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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2001 Cathie L. Baumgardner

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Uma missão quase impossível, n.º 463 - novembro 2018

Título original: Between the Covers

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1307-195-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

Paige Turner pestanejou várias vezes, sentindo-se confusa perante a afirmação de Shane Huntington. Não era a primeira vez que o simpático detective da polícia judiciária entrava na Biblioteca Pública de High Grove para lhe pedir ajuda profissional, mas a palavra que ele pronunciou nesse dia era inédita, pois sempre a dissera com desdém.

– Queres o quê? – perguntara Paige.

– Uma esposa… perfeita.

– Uma Esposa Perfeita? – repetiu ela. – Creio que não conheço esse livro.

Há vários meses que Shane ia à biblioteca e parava sempre no balcão de «Orientação ao Leitor» para questionar sobre a localização de algum livro de mistério ou algo parecido. Tal como todas as outras mulheres do prédio, Paige reparara no detective desde o primeiro dia. Por causa dos seus ombros largos e do seu porte atlético, ele não passava despercebido a nenhuma mulher.

Além disso, o seu rosto também era marcante, do tipo meigo mas que reflectia um encanto malicioso. Um poderoso queixo indicava traços de teimosia, os olhos castanho-escuros eram profundos e hipnóticos, e as leves rugas em seu redor denotavam que se tratava de um homem muito sorridente.

Os olhares maliciosos com que namoriscava todas as mulheres com menos de noventa anos davam a entender que gostava muito do sexo feminino e que era correspondido.

Nesse dia, Shane trajava um fato preto com uma camisa azul e gravata da mesma cor, porém mais escura. O casaco estava desabotoado, mas isso não o fazia parecer um polícia relaxado como os das séries de televisão. Como membro da polícia judiciária de Wentworth, ele era o retrato do homem da lei sexy e elegante.

Com a testa franzida, Paige começou a procurar na lista do computador, repetindo:

– A Esposa Perfeita… Sabes o nome do autor?

– Não estou a falar de um livro – murmurou Shane, algo impaciente, sentando-se na cadeira em frente à mesa de Paige. – Refiro-me à minha vida. Tenho que encontrar a esposa certa.

Por algum motivo estranho, Paige percebeu que tinha dificuldade em respirar, pois a visão daqueles olhos penetrantes deixava-a tonta.

– Estás a brincar, não é? – comentou, lembrando-se que Shane mencionava sempre as partidas que fazia aos outros polícias.

– Parece-te que sim?

Ela olhou-o e concluiu que não.

– E vieste procurar-me com esse propósito?

– Sim, porque tu sabes sempre onde encontrar tudo, por isso pensei que poderias ajudar-me também neste problema.

Ajudar como?, questionou-se Paige. Casando com ele? Após alguns segundos, expressou o seu pensamento.

– O que é que queres que eu faça?

– Ajuda-me a encontrar a esposa perfeita.

Durante um instante ela pensara que fora a escolhida, mas agora via que se enganara. Invadiu-a uma onda de frustração, fazendo-a aperceber-se de como ficara encantada com Shane ao longo dos meses de visitas à biblioteca.

Na verdade, pensou, ele nunca a olhara de maneira especial, e a única pessoa que já a apelidara de «perfeita» fora o ex-noivo, Quentin, quando fugira com outra mulher e lhe dissera que ela era «uma perfeita nulidade».

Quentin trocara-a pela linda, misteriosa e loura escritora Joan Harding, que ela própria convidara para dar uma palestra na biblioteca. Isso acontecera há dois anos, no Estado de Ohio, e, desde então, Paige esforçava-se para se manter longe de homens bonitos com sorrisos sensuais.

Homens como Quentin procuravam paixões arrebatadoras, e importavam-se mais com a embalagem do que com o conteúdo.

Porém, agora que morava nos arredores de Chicago, bastara Shane mencionar a palavra «esposa» para ela ficar emocionada. Bem, o melhor era esquecer, disse para si própria.

– Achas que isto é uma agência matrimonial?

Shane fitou-a com um ar desconfiado.

– Ficaste aborrecida?

– Não tenho tempo a perder com brincadeiras – replicou Paige.

Mas, ao falar, apercebeu-se que soava como uma bibliotecária velha e solteirona, e teve medo de estar a tornar-se uma caricatura.

– Também não tenho tempo para isso – replicou Shane. – Mas tenho que encontrar uma esposa em menos de um mês ou não herdarei um milhão de dólares.

Paige arregalou os olhos.

– O que é isso? Um novo programa de televisão?

– Não. É a maneira do meu avô garantir que o nome dos Huntington continuará.

– Pagando-te um milhão de dólares para te casares?

– De certa forma, sim. E é muito dinheiro. Talvez não para todos os membros da família, porém para mim, Shane Huntington, a ovelha negra dos nobres de Winnetka, é uma grande quantia – disse em tom sarcástico.

Paige não ficou surpreendida por saber que ele era a ovelha negra dos Huntington, mas o facto de a família ser rica surpreendeu-a.

– Não me olhes assim – resmungou Shane. – Sou apenas um funcionário público que, noutras circunstâncias, não juntaria um milhão de dólares nem em mil anos.

– É melhor começares do início – pediu Paige.

– Trata-se de uma longa história.

– Então fala depressa.

– Noutras circunstâncias, este dinheiro não me interessaria para nada.

– Por quê? A tua família é assim tão rica?

– Não, apenas porque eu não ligo ao dinheiro. O meu pai ficou furioso quando eu me recusei a seguir os negócios da família.

– Quais negócios?

– Descendo de uma longa linhagem de médicos proctologistas, mas informei a família que não seguiria essa carreira.

Sem conseguir conter-se, Paige riu.

– Podes rir à vontade, mas os homens da família não acharam graça nenhuma quando eu lhes disse que ia ingressar na polícia. Já foi há dez anos, e a reacção deles pouco mudou desde então… até que recebi isto.

Shane tirou um papel do bolso e lançou-lhe um olhar. Esquecera-se completamente do fundo que o falecido avô deixara, até receber a carta da sociedade de advogados Bottoms, Biggs e Bothers, solicitando uma reunião urgente.

Saíra dessa reunião há dez minutos, e dirigira-se à biblioteca. Era para lá que ia sempre que pesquisava algo relacionado com o trabalho. Procurava por Paige Turner, a rapariga que lhe dissera que, com esse nome, só podia ser bibliotecária.

Shane sabia bem o que era estar predestinado a alguma coisa. A sua família dizia-lhe, desde pequeno, que o seu destino era ser um Huntington de Winnetka, só que ele nunca concordara com isso.

– Devem existir dúzias de raparigas ansiosas para casar contigo – disse Paige, interrompendo-lhe os pensamentos.

– Esse é que é o problema. Não posso casar-me com qualquer uma. – Shane estendeu-lhe a carta. – Os advogados informaram-me que, para ter direito à herança de um milhão de dólares, só posso desposar a mulher que preencher os cinco requisitos exigidos. Já te disse que, em situações normais, isto não me tentaria, mas existem circunstâncias especiais…

– Quais circunstâncias especiais? Excedeste o limite dos cartões de crédito? Apostaste nas corridas de cavalos? Compraste um carro desportivo?

Shane não achou graça, e Paige tentou reparar o que dissera.

– Desculpa.

– Está bem – replicou ele, voltando a sorrir e retomando o bom humor de sempre. – Admito que quero o dinheiro por causa de uma mulher. O seu nome é Brittany e tem sete anos.

Shane Huntington era pai?, questionou-se Paige, perguntando em voz alta:

– Qual é o teu relacionamento com Brittany?

– Ela é uma das centenas de crianças que foram ajudadas pela Casa da Esperança, uma organização que auxilia famílias a recuperarem-se de traumas. Mas não têm recursos, e os dirigentes da instituição estavam a tentar arranjar dinheiro quando recebi a carta dos advogados. Parecia o destino, pois um milhão de dólares resolveria o problema.

– É muito generoso da tua parte. – murmurou Paige, arrependida de ter sido maliciosa.

– Não é só por caridade. A Casa da Esperança salvou a vida de um grande amigo meu e, desde então, ajudo essa instituição. A Polícia Judiciária de Wentworth também ajuda.

Então Shane Huntington não era apenas um homem bonito e sexy, pensou Paige. Ele era uma pessoa de bom coração… que estava fora do seu alcance, apesar de a fazer sentir um frémito de excitação cada vez que entrava na biblioteca.

Isto era mau, pois a última vez que se sentira atraída por um homem bonito e encantador sofrera muito.

Seria bom ver Shane casado e feliz, não só por ser por uma boa causa mas também para que parasse de pensar nele, concluiu em pensamento.

– Mencionaste uma lista de requisitos – lembrou.

– Sim, escrevi-os todos. – Shane retirou um bloco de notas do bolso e leu. – Vejamos… Em primeiro lugar a candidata deve ter uma boa educação. Em segundo, tem que pertencer a uma família rica, bem relacionada e respeitável.

– Não acredito que alguém possa fazer uma lista como essa – interrompeu Paige, atónita.

– Podes acreditar. Os Huntington não brincam em serviço e, para eles, os casamentos são fusões de famílias.

– E são todos médicos?

– Sim. As suas paixões são pelo trabalho. Mas deixa-me continuar. Número três, a rapariga em questão deve ser capaz de conceber filhos.

– Claro! Uma parideira.

Shane ignorou o comentário.

– Quatro, tem que ter um curso superior e, finalmente, é obrigatório que seja uma ruiva natural. O meu avô adorava ruivas. – Shane levantou os olhos do papel e fitou-a, pensativo. – Acabo de reparar que tu tens cabelos avermelhados.

Só isso?, pensou Paige. Avermelhados? O seu apelido na escola primária era Cabeça de Cenoura, e todos os colegas se riam dela. Agora, com vinte e tal anos, a sua cabeleira tinha escurecido e adquirido um forte tom acobreado. Preferia descrever os seus cabelos assim em vez de dizer que tinha cabelos… vermelhos.

– No entanto, se trabalhas numa biblioteca não deves ser de uma família rica, pois não? – continuou Shane. – Então, conheces alguma rapariga que preencha a lista dos cinco requisitos dos Huntington?

– Mesmo que conhecesse, não sei como é que iria convencer uma mulher a casar contigo – replicou Paige com azedume, ao pensar que o avô Huntington reduzira o sexo feminino a uma mera mercadoria.

– Quando é preciso consigo ser muito charmoso – replicou Shane, lançando-lhe um olhar adorável. – E a possibilidade de arranjar fundos para a Casa da Esperança merece o sacrifício. Além disso, só tenho que estar casado durante um ano para corresponder às exigências do testamento.

– Tens que esperar um ano para poder mexer no dinheiro?

– Não, mas tenho que assinar uma espécie de letra de câmbio, de modo a que, se não cumprir o prometido, fique a dever um milhão de dólares ao fundo estabelecido pelo meu avô.

– E quanto à mulher com quem te vais casar? Vais convencê-la que a amas e depois, quando receberes o dinheiro, divorcias-te?

Paige sabia muito bem o quanto era doloroso ser abandonada.

– Claro que não! – replicou Shane, ofendido, porém sem a convencer da sua sinceridade.

– Então o que é que lhe dirás?

– Ainda não planeei todos os pormenores, mas primeiro tenho que a encontrar, e depois preocupar-me-ei com o resto.

– E achas que será fácil encontrar a mulher ideal?

– Eu não disse isso. É precisamente por esse motivo que te procurei. Para que me digas o que fazer. Reconheço que a lista do meu avô é um insulto às mulheres, mas pensa apenas na Casa da Esperança e nas suas centenas de crianças. Tenho que me casar antes de fazer trinta anos, o que vai acontecer dentro de menos de um mês. Tenho que encontrar a esposa certa e não sei por onde começar.

– Começas pelas pessoas ricas. Estive a ler algo na revista Chicago… Espera um minuto!

Shane observou-a a correr para a secção de revistas. Era uma rapariga delicada, com feições graciosas, e imaginara-a sempre muito pequena, porque só a via atrás da mesa, sentada na cadeira. No entanto, nesse momento, apercebia-se que ela era alta. O vestido longo que usava era azul, com rachas laterais, que enquanto caminhava exibiam as belas pernas.

Paige estava no rol das poucas mulheres que Shane conhecera que não tinham caído aos seus pés. Não que fosse um convencido, mas a experiência provava que, para muitas, ele era irresistível…

Apesar disso, Paige Turner nunca tentara seduzi-lo, pensou para com os seus botões. Pelo contrário, ela costumava rir-se dele ou duvidar das suas palavras. Era mesmo muito charmosa. Era pena que ela não tivesse os requisitos necessários, pois seria a esposa perfeita, concluiu.

No que lhe dizia respeito, pouco lhe importaria se ela tivesse sido criada numa quinta no Estado de Iowa ou se tivesse crescido num bairro dos subúrbios de Chicago. Nada disso a fazia parecer menos atraente e adorável aos seus olhos, mas havia a maldita «lista dos Huntington»!

Nesse instante, Paige tirou a revista que queria da prateleira mais alta, e o tecido do vestido moldou-lhe as curvas dos seios com uma precisão maravilhosa. Antes que Shane se recuperasse dessa visão, ela regressou.

– Olha o que encontrei. Vai haver um evento de caridade da alta sociedade este fim-de-semana.

Triunfante, apontou para várias fotografias da festa do ano anterior em que se viam muitas mulheres a sorrir, todas com nomes como Cindy e Mindy, e que exibiam sorrisos muito bem realçados pela ortodôncia. Uma tinha cabelos quase ruivos.

De imediato, Shane pegou no telemóvel para obter mais informações. Depois de uma breve conversa, desligou, dizendo em tom glorioso:

– Está feito! Já tinham sido vendidos todos os bilhetes, mas consegui dois para o Baile de Windy City e tu irás comigo.

Paige encarou-o como se ele fosse um louco.

– Porque é que eu iria contigo?

– Assim ajudar-me-ás a seleccionar as melhores candidatas.

– Não achas que vai parecer estranho ires acompanhado e estares à procura de outras mulheres?

– Não vais como minha acompanhante. Diremos que és minha… prima! – Shane sorriu, com a satisfação de quem descobriu algo mais importante do que a Teoria da Relatividade.

– E porque é que achas que eu vou concordar com isso?

– Já te mostrei uma fotografia da Brittany? Esta é do ano passado.

Dito isto, Shane tirou algo do bolso, e Paige examinou a fotografia.

– Ela é linda e tu estás a fazer chantagem emocional, sabias?

– É por uma boa causa. E, se me acompanhares à festa, ganhas um jantar grátis.

– Bem, assim já é diferente – replicou Paige com ironia.

– Óptimo! Eu sabia que ias concordar.

– Ainda não concordei com nada.

– Tarde demais! Veste uma roupa bonita que eu venho buscar-te às seis e meia. Dá-me o teu endereço.

Paige não queria sentir a intimidade de o receber em casa.

– Não. Encontro-me contigo na festa, na recepção do hotel. Às sete horas.

– Perfeito! Obrigado pela ajuda, Paige. Não poderia ter encontrado ninguém melhor do que tu para fingir ser minha prima.

– Sim, eu sou sempre uma grande amiga – retorquiu ela, vendo-o ir embora muito contente. – Sempre disponível e… um bocado maluca – concluiu consigo mesma.