desj814.jpg

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2006 Harlequin Books S.A.

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Escândalo de família, n.º 814 - Junho 2016

Título original: Heiress Beware

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2008

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises

Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8379-6

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Jovem Rica Desaparecida

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Se gostou deste livro…

Jovem Rica Desaparecida

 

A polícia procura sem descanso Bridget Elliott, a neta de Patrick Elliott, o multimilionário dono do grupo editorial EPH, que leva quatro dias em paradeiro desconhecido.

A jovem, de vinte e oito anos, foi vista pela última vez na região de Hamptons, onde assistiu ao casamento do seu primo Cullen, que se realizou em The Tides, a herdade propriedade dos seus avós. Um dos porteiros contratados para o evento assegura que abandonou a herdade no seu veículo por volta das dez horas da noite.

O desaparecimento foi comunicado à polícia quando a jovem não se apresentou na redacção da revista Charisma, para a qual trabalha como editora fotográfica.

Fontes ligadas à família referiram a este jornal que no dia do enlace recebeu uma chamada telefónica de alguém que dizia possuir certa informação para ela, mas por enquanto a polícia não baralha hipótese alguma de sequestro.

O patriarca da família, Patrick Elliott, que em breve abandonará a sua função de presidente da companhia, assegurou à imprensa que não poupará despesas para encontrar a sua neta.

Capítulo Um

 

– Não me faças isto, por favor – implorou Bridget, desesperada.

No entanto, apesar das suas súplicas, o motor do carro fora-se abaixo e por muito que girasse a chave na ignição e pisasse o acelerador, o carro não pegava de novo.

Esquadrinhou através do vidro do pára-brisas, mas diante de si não havia mais do que quilómetros e quilómetros de estrada, ladeada por uma vasta e árida extensão, a paisagem típica do Colorado. Além disso, o sol já ascendia pelo firmamento e o dia prometia ser bastante caloroso. Bridget tinha nascido e crescido em Nova Iorque, onde se alcançavam temperaturas muito altas no mês de Junho, mas certamente não seria nada comparado com o calor que faria ali nessa época do ano.

Aquele era o último lugar onde quereria estar nesse momento, mas se tinha ido ali era porque tinha uma «missão» que cumprir. No dia anterior, estando na herdade dos seus avós por causa da comemoração do casamento do seu primo Cullen, tinha recebido uma chamada pela qual aguardava, e nessa mesma noite tinha apanhado um voo para o Colorado.

Com aquela viagem poderia escrever o último Capítulo do seu livro, um livro que poria a descoberto todos os segredos e mentiras do seu avô, Patrick Elliott.

Finalmente, o mundo veria o autêntico rosto do patriarca da família, fundador e presidente da Elliott Publication Holdings, EPH, um dos grupos editoriais mais importantes do país.

Merecia-o. A sua última «ideia peregrina» tinha-os surpreendido e zangado a todos. No fim do ano tinha anunciado que em breve deixaria o seu lugar à frente da companhia, mas em vez de designar um sucessor, tinha lançado um desafio aos seus quatro filhos, directores das principais revistas da EPH. Competiriam uns com os outros, e aquele que ao finalizar o ano tivesse proporcionado maiores lucros à empresa seria o seu sucessor no cargo. Bridget estava simplesmente indignada que brincasse assim com eles. Como podia ter feito algo assim, enfrentar irmãos contra irmãos?

No entanto, aquilo não era o pior que o seu despótico avô tinha feito. A sua tia Finola tinha ficado grávida sendo ainda uma adolescente, e o avô tinha-a obrigado a dar a sua filhinha para adopção.

Tinham passado mais de vinte anos, mas Bridget suspeitava que a sua tia ainda não tinha conseguido superá-lo. De facto vivia centrada no seu trabalho como directora da revista Charisma, da qual ela era editora fotográfica, e mal tinha vida social.

Bridget levava seis meses à procura da sua filha e por fim parecia que estava a ponto de dar com ela. A pessoa que lhe tinha telefonado no dia anterior tinha-lhe dito que a pequena tinha sido entregue em adopção a um casal de Winchester, uma pequena cidade rural do Colorado.

Tinha de chegar até lá, mas eram quase seis da manhã e por aquela estrada municipal não passava vivalma. Se o maldito carro se tivesse avariado na estrada principal já alguém teria parado para a ajudar.

Bridget suspirou e tirou o telemóvel da mala, mas ao abri-la viu que não tinha bateria. Por que diabos nunca se lembrava de colocá-lo a carregar?

Voltou a tentar de novo girar a chave na ignição, rezando por que essa vez o motor reagisse.

– Vá lá, por favor – suplicou, – anda, caramba.

No entanto, o carro teimava em negar-se a colaborar.

– Os da agência de aluguer de carros vão-me ouvir – resmungou Bridget, irritada, antes de pôr a mala ao ombro e sair do carro.

Fechou a porta do veículo e começou a andar. Há uns minutos tinha passado um sinal que dizia que Winchester ficava a quinze quilómetros, portanto se os cálculos não lhe falhavam devia estar a uns oito ou nove quilómetros dali.

«Eu sou capaz, não é uma distância tão grande», pensou.

Se pelo menos tivesse posto umas sapatilhas de desporto em vez das suas botas de salto…

 

 

O Xerife Macon Riggs saiu do carro patrulha e dirigiu-se com passo decidido para o corpo que jazia imóvel na berma da estrada, quase em cima do precipício. Ao aproximar-se viu que se tratava de uma mulher jovem. Estava estendida de lado, com as pernas num ângulo forçado, mas o que o preocupou foi a ferida que tinha na parte posterior da cabeça. Uma das rochas perto da mulher estava manchada de sangue, devia ter batido com a cabeça nela.

Inclinou-se e observou o formoso rosto emoldurado por uma cabeleira loira. A jovem tinha os lábios abertos mas ainda havia cor neles, tinha de estar viva.

– Senhorita – chamou-a sacudindo-a suavemente pelo braço. – Senhorita, consegue ouvir-me?

A jovem abriu os olhos, sobressaltada, pestanejando várias vezes, como tentando de focar a vista.

Tinha os olhos mais incríveis que Mac jamais vira, de um azul próximo ao violeta.

– Sou o xerife Riggs – disse ele, debruçando-se. – Ficará boa, não se preocupe. Sofreu um acidente.

– Um… acidente? – repetiu ela, confundida.

– É o que parece. A julgar pelo sangue dessa rocha e a ferida que tem na cabeça, eu diria que bateu nela – explicou Mac apontando para ela. – Espere-me aqui e não se mexa. Está à beira do precipício. Teve sorte, poderia ter caído por ele e não estaria aqui para o contar. Eu volto já.

Foi até ao carro patrulha e depois de uns segundos retornou com um estojo de primeiros socorros.

– Magoou-se em algum outro lugar? – perguntou ajoelhando-se a seu lado.

– Não, o único que me dói é a cabeça – murmurou a jovem levando-se uma mão à fronte. – É como se fosse explodir.

Mac esboçou um sorriso.

– Imagino. Pode levantar-se?

– Sim, acho que sim.

Mac agarrou-a pelos ombros e ajudou-a a sentar-se.

– Óptimo. Deixe-me dar uma olhadela a essa ferida – disse ele fazendo-a virar a cabeça.

– Tem mau aspecto?

Mac examinou-a com cuidado. O sangue tinha coagulado e parecia que já não jorrava da ferida. Perguntou-se há quanto tempo estaria ali inconsciente. Tinha tido sorte de ter passado por ali. Um movimento em falso ao recuperar o conhecimento e teria ido parar ao fundo do desfiladeiro.

– Não, parece que não é uma ferida profunda – respondeu. Humedeceu um bocado de algodão em álcool e desviou o cabelo para a limpar. – estou a magoá-la?

– Não, não se preocupe, continue – respondeu ela, sem poder reprimir no entanto um trejeito de dor.

– Diga-me o seu nome – instou ele para a distrair do curativo.

– O meu… nome?

– Sim, e já agora, poderia dizer-me o que estava a fazer aqui. Que se passou? Caiu?

A jovem ficou tensa e o xerife, ao notá-lo, empregou um tom mais suave.

– Está bem, tenha calma, comecemos pelo nome.

– O meu nome é… – começou ela, vacilante, antes de começar outra vez. – O meu nome é…

De repente ficou calada e encarou-o com uma expressão de verdadeiro pânico.

– Não sei, não sei como me chamo! – exclamou espantada. – Oh, meu Deus, não sei quem sou! Não me lembro de nada!

Os olhos encheram-se-lhe de lágrimas e abanou a cabeça enquanto repetia, frenética:

– Não me lembro de nada, não me lembro de nada…

Mac pôs-se de pé e agarrou-a pelos braços para fazer com que se levantasse. O melhor seria afastá-la do precipício.

– Está bem, tenha calma. Vou levá-la ao médico.

– Oh, Meu Deus, não me lembro de nada, não sei quem sou nem por que estou aqui – murmurou ela aferrando-se à manga do seu casaco. – Que lugar é este?

– Está no condado de Winchester, no Colorado.

A jovem olhou-o aturdida, tentando recordar.

– Vivo por esta zona?

– Não sei. Parece que chegou até aqui a pé, mas depois os meus homens e eu faremos uma busca. Talvez encontremos algum carro abandonado. É possível que tenha tido uma avaria e tenha vindo em busca de ajuda – respondeu Mac. – Em qualquer caso, quando a encontrei não vi nem uma mala, nem uma mochila nem nada, se levava algo consigo deve ter caído pelo precipício no momento em que embateu contra essa rocha e caiu ao chão. As botas que calça sem dúvida que não são o calçado mais apropriado para andar por aqui.

A jovem baixou a cabeça e viu não só as botas, mas também as calças finas e a camisola de angora que vestia. Aquelas peças não lhe eram nada familiares, era como se lhe tivessem posto a roupa de uma estranha.

– Meu Deus, não me lembro de nada de nada – murmurou angustiada, de novo à beira das lágrimas. – Nem uma simples coisa!

– Vamos, vou levá-la ao médico – disse Mac dando-lhe a mão.

No entanto, à jovem fraquejaram-lhe os joelhos ao primeiro passo e o xerife teve que apressar-se a sustê-la para que não caísse.

– Tenho a cabeça à roda.

Mac não vacilou, pegou-a ao colo e encaminhou-se com ela em braços para o carro patrulha. Depois mandaria dois dos seus homens para que passassem a zona a pente fino em busca de um veículo ou de algum objecto pessoal que pudesse ajudá-los a identificá-la, mas a prioridade agora era que fosse vista por um médico.

 

 

Não sabia quem era. Não se lembrava de nada acerca de si própria. Mil perguntas zumbiam como abelhas na mente da jovem, que se obrigou a concentrar-se no homem que a levava em braços, o xerife Riggs, para controlar a sua ansiedade. Fazia com que se sentisse segura e protegida. Tinha uns olhos lindos, pensou, e provavelmente também um bonito sorriso, mas tinha a impressão que não sorria muito amiúde.

Tinha tido sorte que a tivesse encontrado, que não tivesse recuperado a consciência e se tivesse despenhado pelo desfiladeiro como ele tinha dito, mas… o que tinha ido fazer ali?

O xerife depositou-a no interior do carro patrulha com a maior delicadeza possível, e nesse movimento roçou sem querer o peito dela com o braço. Surpreendida por aquele inesperado contacto, a jovem emitiu um gemido abafado.

– Encontra-se bem? – perguntou ele, o seu rosto a só uns centímetros do dela.

O tempo pareceu deter-se por um instante, e ambos se entreolharam nos olhos. Ela assentiu sem afastar o olhar dele, inalando o aroma da sua loção, até que finalmente o xerife se endireitou e fechou a porta para circundar depois o veículo e sentar-se ao volante.

– Avise-me se algum dos lugares pelos quais passarmos lhe resultar familiar – pediu lançando-lhe um breve olhar quando se puseram em andamento.

Ela voltou a assentir e virou a cabeça para a janela. A paisagem foi mudando gradualmente, e minutos depois penetravam num vale salpicado de herdades e fazendas com as majestosas montanhas como pano de fundo.

De novo se esforçou por recordar alguma coisa, por descobrir na sua mente pelo menos uma pista sobre a sua identidade. Viveria naquela zona, ou estaria só de passagem? Estaria talvez de férias, ou talvez tivesse ido ali para se encontrar com alguém?

Por mais que o tentasse não conseguia encontrar resposta alguma a essas perguntas. Só podia esperar e confiar que aquele médico a que o xerife a levava pudesse ajudá-la.

Minutos depois detinham-se em frente ao que parecia um pequeno centro de saúde rural.

– Espere, sairei eu primeiro para a ajudar a sair – disse o xerife Riggs.

– Acho que posso andar – referiu ela.

Abriu a porta e saiu, mas de imediato teve que se apoiar no veículo.

Num instante, o xerife estava ao seu lado.

– Tem tonturas? – perguntou-lhe, olhando-a com preocupação.

– Um pouco, mas já me está a passar.

– Apoie-se em mim, deixe-me ajudá-la – insistiu ele.

E antes que pudesse recusar de novo, rodeou-lhe a cintura com o braço e conduziu-a até à entrada do pequeno edifício de dois andares.

Uma meia hora mais tarde, o doutor Quarles, um homem afável que rondaria os sessenta anos, dava por concluído o seu exame e fazia entrar o xerife no consultório.

– Parece que com efeito esta jovem sofre de amnésia, Mac – disse fechando a porta quando este entrou, – amnésia retrógrada. Em casos como este, o paciente não pode lembrar-se de nada do que lhe ocorreu antes do acidente que lhe fez perder a memória nem o motivo porque ocorreu – explicou. – Fisicamente está bem, embora não fosse uma má ideia que lhe fizessem algumas provas adicionais no hospital para nos certificarmos que…

– Mas quando recuperarei a memória? – interrompeu a angustiada jovem.

O doutor Quarles suspirou e abanou a cabeça.

– Temo não poder responder-lhe a isso. Poderia demorar só umas horas em recuperá-la, e também poderiam ser dias ou semanas. Em alguns casos podem passar inclusive meses antes que o paciente tenha alguma lembrança do seu passado. Em geral, as lembranças mais antigas são as primeiros a voltar à mente, e também devo adverti-la que é possível que jamais se lembre do que fez com que perdesse a memória. É algo que a mente tende a bloquear.

– Quer dizer que talvez nunca chegue a saber por que me está a suceder tudo isto?

– Por desgraça, é uma possibilidade – assentiu o médico. – Venha ver-me se a dor de cabeça não passar. Amanhã já lhe deveria ter passado.

– Mas… mas… – balbuciou ela, desesperada. – Necessito saber quem sou. Hoje! Não dentro de uma semana, nem de um mês – disse a tremer como uma folha. – Isto não pode estar a acontecer… Que vou fazer? Não tenho para onde ir.

Tudo aquilo parecia um horrível pesadelo.

O doutor Quarles olhou um instante para o xerife antes de voltar a pousar a vista nela.

– Bom, a minha esposa e eu temos um quarto livre lá em casa – disse-lhe. – Era o quarto da nossa filha Katy, mas ela já não vive connosco, há tempo que se casou. Pode ficar connosco até que recupere a memória ou o xerife Riggs descubra a sua identidade.

A jovem não sabia o que dizer perante tão generosa oferta, não tinha palavras.

– Obrigada, muitíssimo obrigada – murmurou com um nó na garganta.

O médico deu-lhe umas palmadinhas no ombro.

– Ligarei à minha mulher e dir-lhe-ei que vamos ter uma convidada.

No entanto, os olhos da jovem procuraram os do xerife. Era como se, por algum motivo que não chegava a entender, necessitasse da sua aprovação. Talvez porque lhe tinha salvado a vida, porque sentia que podia confiar nele.

O xerife olhou-a longamente, pensativo, e de repente, voltou-se para o médico, que estava a levantar nesse momento o auscultador do telefone da sua secretária.

– Espera, John – disse-lhe. – Talvez seja melhor alojá-la em minha casa.