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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2016 Susanna Carr

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Uma noite grega, n.º 1723 - agosto 2017

Título original: Illicit Night with the Greek

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-230-6

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Epílogo

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Capítulo 1

 

Uma tensão virulenta apoderou-se de Stergios Antoniou ali mesmo, de pé, na varanda da mansão do primo. Nem sequer a imagem icónica do Pártenon contra o céu azul intenso do mês de setembro chamou a sua atenção. Só a loira que estava na festa do jardim.

Jodie Little. A sua irmã por afinidade. O seu segredo mais obscuro.

Uma fúria abrasadora devorava-o por dentro ao vê-la a deambular entre a flor e nata da sociedade ateniense. Parecia diferente. Cortara a cabeleira frisada e alisara-a e o vestido amarelo com flores estampadas cingia-se com modéstia à sua figura magra. De facto, só o vermelho do batom contradizia a delicadeza da sua aparência.

Sabia que aquela imagem era falsa, puro disfarce, só um escudo. Tinham passado anos desde a última vez que a vira, mas sabia que o tempo não podia ter domesticado uma natureza selvagem como a dela.

– Estavas aqui – disse a mãe, ao vê-lo. – Quando subiste? Anda, vem para a festa.

Stergios não desviou o olhar de Jodie.

– Há quanto tempo está na Grécia? – perguntou.

Mairi Antoniou respondeu com um suspiro, apoiando-se na balaustrada.

– Há alguns dias que ligou ao pai para lhe dizer que se hospedava num hotel perto de casa. Se pensava que íamos recebê-la com os braços abertos, vai ter uma desilusão.

– Porque voltou?

– Parece que sentia a falta do pai.

– O que achas que está a fazer?

– Não sei. O Gregory não tem dinheiro próprio.

– E ela herdou uma fortuna recentemente – murmurou Stergios, quase para si, procurando o padrasto entre as pessoas. Estava do outro lado daquele jardim maravilhoso.

Gregory Little tinha talento para se casar com mulheres ricas. O seu único objetivo na vida era fazer a esposa feliz e viver rodeado do luxo que ela podia proporcionar-lhe. Stergios sabia que o padrasto, ao contrário da filha, era uma presença inofensiva nas suas vidas.

– O Gregory não sabia que vinha – insistiu Mairi. – Estiveram em contacto depois da morte da mãe, mas não a convidou.

O padrasto de Stergios desfrutava de uma pensão generosa e sabia bem o que se esperava dele se quisesse que o dinheiro continuasse a chegar às suas mãos, mas ter uma filha rica podia significar uma segunda fonte de ganhos.

– E acreditas?

– É claro. A Jodie só lhe causou problemas e vergonhas. Essa rapariga quase causou um problema na nossa família por não saber manter as pernas fechadas.

Stergios ficou furioso ao recordá-lo. Certamente, Jodie sabia como criar problemas com o mínimo esforço. Podia ser desde um comentário explosivo num jantar formal até criar um espetáculo escandaloso no clube noturno mais popular de Atenas. Mas nada comparado com seduzir o primo Demos. Se tivesse conseguido, teria destruído um futuro brilhante e prometedor para a família Antoniou.

– Não devia estar aqui – porque tinha de aparecer precisamente naquela semana? – O Demos sabe que veio?

– Eu pedi-lhe para a incluir na lista de convidados desta festa – admitiu Mairi.

Stergios procurou o primo entre os convidados com o olhar, mas não o localizou, o que o fez suspeitar, já que gravitava de modo inconsciente para Jodie.

– O que aconteceu entre eles é passado – argumentou a mãe. – O Demos estava numa etapa de rebeldia e era facilmente influenciável. Não era adversário para uma desavergonhada tão decidida como ela.

Jodie deslumbrara Demos quase imediatamente, mas o primo também não fora uma vítima inocente, mas a mãe não queria vê-lo assim. Preferia pensar que os homens da sua família tinham padrões mais altos.

– Custou-nos perceber que era uma mentirosa e uma manipuladora – continuou Mairi. – Quando disse que foste tu que a seguiste para a adega naquela noite… Embora ninguém tenha acreditado, claro.

Stergios fechou os olhos por um instante. Todos na família sabiam da sua aversão pelos espaços escuros e fechados, mas, naquela noite, conseguira vencer o seu medo por causa de Jodie e da sua marca particular de problemas.

– Não conseguia enganar-te, mas o Demos carecia por completo de experiência mundana nessa altura. Lembrar-me de tudo o que nos fez deixa-me…

– É demasiada coincidência que tenha voltado quando precisamos de selar o nosso pacto com a família Volakis. Procura vingança.

A mãe franziu o sobrolho.

– Não me parece das que leem a imprensa económica, nem capaz de compreender os planos a longo prazo que traçámos para o Grupo Antoniou. Não é assim tão inteligente. É apenas a escória de uma daquelas escolas de meninas!

– Não a expulsaram por falta de sucessos académicos, mãe.

– Não quer destruir-nos, mas ser um de nós.

– Às vezes, o inimigo está dentro da própria família.

Fez-se um denso silêncio e Stergios respirou fundo para afastar as lembranças com mão firme.

– Não tens de nos proteger dela – declarou a mãe, preocupada, pondo-lhe a mão no ombro.

Nisso, enganava-se. A sua obrigação era manter-se alerta, reunir poder e riqueza suficientes para que nada pudesse atingi-los.

– É um problema, mas enfrentámos coisas piores. De facto, acho que não teremos de fazer nada – acrescentou Mairi, alegremente. – A Jodie não consegue fingir que é inocente e virginal durante muito tempo. Não demoremos a ver como realmente é. Acontece sempre.

– E enquanto esperamos, seduzirá o Demos e acabará com o casamento.

– Não! O Demos não nos trairia desse modo.

– O Demos irá para a cama com a Jodie assim que tiver oportunidade.

– Não o fará. Sabe como esta fusão é importante para a família.

Isso não importara há quatro anos, pensou Stergios, e a vontade de conseguir Jodie era ainda mais imperativa naquele momento. Mas Mairi Antoniou nunca fora capaz de ver a família com realismo, de modo que a tarefa de reconhecer e eliminar as ameaças recaía nele.

– A Jodie também sabe – avisou, segurando no braço da mãe para a guiar de volta à festa. – Voltou porque tem um assunto pendente e dinheiro em que se apoiar. É uma ameaça real para este casamento. Precisamos dessa aliança, e não vou permitir que deite tudo a perder.

 

 

«Há coisas que nunca mudam», pensou Jodie, ao sorrir para uma das mulheres mais velhas da família Antoniou. A velha coruja não retribuíra o sorriso, mas agarrara a jovem herdeira pelo braço para a afastar o mais possível dela. Aquela família estava convencida de que podia corromper qualquer pessoa com a sua presença.

Continuou a passear pelo jardim com o seu copo de água na mão como se não se apercebesse de que todos os olhares estavam fixos nela. Talvez estivesse um pouco paranoica, porque muitos dos parentes se tinham mostrado indiferentes quando vivia em Atenas, mas, agora, tinha a sensação de que ninguém parecia gostar da sua presença. Como se estivessem convencidos de que o desastre a acompanhava e estivessem a preparar-se para o impacto.

O escândalo estava associado à Jodie de antes e não à pessoa que era naquele momento, muito mais serena. Estava decidida a encaixar, de modo que respirou fundo e sorriu. Daquela vez, conseguiria.

– Jodie?

Aquela voz de homem assustou-a. Era Demos Antoniou, o primo.

– Há quanto tempo… – murmurou ele, beijando-a nas faces.

– Certo – confirmou, deixando-se abraçar. Estava como o recordava, com a cara comprida, o corpo fraco e o cabelo preto que lhe caía na testa. – Obrigada por me convidares para conhecer a tua nova casa. É linda.

– É o presente de casamento da família da Zoi.

– Acho que a tua noiva e tu serão muito felizes aqui.

– Imaginas-me casado? – perguntou Demos, pondo as mãos nos bolsos.

– A tua família está muito orgulhosa de ti e quer que tenhas o melhor. Mereces – declarou ela, em voz baixa. Demos compreendera as regras desde muito jovem e seguira-as à risca, o que lhe dera uma bonita recompensa.

Como se sentiria sendo amado e aceite na sua família? Adoraria sabê-lo. Sempre desejara sentir-se unida aos pais, embora tivesse esperado que fossem eles a dar o primeiro passo e, agora, lamentava tê-lo feito assim, já que a mãe falecera com um ataque de coração há uns meses e, se queria ter algum tipo de relação com o pai, o seu único parente vivo, tinha de agir já. Teria de ser a primeira a desculpar-se, a dar o seu braço a torcer, a mudar. Que tipo de sacrifício requereria a aceitação do pai? Quanto teria de esconder de si própria para ser digna do seu amor?

O sorriso de Demos apagou-se, tal como a luz dos seus olhos.

– És muito amável, Jodie. Sobretudo, depois do que aconteceu entre nós.

Jodie teve uma surpresa que tentou disfarçar. Não estava preparada para que Demos, ou qualquer outro membro da família, mencionasse aquela noite.

– Não soube lidar com a situação – confessou, em voz baixa, desviando o olhar.

– Ninguém soube – replicou ela, contendo o desejo de fugir. Tinham-na achado decidida a caçar um Antoniou e a estragar qualquer dos possíveis casamentos que tão cuidadosamente se tinham organizado. Depois daquela noite, fora vista como extremamente perigosa para o futuro da família.

– Não sabia que uma das empregadas nos tinha visto.

Jodie pestanejou. Estava a desculpar-se por aquilo? Por terem sido apanhados?

– Não conseguia acreditar que o Stergios ia envolver-se. Em que estaria a pensar?

Jodie receou arrancar a língua de tanto cerrar os dentes. Ao contrário dela, a empregada sabia exatamente quais eram as intenções de Demos que, até então, considerara um primo decidido a ajudá-la a integrar-se numa família tão grande.

– E agora sei, embora com anos de atraso. Sei que devia ter falado – mostrou-lhe as mãos com as palmas para cima. – Não me tinha apercebido de que serias duramente castigada.

Demos continuava a ser tão imaturo como sempre. Bebeu um gole de água. Ardia de desejo de lhe dizer que nunca o encorajara e que nunca era tarde para emendar um erro. Podia tê-la protegido, mas isso não teria servido os seus interesses.

E se havia alguma coisa que aprendera ao longo dos anos, em particular depois daquela noite infausta, era que os homens não compreendiam o significado das palavras «honra», «respeito» ou «proteção». Perseguiam, tiravam o que conseguiam e fugiam.

– Quanto tempo tencionas ficar na Grécia? – perguntou ele, ao ver que ela não respondia.

Olhou brevemente para o pai, reunido com outros homens da família. O seu primeiro objetivo era pedir perdão pelo seu comportamento no passado, mas não sabia se ia dar-lhe uma oportunidade.

– Não tenho a certeza. Ainda não decidi.

– Nesse caso, deves vir ao meu casamento – convidou-a Demos, entusiasmado.

– Não quero estorvar.

– Estorvar? – ele sorriu. – É impossível. És da família.

Oxalá fosse verdade. Sempre se sentira como uma estranha, um fardo e, normalmente, não corria mal, mas tudo mudara com a morte da mãe. Queria sentir-se amada, aceite, fazer parte de uma família.

– Diz que sim.

– Sim, ao quê?

Aquela voz grave deixou-a paralisada. Stergios Antoniou estava ali. Engoliu em seco.

– Convidei-a para o meu casamento – explicou Demos, com um toque desafiante.

– Não acho que haja espaço para mais alguém.

– Farei com que haja – declarou Demos, olhando para Jodie. – O casamento vai celebrar-se numa ilha da família da Zoi e é pequena, mas nem tanto.

O pânico começou a carcomê-la por dentro numa tentativa de fugir pela sua pele. O instinto dizia-lhe para fugir, mas permaneceu imóvel como uma estátua.

– Não quero causar-vos incómodos, nem à tua noiva nem a ti.

– Que tolice! – o jovem sorriu. – Vou dizer à Zoi agora mesmo.

E Demos foi-se embora, à procura de noiva. Quis fugir e esconder-se no último canto, mas sabia que devia ser valente. Ou aparentá-lo. De soslaio, viu o fato branco de linho de Stergios e obrigou-se a virar-se. Levantou o olhar.

O ar ficou preso na garganta. O cabelo preto azeviche de Stergios chegava-lhe à altura do queixo e a sombra da barba quase escondia a cicatriz esbranquiçada que tinha no lábio superior. Aquele não era o Stergios que ela conhecia e pestanejou várias vezes. Antes, tinha sempre o cabelo escrupulosamente curto e barbeava-se duas vezes por dia. Agora, parecia incapaz de conter o seu lado selvagem.

Olhou para ela de cima a baixo com os olhos castanhos frios como o inverno.

– Não sei o que tencionas conseguir…

– Eu não lhe pedi para me convidar – interrompeu. – Convidou-me e não houve modo de o rejeitar.

– Talvez não tenha entendido bem – replicou Stergios. – Não te explicas muito bem quando queres dizer que não a um homem.

Engoliu o comentário e conteve a vontade de lhe atirar a água do copo à cara. A sua fachada de serenidade estava a desaparecer. Era incapaz de manter o controlo com Stergios, portanto, se não quisesse fazer uma cena, era melhor afastar-se dele.

– Não me confundas com as mulheres com quem te relacionas – declarou e virou-se.

– Já vais fugir?

– Eu não fujo. Esse é o teu movimento favorito, querido maninho.

O músculo que se contraiu no peito foi o único sintoma de que o dardo acertara no alvo.

– És especialista em criar desastres e desaparecer sem deixar rasto enquanto os outros têm de enfrentar as consequências. A fusão ficou destruída naquela noite porque o Demos disse que não queria casar-se. Demorei anos a trazer o casamento Antoniou-Volakis até este ponto.

– Eu fui desterrada – queixou-se. – Há uma diferença.

– Desterrada? Sempre gostaste de dramatizar.

«E tu sempre foste frio e odioso». Bom, não. Stergios mostrara-se tolerante quando ela fora viver com a família pela primeira vez. Fora o seu único aliado, o seu verdadeiro confidente. Mas, a pouco e pouco, começara a distanciar-se, tornando-se hostil. Fora um alívio e uma agonia que passasse o seu décimo oitavo aniversário longe de casa, a trabalhar num projeto. Quando voltara alguns meses mais tarde, a alegria do reencontro durara pouco, porque cada vez estava mais claro que Stergios não suportava estar na mesma divisão do que ela.

– Se foste desterrada, porque voltaste? Não és das que perdoam facilmente.

– Estou aqui para emendar a relação com o meu pai – confessou, falando devagar.

– E é só isso?

Não. Queria conseguir ser uma prioridade para o pai. Sempre o quisera, mas tentara ganhar a sua atenção do modo errado quando era uma adolescente.

Contudo, de repente, entendeu a pergunta dele.

– Ah! Achas que vim para me vingar ou para destruir a fusão de que tanto precisas. Lamento desiludir-te, mas a família Antoniou não vale nem um minuto do meu tempo.

– Voltaste a tempo do casamento do Demos e da Zoi – contradisse-a.

– Lamento não ter recebido a carta da família em que me comunicavam o evento – declarou –, ou teria escolhido melhor o momento da minha visita.

E ia-se embora, mas Stergios adivinhou o seu movimento e segurou-a pelo um braço. A pele ardeu ao recordar o seu último contacto.

– Não confio em ti – sussurrou-lhe ele ao ouvido.

– Não me importo.

– Afasta-te do Demos – avisou.

– Será um prazer – declarou ela, obrigando-se a olhar para ele nos olhos. – Solta-me.

Jodie viu um redemoinho de emoções no seu rosto antes de a soltar.