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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Ann Major

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

O risco de querer, n.º 1292 - Julho 2016

Título original: The Throw-Away Bride Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

Publicado em português em 2009

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas

registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8565-3

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Texas Central, perto de Austin

Fazenda de Abigail Collins nos arredores de Bastrop, Texas

1 de junho de manhã cedo

 

«Se entras num bar por despeito, com a intenção de dançar com um dos atrevidos cowboys e acabas por ir para a cama com o tipo mais certinho e fiável do lugar, e ainda por cima, teu vizinho, não estejas à espera que as consequências sejam razoáveis... nem na cama, nem depois.»

Abigail Collins semicerrava os olhos e não por estar a limpar a box de Coco, a sua égua. Estava a atravessar uma fase de Síndrome de Coitadinha de Mim.

Imaginava que importantes diretores executivos como Leo Storm não corriam riscos no que dizia respeito a sexo, imaginava que tinham as carteiras cheias de preservativos e que adormeciam logo após o primeiro combate.

No entanto, ao que parece, Leo não tinha lido o regulamento dos executivos no que respeitava a isto. Tinha demonstrado tal destreza e paixão que Abigail tremera e se derretera por completo, entregando-se a ele de tal forma que na manhã seguinte se condenara a si própria e o culpara. Tinham sido tantas as vezes que o seu corpo se ressentiu durante dias. Desde essa altura que o tinha tentado evitar, daí que descobrir que estava grávida fosse muito difícil.

Sabia-o há uma semana e, desde essa altura, não fizera outra coisa senão lamentar-se da sua triste situação, apesar de não se sentir orgulhosa do seu comportamento infantil.

Naquela manhã na casa de banho voltara a sentir-se desesperada e chorara como uma criança. Voltara a chorar pouco depois, enquanto batia com a cabeça contra os azulejos do duche.

Como se aquelas lágrimas e lamentos servissem para algo. Tinha de enfrentar as coisas. Estava grávida! De Leo Storm!

Era solteira, tinha necessidade de ter tudo sob controlo e não tinha qualquer vontade de embarcar numa relação a longo prazo depois do namorado, Shanghai Knight, a ter deixado por outra.

Humedeceu os lábios e secou o suor da testa. Não tencionava voltar a chorar. Era uma rapariga madura, apesar de não se estar a comportar como tal. Ela conseguiria enfrentar aquilo: tinha que o fazer.

Era isso que lhe tencionava dizer e de certeza que se iria sentir melhor depois de o fazer. Fechou os olhos e tentou não pensar no rosto lívido de Leo, nem nos seus olhos escuros e irados quando se viram na última vez. Estava furioso com ela e dissera-lhe que tinham terminado.

Normalmente tranquilizava-a passar tempo na box de Coco mas naquele dia não estava a conseguir. Assustava-a a ideia de ir até San Antonio para dizer a um duro diretor executivo, que ainda por cima não atendia os telefonemas dela, que tinha um pequeno problema.

Cada vez que se inclinava para tirar os excrementos ou a palha molhada com a forquilha, o fecho das calças descia um pouco, recordando-lhe o problema que partilhava com ele e a noite que passaram juntos, essa que tanto queria esquecer.

Não era o caso de Leo porque lhe tinha deixado claro mil vezes que a desejava, e falava a sério. Ligara-lhe para casa e para o trabalho mas, ao ver que ela o rejeitava pela enésima vez, aborreceu-se tanto que lhe deu um ultimato e ela ignorou-o. Tendo-se afastado dela, não iria gostar de saber que Abby também não tinha esquecido aquela noite.

Suspirando, apoiou a forquilha e puxou o fecho. Quando conseguiu fechá-lo estava ofegante e já nem sequer se incomodou em abotoar as calças. Já a apertavam quando as comprou mas como naquela altura pensava perder uns quilos, não se importou.

Claro que por enquanto não iria ser possível perder peso. Quando parou para apanhar um gancho, sentiu o telemóvel vibrar no bolso e reagiu tão efusivamente que Coco se chegou atrás batendo com as ferraduras sobre o chão de cimento.

E se o seu grande amor deslizasse por sua culpa?

– Boa menina – sussurrou suavemente, apesar das náuseas que lhe provocava aquele fedor a palha, urina e cavalo.

Esperava, contra todos os prognósticos, que Leo mudasse de ideias e lhe devolvesse a chamada, como uma pessoa razoável. Podia, inclusivamente, ir à fazenda dela essa noite para falarem. Por muito que temesse o encontro, seria ótimo que lhe poupasse a viagem até San Antonio e a humilhação de ter de abrir caminho até ao escritório dele depois de ele lhe deixar claro que não a queria voltar a ver.

E não o culpava por isso. Sentiu um aperto no peito ao recordar a acusação que lhe fizera de não ser capaz de aceitar um «não» por resposta e a estar a acossar. Ele enchera os pulmões de ar mas ela vira a dor que se refletira nos seus olhos mesmo antes de se virar e deitar no lixo as rosas que lhe trazia e voltar lentamente para a carrinha. Depois telefonara-lhe e dera-lhe um ultimato que, por alguma estranha razão, ela tinha recriado na sua cabeça pelo menos uma dúzia de vezes.

Em vez do nome de Leo, a luz azul do seu telemóvel indicou o número de In the Pink!, a empresa de Abigail, situada perto de Congress Avenue, no centro de Austin.

Era Kel, a sua secretária de direção, melhor amiga, terapeuta gratuita... e ultimamente, um lenço para enxugar as lágrimas.

«Bolas.»

Abigail encostou-se à parede do estábulo. Uma lágrima caiu-lhe pela face enquanto continha a respiração. Depois engoliu em seco e disse um «olá» que pretendia parecer animado.

– Olá, Abby. Tu estás constipada ou algo assim?

– Algo assim – Abigail sentia-se paralisada. – Isto está a arrasar-me.

– Eu sei. São as hormonas.

Ou talvez o terror que Leo Storm lhe provocava, o que diria ou lhe faria naquela manhã, ao receber a notícia, sobretudo depois do modo como ela o tinha tratado.

– À parte de me sentir à beira de um ataque de nervos, estou bem. Melhor que nunca – conseguiu de algum modo fingir um riso. – Tão bem quanto poderia estar alguém que se levanta com náuseas pela manhã e limpa um estábulo... antes de enfrentar um pelotão de fuzilamento.

Tu vais ter de contratar alguém para fazer esse trabalho tão asqueroso por ti.

Kel era uma menina de cidade até à medula e não percebia nada de cavalos.

– Eu sei. Tu tens razão. Vou fazê-lo.

– Há alguma coisa que deva saber antes de organizar a tua agenda diária?

– Sim. Hoje irei falar com... ele.

– Sim? Quando exatamente?

– Esta manhã! Será a primeira coisa que farei!

– Bom, até que enfim!

– Se continuar a adiar isto, acabarei completamente louca. O único problema é que parece que vou ter que descobrir o paradeiro dele. Não atende as minhas chamadas.

– Tu devias ter ouvido a esperta da tua secretária. Não te disse que lhe devias ter telefonado a pedir desculpas...?

– Espertalhona, a minha secretária!

– E gorducha também – riu Kel. – E cada vez mais. O Jan esta manhã trouxe duas dúzias de donuts cobertos com uma suculenta cobertura de morango, e já estou a deglutir o segundo.

– Está bem. Não lhe telefonei nem pedi desculpa. E desde então evita-me a mim e à minha fazenda, portanto agora não se vai incomodar em atender o telefone ou devolver as minhas chamadas.

– E porque nos surpreende tanto?

– Disse-lhe que era urgente. Além disso, deixei várias mensagens com a secretária. Aliás, ontem respondeu-me mal e disse-me que ele não tinha qualquer intenção de me telefonar. Nem imaginas o humilhante que foi. Não tenciono dizer a semelhante bruxa que estou grávida dele portanto, suponho que terei que ir em pessoa.

– Está bem. E achas que voltas esta tarde?

– Depois de comer. Seguramente, depois de falar com ele, ter-me-ei transformado num caso perdido.

– Queres que cancele as tuas reuniões da tarde?

– Não!

– Há algo que possa fazer? – a voz de Kel soou preocupada.

– Só sei, espertalhona, que é preciso que tudo continue a funcionar com normalidade.

– Não te preocupes connosco – disse Kel – mas contigo.

Enquanto punha o telemóvel no bolso, Abigail sentiu as mãos a tremer outra vez. Começou a percorrer o celeiro compulsivamente para trás e para a frente, a arrumar arreios que não precisavam de ser arrumados, a pôr garrafas e escovas nas prateleiras, a tentar sentir que controlava algo. Agarrou uma vassoura e começou a varrer a ração que Coco tinha deixado cair do saco ao agarrá-lo com os dentes.

Coco aproximou-se e baixou a cabeça, quase a modo de desculpa. Era a sua maneira de pedir a ração favorita, uma mistura de aveia e melaço.

– Hoje não, não depois da desarrumação que fizeste!

Apoiando a vassoura contra a parede, Abby empurrou o carro de mão cheio de palha suja até um pequeno monte onde esvaziou antes de ir para casa. Coco, que a adorava, seguiu-a com a esperança que lhe desse uma carícia ou comida mas Abby estava muito absorta para notar a presença dela.

Grávida! De Leo...

Apesar de ter feito os testes de gravidez há uma semana, três no total, continuava a não acreditar na confusão em que se metera. Era uma mulher de negócios, uma empresária com quarenta empregados, dona da sua própria fazenda. Digamos que, de uma fazenda pequena mas ainda assim... era a capitã do navio! Inclusive se este navegava pelas rochas adentro.

Tirou o telefone do bolso, procurou rapidamente o número de Leo e marcou-o. Voltou a ouvi-lo tocar até entrar na caixa de correio de voz. Ele continuava a não lhe responder portanto fechou o telemóvel e começou a andar.

Era uma novidade? Ela tinha-o visto a verificar quem lhe ligava, portanto era fácil imaginá-lo a ver o nome dela no ecrã, a ficar tenso e a voltar a guardar o telemóvel, ainda a vibrar, no bolso.

Com a vontade que ele tinha de lhe ligar ainda nem há duas semanas...! Até que ela o acusou de a perseguir. Ele zangara-se muito mas telefonara-lhe e, apesar dela não ter respondido, ele tinha deixado uma mensagem.

– Estou a perseguir-te? É isso que tu achas? Pensei que estavas envergonhada e receosa porque aquela primeira noite levámos a nossa relação muito longe e foi tudo muito depressa – tinha-lhe dito. – Esperava convencer-te de que acho que és excecional, como pessoa quero dizer, e que a minha intenção era ir um pouco mais devagar mas se realmente queres que te deixe em paz, fá-lo-ei. Se tu não telefonares hoje, acabou. Acabou tudo.

Ela não o conhecia muito bem mas imaginava que era um homem coerente com as suas palavras. Era ridículo que agora se sentisse tão abatida ao ver que não lhe respondia. Estava convencida que tudo o que ele queria era mais sexo selvagem e desinibido. Não tinha sabido valorizar o seu interesse? Talvez ele quisesse algo mais do que ela tinha pensado?

De qualquer modo, assim que ela se negou a fazer exatamente o que ele queria, abandonou-a imediatamente. Como a sua mãe e seu pai... depois do desaparecimento de Becky, a sua irmã gémea. Abigail afastou esse pensamento. Não gostava de pensar na sua irmã ou no facto de nunca ter havido ninguém que realmente gostasse dela.

Inspirou com força. No dia anterior, depois de ter telefonado à secretária de Leo, tinha guardado o cartão dele no toucador, debaixo da roupa interior. Com os punhos apertados, dirigiu-se a casa. Tinha que ir buscar o cartão e voltar a telefonar para o escritório dele. Depois introduziria a direção no GPS e iria ter com ele.

A porta fechou-se com força atrás dela e depois foi à cozinha lavar as mãos antes de ir para o quarto.

Tomou o seu tempo no lava-loiça. Porque o tinha deixado envolver-se com ela naquela noite no bar? Porque tinha ido ali sentindo-se tão só, rejeitada e vulnerável depois de Shanghai a deixar por Mia Kemble?

Sobretudo, porque tinha andado com Shanghai, um jockey de rodeo que nunca tinha mostrado especial interesse por ela? De nada servia fazer-se aquelas perguntas. Estava magoada, portanto teve uma noite de sexo selvagem com Leo Storm. E como resultado daquilo, as próximas calças de ganga que comprasse teriam de ter uma banda elástica na cintura.

Ele tinha posto um preservativo? Não tinha certeza. Aquela noite tinha-se transformado em algo confuso, exceto alguns detalhes mais quentes.

Já no seu quarto, abriu a primeira gaveta do toucador e começou a remexer na roupa interior: o cartão não estava ali. Ao levantar a vista viu o reflexo de uma mulher pálida e magra, com olhos culpados e madeixas castanhas emaranhadas sobre os ombros. Endireitou-se e encolheu a barriga.

Mesmo que as calças não apertassem, não parecia estar inchada... por enquanto. Ainda assim, só de pensar em como ia estar no futuro, entrou em pânico.

Muito em breve ia ter de contar aos empregados. Tremendo mais ainda, fechou os olhos e puxou a segunda gaveta com tal força que esta caiu ao chão. Ajoelhou-se e começou a procurar por entre camisolas e t-shirts.

Não queria voltar a passar por uma semana como a anterior. Após ir ao médico, Abigail tinha-se apercebido que não conseguia passar por aquela situação sozinha... ou pôr-lhe um fim, como Kel lhe tinha sugerido. Portanto se Leo pensava que podia brincar ao estúpido Sr. Executivo, dar-lhe um ultimato e depois ir-se embora... tal como todos os que tinham desaparecido da sua vida... bom... pelo menos receberia primeiro uma boa reprimenda.

Enquanto abria a terceira gaveta, a imagem da sua mãe a fazer as malas e a dizer-lhe que deixava o seu pai e a ela, entristeceu-a.

Abby não sabia muito de bebés mas sabia o suficiente para entender que o seu filho quereria, pelo menos, que ela contasse ao seu pai que estava grávida.

Suspeitava que Leo ficava em San Antonio e evitando, assim, a Little Spur, a fazenda que tinha a meias com o seu irmão Connor, situada junto à dela e à Fazenda Buckaroo, propriedade de Shanghai. Não o tinha visto a ele nem à sua carrinha preta na Little Spur desde o seu ultimato, e ultimamente estivera a prestar atenção. «Pois, estiveste muito mal, executivo ricalhaço e sabe-tudo. Não devias ter desapertado as calças à sortudo».

A última coisa em que queria pensar era naquela noite no bar onde, após uma fogosa dança, tinha acabado tão excitada quanto ele. Tinha-a beijado, pela segunda vez, introduzindo a língua na sua boca e deslizando as mãos pelo seu corpo, acariciando-a e possuindo-a... e ela tinha-se derretido como o mel.

Depois, no sótão que ele tinha no centro de San Antonio, ela tinha subido para cima da mesa da sala de jantar e tinha tirado a roupa. E na manhã seguinte, ao acordar junto do seu corpo bronzeado e nu, só tinha desejado escapar dele e esquecê-lo.

Aterrorizava-a ter de o voltar a ver. Ia de certeza propor-lhe as mesmas opções que Kel.

– Para quê dizer-lhe? – tinha dito ela. Trata tu das coisas. Numa semana ter-te-ás esquecido de tudo.

– Tu não tens a minha memória, Kel.

Há coisas que nunca se esquecem. Abigail não lhe tinha contado nunca a tarde em que duas gémeas idênticas de oito anos de idade tinham entrado por um caminho, atrás de um perú nas Montanhas Franklin. O sol estava a pôr-se. O rosto maroto e magro de Becky estava corado e os cabelos brilhavam como o fogo.

– Espera! – tinha-lhe gritado Becky. – Espera por mim!

Abigail tinha-lhe respondido:

– Não! Vamos! – e virara-se na esperança que sua irmã gémea a seguisse, como costumava. Mas aquela foi a última vez que a viu.

Abby abriu a última gaveta. Ainda sonhava com Becky e agora sonhava também com o seu filho. Nunca tinha querido voltar a fazer parte de uma família e expor-se a mais sofrimentos, mas não estava disposta a desfazer-se do bebé. E menos sabendo o quão sagrada é uma família, se tens a sorte de a ter, e como é fácil cometer erros irreparáveis.

Não penses na Becky.

A mão de Abigail fechou-se sobre um cartão. Não era o de Leo mas um postal de Natal... do seu pai. O dinheiro, cinquenta dólares que ele tinha introduzido despreocupadamente no envelope como presente de última hora, ainda estava lá. Não passou o Natal com ela. O seu único presente tinha sido o postal com essa única frase e que tinha chegado com duas semanas de atraso, muito depois de ter perdido a esperança que ele se tivesse lembrado dela pelo Natal. Durante um segundo, lembrou-se dos últimos Natais antes do desaparecimento de Becky. As irmãs tinham decidido não dizer aos pais que já não acreditavam no Pai Natal. Prepararam-lhe bolachas e puseram pequenas chávenas cor-de-rosa com leite perto da chaminé.

Um obscuro sentimento de solidão apoderou-se dela e abraçou-se à barriga. Quando era criança, nunca se tinha sentido só porque tinha uma gémea, alguém com quem partilhava tudo. Tinham ambas ido às aulas de balê com meias iguais e tutus cor-de-rosa.

Não penses na Becky.

A tremer, Abby introduziu o postal sob a camisola. Afastou o cabelo dos olhos. Havia algo que sim sabia: fizesse Leo o que fizesse, ela pensava amar o seu filho com todo seu coração. Mesmo que naquele momento tudo parecesse estar a correr mal, era possível que aquela fosse a sua segunda oportunidade.

Finalmente encontrou o luxuoso cartão de Leo. Levantou-o e olhou para o nome dele impresso em negrito. Temendo o seu tom grave e condescendente, engoliu em seco, tirou o telefone e marcou o número do seu escritório antes que o medo a arrebatasse.

– Golden Spurs. Escritório de Leo Storm. O meu nome é Miriam Jones. Em que posso ser útil? – aquela voz fria e séria que tanto a tinha incomodado no dia anterior continuava a ser tão impessoal como de costume.

– Preciso de ter uma reunião com o senhor Storm. Esta manhã mesmo. É urgente.

– O senhor Storm organiza as suas próprias reuniões e asseguro-lhe que são muito poucas. Hoje encontra-se bastante ocupado. Talvez possa enviar-lhe um email indicando as razões pelas quais necessita vê-lo.

– Não... nada de emails!

– Diz-me o seu nome, por favor?

– Deu-lho, tal como o fizera no dia anterior. Houve uma longa pausa. Depois, a bisbilhoteira da secretária fez umas quantas perguntas antes de ir consultar com Leo.

A voz da mulher, mais fria do que nunca, voltou a ouvir-se quase de imediato. Aquela bruxa intrometida era do mais eficiente.

– Diz que não pode vê-la e que a senhora entenderá o porquê.

– Como? Disse-lhe que era algo urgente?

– Sim, o mesmo que ontem – houve outra pausa comprida para que ela assimilasse o que lhe tinha dito. – Posso ajudá-la em alguma outra coisa, senhorita Collins? – perguntou com educada frialdade.

– Disse-lhe mesmo que era urgente?

Antes que se desse conta, a mulher tinha-se despedido e tinha-lhe desligado o telefone. Nervosa, Abby premiu o botão de remarcação e, antes que a secretária pudesse pronunciar alguma palavra, disse-lhe:

– Qual seria a hora mais conveniente para o ver esta manhã?

– Já disse-lhe que o senhor Storm disse...

A senhora não o entende e ele também não. Tenho que o ver. Arranje as coisas.

– Isso poderia levar-me horas. E ainda assim, não posso prometer-lhe...

– Faça-o!

– Ele passou os últimos quatro dias no Golden Spurs no sul do Texas, deve ter muito trabalho atrasado. E... receio que deixou muito claro que não queria...

Abigail fechou a tampa do telemóvel. Apanhou do chão algumas roupas e uns sapatos de salto alto e meteu-se na casa de banho. Cinco minutos depois, apareceu mais ou menos apresentável, com o cabelo apanhado e com umas calças pretas soltas e um top azul de malha. Pôs um casaco preto sobre o braço e a mala no outro, empurrou a porta de casa e correu para seu Lincoln branco.

Coco levantou a vista e relinchou expetante, mas Abby não lhe prestou atenção.

Tinha que contar a Leo, quisesse ou não ouvi-lo.

Achava que lhe iria arruinar o dia, a semana e o resto da vida do mesmo modo que ele tinha arruinado a sua.