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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2012 Dolce Vita Trust. Todos os direitos reservados.

UMA AVENTURA PROIBIDA, N.º 1151 - Setembro 2013

Título original: A Forbidden Affair

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

Publicado em português em 2013

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® ™. Harlequin, logotipo Harlequin e Desejo são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-3398-2

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo Um

 

As mãos de Nicole tremiam descontroladamente ao tentar enfiar a chave na ignição. O porta-chaves voltou a cair-lhe e, depois de o apanhar do chão do seu Mercedes Benz, deu-se por vencida.

Saiu do carro, bateu com a porta e tirou o telemóvel da mala. Ainda bem que não se tinha esquecido dele em cima do móvel da entrada ao abandonar airosamente o jantar de família. Dava assim por concluída, em definitivo, a sua presença em todos os futuros jantares de família.

Chamou um táxi. Tremia enquanto esperava que chegasse. Ficou contente por não ter tido tempo de despir o fato saia-casaco de lã quando chegou casa depois do trabalho. Aquela noite de outono estava um gelo.

O seu pai tinha-lhe pedido que se vestisse de forma elegante para o jantar, mas pensou que ele não se importaria que ela tivesse ficado a trabalhar no escritório em vez de ter ido a correr a casa para mudar de roupa. Afinal de contas, se havia alguém que deveria compreender a dedicação do seu tempo e energia à Wilson Wines, essa pessoa deveria ser, sem dúvida, Charles Wilson, fundador e presidente da empresa. O pai tinha dedicado a vida àquela empresa e ela pretendia seguir-lhe os passos.

Até àquela noite.

A fúria voltou a invadi-la. Como era possível que se tivesse atrevido a menosprezá-la daquela maneira, para mais na presença de um desconhecido, ainda que fosse o seu irmão Judd que tinha perdido de vista há muito tempo? Vinte e cinco anos após o divórcio dos seus pais, que acabou por dividir a família em duas, que direito tinha Judd de voltar a aparecer para reclamar o lugar que era dela? Tentou acalmar-se. Não podia confiar em mais ninguém exceto em si mesma.

Até Anna, a sua melhor amiga, tinha mostrado o seu verdadeiro rosto quando, na semana anterior, tinha voltado da Austrália para a Nova Zelândia na companhia de Judd. Tentou convencer Nicole de que se tinha limitado a cumprir as ordens de Charles no sentido de procurar Judd e trazê-lo de volta para tentar uma reconciliação. Nicole ficou a perceber para quem pendia a lealdade de Anna e não era certamente para ela. Se não fosse assim, ter-lhe-ia contado os planos de Charles.

O telemóvel começou a tocar insistentemente dentro da mala.

– Onde estás, Nicole? Estás bem?

Era Anna.

– Sim, estou bem – respondeu Nicole com uma voz cortante.

– Estás aborrecida. Noto-o na tua voz. Lamento o que aconteceu, mas...

– O que aconteceu, Anna? Então e a tua viagem à Austrália? E o trazeres o meu irmão de volta, após vinte e cinco anos, para ele me roubar tudo o que é meu? Pensei que éramos amigas, que éramos como irmãs.

– Eu não te podia contar os planos do Charles. Acredita em mim, por favor. Tive que lhe prometer que guardaria segredo. Tu sabes o quanto lhe devo. Sem o seu apoio, a minha mãe e eu...

– Sem o seu apoio? – Nicole fechou os olhos para que não se lhe caíssem as lágrimas. – E eu, não conto com o teu?

– Sabes que eu sempre te apoiei, Nic.

– A sério? Então, por que não me disseste que o meu próprio pai ia subornar o Judd oferecendo-lhe a minha casa e a empresa?

– É apenas metade dela.

– Sim, mas vão para ele as ações que lhe permitem assumir o controlo, o que é o mesmo que lhe dar toda a empresa.

O choque que teve quando o pai anunciou a decisão fora terrível. E foi ainda pior com os seus argumentos para justificar a decisão: «Vais ver que vais encontrar um homem», disse-lhe, «por quem te vais apaixonar e, antes que dês por isso, estarás casada e com uma família. A Wilson Wines passará a ser apenas um passatempo para ti».

O seu pai reduzira os seus anos de trabalho, dedicação e compromisso na empresa a uma espécie de entretenimento. Nicole sentiu que o sangue lhe fervia nas veias.

– O meu pai deixou bastante claro qual é a minha posição e, ao apoiá-lo, tu deixaste bem claro de que lado estás.

Anne respondeu-lhe com calma.

– Tive de enfrentar um dilema intransponível, Nic. Implorei-lhe para que te contasse ou que pelo menos te dissesse que o Judd ia voltar.

– Pois parece que não lhe imploraste o suficiente. Ou talvez mo pudesses ter dito tu, talvez me pudesses ter ligado ou enviado um email. Tu sabias quais eram as implicações que isto ia ter para mim, o quanto me iria prejudicar. E não fizeste nada.

– Lamento muito, Nic. Se tivesse que voltar a fazê-lo, agiria de outra maneira.

– O problema, Anna, é que neste momento eu não sei nada. Tudo aquilo por que me esforcei, tudo aquilo a que dediquei a minha vida acaba de ser dado de mão beijada a um homem que nem sequer conheço. Nem sequer sei se continuo a ter casa, já que o meu pai entregou a escritura ao Judd. Já te perguntaste o que é que irias sentir se estivesses no meu lugar?

As luzes de um carro ao longe anunciaram a chegada do táxi.

– Tenho que desligar. Preciso de refletir.

– Vamos falar disto cara a cara, Nicole.

– Não – respondeu, enquanto o táxi parava à sua frente. – Já disse tudo o que tinha a dizer. Não me voltes a ligar.

Desligou a chamada e logo de seguida o telemóvel antes de o meter na mala.

– Viaduct Basin – disse ao taxista, enquanto entrava no carro. Esperava conseguir distrair-se um pouco com a animação dos bares e discotecas do centro de Auckland. Retocou a maquilhagem o melhor que conseguiu. Estava farta que os seus pouco frequentes aborrecimentos acabassem sempre em lágrimas.

Recostou-se no assento e tentou esquecer as palavras do pai e o seu tom de ligeira superioridade que parecia indicar que a raiva lhe iria passar rapidamente.

– Só por cima do meu cadáver.

– O que disse, menina? – perguntou-lhe o taxista.

– Nada, desculpe. Estou a falar sozinha.

Tentou conter as lágrimas que voltavam a surgir-lhe nos olhos. O seu pai deitara por terra, de forma definitiva, a relação entre ambos, arrasara a confiança que existia entre ela e Anna e destruíra a possibilidade de que entre ela e Judd se estabelecesse alguma proximidade. Deixara de poder confiar em alguém da família: nem no pai, nem no irmão, nem na irmã e nem na própria mãe, que não via desde que tinha levado Judd para a Austrália, onde tinha nascido, quando ele tinha seis anos e Nicole um.

Há muito tempo que se tinha convencido de que não precisava da sua mãe. O pai tinha sido tudo para ela. Mas muito cedo percebeu que não podia compensar a perda da esposa e do filho. Por isso esforçou-se ao máximo para ser uma aluna excelente na esperança de que o seu pai se sentisse orgulhoso dela. Quando percebeu o que realmente importava ao pai, a sua única ambição passou a ser gerir a Wilson Wines.

Com o regresso de Judd, era como se ela não existisse.

Mas não podia deixar-se levar pela atitude do pai. Quando lhe passasse a fúria, logo lhe ocorreria uma forma de solucionar as coisas. Para já, a sua intenção era divertir-se.

Saiu do táxi, soltou o cabelo que trazia preso num rabo-de-cavalo, soltou o primeiro botão do casaco, deixando à vista um sutiã de renda, e dirigiu-se para o primeiro bar que encontrou.

 

 

Nate estava apoiado no balcão olhando com desinteresse para quem estava na pista de dança. Estava ali para agradar a Raoul. Ir à despedida de solteiro do seu amigo era como uma pequena recompensa por o seu trabalho na Jackson Importers ter permitido que a empresa seguisse em frente depois da repentina morte do pai de Nate no ano anterior. Ficara muito aliviado depois de Raoul se ter disponibilizado para tomar conta dos negócios até ele voltar à Nova Zelândia. Demorou algum tempo até encontrar alguém que o substituísse na sucursal europeia da Jackson Importers e Raoul fizera-lhe um grande favor.

De qualquer forma, estava um pouco aborrecido. Estava prestes a ir-se embora quando a viu. A mulher dançava com uma sensualidade que despertou os seus instintos masculinos mais primários. Estava vestida como se tivesse acabado de sair do escritório. Tinha o casaco meio desapertado, o suficiente para lhe adivinhar os seios. E a saia, ainda que não sendo exatamente curta, as suas longas pernas e os sapatos de saltos faziam com que o parecesse.

Sentiu uma excitação entre as pernas e, de repente, ir-se embora para casa deixou de ser uma prioridade.

Abriu caminho entre as pessoas para se aproximar. Havia algo nela que lhe parecia familiar. O seu longo cabelo movia-se de um lado para o outro ao ritmo da música e ele imaginou-o estendido sobre os lençóis da sua cama.

Aproximou-se a dançar.

– Olá, posso fazer-te companhia? – perguntou-lhe com um sorriso.

– Naturalmente – respondeu ela, enquanto afastava o cabelo do rosto e revelava uns olhos escuros onde um homem se podia perder e uns deliciosos e pecaminosos lábios pintados de vermelho.

Dançaram durante algum tempo sem se tocarem. Uma pessoa chocou com Nicole e empurrou-a contra o peito de Nate. Ele segurou-a e ela olhou para ele com um sorriso.

– És o meu salvador – disse-lhe, com um brilho malicioso nos olhos.

– Posso ser o que tu quiseres – disse ele, inclinando-se para lhe falar ao ouvido.

– O que eu quiser?

– O que tu quiseres.

– Obrigada – ela rodeou-lhe o pescoço com as mãos.

Naquele momento, a única coisa que Nate desejou foi levá-la para casa.

Não gostava de aventuras de uma noite. Gostava de ter tudo calculado, a espontaneidade não era o seu forte, sobretudo na vida privada. Sabia que tinha de ter algum cuidado com os outros até conhecer as suas verdadeiras motivações. Mas a mulher que tinha entre os braços tinha algo pelo que estava disposto a arriscar.

De repente, percebeu porque é que o seu rosto lhe era familiar. Era Nicole Wilson, a filha de Charles Wilson e o seu braço direito na Wilson Wines. Tinha visto a sua foto no dossiê que tinha pedido a Raoul sobre as empresas concorrentes e, principalmente, sobre o homem que tinha sido o melhor amigo de Thomas, o seu pai. Depois de uma briga cheia de falsas acusações, Charles Wilson tinha-se convertido no seu pior inimigo.

Na adolescência, Nate prometera-lhe que um dia se iria vingar de Charles. Thomas tinha-lhe pedido para que não o fizesse enquanto ele fosse vivo. Infelizmente o seu pai tinha morrido, pelo que já podia cumprir a promessa.

Há muito tempo que esperava pelo momento adequado para se vingar. Tinha recolhido bastante informação e definido uma estratégia. E ainda que aquele encontro não fizesse parte dos seus planos, não ia perder a oportunidade que lhe acabava de cair nos braços.

Não negava o muito que se sentia atraído por Nicole. Se não funcionasse, prosseguiria com o seu plano. Mas se corresse bem, se ela reagisse da mesma forma que ele, o seu plano de vingança iria dar uma volta muito interessante.

 

 

Nicole tinha consciência que tinha bebido demasiado e que deveria chamar um táxi para a levar a casa. Além disso, tinha de trabalhar no dia seguinte.

Ao pensar no trabalho e na casa, sentiu um nó no estômago, vindo-lhe à memória a baixa conta em que o seu pai a tinha. Antes teria bloqueado esses pensamentos saindo com uns amigos do tempo da faculdade. Agora, deixava-se levar pela evidente atração que existia entre duas pessoas jovens, saudáveis e na flor da idade.

A distância entre ela e o homem com quem dançava era praticamente inexistente. Ela roçou a parte inferior do corpo dele e sorriu.

– Vais dizer-me qual é a piada?

Ela apertou os lábios e negou com a cabeça.

– Então, vais ter uma sanção.

– Uma sanção? – ela sorriu – Queres-me castigar por eu estar contente?

– Não estava a pensar num castigo.

Em vez de se rir com o que ele lhe acabava de dizer, Nicole sentiu uma pontada de desejo.

– Em que é que estavas a pensar?

– Nisto.

Ela não teve tempo de reagir nem espaço para se mexer caso tivesse querido evitar uns lábios inesperadamente frios e firmes nos seus.

Nicole sentiu uma espécie de descarga elétrica e tudo o que estava à sua volta desapareceu. Apenas conseguia pensar no contacto daqueles lábios e na deliciosa pressão do seu corpo quando ele lhe colocou as mãos nas ancas e a puxou para si.

Continuaram a mover-se ao ritmo da música. A pélvis de Nicole esfregava-se contra a dele, e ela, ao aperceber-se da excitação de Nate, desejou mais do que o contacto por cima da roupa.

Tentou reprimir o gemido que tentava escapar-lhe da garganta quando ele afastou os lábios.

Abriu os olhos. Com aquela luz era difícil saber de que cor eram os olhos dele, mas eram pouco comuns. O seu olhar fascinou-a. Os animais não faziam o mesmo com as suas presas? Estaria prestes a ser devorada?

– Então era essa a sanção – disse ela, com a voz rouca de desejo.

– É apenas uma entre muitas.

– Que interessante.

Tentou controlar-se para não lhe segurar no rosto e repetir a experiência. Enquanto a beijava esquecera-se de tudo: quem era, porque estava ali, do que já não era capaz de continuar a desejar...

E tinha gostado. Muito. Queria repetir.

– Eh, Nic!

Amy, uma conhecida sua, apareceu ao seu lado ao mesmo tempo que Nate a soltava.

– Vamos a outro bar. Queres vir? – gritou-lhe a amiga para que a ouvisse por cima da música.

– Não. Apanho um táxi mais tarde.

– Está bem. Foi fantástico termo-nos encontrado. A ver se nos encontramos mais vezes.

Amy foi-se embora.

– Tens a certeza de que não queres ir com os teus amigos? – perguntou-lhe Nate.

– Não, já sou maior de idade e sei tomar conta de mim mesma.

– Fantástico. Eu chamo-me Nate.

– E eu Nicole – respondeu ela enquanto começava a dançar novamente.

Distraiu-a o flash de uma máquina fotográfica, mas logo voltou a concentrar-se em Nate, que dançava particularmente bem. Os seus movimentos pareciam surgir de forma natural. E além do mais, era bastante bonito.

Tinha o cabelo castanho, mas não tão escuro como o dela, e um rosto masculino e elegante. E aqueles lábios... Estava disposta a aceitar tudo o que tivessem para lhe oferecer.

– Passei no exame? – perguntou ele.

Ela sorriu.

– Sim.

Ele desatou a rir. O som do seu riso era maravilhoso. Haveria algo nele que não fosse maravilhoso?

A multidão que os rodeava começava a diminuir o que levou Nicole a pensar que a noite estava a terminar. Doíam-lhe os pés depois de várias horas a dançar de saltos altos e começava a sentir os efeitos do excesso de bebida. Não tinha lá muita piada a realidade irromper depois de uma noite tão bem passada. Nate disse-lhe qualquer coisa, mas ela não percebeu por causa da música.

– O que é que disseste?

– Se queres beber alguma coisa.

Já tinha bebido demasiado, mas assentiu.

– Aqui? Ou preferes na minha casa?

Ela sentiu um arrepio de excitação. Estava a propor-lhe o que ela estava a pensar? Nunca tinha feito nada assim, ir para casa de um desconhecido sem ser na companhia de amigos. Mas, por alguma razão, pareceu-lhe que podia confiar em Nate. Também tinha curiosidade em confirmar se a energia que parecia existir entre ambos era real.

– Vamos para tua casa.

Ele sorriu.

– Fantástico – respondeu, segurando-lhe na mão.

Ela tirou da cabeça qualquer pensamento de perigo. Naquela noite estava disposta a arriscar.

Além disso, o que é que de pior lhe poderia acontecer?