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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Kim Lawrence

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Traição, n.º 1075 - junho 2017

Título original: Claiming His Pregnant Wife

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9833-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Epílogo

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Capítulo 1

 

Francesco Romanelli acabara de parar o carro na berma da auto-estrada quando o telemóvel que trazia no bolso começou a vibrar novamente. Um ar de impaciência franziu a sua testa alta e inteligente enquanto o ignorava. No entanto, a interrupção fê-lo virar brevemente o olhar para o banco do passageiro, onde havia outro telefone, aquele desligado.

Fora a única coisa que sobrevivera ao desastre, quando fora à casa que tão brevemente partilhara com a sua esposa para levar tudo o que o fizesse lembrar-se dela e do seu casamento fugaz. Ou pelo menos fora o que pensara.

Se a sua criada diligente não tivesse sido tão meticulosa na sua guerra contra o pó, ele não teria chegado a descobrir a existência daquele telefone e não teria chegado a descobrir o seu conteúdo explosivo.

Que, provavelmente, era exactamente o que a sua esposa pretendia.

Que outra coisa podia pensar?

Cerrou os dentes enquanto se esforçava para conter a indignação que ameaçava apropriar-se dele cada vez que pensava na situação em que se encontrava. E, na verdade, mal conseguira pensar noutra coisa durante os últimos quatro dias.

Depois dos acontecimentos do mês anterior era irónico que no ano anterior, por volta dessas mesmas datas, estivesse a queixar-se ao seu irmão gémeo de que a sua vida se tornara demasiado previsível.

Por aquela época, acabara com a sua amante do momento. Fora uma separação civilizada, tal como a relação. Apesar de ser alguém bastante perspicaz, Francesco não se apercebera do que se passava. No entanto, depois compreendeu que já houvera indícios do que ia acontecer quando lhe perguntara para onde achava que a sua relação ia.

Ele vira-se obrigado a admitir que não achava que fosse em nenhuma direcção específica.

Naquele momento, não lhe ocorrera que ela pudesse ter algum problema com aquela admissão. Porque havia de ter? A mulher em questão, uma advogada tão bonita como inteligente, deixara muito claro no começo da sua relação que não tinha tempo para enredos emocionais. De maneira que, para Francesco, fora uma surpresa ouvi-la dizer:

– Não é nada pessoal, querido. Na verdade, nunca desfrutei de melhor sexo, porém, com o meu relógio biológico a funcionar, não posso arriscar-me a perder tempo com um homem alérgico ao compromisso.

Aquele comentário não fez Francesco perder sono, mas fê-lo reflectir.

– Achas que sou alérgico ao compromisso? – perguntara ao seu gémeo, mais adiante.

– Claro que não – respondera Rafe, com tacto, – mas talvez fosse bom se dedicasses tanto esforço às tuas relações pessoais como ao teu trabalho.

– Esse é o problema. Alguns dias, não tenho de me esforçar muito no trabalho… – admitira Francesco. – Às vezes, dou por mim a desejar que aconteça algum desastre para poder resolvê-lo. Não há surpresas. A minha vida é totalmente previsível. Não há desafios reais, nada realmente estimulante.

– Talvez haja uma surpresa ao virar da esquina que mude a tua vida – sugeriu o seu irmão, com um sorriso.

– Espero que sim.

 

 

O que costumava dizer-se? «Tem cuidado com os teus desejos porque podem tornar-se realidade».

Talvez fosse verdade, pensou Francesco, sombriamente. Certamente, a sua vida mudara de forma radical.

Em poucos meses, sofrera a perda devastadora do seu irmão gémeo em circunstâncias trágicas e, enquanto ainda tentava recuperar-se da perda, descobrira que o amor à primeira vista não estava exclusivamente confinado às páginas dos romances.

Embora talvez devesse ter pensado melhor antes de se casar com alguém cinco dias depois de se ter apaixonado!

Observou o anel que tinha na sua mão esquerda e agarrou-se com força ao volante ao mesmo tempo que a sua boca se curvava num ar depreciativo. Amor! Não fora amor, disse para si com firmeza. Fora apenas uma mistura de desejo e de teimosia passageiros.

Algumas pessoas teriam pensado que a sua reacção à carta que recebera de Erin há uma semana sugeria algo mais do que teimosia ou desejo. Mas essas pessoas não compreendiam como ele rejeitava a ideia do fracasso. E, em essência, o divórcio era isso: um fracasso.

Sem dúvida, sair do escritório dois minutos antes de uma reunião importante sem comunicar a ninguém para onde ia e entrar num avião com direcção a Inglaterra com a intenção de dizer à sua esposa em pessoa que nunca lhe concederia a liberdade era uma reacção bastante forte à sugestão do fracasso.

Mas ele teria explicado aos cépticos que a palavra «fracasso» nunca fizera parte do seu vocabulário. O fracasso era algo que acontecia a outras pessoas. A sua premissa na vida fora sempre que, se queria algo realmente, lutava por isso até o conseguir.

O avião ainda estava a aterrar quando lhe ocorreu perguntar-se porque ia lutar por ela. Não a amava.

Afinal de contas, porque havia de querer estar com uma mulher que não confiava nele?

Sabia que Erin podia interpretar a sua chegada como um passo para a reconciliação, mas isso não ia acontecer. Ela é que estava errada.

Ela é que devia ter ido ter com ele, a arrastar-se.

Virou novamente o olhar para o banco de passageiros. Tudo mudara quando aquele telefone revelara a informação que continha.

Já tanto fazia quem desse o primeiro passo. Não havia nenhuma decisão a tomar. O divórcio já não era uma opção. Se Erin tivesse sido suficientemente adulta também teria compreendido.

A situação requeria uma acção imediata.

Quando a criada lhe entregara o telefone, estivera prestes a deitá-lo fora, porém, felizmente, não o fizera.

Erin tinha uma mensagem.

Sem desviar o olhar da estrada, Francesco recordou o momento em que ouvira aquele tom de voz educado a desculpar-se antes de explicar que a consulta para o exame da gravidez da senhora Romanelli fora antecipado uma semana.

Tivera de ouvir a mensagem três vezes antes de a sua mente assimilar finalmente a informação.

Ia ser pai!

Supostamente, um homem devia sentir um grande júbilo num momento como aquele, mas Erin negara-lhe a possibilidade de o sentir. Porque cada vez parecia mais evidente que planeara roubar-lhe o seu filho. Perguntou-se se alguma vez poderia perdoá-la por isso.

Teria pensado em dizer-lhe em algum momento?

Embora durante aqueles últimos dias tivesse analisado a situação de todos os ângulos possíveis, procurando todas as justificações razoáveis para o silêncio de Erin, não conseguira encontrar nenhuma desculpa adequada.

Até lhe concedera o benefício da dúvida e aceitara que talvez não soubesse que estava grávida quando se fora embora, mas já devia saber há semanas.

Semanas durante as quais não fizera nenhum esforço para entrar em contacto com ele, excepto pela carta em que expressara o seu desejo de se divorciar o mais depressa possível. Era evidente que Erin decidira não lhe contar que ia ser pai. E ter consciência disso era como ter um espinho cravado no coração.

Erin tomara uma decisão unilateral, como se ele fosse irrelevante. Mesmo que tivesse decidido que não tinham futuro como casal, havia coisas para discutir, acertos… opções! Ainda que para ele só houvesse uma opção: criar e educar o seu filho com os seus dois pais.

Tentara entrar em contacto com ela para lhe dar a oportunidade de se explicar, mas a mãe manipuladora de Erin dedicara-se a gozar com ele.

Será que Erin pensava mesmo que podia ter o seu filho sem que ele descobrisse? A gargalhada áspera que escapou de entre os lábios de Francesco interrompeu-se quando o telemóvel que trazia no bolso começou a tocar novamente. Aparentemente, quem quer que fosse que tentava entrar em contacto com ele não ia render-se facilmente. Com um suspiro de irritação, ligou o pisca-pisca para indicar que deixava a auto-estrada.

 

 

Erin surpreendeu-se quando Valentina, a prima de Francesco, entrou em contacto com ela e a convidou para passar o fim-de-semana na quinta de cavalos que tinha com o seu marido inglês.

Pensou que talvez não soubesse que Francesco e ela tinham acabado. Mas não achava que alguém acreditasse que tinha o coração destruído e, com o tom mais despreocupado que pôde, perguntou:

– Sabes que Francesco e eu já não estamos juntos?

– Sim, sei e não sabes como lamento – replicou Valentina. – Mas suponho que isso não significa que já não possamos ser amigas, pois não?

Erin não tinha muita vontade de aceitar o convite, mas Valentina mostrara-se tão entusiasmada com a ideia de a ver que sentiu que teria sido grosseiro negar-se.

Chegara na tarde anterior e Valentina explicara-lhe que os outros convidados só chegariam no dia seguinte. Olhou para o seu relógio e perguntou-se se já teria chegado alguém.

O som dos cascos de um cavalo fê-la aproximar-se da janela. Lá fora, no pátio, uma rapaz de quadra estava a ter dificuldades para segurar as rédeas de um garanhão preto que não parava de levantar as patas traseiras.

A primeira vez que vira Francesco, ele estava sentado sobre um animal parecido com aquele. Havia mais pó e suor então, mas o animal possuía a mesma força indómita… tal como o seu cavaleiro.

Erin semicerrou os seus olhos azuis enquanto os seus pensamentos a levavam para trás no tempo.

Ouviu novamente o som dos cascos do cavalo na pavimentação enquanto subia pela costa íngreme que a fizera sair da bicicleta.

O alívio que sentira vira-se moderado pela cautela. Afinal de contas, era uma mulher e estava sozinha. E de quem era a culpa?

Ao descobrir que tinha intenção de alugar uma bicicleta para explorar a zona, o director do hotel avisara-a de que devia ter cuidado e, quando Erin lhe dissera que tinha intenção de sair sem nenhuma das suas três companheiras, manifestara a sua desaprovação.

– Não é boa ideia que uma mulher viaje sozinha, signorina. Pode perder-se com facilidade.

Erin limitara-se a sorrir educadamente enquanto lhe mostrara os seus mapas e não fizera caso do conselho.

Podia ter-lhe explicado que queria estar sozinha, que precisava imperiosamente de estar sozinha, mas não achava que o director tivesse entendido. Nem ela própria entendia como era possível que as mulheres de cuja companhia desfrutava no seu país conseguissem tirá-la do sério em férias. Não entendia como podia ter chegado a pensar que tinham muito em comum!

Se não fugisse delas, poderia acabar por lhes dizer o que pensava, algo que não podia permitir que acontecesse.

No seu país eram pessoas muito agradáveis, mas durante as férias transformavam-se em monstros que não paravam de falar do seu bronzeado e olhavam para ela como se tivesse ficado louca quando sugeria ir fazer um piquenique ou ir à vila mais próxima.

Mas estar sozinha perdeu rapidamente a sua beleza quando se encontrara perdida, com um pneu furado, o nariz queimado e com dores numa série de músculos que nem sequer sabia que existiam.

O pânico estivera prestes a apoderar-se dela, porém, felizmente, aparecera alguém.

Levantara uma mão para se proteger do sol. Com o brilho do sol atrás de si, a figura do cavaleiro que se aproximara fora uma silhueta escura emoldurada por uma auréola de luz dourada.

Ao vê-la, o homem fizera o cavalo abrandar. Erin dera um passo instintivo para trás quando o cavalo chegara muito perto dela, mas o cavaleiro fizera com que parasse com um murmúrio suave em italiano fluente. Depois, permanecera um bom bocado em silêncio, a observá-la.

Incapaz de lhe ver o rosto com clareza, Erin já começara a ficar nervosa quando o cavaleiro tirara as botas das esporas e desmontara. Dera uma palmadinha nas costas trémulas do cavalo e soltara despreocupadamente as rédeas. O animal dera coices, inquieto, mas não aproveitara a oportunidade para fugir.

Com os pés aparentemente cravados ao chão e o seu corpo a reagir a um nível elementar e humilhante face à beleza daquele desconhecido alto, Erin perguntara-se se o cavalo se sentiria tão subjugado como ela na presença do seu amo.

Os batimentos do seu coração aceleraram e sentira que uma descarga de adrenalina percorria as suas veias. Sustivera a respiração, demasiado maravilhada naquele momento para perceber a qualidade sedutora daquele homem, algo que, noutras circunstâncias, a teria feito fugir na direcção oposta.

Observara-o dissimuladamente por trás da cortina das suas pestanas. Alto e esbelto, de ombros largos e cintura estreita, mexia-se com a elegância natural de um atleta e a arrogância despreocupada de alguém consciente da sua beleza.

Era o tipo de homem que não costumava impressioná-la.

Demasiado bonito, demasiado seguro de si próprio. Provavelmente, tinham-no tratado desde que nascera como se o mundo girasse em seu redor.

Apesar de tudo, enquanto o desconhecido tirara as luvas, Erin não fora capaz de recorrer ao desprezo irónico que costumava usar em situações como aquela.

Talvez se tivesse sentido distraída pelas botas de couro que o desconhecido usara. Quando finalmente desviara o olhar delas, o seu olhar deslizara ao longo de umas calças de ganga gastas e umas pernas muito compridas. Hipnotizada, observara como batia nas coxas para tirar o pó.

A t-shirt preta que vestira sob a sua camisa desabotoada também fora suficiente justa para atrair a atenção para a sua barriga, plana como uma tábua.

Erin soubera que olhara para ele, embevecida, mas não conseguira evitá-lo. Queria mexer-se, mas o seu corpo parecera estranhamente desligado do seu cérebro.

Os batimentos do seu coração tinham aumentado quando o desconhecido avançara para ela.

Capítulo 2

 

Erin engolira com dificuldade, consciente de que aquela era uma cena que nunca conseguiria apagar da sua mente.

O desconhecido parara a alguns passos dela, mas suficientemente perto para lhe permitir ver o pó que cobria as rugas ligeiras que irradiavam dos seus olhos, uns olhos extraordinários, incrivelmente pretos e emoldurados por umas pestanas igualmente escuras.

A sua expressão fora ininterpretável, embora o seu nariz aquilino se franzisse enquanto olhara para ela.

De repente, fizera uma pergunta num tom de voz grave e profundo.

Erin sentira que um arrepio quente percorria o seu corpo ao mesmo tempo que encolhia os ombros.

Vira um brilho de algo parecido com irritação nos olhos do desconhecido, que levantara uma mão para a passar pelo cabelo, um cabelo preto como o azeviche e que provavelmente seria suave como a seda sob a camada de pó que o cobria.

Sentira formigueiros nos dedos ao imaginar-se a acariciá-lo.

Horrorizada pelo rumo que os seus pensamentos seguiam, decidira que devia ter apanhado demasiado sol. Tinha de ser isso. Ela não era o tipo de mulher que se dedicava a fantasiar com homens desconhecidos.

Respirara fundo e esforçara-se para adoptar uma expressão que sugerisse que era totalmente imune aos homens altos de aspecto romântico que cavalgavam montados em cavalos pretos magníficos.

– Fala inglês?

Não fora precisamente o tipo de homem a que teria recorrido em busca de ajuda, mas não estivera em condições de escolher.

– Inglês? – repetira lentamente, com a vã esperança de ver um ar de reconhecimento nos olhos espectaculares do desconhecido.

O homem continuara a olhar para ela sem dizer nada.

– Perdi-me – explicara Erin, ao mesmo tempo que apontara para si própria. – Preciso… estou à procura… bolas! – exclamara e baixara-se para pegar no mapa que deixara no chão preso com uma pedras enquanto o estudara. – Mapa… – acrescentara, abanando-o à frente dele.

Quando o homem olhara para ela e encolhera os ombros, Erin não conseguira evitar que a sua frustração aflorasse. A tensão das horas passadas manifestara-se em lágrimas que se derramaram pelas suas faces. Limpara-as rapidamente com uma exclamação de irritação.

Respirara novamente fundo e tentara acalmar-se. Se aquele homem não conseguisse ajudá-la, talvez pudesse indicar-lhe onde encontrar alguém que pudesse fazê-lo.

Sorrira e apontara no mapa para um ponto rodeado com um círculo vermelho.

– Preciso… – começara, levantando ligeiramente o tom de voz. Ao ver a total falta de compreensão que o rosto do homem revelou, suspirara. – Não sei porque estou a gritar. Não fazes ideia do que estou a dizer, pois não?

Ele olhara para o mapa, para ela e, depois, encolhera outra vez os ombros.

Erin suspirara novamente.

– Porque é que tens de ser bonito e estúpido? Conheço algumas mulheres que dariam tudo pelas tuas pestanas. E conheço outras que dariam ainda mais por ti. Há muita procura para monumentos como tu. Eu prefiro os tipos sensíveis, mas costumam ser homossexuais.

A expressão do homem não se alterara, embora os seus lábios tremessem ligeiramente.

– Lamento – redarguira Erin, – mas enquanto falo não me assusto e se parar podias ir-te embora e voltaria a ficar sozinha. E não falava a sério quando disse que eras estúpido por não falares inglês. Simplesmente, teria sido muito mais prático. Além disso, foi tudo culpa minha. Não sei porque pensei que gostava de andar de bicicleta – olhara para a bicicleta com verdadeira aversão. – Não me surpreenderia nada que o rabo me doesse durante um mês – continuara e esfregara o rabo. – Mas tinha de me afastar das pessoas com que estou a passar férias. Poupei todo o ano para vir aqui, mas elas contam as calorias à hora de almoço e pensam que o costume local consiste em passar a noite num clube nocturno cheio de fumo – ela rira-se. – Dito assim não parece assim tão terrível, pois não? Acho que o problema é que não sou muito tolerante – ela rira-se novamente e dobrara o mapa. – Sei que não te importarias, mesmo que entendesses o que digo, mas obrigada de qualquer modo por ouvires.

– De nada.

Erin ficara momentaneamente boquiaberta ao mesmo tempo que o mapa lhe caía das mãos.

– Falas inglês! – exclamara e a sua expressão de espanto transformara-se noutra de aborrecimento. Ao recordar o que dissera àquele desconhecido atraente, corara intensamente. – Porque não o disseste desde o começo em vez de me deixares tagarelar?

– Não me pareceu adequado interromper-te… Além disso, teria sido difícil fazê-lo depois de teres começado.

Erin decidira ignorar aquilo e dedicara-lhe um olhar que teria feito com que muitos outros homens se encolhessem.

– Não quero entreter-te.

Ele sorrira, deixando a descoberto uma fileira de dentes brancos e perfeitos. Erin decidira que parecia um pirata.

– Estou convencido de que sabes andar perfeitamente a sós nestes bosques… – dedicara-lhe um olhar especulativo. – És de Londres?

– Não.

– Tanto faz. O caso é que isto não é Londres, cara. Este é o meu território. Precisas de ajuda e, se estiveres disposta a ignorar a minha falta de sensibilidade, eu sou essa ajuda.

– Estou habituada a homens insensíveis, embora nunca tivesse conhecido nenhum tão mesquinho e matreiro como tu. E não preciso da cavalaria – Erin inclinara a cabeça para o cavalo do desconhecido. – Mas agradeceria que me dissesses onde estou – concedeu.

Ele olhara para ela com uma expressão brincalhona.

– E serás mais sensata se te disser?

Erin revirara os olhos, exasperada.

cara

O sorriso do desconhecido fizera com que Erin sentisse que, de repente, caía a pique.

– Vens? – perguntara ele.

– Eu… não sei… como?

– Isso é um «sim», ou um «não»?

– Não… sim…

– És sempre assim tão indecisa?

– De certeza que aparecerá alguém se esperar – o tom de dúvida de Erin fora um convite para que o homem manifestasse o seu desacordo.

Mas não o fizera.

Erin observara com uma mistura de espanto e de indignação como pusera a bota no estribo e montara no seu cavalo ao mesmo tempo que murmurara umas palavras tranquilizadoras.

– Nesse caso, adeus.

Erin não lhe rogara que ficasse por pura teimosia e orgulho. E tivera tempo de sobra para se arrepender durante os vinte minutos seguintes.

Fora o tempo que demorara a levar a bicicleta até ao topo da colina, onde uma camioneta poeirenta parara no meio de uma nuvem de pó.