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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2015 Maya Blake

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Suave melodia, n.º 2143 - noviembre 2016

Título original: A Marriage Fit for a Sinner

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin

Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9236-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

– Um relógio de platina, dois botões de punho de diamantes, um anel de ouro, seiscentas libras em dinheiro… E um cartão Obsidian Privilege. Penso que é tudo, senhor. Assine aqui, para confirmar que recuperou as suas coisas.

Zaccheo Giordano não reagiu ao ar depreciativo do guarda, enquanto assinava o papel. Também não reagiu à inveja evidente no olhar dele, quando observou a limusina prateada que aguardava atrás das três fileiras de arame farpado.

Romeo Brunetti, o assistente de Zaccheo, a única pessoa a quem podia dar o nome de «amigo», estava junto do veículo.

Se estivesse com outro humor, Zaccheo teria sorrido ao vê-lo, mas há muito tempo que não estava com humor para nada. Mais concretamente, há catorze meses, quatro dias e nove horas. A sua condenação de dezoito meses fora reduzida para três meses e meio, devido ao seu bom comportamento.

A raiva impressa no seu ADN vibrou debaixo da pele, embora não o demonstrasse enquanto recolhia os seus pertences. O fato elegante com que entrara na prisão estava realmente deteriorado, mas não se importou com isso. Nunca fora escravo do conforto e dos bens materiais. A sua necessidade de validação ia muito mais além. A necessidade de se elevar sempre para além das circunstâncias era algo que estava impresso na sua personalidade, desde que tivera idade suficiente para reconhecer a realidade da vida com que nascera. Uma vida repleta de humilhações, violência e cobiça. Uma vida que levara o pai à degradação e à morte, aos trinta e cinco anos de idade.

As lembranças iam caindo como peças de dominó, enquanto avançava pelo corredor, rumo à liberdade. Teve de se esforçar para que a sensação de injustiça que experimentara durante tanto tempo não explodisse no seu interior.

Quando as portas se fecharam, Zaccheo inalou a primeira baforada de ar, com os punhos cerrados e os olhos fechados. Concentrou toda a sua atenção no canto dos pássaros e no murmúrio dos carros a circular na estrada, como fizera ao longo de muitas noites, durante a sua estadia na prisão.

Abriu os olhos, enquanto se encaminhava para a última porta. Um minuto depois, estava na rua.

– Fico feliz por voltar a ver-te, Zaccheo – afirmou Romeo, olhando para ele com uma expressão séria e preocupada.

Zaccheo sabia que não tinha precisamente bom aspeto. Há três meses que não se barbeava e mal comera depois de descobrir a verdade que se escondia por detrás do seu encarceramento. Mas passara muito tempo no ginásio da prisão. Caso contrário, o afã de vingança teria feito com que enlouquecesse.

Ignorou o olhar de preocupação do amigo e entrou no carro.

– Trouxeste o que te pedi?

– Sim. Os três arquivos e o portátil.

Enquanto Zaccheo se remexia no banco de couro da limusina, Romeo serviu dois copos de conhaque italiano.

Salute! – exclamou, depois de entregar um deles a Zaccheo.

Zaccheo pegou no copo sem dizer nada, bebeu o líquido cor de âmbar de um só gole e permitiu que o cheiro do poder e da prosperidade, as ferramentas de que ia precisar para que o seu plano funcionasse, o envolvesse.

Enquanto o veículo se afastava do lugar que se vira obrigado a considerar o seu lar durante mais de um ano, pegou no portátil.

Tremeram-lhe os dedos, quando o logótipo da Giordano Worldwide Inc. surgiu no ecrã. A obra da sua vida, praticamente destruída pela avareza, pelo afã de poder. Só graças aos esforços de Romeo é que a empresa não fora à falência durante os meses que Zaccheo passara na prisão, por um crime que não cometera. Não só não fora à falência, como prosperara incrivelmente, graças a Romeo.

E embora não tivesse acontecido precisamente o mesmo com a sua reputação pessoal, pelo menos, já saíra da prisão e estava livre para apresentar os verdadeiros culpados perante a justiça. Não tencionava descansar, até o último responsável por tentar destruir a sua vida pagar com a sua própria destruição.

Respirou fundo quando a primeira imagem apareceu no ecrã.

Oscar Pennington III. Parente afastado da família real. Educado em Eton, rico e de ascendência nobre, pertencia às classes dirigentes. Um homem avaro, sem princípios. As suas empresas tinham recebido uma imprescindível injeção de capital há exatamente catorze meses e duas semanas, quando se transformara no único dono do edifício moderno mais relevante de Londres. O Spire.

Zaccheo reviu, com aparente frieza, o relatório das inumeráveis celebrações que se tinham seguido ao triunfo aparente de Oscar Pennington. Numa das fotografias, aparecia com uma das duas filhas. Sophie Pennington era uma mulher dotada de uma beleza clássica, que estava a transformar-se na cópia exata do pai.

Zaccheo fechou esse arquivo e abriu o último.

Eva Pennington.

Desta vez, Zaccheo não conseguiu reprimir um gemido.

O cabelo louro que caía pelos ombros em ondas densas. Sobrancelhas e pestanas escuras emolduravam uns olhos verdes, uns olhos que tinham atraído mais a atenção de Zaccheo do que teria querido, da primeira vez que a vira, tal como os lábios carnudos e arqueados, quase sempre curvados num sorriso sedutor. E embora a fotografia só mostrasse o rosto, a imagem do resto do corpo de Eva Pennington estava indelevelmente gravada na sua mente. Não teve de fazer um esforço para recordar as formas arredondadas ou os saltos que se obrigava a usar, apesar de odiar, para parecer mais alta.

E também não teve de se esforçar para recordar as atrocidades dela. Passara muito tempo deitado na sua cama, a amaldiçoar-se por ter ficado espantado com a traição peculiar, quando devia ter esperado algo parecido, depois do fracasso dos pais e dele próprio, na hora de se relacionar com a classe alta. Costumava orgulhar-se por saber ler e interpretar as pessoas com grande facilidade mas, no entanto, aquela mulher enganara-o.

Cerrou os dentes e continuou a ler o relatório detalhado sobre as aventuras de Eva Pennington durante o ano transato. Ao chegar à última página, ficou gelado.

– Desde quando é que esta última parte está no relatório?

– Incluí-a ontem. Pensei que te iria interessar – indicou Romeo.

Zaccheo voltou a olhar para o relatório, sem revelar o choque.

– Vamos para casa de Esher ou para o apartamento? – perguntou Romeo.

Zaccheo voltou a ler, para assimilar os detalhes principais. Mansão Pennington. Às oito da tarde. Trezentos convidados. Seguido de uma refeição familiar no domingo, no Spire.

«O Spire…». O edifício que devia ter sido o seu grande sucesso.

– Para casa – replicou.

Fechou o arquivo, enquanto Romeo dava a ordem ao motorista.

Zaccheo tentou relaxar, mas não conseguiu. Não tinha outro remédio senão alterar os seus planos.

«Uma corrente é tão forte como o seu elo mais fraco». Apesar de os três Pennington terem conspirado para o encarcerar, tal informação exigia o uso de uma nova tática. Em qualquer caso, não tencionava parar até lhes arrancar o que mais queriam. O seu dinheiro e o seu bem-estar económico.

Planeara esperar um dia ou dois, para se certificar de que tinha Oscar Pennington onde queria, para desferir o golpe, mas esse plano já não era viável. Não podia esperar até segunda-feira para destruir a família que o tornara um delinquente.

Teria de tratar disso nessa mesma noite. Começando pelo membro mais jovem da família, Eva Pennington.

A sua ex-namorada.

 

 

Eva Pennington ficou a olhar para o vestido que a irmã segurava.

– Falas a sério? Não tenciono usar isso. Porque não me disseste que a roupa que tinha deixado aqui já não estava cá?

– Porque, quando te foste embora, disseste que não a querias. Além disso, era antiquada. Enviaram-ma esta manhã, de Nova Iorque. É o último grito da moda – replicou Sophie.

– Não tenciono usar um vestido que me fará parecer uma caçadora de fortunas. E, tendo em conta o estado das nossas finanças, não sei como podes ter pensado em gastar dinheiro «nisso» – Eva não entendia como o pai e a irmã podiam ignorar o estado delicado das suas finanças.

– Este vestido é único – insistiu Sophie. – E, a menos que me engane, é o tipo de vestido de que o teu futuro marido gosta. Além disso, poderás tirá-lo assim que tirarem as fotografias e a festa acabar.

Eva cerrou os dentes.

– Para de tentar manipular-me, Sophie. Pareces ter esquecido quem conseguiu este resgate. Se não tivesse chegado a um acordo com Harry, teríamos ficado sem nada numa semana. Quanto ao que ele gosta que as mulheres usem, terias poupado um gasto desnecessário se tivesses falado comigo primeiro, pois visto-me para mim e para mais ninguém.

– Falar contigo primeiro? O pai e tu tiveram essa simpatia comigo, antes de planearem tudo isto, nas minhas costas?

Eva sentiu um aperto no coração, perante o ciúme evidente da irmã. Como se não tivessem sido suficientes as duas semanas que passara sem saber que decisão deveria tomar. Não importava que o homem com quem decidira casar-se fosse um amigo e que estivesse a ajudá-lo tanto como ele a ela. O casamento era um passo que teria preferido não dar.

Mas era evidente que não era assim que a irmã o via. O descontentamento crescente de Sophie, com qualquer relação que ela tentasse forjar com o pai, fazia parte do motivo por que se fora embora da mansão Pennington. Além disso, o pai não era um homem com quem fosse fácil viver.

Sophie sofria sempre daqueles ciúmes. Enquanto a mãe estava viva, fora mais fácil aceitar que Sophie era a preferida do pai e ela a preferida da mãe. Mas, quando morrera, cada vez que tentara relacionar-se com o pai, encontrara a indiferença dele e os ciúmes de Sophie.

Contudo, por muito irracional que fosse, isso não impedira que tentasse raciocinar com a irmã que, numa outra época, admirara.

– Não planeámos nada nas tuas costas. Estavas fora, por causa de uma viagem de negócios…

– A tentar usar o curso de economia, que parece já não significar nada. Não podes aparecer aqui de qualquer forma, depois de teres passado três anos a interpretar baladas velhas, em bares sórdidos, para passar o dia – acusou Sophie, com aspereza.

Eva refreou o seu mau feitio, com esforço.

– Sabes que renunciei a continuar a trabalhar na Pennington, porque o pai só me contratou para que atraísse um marido adequado. E, só porque os meus sonhos não coincidem com os teus…

– Esse é precisamente o problema. Tens vinte e quatro anos, mas continuas a sonhar. Os outros não podem dar-se a esse luxo e também não caem de pé como tu, que só tiveste de estalar os dedos para um milionário resolver todos os nossos problemas.

– Harry está a salvar-nos, a todos. E achas mesmo que caí de pé, ao ter ficado noiva pela segunda vez, em dois anos?

Sophie deixou cair o vestido na cama.

– Para quem importa, este é o teu primeiro noivado. O outro durou apenas cinco minutos. Praticamente, ninguém sabe nada.

– Eu sei que aconteceu.

– Se a minha opinião continua a contar para alguma coisa, sugiro que não o divulgues. É melhor deixar esse assunto no passado… Tal como o noivo.

– Não posso fingir que não aconteceu nada.

– A última coisa de que precisamos é de um escândalo. E não sei porque culpas o pai pelo que aconteceu, quando devias estar agradecida por te ter afastado desse homem, antes de ser demasiado tarde – defendeu Sophie, calorosamente.

«Desse homem».

Zaccheo Giordano.

Eva não sabia se a dor que estava a experimentar se devia a ele ou à lembrança de como fora ingénua, ao imaginar que era diferente de todos os homens que conhecera.

E era precisamente por isso que preferia viver afastada do seu lar familiar, em Surrey.

Era por isso que as colegas a conheciam como Eva Penn, empregada no Siren, o clube noturno londrino onde também cantava, e não como lady Eva Pennington, filha de lorde Pennington.

A relação que tivera com o pai sempre fora difícil, mas nunca pensara que chegaria a distanciar-se tanto da irmã.

– Com o meu acordo com Harry, não tencionava sabotar nada do que estivesses a fazer com o pai, para salvar a Pennington – indicou, no tom mais conciliador que pôde. – Não tens de ficar triste, nem ciumenta. Não estou a tentar ocupar o teu lugar…

– Ciumenta! Não sejas ridícula! – exclamou Sophie. E o matiz de pânico na sua voz fez com que Eva sentisse que o coração se partia. – Além disso, nunca poderias ocupar o meu lugar. Sou o braço direito do pai, tu és apenas… – interrompeu-se e, ao fim de alguns segundos, empinou o nariz e acrescentou: – Os convidados não tardam em chegar. Não deves atrasar-te, no dia do teu noivado.

Eva conteve a tristeza.

– Não tenho intenção de chegar atrasada. Mas também não tenho intenção de usar um vestido praticamente invisível – indicou, enquanto se encaminhava para o armário enorme que havia aos pés da cama.

Suspirou, aliviada, ao encontrar um xaile de seda. O vestido vermelho era muito justo mas, com o xaile, poderia disfarçá-lo um pouco. Tremeu novamente, ao olhar para o vestido. Preferia estar em qualquer outro lugar, a ter de participar naquela farsa. Mas, a sua vida não fora uma farsa? Desde ter uns pais que aparentavam ser o casal perfeito, mas que discutiam amargamente, em privado, até às férias exóticas e caras que o pai costumava financiar, depois de pedir dinheiro emprestado, em segredo, os Pennington tinham sido apenas uma grande farsa, desde que se conseguia recordar.

E a entrada de Zaccheo nas suas vidas só servira para que o comportamento do pai piorasse.

Mas recusava-se a pensar em Zaccheo. Pertencia a um capítulo da sua vida que já tinha enterrado. Essa noite seria para Harry Fairfield, o salvador da sua família, o homem de quem ficaria noiva, em breve.

Além disso, a saúde do pai também estava em jogo. Só por esse motivo, tentou falar novamente com Sophie.

– Pelo bem do pai, quero que corra tudo bem esta noite. Portanto, o que achas, se tentarmos dar-nos bem?

– Se tentas recordar-me que o pai teve de ser hospitalizado há duas semanas, não o esqueci – indicou Sophie, tensa.

– Mas hoje está bem, não está? – perguntou Eva que, apesar de se sentir magoada com a forma como a família a tratara, não conseguia evitar preocupar-se com o único pai que tinha.

– Ficará bem, assim que se livrar dos credores e da ameaça de ruína.

Eva pensou, pela enésima vez, que não podia voltar atrás. Não ia surgir nenhuma solução milagrosa, para a salvar do sacrifício que ia fazer. A aquisição precipitada do edifício Spire, por parte do pai, levara a empresa à beira da bancarrota. Harry Fairfield era a sua última esperança.

Abriu o fecho do vestido, resistindo ao impulso de o amarrotar, de o atirar para o chão.

– Vemo-nos lá em baixo, dentro de um instante – indicou Sophie, com frieza, antes de se virar para sair.

Eva vestiu o vestido, evitando olhar-se ao espelho, depois de uma olhadela rápida lhe ter mostrado o que mais temia. Cada uma das suas curvas ficava realçada com aquele modelo que, além disso, deixava exposta grande parte da sua pele. Pintou os lábios com uma mão trémula e, depois, introduziu os pés nos sapatos de plataforma, a condizer.

Depois de pôr o xaile vermelho e amarelo por cima dos ombros, voltou a olhar-se ao espelho.

«Anima-te, rapariga. Chegou a hora do espetáculo».

Desejou que a proprietária do Siren estivesse a pronunciar aquelas palavras, como fazia sempre que estava prestes a entrar em palco.

Infelizmente, não era nenhuma sereia. Para preservar o nome da sua família, do escândalo, prometera casar com um homem que não amava.

Nenhuma frase de ânimo teria servido para acalmar a agitação que lhe percorria as veias.