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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2011 Caitlin Crews

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Princesa do passado, n.º 1354 - agosto 2018

Título original: Princess From the Past

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-532-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

Bethany Vassal não tinha de se virar. Sabia perfeitamente quem acabara de entrar na galeria de arte exclusiva do bairro luxuoso de Yorkville, em Toronto. Mesmo que não tivesse ouvido os comentários dos convidados ou sentido a mudança de energia na sala, como um terramoto, teria sabido porque o seu corpo reagira imediatamente. Os pêlos da sua nuca tinham-se arrepiado e o seu coração acelerara como se quisesse sair-lhe do peito.

Bethany parou de fingir interesse pelas cores brilhantes do quadro que tinha à sua frente e fechou os olhos para controlar as lembranças. E a dor.

Estava ali. Depois de todo aquele tempo, depois de tantos anos de isolamento, estava na mesma divisão que ela. E pensou que estava pronta.

Tinha de estar.

Fazendo um esforço, virou-se. Pôs-se no canto mais afastado da porta para conseguir preparar-se para a sua chegada. Mas a verdade, viu-se obrigada a admitir, era que não havia maneira de se preparar para ver o príncipe Leopoldo di Marco.

O seu marido.

Que em breve seria o seu ex-marido, recordou-se. Se o repetisse vezes suficientes tinha de se tornar realidade, não era?

Partira-lhe o coração ter de o deixar há três anos, mas agora era diferente. Ela era diferente.

Estava tão triste quando o conhecera, desamparada depois da morte do seu pai e atónita ao pensar que, com vinte e três anos, podia ter a vida que quisesse em vez de cuidar dia e noite de um homem doente. Mas não sabia o que queria. O mundo que conhecia era tão pequeno. Estava desolada e, então, aparecera Leo, como um raio de sol depois de tantos anos de chuva.

Pensara que era perfeito, um príncipe de conto de fadas. E pensara que, com ele, ela era uma princesa...

Bethany fez uma careta.

Mas aprendera depressa a lição. Leo devastara esse sonho quando se afastara dela assim que tinham chegado a Itália. Quando a deixara fora da sua vida, sozinha, num país que não conhecia.

E, então, decidira acrescentar um filho a todo esse desespero. Fora impossível, a gota de água. Bethany cerrou os punhos, como se assim conseguisse esmagar as lembranças amargas, e obrigou-se a respirar. A raiva não a ajudaria, tinha de se concentrar. Tinha um objectivo específico naquela noite: queria a sua liberdade e não tencionava deixar que o passado a anulasse.

Então, levantou o olhar e viu-o. E o mundo pareceu contrair-se e expandir-se à sua volta. O tempo pareceu parar ou talvez fosse simplesmente a sua incapacidade de levar oxigénio aos pulmões.

Passeava pela galeria de arte seguido por dois dos seus membros de segurança. Era, como fora sempre, um exemplar fabuloso de homem italiano, moreno e de olhos brilhantes, com um fato escuro e elegante feito à medida que destacava os seus ombros largos e a sua personalidade poderosa.

Bethany não queria reparar nisso, era demasiado perigoso. Mas quase esquecera que era tão... esmagador. A sua lembrança tornara-o mais pequeno, menos imponente. Quisera apagar a sua presença forte, que parecia irradiar poder e masculinidade, fazendo com que todos os outros parecessem insignificantes.

Bethany abanou a cabeça, tentando afastar aquela melancolia estranha porque não podia ajudá-la, antes pelo contrário.

O seu corpo era alto, cheio de músculos e graça masculina. Com os olhos escuros e as maçãs do rosto pronunciadas, mexia-se como se fosse um rei ou um Deus. A sua boca tinha uma sensualidade que ela conhecia bem e que podia usar como uma arma devastadora. O seu cabelo castanho espesso, cortado na perfeição, fazia com que parecesse o que era, um magnata poderoso, um príncipe.

Tudo nele falava de dinheiro, de poder e desse magnetismo sexual escuro e único. Era tanto parte da sua pele como a sua compleição, os seus músculos e o seu cheiro, que devia recordar porque não estava suficientemente perto para o cheirar. E não voltaria a estar.

Porque não era um príncipe de conto de fadas, como imaginara uma vez tão inocentemente.

Bethany teve de conter a gargalhada ao pensar isso. Não havia canções de amor, nem finais felizes com Leo di Marco, príncipe di Felici. Ela descobrira-o da pior maneira possível. O seu título era muito antigo e reverenciado, com responsabilidades e deveres incontáveis. Para Leo, o seu título era o mais importante, talvez a única coisa importante.

Viu-o olhar à sua volta com um ar de impaciência. Parecia irritado. E depois, de maneira inevitável, os seus olhos fixaram-se nela e Bethany teve de fazer um esforço para respirar. Mas ela quisera aquele encontro, recordou-se. Tinha de falar com ele para refazer a sua vida de uma vez por todas.

Teve de fazer um esforço para se erguer enquanto esperava. Cruzou os braços e tentou fingir que a sua presença não a afectava, embora não fosse verdade. Sentia a reacção inevitável e injusta que sempre destruíra as suas tentativas de o enfrentar.

Leo fez um gesto aos seus guarda-costas para que se afastassem, com o seu olhar fixo nela, enquanto se aproximava a passos largos. Tinha um aspecto imponente, como sempre, como se ele conseguisse bloquear o resto do mundo. E o pior de tudo era que podia fazê-lo.

Bethany sentia o desejo avassalador de se virar e fugir, mas sabia que a seguiria. Além disso, estava ali para falar com ele. Escolhera aquele lugar de propósito, uma galeria de arte cheia de gente, como protecção. Tanto da fúria inevitável de Leo como da sua própria resposta com aquele homem.

Não seria como da última vez, prometeu-se. Tinham passado três anos desde aquela noite e recordar como a paixão explodira de maneira incontrolável, devastadora, continuava a envergonhá-la.

Mas Bethany afastou as lembranças e ergueu os ombros.

Leo estava à frente dela, com os olhos fixos nela. E não conseguia respirar.

Leo.

Aquela masculinidade potente tão única, tão dele, despertava partes dela que achava mortas há muito tempo. Novamente, sentia o desejo familiar que a urgia a aproximar-se, a aproximar-se no seu calor, a perder-se nele como fizera tantas vezes.

Mas agora era diferente, tinha de ser para que pudesse sobreviver. Já não era a rapariga ingénua que Leo desdenhara durante os seus dezoito meses de casamento, a rapariga que não impunha limites e não era capaz de o enfrentar.

Nunca mais voltaria a ser essa rapariga. Esforçara-se muito durante aqueles três anos para a deixar para trás, para se transformar na mulher que devia ter sido desde o começo.

Leo olhava para ela e os seus olhos cor de café eram tão amargos e escuros como recordava. Podia ter parecido indolente, quase incomodado se não fosse pela tensão no seu queixo e pelo brilho irado dos seus olhos.

– Olá, Bethany – o seu tom era mais rico e mais rouco do que recordava.

E o seu nome naquela boca cruel estava carregado de lembranças. Lembranças que ela queria esquecer e, no entanto, a afectavam como a tinham afectado sempre.

– O que queres esta noite? – perguntou-lhe depois, com uma expressão indecifrável. – Surpreende-me que tenhas decidido ver-me depois de tanto tempo.

Não ia deixar que a acovardasse. Bethany sabia que tinha de lho dizer.

– Quero o divórcio – disse-lhe, sem mais preâmbulos.

Planeara e praticara a frase à frente do espelho, na sua cabeça, em todos os seus momentos livres para que parecesse tranquila, segura e decidida.

As palavras pareceram ficar a flutuar no espaço e Bethany olhou para ele, ignorando o calor que sentia nas faces e fingindo que a sua presença não a afectava. Mas o seu coração estava tão acelerado como se tivesse gritado a frase com uma voz que conseguiria partir vidro, ensurdecendo toda a cidade.

Leo estava muito perto, tanto que conseguia sentir o calor que o seu corpo emitia, olhando para ela com aqueles olhos indecifráveis. Leo, o marido que uma vez amara de maneira tão destrutiva, tão desesperada, quando não sabia amar-se.

De repente, uma onda de tristeza recordou-lhe como tinham falhado um ao outro. Mas já não. Nunca mais.

Suavam-lhe as mãos e tinha de fazer um esforço para não fugir, mas devia mostrar-se indiferente, disse-se. Qualquer outra emoção e estaria perdida.

– É um prazer voltar a ver-te – disse ele, finalmente, e o seu sotaque italiano inimitável foi como uma carícia. Os seus olhos escuros brilhavam com censura fria enquanto olhava para ela de cima a baixo, observando o coque francês elegante que segurava os seus caracóis escuros, a sua maquilhagem mínima e o seu fato preto e sério. Vestira-o para o convencer de que aquilo era apenas uma situação incómoda e porque a ajudava a esconder a sua figura. Já não era a rapariga que ele conseguia levar ao orgasmo com uma simples carícia e mesmo assim deixava-a nervosa. Continuava a sentir que o seu corpo ardia onde o seu olhar lhe tocava.

Odiava que conseguisse fazer aquilo depois de tudo o que acontecera. Como se, três anos depois, o seu corpo ainda não tivesse recebido a mensagem de que tinham acabado.

– Não sei porque me surpreende que uma mulher que se comportou como tu receba o seu marido de tal forma.

Bethany não ia deixar que visse como continuava a afectá-la quando rezara para deixar tudo aquilo para trás. Preocupar-se-ia mais tarde com o que significava, quando tivesse tempo para processar o que sentia por aquele homem. Quando estivesse livre dele.

E tinha de se livrar dele. Era finalmente o momento de viver a sua vida nos seus próprios termos. Era hora de abandonar aquela esperança patética de que ele iria atrás dela. Voltara naquela noite terrível e depois fora-se embora novamente, deixando bem claro que não era importante para ele. E três anos depois, ela tencionava fazer o mesmo.

– Desculpa se pensei que ser cordial era absurdo, dadas as circunstâncias.

Bethany tinha de se mexer ou explodiria, de modo que se aproximou de um quadro e sentiu que Leo ia atrás dela. Estava ao seu lado novamente, suficientemente perto para sentir o calor. Suficientemente perto para sentir a tentação de se apoiar nele.

Mas devia controlar os seus impulsos destrutivos, pensou amargamente.

– O nossas «circunstâncias» – repetiu ele. – É assim que lhe chamas? É assim que racionalizas os teus actos?

– Tanto faz o que lhe chamamos – replicou Bethany, tentando permanecer serena. Contudo, quando se virou para ele, desejou não o ter feito. Era demasiado alto, demasiado poderoso, demasiado tudo. – É evidente que o tempo passou para os dois.

Não gostava da forma como olhava para ela, com os olhos semicerrados de um predador. Fazia-a pensar em como ele era perigoso e porque o deixara.

– Foi por isso que te dignaste a entrar em contacto comigo novamente? Para falar do divórcio?

– Por que outra razão haveria de o fazer? – perguntou-lhe ela. Tentava parecer indiferente, mas estava cheia de ansiedade.

– Não consigo pensar noutra, é claro – assentiu ele. – Não tinha pensado que estivesses disposta a retomar as tuas obrigações ou a manter as tuas promessas. E, no entanto, aqui estou.

Bethany não sabia durante quanto tempo conseguiria manter aquela fachada. Leo era demasiado avassalador. Fora incapaz de lidar com ele, perdida na paixão vulcânica que havia entre os dois. Mas a sua fúria e a sua frieza eram muito piores. E não sabia se conseguiria fingir que não a magoava.

– Não quero nada de ti, excepto o divórcio – insistiu.

O seu corpo estava a travar uma batalha. Uma parte dela queria fugir e desaparecer na noite fria, mas outra parte desejava as suas mãos, que podiam dar-lhe tanto prazer. Não queria pensar nisso, não queria recordar. Tocar em Leo di Marco era como atirar-se de cabeça para o sol. Não sobreviveria uma segunda vez. Ela sentiria demasiado, ele não sentiria nada e seria ela que pagaria o preço. Sabia como sabia o seu próprio nome.

Bethany ergueu os ombros e obrigou-se a olhar para ele directamente nos olhos, como se realmente fosse uma mulher valente e não uma mulher desesperada.

– Quero acabar com esta farsa, Leo.

– A que farsa te referes? – perguntou-lhe ele, pondo as mãos nos bolsos das calças. – A quando te foste embora de casa, renunciando às tuas obrigações como minha esposa para ires para o outro lado do mundo?

– Isso não foi uma farsa – disse ela. – É um facto.

– É uma desgraça – replicou Leo, com uma ferocidade serena. – Mas porque havíamos de falar disso? Está claro que não te importas com a vergonha que trouxeste ao meu apelido e à minha família.

– E é por isso que devemos divorciar-nos – insistiu Bethany. – Problema resolvido.

– Diz-me uma coisa – com um gesto, Leo afastou um empregado que se aproximava com uma bandeja. – Porquê agora? Passaram três anos desde que me abandonaste.

– Desde que escapei de ti, quererás dizer – replicou ela. E soube assim que o disse que fora um grave erro.

Os olhos escuros de Leo brilharam e ela teve de engolir em seco. Tinha a sensação de ser apenas uma presa para ele, mas não conseguia desviar o olhar.

Não ia assinar outro acordo com o diabo por desespero, mas o pior de tudo era aquela chama de esperança que nada conseguia apagar, nem sequer a sua falta de interesse.

Tinha de se livrar dele para sempre.

 

 

Leo estava furioso. Mas era apenas raiva, era apenas indignação, dizia-se, era apenas isso. A capacidade daquela mulher de destruir a sua armadura protectora e feri-lo no mais profundo do seu ser era uma coisa do passado. Tinha de ser.

Passara o dia todo de reunião em reunião em Bay Street, a zona financeira de Toronto. Lá, não havia banqueiro ou empresário que se atrevesse a desafiá-lo com os seus recursos ilimitados. Bethany fora a única mulher que o desafiara, que o magoara. A única pessoa em toda a sua vida.

E, três anos depois, continuava a ser capaz de o fazer.

Leo via-se obrigado a manter uma aparência fria, mas conseguia sentir a raiva que só ela inspirava. Sabia muito bem porque quisera que se encontrassem num sítio público, como se ele fosse um animal selvagem. Como se precisasse de ser contido, preso. Não sabia porque aquele novo insulto o magoava tanto.

Enfurecia-o não ser imune à sua beleza, que o cativara e enganara, mas continuava a ser uma tentação. Os olhos azuis angélicos eram um contraste intrigante com os seus caracóis escuros, tudo isso moderado por aquelas sardas no nariz que lhe davam um aspecto de menina...

Não queria concentrar-se nos seus lábios carnudos. Não parecia importar que conhecesse os seus traços na perfeição, que soubesse que a sua inocência aparente era uma farsa.

Nunca importara.

Queria tocar nela, beijá-la, acariciar os seus seios com a língua. Dizia-se que isso era a única coisa que desejava, a única coisa que podia permitir-se desejar.

– Escapar de mim? – repetiu, com frieza. – Que eu saiba, vives rodeada de todos os confortos, numa casa da minha propriedade.

– Porque tu o exigiste! – exclamou ela.

Ela corara. Ele conhecia outras maneiras de despertar aquela cor nas suas faces e quase sorriu, recordando.

– Eu não queria viver lá – continuou Bethany.

Ele era um homem que geria um império. Fazia-o desde a morte do seu pai, quando só tinha vinte e oito anos, mantendo a fortuna familiar e ampliando e modernizando o negócio. Como é que aquela mulher podia continuar a desafiá-lo? Como era possível? Que fraqueza absurda sentia por ela?

Mas sabia qual era essa fraqueza, que estivera prestes a arruiná-lo. Sentia-a no peso do seu sexo, que o urgia a pôr as mãos por baixo daquele fato preto que vestira para se esconder dele. Bethany não podia negar o que sentia quando lhe tocava. Podia negar tudo, excepto isso.

– Estou fascinado com a tua conformidade tão pouco característica – disse-lhe, com os dentes cerrados. – Lembro-me de ter pedido coisas que tu não quiseste cumprir, que continuasses em Itália como exigia a tradição, que não envergonhasses a minha família com o teu comportamento, que honrasses as tuas promessas...

– Não vou discutir contigo, Leo – interrompeu-o ela, erguendo o queixo. – Podes rever a história como quiseres, mas eu não tenciono continuar a discutir contigo.

– Então, estamos de acordo – assentiu ele. – Eu não gosto de cenas. Se o teu plano era envergonhar-me esta noite, sugiro que penses melhor porque não tenciono deixar que acabe como queres.

– Não há necessidade de fazer uma cena – Bethany encolheu os ombros, chamando a atenção de Leo para o seu pescoço e recordando-lhe os beijos que lhe dera ali. Mas era como se se tratasse de outra vida. – Só quero divorciar-me de ti. Mais nada.

– Porque foi horrível para ti estar casada comigo? Ah, deves ter sofrido muito.

Ele não acreditava em demonstrações públicas de afecto, mas aquela mulher sempre o provocara como nenhuma outra. E, naquela noite, os seus olhos eram demasiado azuis, os seus lábios eram demasiado suculentos...

– Entendo como deve ter doído viver rodeada de luxos, ter todos os benefícios do meu apelido e a minha protecção sem nenhuma responsabilidade.

– Já não desejo nada disso – disse Bethany.

O seu tom era desafiante, mas Leo viu um brilho de vulnerabilidade nos seus olhos. Bethany? Vulnerável? Esse não era o adjectivo que ele usaria para a descrever. Selvagem, incontrolável, rebelde, e imatura. Mas nunca vulnerável ou ferida. Nunca.

Impaciente, Leo tentou controlar tais pensamentos. A última coisa que precisava naquele momento era de se sentir intrigado por Bethany. Ainda não recuperara do desastre em que acabara o seu fascínio por aquela mulher...

– Como podes ter a certeza quando trataste tudo isso com tal falta de respeito?

– Quero o divórcio – insistiu Bethany. – Isto acabou, Leo. Seguirei em frente com a minha vida.

– Ah, sim? Em que sentido?

– Vou sair da casa – disse-lhe. – Odeio-a. Nunca quis viver nela.

– És a minha mulher – replicou Leo, embora soubesse que aquela palavra já não tinha nenhum significado para ela, mesmo que fosse diferente para ele. – Mesmo que não queiras. O facto de teres virado as costas às promessas que fizeste não significa que eu também o tenha feito. Disse que te protegeria e falava a sério, mesmo que seja de ti própria.

– Sei que pensas que és um herói – Bethany suspirou. – Mas penso que ninguém quererá raptar-me. Acredita, não digo a ninguém qual é a nossa relação, de modo que não estou em perigo.

– E, no entanto, a relação existe – a sua voz poderia ter derretido aço. – E por isso, tu poderias estar em perigo.

– Não estarei durante muito mais tempo – insistiu ela, decidida. – E não toquei no dinheiro da conta, na verdade. Vou sair deste casamento exactamente como entrei.

Leo quase a admirava. Quase.

– E para onde tencionas ir? – perguntou-lhe, em voz baixa, sem se atrever a aproximar-se porque sabia que, se lhe tocasse, perderia o controlo.

– Não te diz respeito, mas conheci outra pessoa – respondeu Bethany, com um olhar desafiante.