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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1997 Helen Conrad

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Esposa pelo correio, n.º 247 - outubro 2017

Título original: Wife by Contract

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-610-6

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Joe Camden não estava à espera que se lhe fizesse um nó na garganta. Não se considerava um sentimental, mas tinha sentido algo quando saíra do seu carro e olhara para a velha casa em ruínas.

O seu lar. Apesar de ter estado fora durante quinze anos e de ter partido assim que teve oportunidade.

– Ah, vais ter saudades disto! – tinha-lhe dito Annie Andrews, abanando a cabeça grisalha e rindo, no dia em que se fora embora. Ele parara para comprar alimentos para a sua odisseia, na sua pequena loja. – O Alasca vai voltar a chamar por ti.

– Por mim não – dissera ele, a rir, de tão seguro de si mesmo que estava. – A partir de agora só haverá cidades iluminadas.

– E raparigas – acrescentara ela, outra vez a rir. – É verdade, aqui não temos raparigas suficientes para os homens jovens. Não é de estranhar que todos vocês se vão embora.

Joe sorriu ao lembrar-se daquele dia e de todas as coisas que tinham acontecido desde aquela altura. Agora estava de regresso e Annie tinha acertado. A grandeza do Alasca, os picos brancos, os bosques perenes e as pradarias verdes, a água que corria por entre as rochas, ainda tinham o poder de o emocionar. Mas já não era o seu lar. Agora o seu lar estava em Los Angeles.

No entanto, tudo continuava como sempre. Quase nada mudara desde que se fora embora. A velha casa pertencia agora ao seu irmão, Greg, mas continuava tão desfeita como sempre. Via-se mesmo que Greg era tão alérgico às responsabilidades como o fora o seu pai, mas Joe não estava à espera de outra coisa. De facto, era por isso que voltara a casa.

Um barulho chamou-lhe a atenção e olhou para as árvores que estavam perto. Reparou num movimento do que parecia um corpo peludo entre os arbustos e o passado voltou com mais força à sua memória.

– Champ – murmurou, lembrando-se do seu amigo de infância, o enérgico cão castanho que se escondia entre as árvores, antes de se atirar contra ele para lhe lamber o rosto e retorcer-se nos seus braços. Sem querer recordar-se de que Champ morrera quando ele tinha dezoito anos, avançou até aos arbustos e meteu a mão entre as folhas que se mexeram como há anos atrás, como se pudesse mergulhar no passado e tirar o cão pelo pescoço.

– Champ?

Champ não respondeu, mas algo com dentes mordeu-lhe a mão e ele deu um salto para trás, praguejando.

– Mas que demónios…?

Uma criança pequena saiu por entre os arbustos, a correr tão rapidamente quanto as suas pernas gorduchas o permitiam, com o cabelo castanho ao vento, enquanto corria na direcção da casa.

– Eh! – gritou Joe.

Mas a criança não parou e continuou a correr como se o diabo a perseguisse.

– Ouve, eu não te faço mal! – gritou ele, fazendo uma careta ao olhar para a pequena marca dos dentes na sua mão.

Era algo que vira muitas vezes quando o seu irmão Greg era pequeno e os dois lutavam e Greg defendia-se como podia.

Abanou a cabeça para aclarar as ideias. Demasiadas coisas lhe lembravam o passado e começava a sentir-se um bocado esquisito, não havia nenhum Champ e aquela criança não era Greg. Mas o que é que estava a fazer na casa de Greg?

Começou a descer o promontório atrás da criança e antes de ter avançado alguns metros apareceu uma mulher na porta principal e ficou de pé no umbral. Joe surpreendeu-se ao vê-la e deteve-se.

A mulher ergueu a mão para proteger os olhos do sol.

– Rusty? – dirigiu-se à criança que corria para ela. Então, levantou o olhar e ao ver Joe pareceu ficar tão paralisada quanto ele.

Joe olhou fixamente para ela. Nunca vira uma mulher como ela no Alasca. Ali as condições eram duras e as mulheres vestiam-se de acordo com o clima. Aquela mulher vestia um fato branco de lã com saltos altos e meias. O cabelo louro prateado, arranjado como no cabeleireiro, emoldurava-lhe o rosto e brilhava ao sol como se estivesse iluminado por uma luz dourada.

Joe abanou devagar a cabeça, ainda mais atordoado com aquela situação. Não encaixava com a sua experiência do Alasca, nem com o que ele sabia da vida do seu irmão. Sentia-se confuso. Quem seria aquela mulher e o que é que estaria a fazer na casa do seu irmão?

 

 

Quando Chynna Sinclair viu o homem que descia o promontório e o carro no fundo, ficou com a boca seca.

– Oh, meu Deus! – murmurou para si.

Ele já tinha visto Rusty. E agora já não havia maneira de esconder a criança, nem sequer durante os minutos da apresentação.

Rusty chegou ao pé dela e lançou-se contra os seus joelhos abraçando-a com os seus pequenos bracinhos. Chynna desceu o olhar e acariciou-lhe o cabelo com amor.

Bom, talvez esta fosse a melhor forma de resolver a situação mais rapidamente. Voltou a olhar para o homem. Porque é que continuava ali, de pé, sem deixar de olhar para ela?

– Entra em casa – disse ao seu filho, desenroscando-o das suas pernas. – Fica com Kim enquanto falo com aquele homem.

Talvez, se conseguisse sossegar as crianças e deixá-las entretidos com alguma coisa, poderia falar com ele e prepará-lo…

Mas, a quem estava ela a enganar? Já não havia tempo de se esconder nem inventar histórias. Tinha estado a adiá-lo durante toda a viagem de avião desde Chicago, depois desde o trajecto de Anchorage, na pequena avioneta, e no caminho até a casa no carro que o amável piloto tinha pedido emprestado para os levar. Tinha dito a si mesma que tomaria uma decisão do que é que lhe diria quando o visse. Mas agora era demasiado tarde. Já vira Rusty. Já sabia que a noiva que encomendara pelo correio, a bela jovem que esperava, tinha trazido surpresas na bagagem.

Metendo depressa o seu filho dentro de casa, deixou-o com a sua irmã mais nova na sala e uns livros para colorir e ela voltou para a porta. O homem continuava ali, de pé, olhando para a casa. Chynna hesitou, perguntando-se se devia aproximar-se para cumprimentar aquele homem alto que seria o seu marido. Sabia que com os saltos altos que calçava não podia ir ter com ele pois ficaria presa na terra. Tinha consciência que não estava vestida adequadamente para aquele clima, mas não o fizera de propósito. O trabalho que teria que fazer ali era de vender a imagem, como dizia o seu patrão em Chicago, isso era tudo. Por isso esperou com a mão apoiada no poste do alto das escadas e com o coração a bater fortemente.

– E se ele não a quisesse? E se não quisesse os seus filhos? Teria de o convencer. Não lhe ficava outra alternativa.

Ainda não sabia o que lhe ia dizer. Era tão difícil de explicar. Para ele seria melhor descobrir gradualmente, enquanto a ia conhecendo, a ela e às crianças. Quando os conhecesse, compreenderia. Mas como seria agora, assim de repente?

Respirou fundo e forçou um sorriso.

– Olá – cumprimentou. – Suponho que não deva ter chegado a tempo, quando aterrámos. O piloto trouxe-nos até aqui.

Como se tivesse premido um botão que o tivesse retornado à vida, ele começou a caminhar devagar na sua direcção.

Chynna humedeceu os lábios e sorriu.

– Espero que não se importe. A sua casa não estava fechada e eu… entrei.

Ele agora estava mais perto e, ao ver-lhe o rosto, algo nela se acalmou. Não se tinha atrevido a acreditar na fotografia que ele lhe enviara. Mostrava um homem tão atraente que se tinha dito a si mesma que seria uma fotografia de há uns dez anos atrás. O que de qualquer maneira seria uma fraude.

Mas não. A fotografia não mentira. Era o mesmo homem. De facto, com as suas costas largas, cabelo escuro e brilhante e olhos azuis, estava mais atraente do que na fotografia. Vestia calças de ganga e um casaco de couro. Realmente estava demasiado moderno para aquelas paragens.

Fizera-se uma imagem mental do que iria encontrar e aquilo não encaixava. Imaginara um homem do género de caçador e agricultor, talvez um pouco tosco. Mas aquele homem não se parecia nada ao que ela imaginara. Era demasiado bom para ser verdade.

Ele chegou ao umbral da porta e estava a subir as escadas fazendo uma careta, enquanto olhava com uma expressão de surpresa ou de contrariedade. Ela avançou rapidamente.

– Olá – cumprimentou, estendendo a mão e com um sorriso nos lábios. – Sou Chynna Sinclair e estou muito contente por estar aqui.

Ele aceitou a sua mão e pareceu ficar maravilhado. Então olhou para ela e abanou a cabeça.

– O que é que está a acontecer aqui? – inquiriu, olhando-a nos olhos. – Onde é que está Greg?

Então, ouviu-se um grito vindo de dentro da casa e o barulho de algo a partir-se. Chynna virou-se, olhou para ele e murmurou:

– Será melhor que vá ver o que aconteceu – proferiu, antes de sair a correr para a sala onde estavam os seus filhos.

Joe seguiu-a e deteve-se na entrada, virando-se devagar para assimilar tudo. A casa estava exactamente igual a quando ele a tinha deixado. Greg não tinha mudado nada.

Ouviu Chynna a discutir na sala ao lado, mas não lhe prestou nenhuma atenção. Estava a olhar para a fotografia do seu avô, ainda pendurada na parede, com os seus penetrantes olhos de pioneiro, olhando para o seu neto com um gesto de desaprovação. Contemplou então a alta e elegante estante onde a sua mãe guardara a sua baixela e figurinhas de porcelana. Só restavam umas poucas, as que ela não gostava. Supunha que tinha levado as outras, quando se mudara para Anchorage, há cinco anos atrás. Nada mudara.

Nada menos ele.

A mulher que se apresentara como Chynna Sinclair voltou para a entrada e ele levantou o olhar pestanejando, perguntando-se como conseguia dar a ilusão que trazia o sol com ela. Era muito bonita, mas parecia deslocada no Alasca. Devia ser a noiva de Greg, mas não fazia ideia de como a teria conhecido. Greg nunca ia à cidade e aquela era uma mulher de cidade dos pés à cabeça. Mas o que é que ele sabia do seu irmão? Se pelo menos Greg estivesse ali, as coisas esclarecer-se-iam rapidamente.

– Tenho que… que lhe apresentar os meus filhos – proferiu ela, com um ligeiro tremor. Joe olhou para ela com surpresa. Porque é que estava tão nervosa? – Este é Rusty. Tem cinco anos e Kim tem três.

Joe baixou o olhar até aos dois pares de olhos muito abertos e sorriu.

– Olá, meninos.

– Meninos, este é o senhor Greg Camden. Eu acho… que por enquanto deveriam chamá-lo senhor Camden.

Joe levantou o olhar para encontrar-se com o dela. Pensava que era Greg? Aquilo era uma loucura.

– Não, espere um minuto.

Ela agarrou-o pelo braço, impedindo-o de falar, enquanto se dirigia aos seus filhos.

– Agora voltem a fazer desenhos mais um bocadinho, enquanto eu falo com o senhor Camden.

Estava a tremer. Joe conseguiu senti-lo, embora não fizesse ideia de porque é que estava tão nervosa. No entanto, cravou-lhe os dedos no seu braço enquanto os seus filhos desapareciam e Joe esperou porque era isso o que ela queria.

Desceu o olhar para o seu cabelo dourado e respirou a fragrância de rosas. Parecia uma coisa delicada e pequena e, por um momento, lembrou-se de como encontrara, uma vez, uma pequena raposa dourada numa armadilha no pinhal. O animal também estava a tremer e tivera que acariciar-lhe as costas com uma mão, enquanto a libertava com a outra. Aquilo fora uma parvoíce. Soubera que a qualquer momento a raposa poderia tê-lo mordido. Mas era algo que tinha que fazer. A raposa tinha estrebuchado no início, mas depois permanecera imóvel e quando se libertou, desapareceu no matagal e Joe não voltara a vê-la.

Assim que as crianças se foram embora, ela virou a cabeça. Quando olhou com os seus olhos escuros para ele, Joe não viu temor neles. Eram enormes, suaves e cálidos. Teria ele imaginado o seu nervosismo? Talvez estivesse a tremer de frio.

– Está bem – declarou ela, com agudeza – podemos falar.

– Oiça – começou ele, ansioso por esclarecer a sua identidade.

Mas ela abanou a cabeça, ainda a segurar no seu braço. Olhou para ele e continuou a falar com muita rapidez.

– Não, oiça-me a mim. Já sei que isto não é justo e que deveria ter-lhe dito. Mas isto é como é e como será. Se não nos quer, eu vou perceber. Mas tem que nos dar uma oportunidade. Não pode pôr-nos na rua sem nos dar uma oportunidade

Joe olhou para ela completamente baralhado. Não fazia a mais mínima ideia do que ela estava a falar.

– Não lhe ter contado sobre Rusty e Kim – continuou ela com ansiedade, – não foi correcto. Mas queria que os visse antes de se decidir. Queria que pudesse conhecê-los. São boas crianças. Vão-se habituar a si, sem problemas.

Uma gritaria que veio do outro quarto sobressaltou-a, mas obrigou-se a sorrir, apesar de Joe continuar a abanar a cabeça.

– Oiça, as crianças não me interessam…

– Já sei – interrompeu ela. – Com certeza que não lhe interessam. Vivendo aqui no Alasca, quase que não deve ver crianças. Por isso, não deve saber, pois não?

Ele fez uma careta e encolheu os ombros. Aquela conversa era uma loucura, mas ela estava tão bonita a tentar convencê-lo, que não tinha a certeza de querer acabar com aquilo.

– Eu também fui criança – lembrou-lhe.

Os olhos dela iluminaram-se.

– As crianças melhoraram muito desde essa altura, já vai ver.

Ele sorriu, apreciando o seu humor, embora não acreditasse nisso.

– Sabe uma coisa? Não é preciso que perca o tempo tentando convencer-me. Porque eu não sou Greg.

Ela abriu muito os olhos e olhou para ele durante um bom bocado. Então fez um gesto de cepticismo.

– Ah, já percebo – proferiu, com os olhos frios. – Então vai fugir à situação dessa forma, não é?

– Não – replicou ele, a sorrir, antes de olhar para ela, perplexo. – Oiça, é verdade. Eu não sou Greg. Nem sequer sei porque é que está aqui.

– Estou aqui para me casar consigo, lembra-se?

– Casar…?

Não acabou de falar e ficou sem respiração. A única coisa que pôde fazer foi ficar ali, de pé, a olhar para ela. A palavra transtornara-o como se lhe tivesse caído um raio em cima.

– Sim, casar – ela tentou sorrir, mas a reacção dele deixara-a paralisada. – Esse era o plano.

Joe voltou a abanar a cabeça, esforçando-se para pôr em palavras os seus sentimentos.

– Oh, não. Não posso acreditar. O casamento… – pensou no seu irmão e na sua vida isolada e abanou outra vez a cabeça. – Não, não pode ser.

Ela fechou os olhos durante um instante e apertou os lábios. Virou-se e tirou um envelope da sua mala e entregou-o.

– Então, o que é isto? – inquiriu.

O envelope estava aberto e continha uma carta com uma fotografia. A carta era do seu irmão. A fotografia era dele.

– Um acordo é um acordo, senhor – proferiu ela, com firmeza, enquanto ele desdobrava a carta e olhava para ela. – O senhor contratou uma esposa. Procurou num extenso catálogo e escolheu-me a mim. E aqui estou.

Joe ficou com a garganta seca e olhou para ela. Depois olhou para a fotografia. E não conseguiu pronunciar nem uma palavra, deveria ser uma esposa encomendada pelo correio. Praguejou com suavidade, abanando a cabeça. O que é que tinha acontecido? Teria retrocedido no tempo? As pessoas já não faziam essas coisas, hoje em dia… Ou sim?

– Isto é uma brincadeira, não é?

Ela olhou para ele, durante um instante, depois virou-se e foi para a cozinha, despindo o casaco.

– Há por aqui algum avental? – inquiriu, enquanto enroscava um pano à volta da cintura, sem esperar por uma resposta.

– O que é que está a fazer? – perguntou ele, indo atrás dela sem soltar o envelope e sentindo-se cada vez mais confuso.

Ela olhou para ele desafiando-o.

– Vou preparar algo para comer. Vou cozinhar.

Joe fez uma careta.

– Não preciso que cozinhe para mim.

– Porque não, não tem fome?

Ele hesitou. Tinham passado muitas horas desde o pequeno-almoço.

– Bom, sim, mas…

– Então vou cozinhar para si – declarou ela, enquanto abria o frigorífico. – Considere-o como uma prova de trabalho.

Joe não conseguiu conter um sorriso.

– Isto é uma loucura – proferiu, abanando a cabeça.

Ela anuiu, enquanto tirava o bacon e os ovos.

– Eu também penso o mesmo – informou, friamente. – Mas parece que terei de o convencer.

Joe apoiou-se no balcão, observando-a e afastando as fantasias eróticas que teimava em imaginar. Tinha a necessidade de se beliscar. Estaria a sonhar? Por falar em sonhos que se tornavam realidade, ali estava aquela mulher oferecendo-se para…

Não, não podia pensar daquela maneira. Isso só acabaria por metê-lo em problemas que não precisava.

– Não quero ridicularizá-la, sabe? – proferiu, com suavidade. – Mas simplesmente não posso acreditar que uma mulher como a menina tenha que recorrer a algo como… como um pedido pelo correio… para conseguir um homem – sorriu. – Simplesmente, não encaixa.

Ela virou-se e confrontou-o.

– Oiça. O senhor escolheu-me por catálogo. Alguma coisa deve ter gostado de mim. Escreveu-me essa carta tão agradável e enviou-me a sua fotografia. E assinou um contrato com a agência – olhou para os seus olhos azuis, procurando uma resposta. – Mandou o dinheiro para o meu bilhete de avião. O que é que achava? Que era tudo um jogo? Que não ia aparecer?

Ele começou a abanar a cabeça, antes dela acabar.

– Foi o meu irmão Greg quem fez tudo isso – tentou explicar mais uma vez – O meu nome é Joe. Não fui eu.

Ela agarrou-o pela mão e olhou para o seu rosto, com os seus enormes olhos suplicantes.

– Dê-me uma oportunidade – proferiu com suavidade. – Por favor. Serei uma boa esposa. E os meus filhos… – abanou a cabeça e, por um momento, ele temeu que ela começasse a chorar. – São crianças muito boas. Não vão dar problemas. Vai gostar delas, vai ver.

Ter crianças não entrara nos seus planos, mas tinha que admitir que estava a começar a sentir uma tentação definitiva noutra direcção. Gostava dos seus grandes olhos castanhos e da forma como os seus seios enchiam a seda cor de rosa que os protegia e de como fazia uma boquinha quando estava zangada com ele. Começou a imaginar como seria encomendar uma esposa pelo correio e que ela aparecesse na porta, pronta para o ser. Era o sonho de um homem das cavernas, mas gostava disso.

Mas antes de ter tempo de se abandonar àquele sonho, ouviu-se um grito vindo da sala, seguido de um forte estrondo.

– Sim, aquelas adoráveis criaturas – murmurou para si próprio, enquanto ela se virava e saía a correr na direcção da sala. – Estou com vontade de ver o adoráveis que eles são.

Mas foi atrás dela. Até que Greg aparecesse, supunha que era a sua obrigação actuar como em representação do marido. Embora, antes de fazer alguma coisa, devesse pensar bem no que isso implicava.

Olhou para a carta que estava em cima da mesa e deteve-se, hesitante. Não era de boa educação ler a correspondência de outras pessoas, mas a situação era especial.

Esticou a mão e agarrou no envelope por uma ponta como se tivesse medo de se contagiar e aproximou-se da janela. Desdobrou a folha e começou a ler.

Era a carta que Greg escrevera a Chynna, mas não parecia o estilo do seu irmão. A letra e a assinatura eram de Greg, mas as ideias pareciam pertencer a outra pessoa completamente diferente. Havia referências à sua solidão e ao amor pela sua terra e isso sim podia identificar com o seu irmão. Mas também falava de almas gémeas e de passear pela vida juntos pela mão, o que fez Joe rir.

O que é que fizera, copiara aquelas frases românticas de um livro? A única alma gémea que podia pensar para o seu irmão era a de uma loba furiosa.

Fez uma careta. Greg e ele nunca tinham sido muito unidos. Em algumas coisas pareciam Caim e Abel. Se Joe dizia preto, Greg dizia branco. Quando Joe queria paz, Greg punha o rádio a todo o volume. Quando Greg chegava a casa tarde, Joe tinha fechado a porta. Quando Greg falava, Joe respondia com sarcasmo e quando Joe ria, Greg encontrava a maneira de estragar o ambiente.

Agora que Joe estivera fora tantos anos, às vezes arrependia-se de não se terem dado bem. E até decidira, há uns anos atrás, que as lutas entre eles eram uma coisa de infância e que agora que eram adultos deveriam superá-las. E tinha voltado a casa por causa disso. Mas o que mudara era que Greg era ainda mais solitário e hostil. A sua planeada reconciliação fora um fracasso.

E agora aquele recluso, aquele ermitão das montanhas, queria casar. A situação não fazia sentido. E, no entanto, era evidente que Chynna tinha razão quando dizia que estava ali porque Greg a tinha… meu Deus! Encomendado pelo correio?

O seu irmão, Greg, estava a preparar-se para tomar aquela adorável mulher como esposa.

– Terá que passar por cima do meu cadáver – murmurou, em voz alta, pensando em Chynna como a mulher de Greg. – Não pode ser. Será melhor que a tire daqui o mais rapidamente possível.

Infelizmente, isso seria mais difícil do que parecia. A menos que houvesse uma mudança inesperada e radical, pois o único avião que saía dali era o avião do correio e não sabia os seus horários. Não havia provavelmente outra maneira de sair, salvo de camião ou de carro e ele não se podia ir embora. Tinha que se encontrar com Greg.

Por isso, tinha que passar pelo menos a noite ali.

Mas Chynna tinha que se ir embora. Seria demasiado perigoso para ela ficar ali.