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COMO DESTRUIR UMA RELAÇÃO

 

Quando as semelhanças com a realidade não são mera coincidência…

 

 

 

ANA PAULA JOB

 

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© Ana Paula Job

© COMO DESTRUIR UMA RELAÇÃO

 

ISBN digital: 978-84-685-0100-0

 

Impreso en España

Editado por Bubok Publishing S.L.

 

Reservados todos los derechos. Salvo excepción prevista por la ley, no se permite la reproducción total o parcial de esta obra, ni su incorporación a un sistema informático, ni su transmisión en cualquier forma o por cualquier medio (electrónico, mecánico, fotocopia, grabación u otros) sin autorización previa y por escrito de los titulares del copyright. La infracción de dichos derechos conlleva sanciones legales y puede constituir un delito contra la propiedad intelectual.

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Poema a uma alma companheira…

 

 

Se eu passar o véu translúcido, antes de ti.

Se eu me tornar ar que respiras, antes de o teu fôlego findar.

Tornar-me-ei teu Anjo fiel, dedicado, inspirador…

Serei sombra da tua própria sombra, porém sempre Luz…

Serei serenidade no teu mais atribulado cansaço.

Serei teu guia até à mais consoladora paz.

A melhor parte de mim permanecerá em ti…

 

 

 

 

 

CAPÍTULO UM

 

Bárbara, quarenta e dois anos. Sempre fora uma mulher forte e enérgica, sobrevivente de um casamento falhado, que acabara em convulsão.

Casara ainda muito jovem, com um homem fraco e sem personalidade, que manifestou, todavia, a força suficiente e a capacidade inata de lhe destruir os sonhos e de lhe fazer desmoronar as ilusões.

Desse casamento desastroso, resultaram dois filhos, a luz dos olhos de Bárbara, embora, por vezes, com a sua dificuldade em expressar os sentimentos maiores e mais profundos, demonstrasse pouca habilidade para o manifestar.

A nível emocional, seguiram-se anos de travessia no deserto.

Deu por si mesma várias vezes dispersa em relacionamentos (pouco) amorosos.

Deles pouco mais resultou do que a constatação desconcertante e amarga de que o tão aclamado e perseguido “amor” parecia nada mais ser do que uma miragem, ou, quem sabe, apenas uma personagem fictícia, criada para, neste palco de angústias e de temores, nos proporcionar a fantasia de felicidade.

Os homens rodeavam-na, atraídos pelo seu magnetismo e sensualidade, mas, quando confrontados com a intenção de Bárbara de querer aprofundar a relação e assumir um compromisso, assustavam-se, ao deparar-se com a forte personalidade e com o carisma desta mulher, e afastavam-se, ainda no limiar do encontro.

Começou a pensar que algo de errado se passava com ela.

Observava as amigas e colegas, na sua maioria acomodadas à vida rotineira com os maridos e os filhos.

Pareciam, se não felizes, pelo menos aparentemente conformadas, no seu dia a dia, nem sequer imaginando que a vida pudesse oferecer algo mais do que o que lhes fora imposto, desde sempre, pelas convenções e pelos modelos de uma sociedade decadente e ultrapassada, e que elas seguiam obedientemente, sem nada questionar.

Antes dos múltiplos reveses que sofrera, ela sempre imaginara que havia um céu coberto de estrelas luminosas por descobrir.

Não só a nível pessoal, mas em todas as vertentes da sua vida…

Sempre sentira que algo secreto, misterioso e fascinante parecia estar à espera para se cumprir, no momento certo, e considerara que a vida, se insistíssemos em acreditar nisso, era uma aventura maravilhosa, e não um deserto de emoções e de vivências.

Porém, e ao contrário de todas as expectativas, nada parecia dar certo, na sua existência. Esta assemelhava-se a uma cadeia, em que cada elo ligava uma experiência negativa a outra, sucessivamente e sem cessar.

Começou a procurar explicações por outras vias…

Estudou diversas religiões e correntes espiritualistas, ansiando decifrar o sentido do falhanço das suas relações e das adversidades que, a todos os níveis, teimavam em ocorrer na sua vida.

Descobriu a lei do Karma, a lei de causa/efeito, e questionou-se se essa seria a razão do fracasso da sua vida amorosa.

Em vidas passadas teria usado mal essa energia e agora, certamente, encontrava-se a pagar por isso.

Passou a fazer terapia com uma psicóloga muito conhecida na praça.

Ela própria era divorciada, já por duas vezes, mas o seu segredo para manter a alegria era, segundo ela própria afirmava nas sessões de terapia, nunca desanimar e continuar a acreditar que, mais cedo ou mais tarde, o príncipe encantado chegaria.

Poderia vir um pouco desalinhado, mal vestido, até, e com poucas posses, somente com os despojos de guerra que sobrassem de outra relação, mas se continuassem a acreditar com muita força, ele chegaria. Era o poder do pensamento positivo, dizia ela.

Bárbara considerou que esta terapeuta era um pouco lírica e entusiasta de mais para o seu gosto; parecia um pouco fora do mundo real, com os pés pouco assentes na terra, e por isso deixou de a consultar.

Encontrou uma, bem mais realista e pragmática, em relação aos relacionamentos.

Era casada, mas via-se que há muito tempo perdera as ilusões e deixara de acreditar nos romantismos das histórias cor-de-rosa, transparecendo, nas suas sessões, duras críticas aos homens que, segundo ela, só queriam lavar o automóvel, ver futebol e beber copos com os amigos, aos fins de semana, deixando as mulheres a sonhar com idas à praia e passeios à beira- mar a dois.

Bárbara achou que esta terapeuta também não lhe servia, e decidiu desistir de fazer terapia.

Resolveu, em vez disso, arranjar um guru, que lhe diria, simplesmente, se valeria ou não investir em determinada relação.

A verdade é que todas estas experiências, mais ou menos sérias, mais ou menos desconcertantes, foram enriquecedoras, ajudando Bárbara a conhecer-se melhor e a familiarizar-se com as suas fraquezas e as suas forças.

Aprendeu, ao longo das suas buscas e do seu processo de descoberta, que o segredo a reter era deixar-se fluir com a vida, permitindo que esta a levasse aonde tinha de ir.

Descobriu, ainda, que, de tudo o que acontecia de aparentemente mau, se poderia extrair um ensinamento que lhe permitiria evoluir para, no futuro, encontrar algo melhor.

Com estas aprendizagens, tornou-se uma pessoa mais serena e confiante e mais recetiva aos planos, não que ela fazia para a vida, mas que a vida guardava para si.

Pelo menos ela assim queria acreditar, e essa convicção dava-lhe forças para prosseguir com ânimo e espírito positivo.

Pelo menos assim foi, até encontrar um novo “amor”…

 

 

 

 

 

CAPÍTULO DOIS

 

Conheceu-o numa tarde cinzenta de novembro e foi-lhe apresentado por duas amigas.

Era um conhecido dos seus maridos e, cansadas de verem a companheira sem ter alguém que lhe carregasse as compras, e quem sabe o peso dos seus problemas, apressaram-se a informá--la das boas qualidades que o rapaz reunia.

Segundo as suas mais que bem-intencionadas palavras, tratava-se de um homem da sua faixa etária, com muito bons sentimentos, e que, desgraçadamente, há alguns anos, sofrera uma terrível deceção.

A esposa traíra-o com outro homem, durante o casamento, e, tendo alguns amigos descoberto esse facto, logo o convenceram de que o divórcio era a única solução.

Ao contarem a Bárbara o sucedido, imediatamente uma das suas amigas o idealizou na sua mente, dizendo que deveria ser um indivíduo carente de afeto e de atenção, e desejoso de encontrar uma mulher que lhe fizesse esquecer e superar o desgosto sofrido.

Foi envolto nesta aura de sofrimento e de dor, de traição e de desilusão que ele surgiu na vida de Bárbara…

Conheceu-o, enfim, na tal tarde cinzenta de outono.

Achou-o bem- parecido e empreenderam facilmente uma conversa agradável sobre assuntos triviais.

Era simpático e descontraído, e Bárbara pensou que não parecia magoado, nem traumatizado ou desiludido com coisa nenhuma.

Não lhe despertou nenhuma empatia especial e imediata, nem, quando olhou para ele, sentiu que já o conhecia de algum lugar.

Suspirou quando pensou nisso, pois lembrou-se de que esses eram alguns dos sinais que lhe tinham dito que anunciavam o aparecimento da alma gémea.

Pelo menos era o que ouvia nas palestras que frequentara sobre a questão das almas gémeas.

Resignou-se, no entanto. Já só queria encontrar um homem decente, que não tivesse medo de assumir compromissos e que a fizesse sentir-se bem. Querer encontrar a alma gémea já era pedir de mais!

Depois daquele dia, e de conhecer Mário (era esse o nome dele), decidiu marcar uma consulta com o seu guru, a fim de saber se valeria ou não a pena investir numa possível relação.

O guru, para sua grande alegria, disse-lhe que sim, que podia ir em frente, pois aquele homem seria uma espécie de anjinho na vida dela.

Ela decidiu, assim, conhecê-lo melhor e sucederam-se os encontros a dois, nos cafés e nos centros comerciais.

De vez em quando, durante as conversas, lembrava-se de que ele não fazia o seu coração querer sair do peito, nem sentia nenhum desejo arrebatador de lhe cair nos braços… Como quando se encontrava a alma gémea!

Mas logo se lembrou de que não tinha vinte anos e de que se encontrava no planeta Terra, em pleno século vinte e um, e de que provavelmente não existiam almas gémeas e nem o amor era como nos queriam fazer acreditar...

E continuou a pensar no mundo real em que vivia, nas pessoas que conhecia e no tipo de relacionamentos que tinham, até que se esqueceu completamente do que idealizara.

Sim, que até alguns dos casamentos aparentemente perfeitos das suas amigas afinal estavam rotos e cheios de buracos…

Então não é que o marido da Joana, sempre tão prestável e pacífico, lhe aparecera em casa de malas feitas?

Limitou-se a comunicar-lhe, com a sua habitual calma e serenidade, que ia viver com uma instrutora do ginásio que frequentava.

E a Joana que pensava que ele detestava deixá-la para ir treinar e que só fazia o frete para recuperar de uma lesão num joelho!

Já para não falar do que descobrira da Rita, que lhe confidenciara que o marido lhe controlava todos os passos e queria ter conhecimento de tudo o que ela fazia e de todos os lugares aonde ia.

A Rita queria muito consultar o guru de Bárbara, e adoraria poder ir às palestras sobre as almas gémeas, mas ai dela, se o marido descobrisse que ela andava metida naqueles disparates.

Então, sempre que ia, mentia-lhe, dizendo que ia ao ginecologista. Assim, sentia um gostinho especial em saber que, para além de o ludibriar, era ele que lhe pagava o guru e as palestras, pensando que estava a pagar-lhe o médico.

E não era que fosse de todo mentira, pois o guru revelava-se um verdadeiro médico da alma, quando advertia Rita sobre o facto, mais que evidente, de que o tempo dos maridos possessivos já estava ultrapassado, e quando lhe garantia que via na aura dela um homem novo na sua vida, bom conselheiro e muito mais interessante…

Sim, estas eram algumas das relações da vida real, e, ao pensar nisso, Bárbara olhou para o seu companheiro e sorriu-lhe, tentando achá-lo agradável e prestar atenção ao que ele lhe dizia.

Sentia-se contente por se aperceber de que se tratava de um homem comum e normal, isto tendo em conta que conhecera, ao longo dos anos, indivíduos muito pouco equilibrados e totalmente confusos em relação ao que queriam.

Encontrando-se na meia- idade, pareciam querer, em pouco tempo, viver tudo o que não tinham vivido antes, e comportavam-se como adolescentes rebeldes e irresponsáveis, que fugiam, assustados, de tudo o que pudesse soar-lhes a comprometimento e obrigação.

Este homem, apesar de ter tido um casamento que terminou da pior maneira, parecia amigável e sereno, como se passasse com leveza sobre os vendavais da vida, e deles saísse incólume, nos seus sonhos e emoções.

O tempo passou e o conhecimento foi-se fortalecendo, embora ainda não se tivesse estabelecido qualquer compromisso.

Bárbara começou a ter a sensação de que o universo estava a dar-lhe, finalmente, uma nova oportunidade para refazer a sua vida emocional.

Precisava de sentir-se em segurança, e de mostrar aos filhos que encontrara alguém que podia ser uma âncora na sua caminhada.

Não sentia grande paixão ou emoção, nem sequer uma cumplicidade extraordinária, mas aquela tranquilidade e sentimento de confiança que ele lhe inspirava eram suficientes para ela, naquela altura da sua vida, e depois de tudo o que vivera e com que se confrontara.

Contou a uma nova amiga o que estava a passar-se, uma amiga algo diferente das outras que tinha.

Conhecera-a recentemente, no local de trabalho, mas sentiu de imediato que podia confiar nela e contar-lhe o que pensava e sentia.

Isso não acontecia com as outras amigas, com quem mantinha uma relação cordial e agradável, mas de certo modo superficial, pois via-as como mulheres com vivências diferentes das suas, e por isso mesmo com diferentes maneiras de pensar e de encarar o mundo e a vida.

Viviam de modo linear, como se desde sempre caminhassem numa linha reta, e numa direção certa e previamente delineada, e nada sabiam acerca dos atalhos e das encruzilhadas que podiam encontrar-se durante o percurso.

Bárbara movera-se numa estrada bem mais sinuosa, e sentia-se, a maior parte das vezes, incompreendida por aquelas mulheres comodamente instaladas na vida, e que encaravam a mesma como se esta não pudesse ser mais do que uma bem conhecida paisagem.

Por isso, quando com alguma delas acontecia algo que saía do eixo previamente traçado e definido, sentiam-se perdidas e desorientadas, sem conseguir de imediato mudar a trajetória e enveredar por uma via alternativa ao caminho original.

Sentia-se, no fundo, um ser humano incomparavelmente mais rico e mais completo, interiormente, por a vida a ter apetrechado com tantas armas, e a ter tornado tão resistente, após tão grande quantidade de combates e de desafios.

Era uma sobrevivente, e isso dera-lhe uma enorme capacidade de adaptação, bem como uma surpreendente serenidade, força e coragem, diante de qualquer situação inesperada.

A sua nova amiga revelava-se alguém muito diferente das pessoas com quem habitualmente convivia.

Nunca casara e, contava ela, com a sua originalidade desconcertante, não sabia se seria algum trauma trazido de uma vida passada, mas, desde sempre tivera horror ao conceito de casamento e nunca tinha conseguido lidar bem com as seguintes palavras…

Em primeiro lugar, a palavra “sogra” fazia-a sempre estremecer e até os pelos dos braços se lhe arrepiavam.

Em segundo lugar, e sem que fosse necessariamente por esta ordem de importância, a expressão “ correr as capelinhas” apavorava-a e fazia-a ter vontade de se esconder até se esqueceram dela.

Esta expressão tinha sido, desde a sua juventude, frequentemente usada por colegas suas, referindo-se ao facto de terem de passar os domingos a visitar os familiares todos do marido, nas suas respetivas casas…

Lancharem com eles, sorrir e tentar agradar a todos, mesmo que os considerassem uns chatos, metediços, enfadonhos, e só lhes apetecesse que o marido fosse da Conchinchina e lá tivesse deixado todos os parentes…

Sim, esta nova amiga de Bárbara era deveras peculiar, na forma sincera e frontal com que expressava os seus sentimentos.

Bárbara ouvia-a, espantada e perplexa com o que ela dizia da forma mais natural do mundo, como se as suas opiniões, tão pouco ortodoxas aos olhos dos demais, fossem as verdades mais conhecidas do universo.

Mas o que era curioso é que, ao ouvi-la, Bárbara sentia-se subitamente refletida em tudo o que ela dizia, e que nunca tivera a coragem de confessar aos outros, nem de sequer assumir para si própria.

Recordava, diante das palavras da amiga, o enfado e o constrangimento que sentira, durante o seu próprio casamento, convivendo, de perto, e com demasiada frequência, com a família do marido.

Era a mesma que mostrara sempre apreciá-la muito, e que garantia que era tão unida que “o que doía a uns doía aos outros”. Todavia, não hesitou em expulsá-la de casa, a ela própria e aos filhos, seus netos, na altura do atribulado divórcio, deixando-os sem teto onde morar.

Esta fora a atitude cristã de pessoas que não passavam um domingo sem ir à missa e que não faltavam a atividade nenhuma ligada à igreja, para assim celebrarem Deus, Nosso Senhor…

 

 

 

 

 

CAPÍTULO TRÊS

 

Os dias e semanas foram passando na vida de Bárbara, até que Mário, finalmente, manifestou vontade de iniciar com ela uma relação amorosa.

Intimamente ela suspirou de alívio. Já pensava que ele só queria manter uma amizade, pois já há dois meses que se encontravam e não havia maneira de passarem de um simples conhecimento, sem que este fosse no sentido bíblico do termo.

Parecia-lhe ser mais do que tempo de avançarem, até porque não estava a ficar mais nova, e não havia muito tempo a perder com inocentes conversas de café e cândidos passeios a ver montras do centro comercial.

Começou o namoro, enfim.

Ele confessou-lhe, para grande alegria de Bárbara, que procurava alguém com quem pudesse passar o resto dos seus dias. Eram, por conseguinte, realmente sérios os seus sentimentos e honestas as suas intenções!

Revelou-se um amante terno e atencioso, e Bárbara descansou dos seus receios e inseguranças.

Tudo parecia correr bem. Lembrava-se, por vezes, de que também ele não era um grande amor, uma grande paixão, mas quando pensava nisso sorria, como se essa ideia fosse cada vez mais uma quimera, distante e difusa, algo inacessível no mundo real, inexistente, até.