cover.jpg

portasab1398.jpg

 

 

Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2011 Kim Lawrence. Todos os direitos reservados.

TEMPESTADE VILOENTA, N.º 1398 - Julho 2012

Título original: In a Storm of Scandal

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em portugués em 2012

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são

reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de

Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança

com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®,Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas

registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e

suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão

registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros

países.

I.S.B.N.: 978-84-687-0574-3

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversión ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Prólogo

 

Junho 2004, Roma, Villa Palladio

 

– És um homem muito sortudo, Luca.

– Sim, sou, tio Dino.

Era um homem sortudo, sim.

«Repete isso frequentemente e talvez se torne realidade.»

Os Ranieri combinavam os casamentos há várias gerações. O dos avós, que unira duas famílias poderosas, não era um bom exemplo, mas os pais tinham seguido a tradição, com um certo êxito.

No entanto, Luca sempre se considerara um homem moderno, destinado a levar a família para o século XXI. E, em qualquer dos casos, muitas coisas podiam mudar em seis semanas.

Tinham passado seis semanas quando aceitara, em teoria, a sugestão inocente do pai para beber um conhaque no estúdio.

Depois de lhe servir uma dose generosa, Damiano Ranieri tirara do cofre, escondido atrás de um quadro, uma caixinha de veludo que lhe mostrara pomposamente.

– Era da tua avó.

Agora, parecia-lhe incrivelmente irónico relembrar que, quando olhara para o anel sobre uma base de veludo, o seu primeiro pensamento fora: «Já sabe, descobriu a existência de Poppy.»

«Sabe e não está a gritar, nem ameaçou deserdar-me.»

Emocionado com o que julgara ser, durante trinta segundos, um sinal de aprovação paterna, Luca abrira a boca para lhe dizer que agradecia o gesto... Mas fora muito prematuro.

Poppy e ele tinham falado do futuro, mas ambos concordavam que eram muito jovens para se comprometerem.

– Veremos o que acontece no ano que vem, Luca – brincara Poppy, enquanto apanhavam sol junto do lago. – Nessa altura, talvez já não gostes de mim.

Depois de lhe demonstrar que nunca deixaria de gostar dela, uma tarefa que demorara o seu tempo porque a boca de Poppy era sempre um convite, Luca sorrira.

– E tu vais esquecer-te de mim, rodeada de todos esses estudantes famintos de sexo.

Pensar nas mãos de Poppy no corpo de outro homem, a excitar outro homem, fazia com que sentisse um nó no estômago.

– A parte dos «famintos de sexo» parece-me bem – a gargalhada rouca de Poppy interrompera-se ao ver a expressão dele. – Estás ciumento!

E aquela descoberta parecera alegrá-la.

– És uma bruxa sem coração – dissera Luca.

– A tua bruxa sem coração – recordara-lhe ela.

O amor que brilhava nos seus olhos fizera com que sentisse um aperto no peito. Poppy nunca tentava fingir. Estava tudo escrito na sua cara, na sua voz, nas suas mãos expressivas... Era transparente.

Gianluca, o produto de uma família em que ninguém levantava o tom de voz e onde a dignidade e o controlo estavam na ordem do dia, sentia-se menos confortável com as demonstrações de afeto.

E, segundo Poppy, tinha muito que aprender.

– Não te preocupes, Luca, direi a esses estudantes famintos de sexo que um maníaco da informática me roubou o coração.

O seu sorriso, sempre presente, aparecera novamente como o sol entre as nuvens.

– Estás a chamar-me sabichão?

– Os sabichões não deviam ter músculos, nem serem tão bonitos. Embora, agora que penso nisso, fiques muito bonito com óculos... Tens ar de intelectual – Poppy traçara a linha dos olhos dele com um dedo. – Sim, ficarias parecido com Clark Kent.

– Eu não sou um sabichão.

– És, sim, um sabichão muito bonito. E não o negues, porque sabes que é verdade. Eu adoro que sejas tão inteligente – Poppy olhou para ele, sonhadora. – Quando eu acabar o curso, tu terás a empresa de informática mais importante do mundo – predissera. – Na realidade, esperar um pouco será bom.

– Como consegues ser sempre tão otimista?

E tão percetiva.

– Faz parte do meu encanto. Além disso, porque não haveria de ser? Tudo é perfeito... Sabes que este é o sítio onde nos beijámos pela primeira vez?

– Não me esqueci.

– E não achas que seria apropriado, que fosse o mesmo sítio em que...?

Sentindo-se nobre, Luca prendera-lhe as mãos quando começara a desabotoar os botões da blusa, mas não antes de ver que não usava soutien.

Subestimavam a nobreza.

Era muito difícil salvar alguém dos seus instintos, quando não queria ser salvo.

E não teria podido cumprir a promessa que fizera à madrinha, a avó de Poppy, se não tivesse um lago de água gelada para onde se atirar.

 

 

– Agradeço-te pai, mas é um pouco cedo – replicou. Além disso, sempre tinha imaginado Poppy com uma esmeralda, a condizer com os seus olhos. – Ela é muito jovem.

E muito impaciente. Os cinco anos de diferença entre eles não incomodavam Poppy, mas incomodavam-no a ele. Devido à sua inexperiência, fora devagar desde o princípio, controlando o seu desejo para não se aproveitar dela... E Poppy não tornava as coisas fáceis.

– A primeira vez tem de ser especial! – gritara, do lago, com a água pela cintura.

– Não será especial, se morrer à espera!

– Prometi à tua avó que não...

– Me partirias o coração, eu sei – interrompera-o. – Mas não vais parti-lo e, além disso, tenho dezoito anos. Isto não é uma paixão juvenil. Se fosse, pensaria que eras perfeito e sei que não és. Amo-te, com os teus defeitos e tudo.

Rindo-se, Luca saíra da água.

– Por favor, não os enumeres... Outra vez. É mau para a minha autoestima.

– A tua autoestima é à prova de bomba, Luca Ranieri – replicara Poppy.

– Há uma praia no sul da Tailândia...

– Com quem foste a essa praia?

– Sozinho.

– Fico feliz.

– Só podemos lá chegar de barco. A areia é branca, o ar quente e quando a lua aparece, e as ondas acariciam a praia...

– Para, por favor! – interrompera-o, suspirando. – Quando usas esse tom, conseguirias fazer com que um dicionário parecesse romântico. Olha – dissera, arregaçando as mangas da blusa, para lhe mostrar os braços. – Fiquei com pele de galinha... Por todo o lado. Queres ver? – perguntara, com um brilho travesso nos olhos.

Luca deixara escapar um suspiro.

– Tu sabes que sim, mas...

– Mas o teu sentido antiquado de honra e o medo que tens da minha avó impede-te – acabou por dizer Poppy. – Muito bem, como queiras. Deixarei que me cortejes à tua maneira, mas não esperes que pare de tentar.

 

 

– Aurelia adora os rubis.

– Aurelia... – Luca fechara a caixa de repente. – Não vou casar com Aurelia.

As duas famílias sempre tinham deixado claro que esperavam unir as duas dinastias através do casamento. Quando eram crianças, Aurelia e ele costumavam brincar com os planos antiquados e absurdos dos pais. Mas, ultimamente, Aurelia não brincava tanto sobre o assunto.

– Estou apaixonado por outra pessoa – dissera ao pai.

Dizer a verdade, parecia-lhe ser o caminho mais simples para acabar com o assunto de uma vez por todas.

– Claro que estás apaixonado por outra pessoa. Tens vinte e três anos, e tenho a certeza de que ela é uma candidata totalmente inadequada.

O tom condescendente do pai irritara Luca.

– O que queres dizer com isso?

– Há poucas mulheres que entendem o que significa fazer parte de uma família como a nossa – insistira Damiano. – As raparigas de hoje querem trabalhar mas, evidentemente, a tua mulher não poderá fazê-lo.

Apesar da situação em que se envolvera, sem dar por isso, ao pensar na reação de Poppy se lhe dissesse que tinha de ficar em casa, quase fez Luca sorrir.

– Eu sei o que é ter sentido de dever – dissera o pai. – A questão é se tu sabes. E já que falamos de amor, porque não Aurelia? Está apaixonada por ti e esteve à espera, pacientemente.

– Isso é uma tolice! – exclamara Luca, horrorizado.

Damiano arqueara uma sobrancelha espessa.

– Achas? Tu estudaste para exercer a tua futura carreira e ela também. Aurelia não foi para a universidade, mas para um colégio suíço, exclusivo. Além disso, onde está o problema? Gostas dela...

– Não gosto o suficiente.

– Ah, o amor outra vez – o pai fizera um gesto com a mão. – Achas que eu me casei apaixonado pela tua mãe?

– Sim – respondera Luca.

– Sim, bom, a questão não é essa.

– Ah, não?

– A questão é que tens de casar com Aurelia, porque foi decidido assim. E tu sabes isso, tão bem como eu.

Em vez de discutir, Gianluca fizera-lhe a pergunta que mais lhe interessava:

– Porquê agora? Porquê tanta pressa?

– Sim, sei que tinhas planos para viajar quando acabasses os estudos...

– Quando aceitei fazer o curso de pós graduação em Harvard, tu sabias que tencionava parar durante um ano.

– Como os teus amigos – dissera o pai. – Mas tu não és como os teus amigos, Luca. Já viste o mundo várias vezes.

– Das janelas de um hotel de cinco estrelas.

– Ah, sim, claro, sofreste muito – brincara Damiano.

– Não é isso. Sei que fui muito sortudo.

– Demos-te tudo e agora é o momento de nos retribuíres o favor. Chegou a altura de te recordares do dever que tens para com a tua família e apelido... É a altura de assentar, filho.

– A chantagem não vai funcionar desta vez, papá.

– Quando te encarregares da empresa...

– Não vou encarregar-me da empresa.

Gianluca conseguia recordar a satisfação que sentira ao dizer isso. Uma satisfação que durara pouco, porque o pai olhara para ele com uma expressão que nunca vira.

– Se não casares com Aurelia, não haverá empresa para gerir.

– De que estás a falar?

Damiano virara-se para o cofre, de onde tirara uma pasta.

– Conheces Jason Stone?

– Sim, claro – respondera Luca. Todos conheciam o americano que dera um novo sentido à palavra «burlão».

Sempre se surpreendera com o facto de um homem que só contava com encanto pessoal ter tantos clientes, todos dispostos a pôr uma fortuna nas suas mãos avaras.

Jason Stone estava agora na prisão e dos milhões extorquidos nem havia rasto.

– Lê isto – dissera o pai.

Enquanto dava uma olhadela aos documentos, Luca apercebera-se de que parecia mais velho... Ele próprio começou a sentir-se mais velho.

– Quanto dinheiro? – perguntara, finalmente.

O pai mencionara uma quantia que fizera com que sentisse um aperto no coração.

– Pensei que era seguro e que poderia devolvê-lo antes de alguém se aperceber...

– Usaste dinheiro da empresa? – perguntara Luca. O pai não tivera de responder. – Quem sabe disto? – perguntara. Qualquer suspeita de fraude, acrescentada à desgraça da ruína económica seria o fim da família.

– O banco, é óbvio.

– E a mãe...?

Emocionalmente vulnerável, a mãe adorava Damiano. E um escândalo assim seria insuportável para ela.

O pai assentira com a cabeça.

– Alessandro também sabe... Avisou-me na altura, mas já era demasiado tarde.

Ao ouvir o nome do pai de Aurelia, Luca ficara tenso.

– Tu sabes que és o filho que Alessandro nunca teve – continuara o pai. – Depois do seu último enfarte, quer entregar as rédeas da empresa a outra pessoa e ofereceu-me uma fusão das duas empresas. A sua oferta é muito generosa, Luca, e tudo ficaria em família.

 

 

E agora, eram família. Gianluca fizera o que esperavam dele. Isso transformava-o num herói ou num vilão?

Sabendo que especular era inútil, decidiu não pensar nisso. Não tinha remorsos, dizia a si mesmo. Fizera o que devia fazer, a única coisa que podia fazer.

Tinham-lhe inculcado o sentido de dever desde o berço. Tomara uma decisão e viveria com ela. Faria com que o seu casamento com Aurelia funcionasse.

No próximo ano, Alessandro Cosimo poderia reformar-se e, como o seu próprio pai deixara o cargo na empresa, Gianluca geriria as duas empresas.

Partira o coração de Poppy. Pouco importava quantas vezes dissesse que era jovem, que passaria, que encontraria outro homem, alguém que não fosse... Embora saber isso o deixasse desolado.

Pensar nela com outro homem era insuportável, mas era uma dor que guardaria no seu coração até passar, porque teria de passar.

Tinha de ser assim.

Poppy fora à cerimónia, embora Luca não esperasse. Nunca a vira de sapatos de salto alto e os que usava naquele dia eram agulha. Sem conseguir evitar, admirara a pele dourada das suas pernas torneadas...

Com um vestido de seda um pouco mais pálido do que os seus olhos verdes, tinha um aspeto elegante e desejável.

 

 

Escondida atrás de uma coluna de mármore da catedral, Poppy derramara muitas lágrimas. Mas não durante o banquete, no jardim dos Ranieri, enquanto uma mulher com um chapéu enorme esperava que respondesse a uma pergunta.

«Agora não», pensou, respirando fundo, enquanto aceitava o copo de champanhe que um empregado lhe oferecia.

Teve de fazer um esforço sobre-humano para se desculpar com a mulher, pois falava mal italiano.

Luca ensinara-a a dizer algumas frases mas, embora o seu vocabulário aumentasse todos os verões, a gramática continuava a ser um desastre. Luca era um bom professor, embora ela sempre tivesse planeado que lhe ensinasse outras coisas...

Poppy abanou a cabeça, fazendo com que os brincos de ouro que tinha nas orelhas tilintassem.

Odiava-o.

Ouviu a avó a chamá-la e fingiu não a ter ouvido enquanto abria caminho entre os convidados que tinham saído para o jardim, de onde se via os campos italianos cobertos de vinhas, oliveiras e pinheiros.

Teve de fazer um esforço para conter as lágrimas, até chegar a um pequeno caramanchão médio, escondido por detrás de uns arbustos de lavanda alta e aromática.

Como acontecera? A vida era perfeita e agora...

Luca deixara de a amar de repente? Ainda conseguia ouvir a voz dele a dizer-lhe que a relação fora um erro.

Alguma vez a amara?

Amaria a perfeita Aurelia?

Como podia não a amar?

Ao ver a bela morena ao lado de Luca, sentiu uma pontada familiar de ciúmes. Aurelia não tinha uma mãe que aparecia nas capas das revistas cor-de-rosa, dando um escândalo atrás de outro.

Poppy enfiou a mão na mala, para procurar um lenço de papel.

– Bolas... – murmurou, quando caiu no chão.

Inclinou-se para o apanhar mas, de repente, ficou imóvel.

Luca estava ali, conseguia senti-lo.

Poppy levantou a cabeça e viu-o. Embora estivesse a dez metros, conseguia sentir a emoção que emanava dele enquanto se aproximava.

– Estás a chorar.

Poppy amarrotou o lenço.

– Não... É alergia ao pólen – mentiu.

– Porque vieste?

– Não pensava que realmente o fizesses... Mas fizeste. Alguma vez me amaste, Luca, ou foi tudo um jogo para ti?

Ele estendeu uma mão, como se quisesse tocar nela, mas depois deixou-a cair.

– Sei que agora estás magoada, mas passará...

– Eu não quero que passe – Poppy tentou sorrir, mas saiu-lhe uma careta. – Espero que sejam muito felizes.

Ele desviou o olhar.

– Era tudo verdade, tudo – as palavras saíram da sua garganta como um soluço.

Poppy achou que se alegrava por ele estar a sofrer. Merecia sofrer, tudo aquilo era culpa dele. Então, porque queria abraçá-lo?

– Mas isso não muda nada – tentou fazer com que a sua voz parecesse firme, mas tremia. – Porquê, Luca? Porque nos fizeste isto?

– É complicado explicar – respondeu, passando uma mão pelo cabelo.

– Estás apaixonado por ela? Não, não me digas. Não quero saber. E não te atrevas a sentir compaixão por mim – declarou Poppy, orgulhosa.

Luca segurou-lhe no rosto, para olhar para aqueles olhos cheios de lágrimas.

– Que sejas muito feliz, Poppy – murmurou, beijando-lhe os lábios meigamente antes de se ir embora.

Capítulo 1

 

Poppy deixou a mala de viagem no corredor e entrou na sala do apartamento dos pais. Os restos do pequeno-almoço continuavam sobre a mesa, o pai estava a ler o jornal de domingo e a madrasta estava a bordar com a mestria que Poppy sempre invejara, enquanto sorria, ouvindo um programa de rádio.

A familiaridade da cena fez com que se animasse um pouco. Nem sempre fora assim. Até à chegada de Millie, o ambiente na casa Ramsay era bem diferente. Com dez anos, Poppy não sabia que alguns pais não passavam todo o fim de semana no escritório. Millie mudara as suas vidas por completo e para melhor. Era uma pena que a avó não quisesse reconhecê-lo.

Millie Ramsay levantou o olhar, mas o sorriso de boas-vindas na sua cara sardenta desapareceu ao ver a expressão preocupada da enteada.

– O que se passa? – perguntou, deixando o trabalho de lado.

– É a avó – Poppy suspirou, enquanto se deixava cair numa poltrona.

Robert Ramsay baixou o jornal e Millie apagou o rádio.

– A tua avó não está bem?

O marido pigarreou e Millie suspirou.

– É uma senhora idosa e é a tua mãe, Rob.

O pai suspirou antes de voltar a esconder-se atrás do jornal.