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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1998 Sandra Marton

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

O amor junta-nos, n.º 515 - maio 2019

Título original: Marriage on the Edge

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-085-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

Gage Baron suspirou, exausto. Foi um dia difícil com as obras de ampliação do hotel Baron Windsong e, tudo o que queria, era descansar um pouco. Mas tinha prometido ir à festa dos Holocomb, onde estaria reunida a elite da cidade.

– Não devias ter assumido esse compromisso, meu amigo – murmurou ao contemplar a sua imagem no espelho. – Mas deste a tua palavra e agora tens de honrá-la.

Olhou para o relógio de ouro sobre o lavatório: sete e quinze. Estava atrasado, mas não se importava com isso. Assim, podia ficar menos tempo no pátio da mansão, a fingir que se divertia com mais uma das aborrecidas festas beneficentes oferecidas por Liz Holocomb.

E quem é que tinha culpa desta situação? Ele próprio, claro. Colocou-se naquela situação apenas para não desiludir Natalie.

– Não quero ir, mas posso mandar um cheque – disse quando ela lhe entregou o convite. – Basta dizer a quantia.

Então, Natalie olhou-o ternamente, como não fazia há muitos meses.

– És livre para fazer isso – respondeu com a sua voz fria e elegante, – mas lembra-te de que trabalhei no comité com a Liz.

A resposta surpreendeu-o. Ultimamente, as coisas não andavam bem entre eles, mas mesmo assim continuavam casados.

– Está bem. Eu vou.

– Obrigada – respondeu ela, num tom tão educado quanto o sorriso.

O mesmo sorriso que ainda o perturbava e que o levava a ter o insano desejo de a agarrar e beijar até que voltasse a ser a mulher que ele um dia conheceu.

Suspirou mais uma vez, pôs a toalha de lado, pegou no relógio e voltou ao quarto, nu.

O sexo, pensou, era um percurso com dois sentidos. Na vida, como nos negócios, não se entra numa situação quando não se tem a certeza do resultado. E Gage não fazia a menor ideia do que aconteceria se tentasse derreter a gélida polidez da esposa, propondo-lhe sexo.

Provavelmente, não funcionaria. Além disso, existia a possibilidade dele ainda não estar pronto para encarar as consequências de um acto assim.

Por outro lado, já era altura de exigir algumas respostas.

Parou à porta do armário, tenso. Talvez tivesse chegado o momento de descobrir se era somente o seu ego que desejava Natalie ou o seu coração.

Quando concordou em ir à festa, arquitectou logo um plano. Faria o melhor possível para tornar aquela noite especial e para resgatar ao menos um pouco da magia que no passado os envolveu.

Mas esses planos desapareceram, porque, afinal, ia sozinho à reunião.

Ao que tudo indicava, ultimamente, não podia planear nada. Projectos, só os de negócios. As pessoas eram imprevisíveis. Os sentimentos iam e vinham num piscar de olhos. Não era ingénuo ao ponto de acreditar que Natalie seria diferente.

Franziu a testa, desolado.

O seu casamento tinha acabado. E talvez fosse melhor assim. Não havia outra saída para um relacionamento em que o silêncio ocupou o lugar do diálogo e a acomodação substituiu a paixão.

– Há algo errado? – perguntou a Natalie, há cerca de duas semanas atrás.

Meu Deus, como aquelas palavras lhe custaram! Em especial depois de ver o olhar de desdém que ela lhe lançou…

– Não sei. Diz tu. Há algo errado?

Parecia que, depois de dez anos, Natalie dava o casamento por encerrado. Mas mantinha as aparências.

Gage fez uma careta.

– Ela sabe que só concordei com esta maldita festa por sua causa – disse em voz alta enquanto procurava a roupa para vestir. – E, por acaso ligou para o escritório, a avisar que não podia ir comigo? Não, não ligou!

Nenhum telefonema. Nenhuma explicação. Nada além da luzinha vermelha do gravador a dar-lhe as boas-vindas quando ele chegou, há uma hora e meia atrás, e a voz de Natalie, gravada, que dizia:

– Estou atrasada. Não prometo nada, mas, se for possível, encontro-me contigo na festa.

Era um direito dela, pensou Gage, sombrio, enquanto vestia a camisa. Nada de promessas. E, agora, nada de Natalie.

– E aqui estás tu, meu caro, a ir a essa festa sozinho – murmurou enquanto arranjava a gravata e vestia o casaco.

Olhou para o espelho, passou os dedos pelo cabelo escuro e ensaiou um sorriso.

Seria uma noite terrível. Daria mil dólares para a passar em casa, a apreciar bons canapés, a beber champanhe de primeira, a perguntar onde estaria Natalie…

Cerrou o olhar. Era adulta e sabia tomar conta de si.

O casamento terminou; quanto mais cedo aceitasse a ideia, melhor.

 

 

A fila de carros que ia à mansão dos Holocomb começava um quarteirão e meio antes da casa. Nada como o final de uma fileira de veículos para levar um homem a desejar estar na sala de repouso do Baron Windsong, a apreciar uma taça de vinho branco…

Oh, não. No hotel não. Já permanecia nele uma boa parte do dia. Talvez fosse melhor tomar vinho numa praia. Não as dali, de Miami, mas talvez algum refúgio ao sul do Pacífico, com uma lua imensa e branca a iluminar a areia deserta.

Uma buzina fê-lo voltar à realidade. Gage pestanejou e avançou mais alguns metros.

O que é que se passava com ele, naquela noite?

Há anos que não se esticava numa praia, há anos que não perdia o seu tempo naquelas introspecções tolas…

Há anos que uma mulher não o deixava tão inseguro.

Apertou a direcção com força. Prometeu que ficaria na festa meia hora. Então escaparia à francesa, sem se despedir de ninguém, e confrontaria Natalie quando ela finalmente chegasse a casa. Faria perguntas, exigiria respostas e acabaria com aquela farsa de uma vez por todas.

Se ela quisesse continuar casada, Gage consideraria a ideia. Se desejasse dar o relacionamento por encerrado, assim seria. A vida continuava, com ou sem divórcio.

Mas, fosse qual fosse o caso, o que é que ele fazia ali, à espera de vez para chegar a uma festa a que não pretendia ir, só para ser cortês com uma mulher que não tinha a certeza de querer?

O melhor era voltar para casa, tirar aquele fato idiota, ir para a cama.

– As chaves, senhor?

Gage colocou a cabeça para fora e piscou os olhos.

– Como?

– As chaves.

Só então se apercebeu de que já estava na mansão. Ao lado do carro, um rapaz de uniforme cor de vinho esperava-o, para estacionar o veículo.

Deu-lhe as chaves, uma nota de dez dólares e subiu para a ampla varanda que levava à mansão, disposto a suportar meia hora de uma tortura brutalmente civilizada.

 

 

Tortura era uma palavra leve para descrever o ambiente. Só um tolo pagaria para estar numa sala cheia de gente, com um copo de vinho intragável, enquanto um quarteto tocava canções sem graça.

Mas o sorriso que ele ensaiou parecia funcionar. Hank Holocomb apertava-lhe a mão, murmurado algo como «prazer em vê-lo». Liz, envolta numa nuvem de perfume, beijou-o nas faces e sugeriu que experimentasse o paté de camarão.

– Onde é que está a Natalie? – perguntou, mas, em seguida, acenou para alguém e esqueceu-se de aguardar a resposta. – Vejo-o mais tarde, querido – disse, enquanto se afastava.

Então, saiu para o pátio, voltou à sala, aceitou uma taça de vinho e um canapé. E agora estava a um canto, meio afastado, a observar o cenário.

Havia alguma coisa de ridículo ali. A comida era fraca; o vinho sem gosto; a música horrorosa e os convidados petulantes.

– Olá.

Gage virou-se na direcção da voz suave que combinava perfeitamente com o rosto e com o corpo femininos, sem dúvida esculpidos por algum cirurgião plástico.

– Olá – respondeu, sorrindo.

– Uma festa pouco agradável, não acha? – comentou a mulher.

– Tem toda a razão.

– O vinho, os canapés… de péssima qualidade.

E estremeceu de um modo ensaiado, o que levou o cabelo loiro a balançar, acariciando os ombros e os seios cobertos por um vestido mínimo. Inclinou a cabeça, pestanejou e, lentamente, passou a língua pelo lábio superior.

– Bem – disse, com um sorriso, – já não sei o que é que hei-de fazer aqui.

Gage empertigou-se. Estava «fora de circulação» há algum tempo, mas um homem tinha de estar morto para não perceber as intenções daquela mulher. «Eu sei o que fazer consigo», era a resposta esperada. Então a loira dar-lhe-ia o braço e, rapidamente, estariam na cama.

E há muito tempo que ele não dormia com outra mulher, a não ser Natalie. Tempo de mais. Talvez precisasse mesmo de um corpo ardente entre os lençóis, sem amanhã nem remorsos, sem compromisso.

– Sim ou não? – perguntou a mulher suavemente, com os olhos verdes fixos nele.

Gage sorriu, meio arrependido.

– Tenho muita pena, mas eu…

– Tudo bem. Outro dia, talvez.

– Claro – respondeu ele, embora soubesse que não existiria outro dia para ambos.

Viu a loira acenar e afastar-se e olhou para a porta.

Foi então que viu uma mulher belíssima. Ao contrário da maioria das pessoas que circulava em Miami, não era loira. Tinha o cabelo preto como a noite e usava-o preso num penteado no alto da cabeça, o que revelava o seu rosto oval, perfeito. Solto, era como seda.

Gage fitou-a atentamente, admirando os olhos escuros e grandes, o nariz recto, a boca determinada, o vestido preto, simples, que escondia os seios fartos. Alta, curvilínea, pernas bem torneadas, usava sandálias também pretas, mostrando os pés perfeitos.

Era linda. Muito mais do que todas as outras. E olhava para a sala como se estivesse à procura de alguém.

Gage livrou-se do canapé, colocou a taça sobre uma mesinha e saiu do canto onde estava. Fitou-a fixamente e aguardou. Tinha a certeza de que ela o veria.

E isso, de facto, aconteceu.

Os seus olhares encontraram-se. O tempo parou. Gage podia sentir o sangue a pulsar nas suas veias. Aquela mulher era tudo o que esperava… E sonhava!

Alguma coisa alterou o rosto adorável. Impaciência? Ansiedade? Ele deu um passo para a frente e viu algo mais naquele semblante. Medo, certamente.

Mas de que é que tinha medo? Sabia o que Gage queria e desejava a mesma coisa.

Deu mais um passo e viu-a afastar-se, desaparecer no meio da multidão. Fugia, mas Gage não a deixava ir longe. Não naquela noite. Não quando ela era tudo o que desejava, tudo o que precisava.

Moveu-se depressa entre as pessoas que enchiam a sala, à sua procura e, finalmente, encontrou-a a atravessar rapidamente as portas francesas que davam para o pátio.

Passou pelos músicos e subiu para o jardim. Logo depois da fonte iluminada, parou e olhou para trás. Os seus olhos fitaram-no e o calor que havia neles quase o fez gemer.

Mesmo assim, ela virou-se e prosseguiu, ainda apressada. Gage diminuiu o passo. O jardim não tinha saída e, portanto, o encontro seria inevitável.

Além disso, ela não queria realmente fugir. A necessidade, a urgência, o desejo ardente estavam escritos no seu olhar.

Gage viu-a em pé, num canto escuro do jardim, que as árvores protegiam dos olhares curiosos. Aproximou-se até que alguns centímetros os separassem. Notou os lábios entreabertos, a respiração ofegante, o peito que se movia numa cadência rápida.

Uma madeixa do cabelo negro soltou-se e caiu pelo pescoço. O perfume feminino, uma exótica mistura de jasmim e rosa, confundia-se com o aroma do mar e embriagava-o.

Ele avançou. Ela recuou.

– Estás com medo de mim? – aproximou-se mais. – Não vou magoar-te, sabes isso.

– Talvez não seja essa a tua intenção – foi a resposta dada em voz baixa e rouca, – mas é o que acontecerá.

– Não – disse Gage com firmeza e estendeu as mãos para lhe arranjar a madeixa solta, colocando-a atrás da orelha com suavidade. – Nunca vou ferir-te.

– Sim, vais…

E então, com um soluço, ela atirou-se nos braços fortes.

Gage beijou-lhe a boca, os olhos, as têmporas. Sabia que a apertava com força, mas sentia-se como um náufrago agarrando-se à última prancha. Se não a apertasse, fugia das suas mãos; se a apertasse muito, podia magoá-la.

Ela gemeu, ergueu a cabeça, mergulhou as mãos no cabelo escuro e beijou-o.

– Querida… – a voz de Gage falhou. Segurou o rosto delicado entre as mãos e beijou-a profunda, desesperadamente. – Minha doce querida…

Os dedos femininos insinuaram-se sob o casaco e sentiram o coração acelerado.

– Sim – disse ela. – Sim, por favor…

Gemeu quando ele soltou as alças do vestido. Os seios, por baixo da renda preta do soutien, brilhavam como mármore à luz do luar.

Ela soltou um grito quanto Gage beijou o pescoço. Inclinou a cabeça para trás, oferecendo os seios, que ele tocou apaixonadamente.

Um gemido de prazer pôs fim ao bom senso que restava nele. Pressionou-a contra a parede. Ouviu-a sussurrar alguma coisa quando levou as mãos para debaixo do vestido. Os lábios femininos tornaram-se mais sedentos quando Gage afastou a roupa interior e sentiu o calor que vinha da carne macia. Os recantos mais íntimos pareciam queimar como lava contra os dedos ágeis e fortes.

Ele gemeu e rasgou a seda da roupa.

– Entrega-te – sussurrou, quase fora de si.

– Não!

O grito ecoou na noite, cortante como o vento que repentinamente soprava do mar. Mas Gage não o escutou. Estava perdido, cego de tudo excepto do corpo que tinha nos seus braços, do sabor daquela boca. Há tanto, tanto tempo…

– Não – ela colocou as mãos no peito largo e afastou-o. – Pára. Não ouviste? Eu disse pára!

A urgência daquela voz, o tom que combinava a raiva e o medo, fizeram-no voltar à realidade. Gage pestanejou, atónito.

– Por que razão?

Ela tremia e estava furiosa por ter sucumbido, por se deixar apanhar num louco momento de paixão.

– Solta-me.

Soltá-la? Como, se ela é que se atirou nos seus braços?

O fogo que havia em Gage extinguiu-se. Deu um passo para trás, arranjou a gravata e a camisa. Ela compôs o vestido e colocou as alças no lugar.

– Estás a fazer um jogo perigoso – comentou Gage quando conseguiu encontrar voz para falar.

– Não sou eu que gosto de jogos.

– Levar um homem à beira da loucura e, depois, exigir-lhe que se comporte é muito arriscado, sabias?

Ela cruzou os braços. Estava calor, mas a brisa nocturna fê-la tremer. Ou não teria sido a brisa? Talvez o estremecimento se devesse à constatação de que esteve muito perto de cair naquela armadilha, mais uma vez.

– Não fui eu que te persegui…

– Perseguir?

Ela percebeu a raiva na voz masculina, mas e depois? Também estava furiosa e magoada.

– Exactamente, embora tenha deixado bastante claro que estava a fugir de ti.

Gage soltou uma gargalhada.

– Por favor! Querias que te seguisse. Vi a forma como olhaste para mim. Entendi a mensagem.

– Então aconselho-te a desvendar melhor tais mensagens. Talvez aí compreendas que elas significam «não». De outro modo…

– De outro modo o quê? – um sorriso lento desenhou-se na boca masculina. Gage traçou o contorno dos lábios com um dedo. – Sê honesta. Se eu tivesse ignorado o teu «não», estaria dentro de ti neste momento e…

O som da estalada que recebeu no rosto ecoou no silêncio da noite.

– Canalha!

A voz tremeu. Ela desprezou-se por isso, pela fraqueza de se ter atirado naqueles braços… e por reconhecer que Gage tinha razão.

Por isso mesmo, Natalie Baron levantou o queixo, sustentou o olhar furioso do marido e disse as palavras que nunca imaginou dizer, que engoliu amargamente durante todos aqueles meses:

– Quero o divórcio.