Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

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PROPOSTA DE CONVENIÊNCIA, N.º 1054 - Março 2012

Título original: Paper Marriage Proposition

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em portugués em 2012

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

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I.S.B.N.: 978-84-9010-696-9

Editor responsável: Luis Pugni

ePub: Publidisa

Capítulo Um

Desesperada.

Era a única palavra capaz de a descrever naquele momento, a única palavra possível para justificar o que andava a fazer.

O coração batia-lhe descompassadamente no peito e as mãos suadas tremiam de tal forma que estava a ter dificuldade em controlá-las.

Ia entrar no quarto de hotel de um homem… sem ter sido convidada.

Para conseguir chegar até ali, mentira à responsável de piso e, aquilo só alguns dias depois de se ter arrastado em frente à secretária do homem e ter tentado subornar o seu motorista.

Naquele momento, ao cometer o seu primeiro delito, Bethany Lewis esperava sair airosa do teste.

Com as pernas a tremer, fechou a porta atrás de si, tirou uma agenda pequena e apertou-a contra o peito enquanto penetrava gradualmente na suite presidencial… sem ter sido convidada.

A luz ténue de um candeeiro iluminava o espaço, impregnado com um odor adocicado a laranja. Ao lado da janela, estava uma secretária lacada. Nas suas costas, as cortinas cor de pêssego estavam abertas, mostrando a varanda espaçosa com vista para a cidade. Em cima da mesa de cabeceira, havia um tabuleiro prateado com morangos cobertos de chocolate, uma variedade de queijos e fruta fresca ao lado de um envelope fechado que dizia: Senhor Landon Gage.

Contornou a chaise longue estilo Rainha Ana, a pensar no rosto angelical do filhote de seis anos tal como o tinha visto pela última vez, quando lhe tinha perguntado a medo: «Mamã, não me vais abandonar? Prometes?». «Não, querido, a mamã nunca te vai abandonar».

Sentiu um vazio no peito ao recordá-lo. Estava disposta a lutar ao máximo, a mentir e roubar se fosse preciso para conseguir cumprir aquela promessa.

– Senhor Gage?

Espreitou pela porta entreaberta que dava para o quarto. Lá em baixo, estava a decorrer a gala para a angariação de fundos para o cancro infantil, mas o magnata ainda não tinha contribuído com a sua presença, ainda que fosse do conhecimento público que se encontrava no edifício.

Uma pasta de couro brilhante estava aberta na enorme cama, rodeada por pilhas e pilhas de papéis. Ouvia-se o som de um computador portátil ali próximo.

– Seguiu-me.

Aquela voz masculina rica e profunda deixou-a sobressaltada e Beth olhou para a porta do quarto, de onde estava a sair um homem. Ele abotoou rapidamente os botões da camisa branca e lançou-lhe um olhar gelado. Bethany recuou até à parede. A presença dele quase a tinha deixado sem fôlego.

Era mais alto do que imaginara, corpulento, moreno e ameaçador como um demónio na noite.

Tinha um corpo atlético visível sob a camisa branca e as calças pretas, e o cabelo húmido que estava colado à grande testa dava visibilidade a um rosto viril e sofisticado. Os olhos prateados eram distantes, quase vazios.

– Desculpe – murmurou ela.

Ele olhou para ela. O olhar dele parou nas mãos dela, com as unhas roídas até às pontas. Beth resistiu ao impulso de escondê-las e lutou com toda a força para mostrar um ar digno.

Ele olhou para o fato que ela trazia vestido e que lhe ficava largo na cintura e nos ombros, uma vez que tinha perdido muito peso. Era um dos poucos fatos em condições que tinha conseguido guardar depois do divórcio e tinha-o escolhido com sumo cuidado para aquele momento. Mas ele franziu os olhos quando olhou para a cara dela muito magra e agarrou numa gravata que estava em cima da mesa de cabeceira.

– Poderia tê-la mandado prender – comentou.

Beth olhou para ele, surpreendida. Ter-se-ia apercebido de que andava há dias a segui-lo, a esconder-se pelos cantos, a ligar para o gabinete e a implorar ao motorista?

– Porque é que não o fez?

Ele parou em frente à cómoda, colocou a gravata e olhou-a nos olhos pelo espelho.

– Talvez seja por você me divertir.

Beth mal conseguiu ouvir as palavras por ele proferidas, porque a sua cabeça fervia de possibilidades, e estava a começar a aceitar que Landon Gage era provavelmente tudo e mais alguma coisa do que diziam acerca dele. O canalha de que ela precisava. Um malnascido forte e enérgico. Sim, por favor!

Beth tinha uma coisa clara. Se quisesse estar com o seu filho, precisava de alguém mais importante e pior ainda do que o seu ex-marido. Alguém sem consciência e sem medo. Precisava de um milagre… e se Deus não a ouvisse, impunha-se um pacto com o diabo.

Ele virou-se, surpreendido talvez pelo silêncio dela.

– E então, menina…

– Lewis – ela não pôde evitar sentir-se um pouco intimidada por ele, pela sua altura, largura, ombros e força visível. – Não me conhece, mas acredito que talvez conheça o meu ex-marido.

– Quem é?

– Hector Halifax.

A reação da qual estava à espera não chegou a acontecer. A expressão dele não revelou quaisquer emoções, nem interesse nem contrariedade.

– Acho que foram inimigos durante algum tempo.

– Eu tenho muitos inimigos. Não passo o tempo todo a pensar neles. E agradecer-lhe-ia que se despachasse, porque estão à minha espera lá em baixo.

Beth não sabia por onde é que haveria de começar. A sua vida era um verdadeiro desastre, os seus sentimentos estavam muito confusos e sua história era uma verdadeira lástima, mas não era fácil de contar de uma forma rápida.

Quando, por fim, conseguiu falar, as palavras causaram-lhe uma enorme dor na garganta.

– Roubaram-me o meu filho.

Gage fechou o portátil inesperadamente e começou a guardar os papéis na pasta.

– Ai sim?!

– Preciso… quero recuperá-lo. Uma criança de seis anos deve estar com a mãe.

Ele fechou a pasta.

– Lutámos por ele em tribunal. Os advogados do Hector apresentaram fotografias minhas numa relação ilícita. Várias fotografias minhas com diferentes homens.

Naquele momento, quando os olhos dele percorreram o seu corpo, teve a alarmante sensação de que estava a ser despida com o pensamento.

– Costumo ler os jornais, menina Lewis. Conheço bem a sua reputação.

Tirou a carteira de cima da mesa de cabeceira, Guardou-a na algibeira de trás e tirou um casaco preto das costas de uma cadeira próxima.

– Descrevem-me como sendo uma adúltera, mas é mentira, senhor Gage.

Ele vestiu o casaco e começou a andar. Beth seguiu-o para fora da divisão até aos elevadores. Ele premiu o botão do rés do chão e virou-se para olhar para ela.

– E o que é que isso tem a ver comigo?

– Escute – ela sentia a voz a tremer e o coração a bater descompassadamente. – Não tenho recursos para contratar os seus advogados. Ele conseguiu que me deixassem sem nada. No início, pensei que iria ter direito a um advogado jovem, ambicioso o suficiente para querer aceitar um caso como este sem dinheiro, mas não há. Paguei vinte dólares a um serviço pela Internet só para ver quais eram as minhas opções.

Fez uma pausa para respirar.

– Segundo parece, as minhas circunstâncias agora são outras, poderia pedir uma alteração da custódia. Já deixei o meu trabalho. O Hector acusou-me de deixar o David o dia inteiro com a minha mãe para ir trabalhar e a minha mãe… bem, está um bocado surda. Mas adora o David e é uma avó maravilhosa. E eu tinha de trabalhar, senhor Gage. O Hector deixou-nos sem dinheiro.

– Compreendo.

Chegou o elevador, ela seguiu-o para dentro e respirou fundo para ganhar fôlego.

No entanto, o único aroma que conseguiu sentir mal as portas se fecharam e ficaram juntos naquele pequeno espaço foi o dele. Um aroma limpo e acre que a estava a deixar nervosa e a dar a sensação de sentir pontadas nas veias.

Aquele homem era incrivelmente sexy e cheirava incrivelmente bem.

– O dinheiro não me interessa, só quero o meu filho – sussurrou ela num tom de voz suave e suplicante.

Nunca ninguém tinha reconhecido o seu desempenho como mãe. Nunca ninguém se tinha importado com o facto de contar histórias a David todas as noites, levá-lo ao médico, curar-lhe os arranhões e limpar-lhe as lágrimas. Ninguém no tribunal a tinha visto como uma mãe, apenas como uma prostituta. Quão fácil tinha sido para os ricos e poderosos mentir e para os outros acreditar. Quanto é que teria custado a Hector forjar aquelas provas? Uma ninharia, comparada com aquilo que lhe tinha tirado a ela.

– Vou perguntar mais uma vez, o que é que isso tem a ver comigo? – perguntou Landon.

– Você é inimigo dele. Ele despreza-o e está a tentar destrui-lo.

Landon sorriu.

– Gostaria que tentasse.

Ela abanou a agenda.

– Eu tenho esta agenda que poderia ser usada para acabar com ele – folheou algumas páginas. – Números de telefone de pessoas com quem se reúne; os acordos que tem feito; jornalistas com quem trabalha; mulheres – fechou a agenda com sarcasmo. – Está aqui tudo… tudo. E eu posso dar-lha se me ajudar.

– E o Halifax não sabe que essa agenda está nas mãos da esposa?

– Pensa que caiu ao mar num dia em que me levou a dar um passeio de iate.

Um fogo perigoso assomou aos olhos de Landon.

No entanto, o elevador parou e a expressão dele ficou mais calma.

– A vingança é desgastante, menina Lewis. Eu não ganho a vida à custa disso.

Saiu do elevador e entrou no barulhento salão de baile. Beth sentiu o coração a bater descompassadamente.

Música e risos enchiam a atmosfera. As luzes do lustre de vidro arrancavam brilhos às joias. Beth via a cabeça morena dele a abrir caminho por entre o mar de gente elegantemente vestida, a afastar-se dela. Os empregados circulavam por entre as pessoas com bandejas de acepipes.

Beth abriu caminho por entre a multidão e apanhou-o perto da fonte de vinho quando estava a servir uma bebida.

– Senhor Gage.

Ele desatou a andar enquanto bebia um gole de vinho.

– Vá para casa, menina Lewis.

– Por favor, oiça-me– insistiu Beth.

Ele parou, pousou o copo vazio na bandeja de um empregado e estendeu uma mão com a palma virada para cima.

– Está bem, vejamos o que é que essa maldita agenda contém.

– Não – ela levou a agenda ao peito, para protegê-la com as duas mãos. – Deixá-lo-ei vê-la quando aceitar casar-se comigo – explicou.

– Desculpe?

– Por favor. Para conseguir a custódia, tenho de alterar as minhas condições. O Hector não vai gostar nada de saber que eu sou sua esposa. Vai querer… querer ter-me de volta. Vai ter medo daquilo que eu lhe puder contar. E eu poderei negociar com ele e ter de volta o meu filho. Você pode ajudar-me. E eu vou ajudá-lo a destrui-lo.

Ele arqueou as sobrancelhas.

– Você é demasiado jovem para sentir tanto ódio, não acha, menina?

– Bethany. Chamo-me Bethany. Mas pode tratar-me por Beth.

– Ele tratava-a dessa forma?

Ela abanou uma mão no ar.

– Ele chamava-me «mulher», mas não me parece que isso agora importe.

Gage olhou para ela com compaixão e voltou a afastar-se por entre a multidão. Ela correu atrás dele.

– Ouça, aviso-o desde já. O Hector está obcecado. Acha que você anda atrás dele e quer ser o primeiro a atingi-lo. Se não fizer algo depressa, vai destrui-lo.

Ele parou e franziu a testa.

– Acho que você não faz a mais pequena ideia de quem sou eu – olhou-a nos olhos. – Sou dez vezes mais poderoso do que o Hector Halifax. Ele dançaria com um tutu rosa se eu lhe pedisse.

– Então prove-o. Porque aquilo que eu vejo é um Hector mais feliz do que nunca. Não está a sofrer absolutamente nada.

– Landon! Ah, Landon, estás aí!

Ele não olhou para a pessoa que estava a falar, apenas para Beth.

– Vou deixar uma coisa bem clara, menina Lewis. Não ando à procura de uma esposa nem dos restos de outro homem.

– Vai ser temporário, por favor. A minha família está impotente contra a dele; nem sequer posso ver o meu filho. Arrasto-me pelas ruas na esperança de vê-lo por um instante que seja. Você é o único homem que odeia o meu ex-marido tanto quanto eu.

Eu sei que o odeia, vejo-o nos seus olhos.

Ele comprimiu os lábios.

– Landon, estás a divertir-te? Queres que te traga alguma coisa, querido?

A voz esganiçada da mulher que soava por trás dele, não conseguiu fazer com que Gage desviasse o olhar de Beth. Ele agarrou-lhe no queixo e inclinou-lhe a cabeça para trás.

– Talvez o odeie mais do que você alguma vez possa saber.

– Landon – disse outra voz.

Ele subiu o polegar do queixo até ao lábio inferior dela, provocando-lhe um calafrio. Foi inundada por uma ansiedade como nunca antes tinha sentido e tremeu dos pés à cabeça.

– Landon – disse outra voz, desta feita, uma voz masculina.

Ele cerrou os dentes, agarrou-a pelo cotovelo e empurrou-a pelo corredor das traseiras até chegarem a uma pequena divisão. Fechou a porta e ficaram às escuras, iluminados apenas pelo brilho das luzes que penetrava por uma pequena janela.

– Bethany – ele parecia estar a chegar ao limite da sua paciência. – Pareces uma mulher inteligente, disse ele tratando-a por tu pela primeira vez. Sugiro que penses num outro plano para ti. Esse não me interessa.

– Mas continua a falar comigo, não continua?

– Daqui a dois segundos, já não vou estar.

Ela agarrou-lhe no braço e viu que os olhos dele tinham escurecido.

– Por favor! – implorou, suplicante. – O público adora-o. O tribunal vai querer conhecer o meu novo marido para acreditar que sou uma pessoa respeitável. Vão querer saber o dinheiro que ganha e aquilo que faz – apercebeu-se de que lhe estava a apertar o abdómen e de que ele estava a ficar tenso, portanto, largou-o de imediato. – Você é um enigma, senhor Gage. Doa dinheiro a obras de caridade. A imprensa adora-o…

Adoravam-no porque tinha estado envolvido numa tragédia. Adoravam-no porque ele, poderoso, atraente e rico, tinha sofrido como um ser humano normal.

– A imprensa deturpa tudo – afirmou ele. – E além disso é minha. É normal que me adore.

– Receiam-no, mas também o respeitam.

Ele olhou pela janela com a testa franzida.

– O que é que sabes sobre os acordos do Hector?

– Nomes. Pessoas da imprensa que comprou. Planos futuros. Contar-lhe-ei tudo. Tudo aquilo que sei. E garanto que sei o suficiente.

Ele pensou nas palavras dela em silêncio. Recusou com a cabeça.

– Procura outro.

Beth apertou a agenda contra o peito.

– Como é que pode fazer uma coisa destas? – perguntou contrariada. – Como é que pode deixar sem castigo aquilo que ele lhe fez? Destruiu a sua vida. Ainda continua a destrui-la.

– Ouve-me com atenção, Beth – ele baixou o tom de voz. – Há seis anos que isso aconteceu. Eu deixei o passado para trás, já não me sinto consumido pela raiva como quando pensava apenas em matar. Não me provoques ou poderia usar-te para fazê-lo pagar.

– Esta é a tua oportunidade, não percebes? – disse ela, tratando-o pela primeira vez por tu, já desesperada. – Pensava que tu sentias o mesmo que eu. Não o odeias?

Ele abriu a porta, mas ela bloqueou-lhe a passagem com a terrível sensação de que a sua derradeira oportunidade lhe estava a escapar por entre os dedos.

– Tudo chegará ao fim em menos de um ano, quando recuperar o David. Por favor, o que é que tenho de fazer para te convencer?

Deixou cair a agenda ao chão, agarrou-lhe no casaco, colocou-se em bicos de pés e beijou-o na boca. Ele afastou-a com brusquidão, com força suficiente para a deixar sem fôlego, e encostou-a contra a parede.

– Enlouqueceste? – ela começou a tremer, emocionada e desorientada. Sentia os lábios a arder devido ao beijo, um beijo ao qual ele não tinha correspondido e que a tinha destroçado. Ele tinha um peito de aço, umas mãos de aço e uma vontade de aço.

– O que é que tenho de fazer para conseguir que me ajudes? – perguntou.

– Porque é que me beijaste? – perguntou ele.

– Eu…

Ele apertou-lhe os dedos nos pulsos.

– Não gosto de esquemas, Beth. Não tenho muito sentido de humor e, se me levantares outra vez uma bandeira vermelha, dispararei.

– Landon, aí estás. É a tua vez de falar.

Ele libertou-a com brusquidão e Beth esfregou os pulsos doridos. Um homem moreno observava-os na ombreira da porta.

– E quem é a senhora? – perguntou.

– A esposa de Halifax – afirmou Landon desiludido, antes de sair do quarto.

– Não sou esposa dele! – gritou ela.

O recém chegado lançou-lhe um olhar de incredulidade e Beth limpou as mãos suadas no casaco e tentou recuperar o fôlego. Agarrou na agenda, que estava aberta dobrada no chão.

– Garrett Gage – disse o homem com um sorriso.

Ele hesitou e apertou-lhe a mão que lhe estava a estender.

– Bethany Lewis.

– Bethany, precisas de uma bebida – ofereceu-lhe íntimos a ponto de partilharem confidências. Fala comigo, Beth. Fosso tratar-te por Beth?

Capítulo Dois

Landon não conseguia afastar a imagem dela do seu pensamento. Elegante naquele fato azul e a erguer o queixo com toda a dignidade. Uma Bethany Lewis observadora.

Poderia ter duvidado da palavra dela, mas a história tinha sido publicada na imprensa. Bethany Halifax, agora Lewis, tinha enfrentado um divórcio sujo e uma batalha pela custódia do filho.

Coisa que a ele não lhe deveria importar minimamente.

Com o quinto copo de vinho e depois do apuro de ter de falar ao microfone, estava a beber com calma, a fazer um esforço para desfrutar do sabor enquanto contemplava os jardins do hotel com os cotovelos apoiados na balaustrada de pedra.

A mulher de Hector Halifax a beijá-lo nos lábios como se a vida dela dependesse daquilo.

E o seu corpo tinha correspondido àquele beijo. Porquê? Nem sequer era a mulher mais linda que alguma vez tinha visto e, obviamente, também não era a mais sexy com aquele olhar repleto de fúria. Mas o facto de ter sentido os lábios dela nos seus tinha sido um êxtase. Havia anos que não se excitava daquela forma.

Ficou tenso ao ouvir passos por trás dele e logo a seguir a voz do irmão Garrett. O mais novo, Julian John, também deveria estar por ali. Talvez a encantar-se por uma empregada.

– Fico surpreendido por teres ficado tanto tempo – disse Garrett, apoiando os cotovelos na pedra desgastada.

Landon encolheu os ombros; a multidão não o incomodava demasiado quando podia fugir dela.

– Estou à espera que ela se vá embora.

O irmão deu uma pequena risada.

– Admito que tenho muita curiosidade em relação ao conteúdo dessa agenda.

Landon ficou em silêncio. Ele também tinha. Mas era o mais velho, o mais sensato. A mãe e os irmãos dependiam dele para tomar decisões racionais, não impelidas pela raiva.

– Não me lembro de alguma vez ter visto tamanho ódio em qualquer outro olhar – comentou Garrett. – Excetuando talvez o teu.

Uma fúria antiga e familiar deixou o estômago de Landon apertado.

– Podes dizer aquilo que quiseres.

– Sabes? Tenho andado à espera que faças alguma coisa sobre aquilo que aconteceu há anos. A mãe e o Julian também. Tu não choraste, não te refugiaste no álcool. Foste trabalhar no dia seguinte e trabalhaste como um cão, aliás, ainda continuas a trabalhar como um cão.

– E não era essa a atitude que todos queriam que tomasse? Eu ergui o jornal do papá, lancei-o na Internet e consegui triplicar os lucros. Tu querias que me refugiasse no álcool?

– Não, eu só queria que fizesses alguma coisa que equilibrasse a balança. Acho que está na altura de agires. Sabes muito bem que podes esmagá-lo.

– O Halifax?

Nos olhos de Garrett surgiu um brilho de malícia.

– Não me digas que ainda não tinhas pensado nisso.

– Todas as noites.

– Pois então – Garrett emitiu um grunhido de satisfação, esvaziou o copo de vinho e pousou-o a um lado. – Landon, então… És o tio mais solitário que conheço. Andamos há seis anos a ver como te fechas a tudo. Já nem sequer te interessas por mulheres. Transpiras fúria por todos os poros e isso está a corroer-te por dentro.

Landon esfregou o nariz com dois dedos. A testa estava a começar a transpirar.

– Deixa-me em paz, Garrett.

– Porque é que não tentas, mano?

Landon não percebeu aquilo que aconteceu, mas o copo do vinho que tinha na mão embateu contra a coluna de pedra mais próxima e caiu ao chão feito em fanicos.

– Porque isso não os vai trazer de volta! – gritou. – Poderia matá-lo mas eles iam continuar sem regressar.

Seguiu-se um silêncio. Landon não sentia nada exceto… um vazio.

– Caramba! – murmurou, contra si próprio e contra Bethany Lewis por tê-lo feito pensar naqui lo.

Landon detestava pensar naquilo.