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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2009 Michelle Celmer

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Escândalo no reino, n.º 946 - Abril 2017

Título original: Royal Seducer

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9846-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Melissa Thornsby nunca ficava nervosa.

Tinha sido educada na pretensiosa e excêntrica alta sociedade de Nova Orleães, onde era habitual dar meia volta e encontrar um par de punhais cravados nas costas. Isso fazia parte do jogo.

Depois do furacão Katrina, tinha criado uma fundação para reconstruir a cidade e lidar com presidentes, actores, músicos e demais famosos dispostos a ajudar; era parte do seu dia-a-dia.

Não se tinha alterado ao saber que era uma princesa ilegítima do Estado de Morgan Isle. Inclusive tinha tomado a decisão de mudar-se para lá para estar com uma família que não via com bons olhos as suas intenções. Tinha-se limitado a seguir o conselho da sua defunta mãe e a encará-lo como uma aventura.

Portanto, visitar Thomas Isle, a nação rival do seu país de nascimento e conhecer a família real, não era nenhum acontecimento especial para ela.

Até que o viu.

Estava na pista de um pequeno aeroporto privado, sob a luz brilhante do sol da tarde, ladeado por dois guarda-costas, junto de um Bentley preto. Era muito bonito, alto, forte e estava extremamente elegante com um fato cinzento às riscas feito à medida.

Era o príncipe Christian James Alexander, herdeiro do trono de Thomas Isle. Solteiro empedernido e um grande playboy. As fotos não lhe faziam justiça.

Desceu a escadinha do avião privado e o príncipe aproximou-se, luzindo o seu deslumbrante sorriso. Sentiu o coração na garganta e um estranho nó de nervos no estômago. Seria muito esperar que fosse o seu guia durante as duas semanas que a sua visita duraria? Mesmo sabendo por experiência própria que essa tarefa era habitualmente encomendada à princesa, já que o príncipe herdeiro costumava estar ocupado com coisas mais importantes, como preparar-se para governar o país.

Ladeada pelo seu próprio séquito de segurança, a equipa que o seu meio-irmão, o rei Phillip, tinha insistido para que a acompanhasse, avançou até encontrar-se com ele a meio caminho.

Quando estiveram cara a cara, ele desceu a cabeça à laia de cumprimento.

– Bem-vinda a Thomas Isle, vossa alteza – disse com uma voz tão intensa e suave como o chocolate.

– Vossa alteza – replicou ela fazendo uma reverência exibindo o seu encanto sulista. – É uma honra estar aqui.

– A honra é toda nossa – acrescentou ele com um sorriso letal.

Letal porque pôde senti-lo, como uma subida de energia, da cabeça aos pés.

Olhava-a intensamente com os seus olhos verdes e, atrás deles, podia ver um brilho de travessura e maliciosa determinação. Não pôde evitar perguntar-se se teria sido gato noutra vida.

O príncipe reparou no seu séquito de segurança.

– Espera uma revolta, vossa alteza? – perguntou arqueando uma sobrancelha.

– Ia a perguntar-lhe o mesmo – replicou ela.

Se a pergunta tinha sido algum tipo de prova, era evidente que a tinha passado. Ele sorriu, divertido e sexy, e o nó de nervos intensificou-se. Ela não era assim. Estava acostumada a que os homens a seduzissem. Jovens e maduros, ricos e pobres, todos andavam atrás da herança que os seus tios-avós lhe tinham deixado. Mas por alguma razão, tinha a certeza que o príncipe não estava a pensar no dinheiro. Era um dos poucos homens que conhecia cuja riqueza superava a sua. Pelo menos, era isso que achava.

– Os guarda-costas foram ideia do rei Phillip – disse-lhe.

– Claro que pode seguir com eles, mas não é necessário.

Phillip tinha insistido para que levasse os guarda-costas com ela, mas não disse nada acerca de ser obrigada a tê-los ao seu redor. E mesmo que pudesse parecer optimista, confiar o seu bem-estar aos empregados do príncipe Christian seria interpretado como uma mostra de boa fé. A relação dos dois países tinha sido tensa no passado e a paz à qual tinham chegado por razões práticas ainda era uma criança. O seu dever, tal como o entendia, era trabalhar para consolidá-la.

– Assegure-se que regressam bem – pediu Melissa.

– Com certeza, vossa alteza – assentiu ele.

Estremeceu. Ainda não se tinha acostumado ao título.

– Por favor, chama-me Melissa.

– Melissa – disse ele com aquele sexy sotaque britânico. – Gosto desse nome.

A ela agradava-lhe a maneira como o pronunciava.

– Chama-me Chris. Acho que é melhor esquecermos as formalidades, tendo em conta que passaremos bastante tempo juntos nas próximas duas semanas.

Deveras? Outro nó de nervos pressionou o seu estômago.

– Vais ser o meu guia? – perguntou.

– Se estiveres de acordo…

Como se pudesse dizer que não a um atraente e encantador príncipe.

– Estou desejosa.

– Vamos? – perguntou ele apontando para o carro que os esperava.

Ela virou-se para os seus guarda-costas.

– Obrigada, cavalheiros – disse a modo de despedida.

Os homens trocaram uns olhares hesitantes, mas permaneceram em silêncio. Tal como ela, sabiam que Phillip não acharia bem que os mandasse de volta.

Mas enfim. Se havia algo que a sua nova família tinha aprendido era que tinha um terrível mau feitio. Por muito que desejasse voltar a fazer parte de uma família desde que os seus pais tinham morrido e ser aceite como mais um elemento da mesma, não estava disposta a sacrificar a sua forma de ser. Aos trinta e três anos, os seus costumes estavam demasiado arraigados para poderem ser mudados agora.

O príncipe deu-lhe o braço para acompanhá-la até ao carro e, apesar da seda e do linho do seu fato, a sua pele estremeceu ao sentir o calor dele. Quando tinha sido a última vez que tinha sentido química com um homem? Ou talvez a pergunta fosse: quando tinha sido a última vez que se tinha permitido senti-la? Aquela era uma viagem tanto de negócios como de prazer e não lhe faria mal nenhum relaxar-se e divertir-se.

Ajudou-a a sentar-se no banco traseiro e acomodou-se no assento de couro creme. Depois, ele contornou o carro e entrou pelo outro lado, enchendo o interior de uma cálida e deliciosa essência que a embriagou. Se estivesse em casa, tê-lo-ia atribuído ao calor sulista, mas ali a temperatura mal alcançava os vinte e cinco graus e não havia humidade. Para estarem a meados de Junho, sentia-se calor em Thomas Isle, mas era agradável para aquilo a que estava acostumada.

Mal se fecharam as portas, saíram em direcção ao castelo, que ficava a poucos uns minutos, tal como tinha visto ao aterrar. Do ar tinha-lhe parecido enorme, maior do que o moderno palácio de Morgan Isle, e com grandes extensões de zonas verdes, cuidados jardins e inclusive um labirinto de vegetação.

Era uma apaixonada pela natureza e estava desejosa de conhecê-lo. A sua mãe tinha sido uma grande jardineira. O lar no qual Melissa tinha crescido em Morgan Isle tinha sido conhecido pelos seus prémios de jardinagem e tinha mantido a tradição na sua casa de Nova Orleães. Mesmo que tivesse sido difícil ir-se embora e voltar a Morgan Isle, os Estados Unidos nunca tinham sido o seu verdadeiro lar. Desde que perdera os seus pais, nunca tinha sentido que pertencesse a lugar nenhum.

– Os meus pais, o rei e a rainha, estão ansiosos por te conhecerem – disse Chris.

– O sentimento é mútuo – disse virando-se para ele e reparando como a estava a olhar com curiosidade. – Que foi?

– A tua pronúncia – disse. – Não sei muito bem de onde é.

– Isso é porque é uma mistura de vários dialectos. É um reflexo dos diferentes lugares nos quais vivi.

– Em onde viveste?

– Vejamos… – disse ela e começou a contar pelos dedos. – Vivi em Morgan Isle até aos dez anos, depois em Nova Orleães, depois estive num colégio interno em França e passava os Verões na Califórnia. Mais tarde, andei na universidade na costa Leste antes de voltar para Nova Orleães.

– Parece muito excitante.

Podia pensar isso, mas sempre tinha desejado permanecer num mesmo lugar. Claro que quando por fim o tinha feito, não se tinha sentido bem. Tinha achado que voltar a Morgan Isle lhe proporcionaria a sensação de lar e família que sempre tinha desejado, mas sentira-se frustrada ao comprovar que mesmo sendo o seu verdadeiro lar, se sentia como uma estranha.

Isso levava-a a perguntar-se se alguma vez encaixaria em algum lugar.

– E tu? – perguntou ao príncipe.

– As minhas viagens diplomáticas levaram-me por todo o mundo, mas sempre vivi aqui com a minha família.

Detectou uma leve nota de desespero na sua voz. A ela, aquilo parecia-lhe maravilhoso. Depois de os seus pais morrerem, tinha voltado para os Estados Unidos para viver com os seus tios-avós, que não possuíam qualquer sentido de família. Tinham decidido não ter filhos e viam a sobrinha neta como uma intrusa mais do que como alguém da família. Levou-lhes pouco tempo a procurar-lhe um colégio interno e uns acampamentos de Verão. Mas não podia culpá-los. Tinham feito o que tinham podido. Se não tivessem concordado em recebê-la, teria acabado sob a tutela do Estado e quem sabe onde estaria agora.

Melissa percebeu que o carro estava a subir e adivinhou que estavam quase a chegar. Entre as árvores, surgiu o castelo, qual cena de conto de fadas, altaneiro sobre uma falésia defronte do oceano. Parecia uma sentinela a vigiar a maravilhosa cidade que havia a seus pés.

Era bastante menos moderno que Morgan Isle, pensou orgulhosa. Sentia-se como se tivesse recuado ao século passado.

Pelo que tinha descoberto nas suas investigações, enquanto Morgan Isle era moderna e de ideias avançadas, uma comunidade próspera e crescente, Thomas Isle era tradicional e fechada. A sua economia estava baseada na exportação de pesca e agricultura orgânica. A alguns parecia-lhes arcaico, mas ela considerava-o pitoresco e simpático.

– É magnífico – disse ela olhando pela janela do carro.

– Conheces a história dos nossos países?

– Só sei que foram rivais durante anos.

– É uma história fascinante. Sabias que as duas ilhas foram governadas pela mesma família? Um rei e uma rainha com dois filhos gémeos.

– Cujos nomes por acaso não seriam Thomas e Morgan, ou sim?

Ele sorriu.

– Precisamente. Quando o rei morreu, os príncipes desencadearam uma batalha para ver quem se transformaria no próximo governante. Ambos se sentiam com direito ao título. Ao ver que não chegavam a nenhum acordo, um deles desafiou o outro em duelo – disse e fez uma pausa para causar um efeito dramático. – A morte. O que sobrevivesse transformar-se-ia em rei. Mas a mãe deles não pôde suportar a ideia de perder um dos filhos, portanto pediu-lhes para não se enfrentarem. Sugeriu-lhes a ideia de dividirem o reino e de cada um governar uma das ilhas. Eles concordaram, mas nunca mais se voltaram a falar.

– Isso é muito triste.

– Cada um deles escolheu dar o seu próprio nome à ilha para desagradar ao outro. Os súbditos, como mostra de lealdade para com os respectivos reis, foram proibidos de visitar a ilha na qual não residiam ou inclusive comunicar-se com os seus habitantes. Muitas famílias se desfizeram e houve negócios que se arruinaram.

– E a rainha? Que ilha escolheu?

– Negou-se a escolher entre os filhos e expatriaram-na de ambas as ilhas.

Ela levou uma mão ao coração.

– Meu Deus, que horror! Como puderam expatriar a própria mãe?

– Fizeram falta centenas de anos para nos esquecermos desta história – disse ele. – Por isso é que é tão importante que se assine um acordo entre os nossos países. Unir os respectivos recursos é benéfico para as duas ilhas, para as nossas sociedades e para as nossas famílias.

– O rei Phillip sente o mesmo – assegurou-lhe. – Por isso é que eu cá estou.

– Fico feliz por ouvir isso. Assuntos como este podem ser muito… constrangedores.

– Sou uma princesa que se molda facilmente – disse ela, o que em parte era verdade. – De todas as formas, levo o meu novo papel muito a sério. Tudo pelo bem do meu país.

Ele esboçou outro dos seus desconcertantes sorrisos.

– Então, tenho a certeza que nos daremos bem.

O carro percorreu o caminho até à entrada, onde um punhado de jornalistas esperava com câmaras e microfones.

As portas de acesso abriram-se e a guarda uniformizada ocupou-se de controlar a multidão. O carro seguiu até um muro de pedra que parecia estender-se quilómetros para cada lado e o que viu deixou-o sem respiração. Tudo era verde e brilhante e o castelo era um edifício impressionante de pedra e vitrais.

– Bem-vinda ao castelo de Sparrowfax – disse Chris.

Ao rodear o caminho de entrada e ver a família real e aquilo que parecia todo o pessoal formado à sua espera, apercebeu-se que a recebiam com todas as honras. O nó de nervos no estômago retesou-se mais ainda.

Pareciam ter-se dado a muito trabalho para uma simples visita de cortesia. Não podia esquecer o importante que era para a sua família e o seu país, por isso tinha de cuidar o seu comportamento. Especialmente devia controlar a sua língua sulista que, em algumas ocasiões, parecia ter vida própria.

Enquanto o carro se detinha, uns lacaios fardados aproximaram-se para abrir as portas. Melissa aceitou a mão que lhe ofereciam e levantou-se, sentindo-se inapropriadamente vestida com o seu simples vestido de linho. A família estava vestida e preparada para receber um membro da realeza e pela primeira vez na sua vida adulta temeu não estar à altura dos requisitos.

Os pais de Chris, o rei e a rainha, aproximaram-se para a cumprimentarem. Mesmo sendo de idade avançada, aparentemente estavam saudáveis e cheios de vida. Os seus outros filhos, um varão e duas gémeas, eram tão atraentes como o irmão Chris. Melissa pensou no privilégio que seria fazer parte daquela bonita família. Era uma incógnita que todos eles ainda não se tivessem casado.

Mesmo assim, o seu atraente físico era só uma parte do panorama. Podiam ser frios e distantes.

Chris apareceu ao seu lado e a sua presença proporcionou-lhe um efeito tranquilizador.

– Tudo isto por mim? – perguntou.

A sua pergunta pareceu surpreendê-lo.

– Claro. És uma convidada de honra. A tua visita marca uma nova era para os nossos reinos.

Não tinha pensado que a sua visita pudesse ser considerada tão importante. A sua família não a tinha recebido com tanta pompa e circunstância quando voltara ao seu lugar de origem. De facto, não tinha havido nenhuma. O seu regresso a Morgan Isle fizera-se em segredo para evitar o assédio da imprensa.

Mas não devia protestar. A que mulher não lhe agradava que lhe subissem a auto-estima de vez em quando?

Chris ofereceu-lhe o braço e ela deu-lho. Aquele gesto foi reconfortante e proporcionou-lhe segurança.

Ela dirigiu-lhe um sorriso e assentiu. Em Nova Orleães movia-se entre o mais ilustre da alta sociedade. Mas ali, era conhecida como a filha ilegítima do falecido rei Frederick.

E suspeitava que durante o resto da sua vida, ninguém lho ia fazer esquecer.