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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2009 Ann Major

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Contra ventos e marés, n.º 938 - abril 2017

Título original: The Bride Hunter

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9842-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Capítulo Quinze

Capítulo Dezasseis

Epílogo

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Capítulo Um

 

Albuquerque, Novo México

 

Connor Storm concentrou-se na sua presa, sentindo todos os músculos em tensão. Aquela mulher, que respondia pelo nome de código Anna Barton, conseguira esquivar-se ao seu melhor detective. Naquele momento, estava a tomar um café que acabava de comprar na cafetaria localizada atrás dela. Connor, escondido atrás de um pilar, tentava manter-se fora do seu campo de visão enquanto ambos esperavam o aviso para embarcar no avião.

Anna Barton tinha um rosto de porcelana, com o cabelo, loiro e brilhante, a cair-lhe pelos ombros. Connor gostava de mulheres de cabelo comprido, mas não gostou nada de dar por si a desejar acariciar aquele espesso cabelo ao mesmo tempo que abraçaria Anna Barton contra o seu corpo.

Maldita fosse! Desde a morte de Linda, esta era a primeira vez em que pensava numa mulher. Devia estar a regressar ao mundo dos vivos.

Aquilo era um trabalho. Um trabalho que devia ao seu irmão mais velho. E havia mais peixes no mar.

Mas o «peixe» que tinha ali ao lado era alto, atlético e tinha um belo rosto.

O avião estava com uma hora de atraso devido ao mau tempo. Olhou para o relógio com impaciência e desviou depois o olhar para as enormes janelas do aeroporto. O nevão tinha amainado e já se conseguia distinguir o final da pista.

Anunciaram pelos altifalantes uma mudança da porta de embarque do seu voo. Embarcariam pela porta dez em vez de pela porta catorze. Os passageiros que esperavam em redor desta última levantaram-se. Anna Barton afastou-se do quiosque à velocidade de um pássaro a levantar voo e correu para a porta catorze.

Connor fixou com firmeza o seu chapéu Stetson na cabeça e saiu atrás dela. O som das suas botas no chão do terminal do aeroporto era tão forte que a sua presa se voltou para ele e abriu os seus enormes olhos castanhos com uma expressão de alarme. Talvez temendo que se tratasse do repugnante ex-namorado que a assediava.

– Eh, menina! Precisará disto, se é que quer entrar nesse avião!

Quando Anna Barton parou, Connor ficou paralisado.

Todo o seu corpo exalava desconfiança. Connor sentiu-se satisfeito por ter afastado Sam Guerra daquela missão e ter ido ele pessoalmente.

Porque Anna Barton estava a tremer. Era evidente que ainda não confiava em desconhecidos, especialmente se estes eram homens atléticos que podiam dominá-la com facilidade. O namorado dela, Dwight Crawford, devia até ter sido muito pior do que aquilo que os relatórios do seu detective reportavam.

Connor deslizou o chapéu para trás e tentou esboçar um dos seus melhores sorrisos. Ela ficou tensa. Connor sorriu mais ainda e mostrou-lhe o cartão de embarque que lhe pertencia, o qual, na verdade, ele mesmo tirara da mala dela.

– Estava atrás de si e vi que deixou cair isto – mentiu.

Anna continuava a olhar para ele com receio. Connor tivera um dos seus melhores homens a tentar localizá-la durante muito tempo. Mas cada vez que ele conseguia aproximar-se dela, ela despistava-o mudando de identidade.

Estava muito pálida e a sua pele parecia tão suave que Connor sentiu vontade de acariciá-la. Maldição, o factor beleza estava a tornar-se um problema.

Mas aquilo era trabalho, recordou-se. Um trabalho que estava a fazer para Leo.

No entanto, os olhos de Anna Barton mostravam tanta vulnerabilidade, tanto medo, que ficava com vontade de agarrar o ex-namorado dela e dar-lhe uma boa lição. Aquela mulher, que tanto sofrera quando era uma miúda, não merecia que alguém tão repugnante como Crawford a assustasse.

Anna levantou o nariz. Era uma mulher elegante, uma mulher com classe. E tendo em conta a sua origem, nem outra coisa seria de esperar. No Texas, todas as pessoas relacionadas com o rancho Esporas de Ouro eram consideradas aristocratas.

O trabalho de Connor consistia em levá-la para casa. E ponto.

Era curioso que tivesse o mesmo corte de cabelo que Abby. Ele lera algures que podiam dar-se esses casos entre gémeos que tinham crescido separadamente. A surpreendente semelhança do seu penteado tornava-a idêntica à esposa do seu irmão Leo. Na verdade, não deveria ficar surpreendido com a parecença, visto que se tratava da irmã gémea de Abby, que fora raptada em criança.

O que era mesmo estranho era a intensidade com que o seu corpo reagia à presença dela…

– Becky – sussurrou, certo de que tinha encontrado a irmã de Abby.

Ao ouvir aquele nome, Anna estremeceu e arregalou os seus enormes olhos.

– Becky? Não sei a quem se refere, senhor, mas não sou eu.

– Peço desculpa, por um momento pensei que era alguém que conheço. Você é Anna Barton, mas receio que não possá ir para lado nenhum sem o seu cartão de embarque.

Mas Anna deu meia volta e dirigiu-se rapidamente para a porta de embarque.

– Anna Barton! – gritou Connor atrás dela.

Anna acelerou o ritmo dos seus passos, mas Connor alcançou-a em duas passadas.

– Anna! Anna Barton!

Como ela não parou, agarrou-a por um braço, talvez com força excessiva, porque quando Anna se voltou, chocou com ele e o copo de café que tinha na mão saiu a voar.

– Largue-me!

Os outros passageiros voltaram-se para eles. Felizmente, não estava por perto nenhum segurança.

– Lamento – disse-lhe Connor, abrandando a voz contra o seu cabelo, – devo-lhe um café.

Durante os segundos em que a reteve entre os seus braços, sentiu o calor daquele corpo que se retorcia contra o seu, inspirou a fragrância do seu perfume e o cheiro fresco do seu champô. E a tentação de enredar a mão no seu cabelo comprido tornou-se quase irresistível.

Um voltar de cabeça e os seus lábios ficaram a apenas uns centímetros dos de Anna. Quando deu por si a olhar para aqueles lábios, o coração começou a bater-lhe a toda a velocidade.

– Você é Anna Barton? – perguntou com voz rouca, mostrando-lhe o seu cartão de embarque.

Anna leu o seu nome no cartão, olhou-o com uma expressão acusadora, tirou-lho das mãos e guardou-o no bolso.

– Porque me chamou Becky?

– Acho que não ficaria mal agradecer-me.

– Fiz-lhe uma pergunta.

– Como já lhe disse, lembrou-me alguém.

– Pois bem, não sou essa pessoa. Nunca o tinha visto na vida e não tenho o hábito de fazer amizades nos aeroportos, portanto, por favor, deixe-me em paz.

– Lamento, estava só a tentar ajudá-la.

Os olhos de Anna resplandeciam de fúria e um leve rubor cobria as suas faces. Quanto mais perto dela estava, mais intenso lhe parecia o calor do seu corpo e maior era a vontade de abraçá-la, de saboreá-la, de beijar aqueles lábios húmidos e tentadores.

Ela também fixou o olhar na sua boca. Por um instante, pareceu conter a respiração.

Com um suspiro que parecia de desejo, afastou o olhar e empurrou-lhe o peito.

Connor, contra a sua vontade, soltou-a e ergueu as mãos num gesto de rendição.

Anna endireitou as mangas do casaco e alisou o cabelo comprido. Depois, franziu a testa e partiu em busca da sua porta de embarque.

Tinha umas boas ancas. E sabia como movê-las ao caminhar.

Mas aquilo era um trabalho, lembrou-se Connor.

Desejou não tê-la assustado, porque precisava de ganhar a sua confiança. Tinha de convencê-la a voltar para o Texas com ele. Mas como ia conseguir levá-la para Houston?

Fosse como fosse, iria consegui-lo. Anna Barton era cunhada de Leo. E a esposa de Leo vivia de coração partido por causa do seu papel no rapto da irmã quando eram pequenas. Estava convencida de que Leo conseguiria descobrir o paradeiro da sua irmã e essa era a razão pela qual Leo pedira ajuda a Connor.

– Tens que encontrá-la, por mim e pela Abby. A Abby não descansará até a encontrares – dissera-lhe Leo. – É como se tivesse perdido uma parte de si mesma.

Leo criara Connor depois da morte da sua mãe e Connor sentia que devia tudo ao seu irmão. Portanto, aquilo não era apenas um trabalho. Tratava-se de uma dívida familiar. E não havia nada a que ele desse mais importância do que à sua família.

 

 

A hospedeira de bordo anunciou que o avião estava cheio e pediu aos passageiros que se sentassem no primeiro lugar que encontrassem disponível.

– Olá – disse Connor, dirigindo um sorriso radiante a Anna. Ela fingia estar concentrada no catálogo de uns grandes armazéns. – Importa-se que me sente ao seu lado? – Anna franziu a testa sem levantar os olhos. Tirou a carteira do banco e colocou-a aos pés.

Antes de se sentar, Connor tirou o chapéu Stetson e prendeu-o no banco da frente. Era tão grande, ou o banco tão pequeno, que os seus ombros roçavam Anna, permitindo-lhe voltar a sentir o calor do seu corpo.

– Em que é que está tão interessada em comprar? – perguntou-lhe.

Anna virou uma página, ignorando a pergunta.

– Você é daquelas pessoas que odeiam conversar quando viajam de avião?

Anna passou outra página, desta vez com mais veemência.

– Então deve ser como eu. A minha regra é, geralmente, nunca começar uma conversa até faltar meia hora para aterrar. Assim, uma pessoa não se sente presa.

Mas Anna continuava sem dizer nada. Connor pensou que talvez devesse deixá-la em paz. Mas então percebeu que ela estava a dissimular um sorriso.

– Também segue essa regra? – sussurrou, inclinando-se para ela.

Anna suspirou, o que levou Connor a pensar que talvez estivesse com sorte.

– Não sei quem faz estes catálogos, mas é incrível. Conseguem que um tipo sem força de vontade, como eu, dê por si, de repente, desejoso de comprar uma caixa de areia para gatos que se limpa sozinha quando nem sequer tenho gato – comentou.

– Por que não continua a respeitar a sua própria regra e se dedica a ler o seu próprio catálogo?

Aleluia. Por fim dizia algo. Anna apontou para o banco da frente.

– Há um catálogo no banco.

– É mais divertido ler o seu.

– Nem imagino porquê – respondeu Anna, corando.

– A sério que não consegue imaginar?

Quando Anna o olhou nos olhos, a temperatura de Connor subiu de tal maneira que teve que tirar o casaco. Quando Anna o ajudou a despir uma manga, podia acreditar. O mais leve roçar dos seus dedos era para ele uma tentação.

– Obrigado – murmurou Connor com voz grave.

– De nada – respondeu ela com tanta doçura que Connor se perguntou se estaria consciente do efeito que tinha nele.

O factor beleza combinado com o factor alta voltagem estava a começar a causar-lhe problemas.

No entanto, quando Anna voltou a concentrar-se de novo no catálogo, Connor decidiu que não podia permitir-lho.

– A minha mulher morreu – confessou de repente, quase perturbado pela beleza daquela mulher.

Na verdade, não pretendia dizer nada parecido. A história de Linda não era assunto para conversas.

Mas Anna suavizou a sua expressão.

– Morreu há um par de anos – continuou Connor a explicar.

– Lamento muito – os olhos de Anna reflectiam a sua compaixão.

– Desde então, nunca mais tive encontros com mulheres – acrescentou. – Presumo que seja por isso que sou um pouco brusco quando falo com uma mulher.

– A culpa não é só sua – respondeu ela. – Eu também não falo com homens e muito menos com desconhecidos. Deveria ter procurado outro lugar.

– Por que não fala com homens?

– Porque cometi grandes erros com eles e agora prefiro manter-me à margem.

– E acha que eu não sou o seu tipo?

– Não é nada pessoal. Simplesmente, acho que não sou boa a julgar os outros.

– Muito bem, nesse caso, mudemos de tema. Que vai fazer a Las Vegas?

O rosto de Anna ficou sombrio.

– Não sei por que estou a falar consigo. Talvez porque me devolveu o meu cartão de embarque. Suponho que o senhor seja um tipo meio decente… O último homem com quem saí não estava disposto a dar por terminada a nossa relação. Não me deixava em paz. Ligava continuamente para o meu apartamento e chegou a ir bater-me à porta de madrugada. Até que tive de mudar de casa. Meses depois apareceu no escritório de San Luis, no qual tinha conseguido um novo posto de trabalho. E eu fui viver para o Novo México. Antes era secretária, mas no último ano tenho trabalhado numa escola para crianças com problemas em Santa Fé. Adorava o meu trabalho mas o meu chefe começou a receber chamadas de um detective privado a perguntar por mim. Um certo dia, o detective apareceu na escola. Ao saber que o meu namorado continuava à minha procura…

Connor ficou tenso.

– Como sabia que esse detective trabalhava para o seu namorado? – perguntou, tentando manter um tom neutro.

– Quem mais poderia estar interessado em localizar-me?

Exacto, boa pergunta. Connor ignorou o sentimento de culpa.

– Então, decidiu fugir outra vez? Mas porquê Las Vegas?

– Consegui um trabalho. Vou ser a supervisora de um hotel.

– Deixou de trabalhar num colégio que adorava para ir trabalhar para um hotel?

– Tinha que encontrar algo rapidamente. Mas custou-me muito deixar o colégio. Depois dessa experiência, acho que gostaria de dedicar-me ao ensino.

– E por que não o faz?

– Suponho que seja agradável poder pensar que qualquer coisa é possível. Talvez um dia – voltou-se para a janela. – Sim, eu gostaria muito de poder estudar.

Depois disto, foi muito mais fácil para Connor falar com ela. Falou-lhe da sua experiência como marine no Afeganistão e da morte de Linda pouco depois de ele voltar para casa. Falou-lhe também do bebé que Linda levava no ventre e que ele não tinha conhecido.

Anna ouvia-o com atenção e Connor começou a ficar preocupado com a possibilidade de a relação poder estar a tornar-se demasiado pessoal. Ele não sabia o que Anna recordava da sua própria infância, sobre o que lhe tinha acontecido a ela. Mas talvez, tendo sido obrigada a cortar todas as ligações afectivas em criança, compreendesse o que era perder tudo, como lhe sucedera a ele.

A sua missão era fazer com que Anna voltasse para o Texas, e tinha que descobrir uma maneira de levá-la com ele de volta para casa. Mas como?

– És cowboy? – perguntou-lhe Anna, atrevendo-se a tratá-lo por tu.

Muito bem, talvez fosse aquela a oportunidade que aguardava. Olhou para o relógio. Não faltava muito para aterrarem. Estava a ficar sem tempo.

– Porque perguntas?

– O chapéu, as botas, a tua maneira de arrastares as palavras ao falares…

– Eu não arrasto as palavras ao falar.

– Claro que sim – respondeu com uma gargalhada. – De qualquer forma, porque usarias esse chapéu se não fosses?

Connor hesitou um instante. Apetecia-lhe continuar a conversa mas também pôr um fim àquela farsa.

– Sou co-proprietário de um rancho perto de Austin. O outro proprietário é o Leo, o meu irmão mais velho – era a verdade, mas não toda a verdade. – Temos gado – continuou a explicar-lhe. – Crescemos num rancho situado a oeste do Texas. Corre-nos no sangue o gado, os cavalos e os espaços abertos. Leo dirige o Esporas de Ouro, que é um dos maiores ranchos do Texas.

Continuaram a falar depois de o avião aterrar e saíram juntos do aparelho. Entretanto, Connor tentava conceber alguma artimanha para prolongar aquela fugaz amizade.

Quando chegaram ao terminal, Anna voltou-se para ele com um sorriso.

– Bom, foi muito agradável falar contigo.

Era evidente que aquilo era uma despedida.

Connor ficou a olhar para ela fixamente. Era incapaz de pensar no meio do tilintar e das luzes intermitentes das slot machines que anunciavam a chegada a Las Vegas.

– Acho que vou ter sorte – meteu a mão no bolso. – Quer tal meteres um dólar numa dessas máquinas por mim?

– Não podes fazê-lo tu?

– Claro que sim, mas tenho um pressentimento.