queira falar contigo. E porque estás assim vestida? Essas botas são de homem.

Farah bateu com o pé no tapete. Esquecera-se de que não tirara a roupa velha que usava para trabalhar com os camelos. Mas, iam falar da sua vestimenta quando tinham sequestrado o homem mais importante do país?

– Isso é o menos importante…

– Não é, se eu o disser. Sabes o que penso.