cover.jpg
portadilla.jpg

 

 

Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2012 Harlequin Books S.A.

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

À beira do amor, n.º 28 - Avril 2014

Título original: On the Verge of I Do

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5245-7

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo Um

 

– Isso dá montes de trabalho. Não sei como consegues fazer isto todos os dias.

Kara Kincaid riu-se, enquanto desfolhava outra página do catálogo de catering aberto sobre a mesinha à frente deles.

– E eu não sei como consegues gerir uma cadeia que tem dezenas de hotéis de luxo. A mim parece-me muitíssimo mais fácil rever listas intermináveis de convidados e selecionar menus com sete pratos do que manter um negócio como o teu – respondeu ao noivo da sua irmã mais velha.

Eli Houghton era alto, bonito, com uns olhos castanhos e o cabelo da mesma cor, e tinha um corpo que lhe fazia crescer água na boca.

– Parece-me que te subestimas, querida – disse-lhe Eli, sorrindo de uma maneira que fez com que o coração dela palpitasse com força. – Temos talentos diferentes, mas tu também triunfaste.

– Sim, mas o Houghton Hotels and Resorts vale milhões de dólares, enquanto o Prestige Events é um pequeno negócio que eu giro a partir de casa.

Estavam sentados num sofá de couro preto no impressionante gabinete de Eli, que ficava num nono andar. Normalmente, reuniam-se em casa dela, em Queen Street, para falar dos preparativos do casamento.

Gostava da sua casa, uma bonita moradia no bairro francês construída no princípio do século XIX que tinha restaurado meticulosamente. No entanto, às vezes, preocupava-a um pouco que o facto de gerir o seu negócio a partir de casa desse uma impressão errada aos seus possíveis clientes. Quiçá devesse considerar alugar um escritório.

Quiçá inclusive pudesse alugar um edifício pequeno. Assim poderia ter uma salinha onde daria a provar aos seus clientes os diferentes menus que podiam escolher para o evento, e inclusive guardar lá objetos de decoração reutilizáveis para não os ter de alugar aos fornecedores. Talvez até pudesse contratar uma ajudante – e algum dia até ter mais do que um empregado – para que lhe desse uma mão, já que até então tinha ela tratado de tudo. Não podia dizer que fosse um peso. Afinal de contas, a Prestige Events era a menina dos seus olhos, o seu próprio negócio, no qual tinha decidido embarcar, em vez de trabalhar na empresa da família. No entanto, seria bom um dia não ter de se responsabilizar por tudo.

– Tem fé e dá tempo ao tempo – a voz aveludada de Eli devolveu-a à realidade. – Se continuares assim, tenho a certeza de que daqui a uns anos estarás a organizar o casamento de uma das filhas do Obama.

Que sorte tinha a sua irmã!, pensou Kara com inveja. Era uma sorte que estivesse sentada, porque o encanto que aquele homem emanava e a calidez e a sensualidade da sua voz faziam-na derreter por dentro.

Pigarreou, inspirou profundamente e levantou-se. Não podia deixar que a afetasse daquele modo. Era o noivo de Laurel, por amor de Deus! Em menos de um mês estariam casados. Não podia negar que o achava atraente, mas provavelmente qualquer outra mulher da Carolina do Sul com sangue nas veias acharia o mesmo. Da Carolina do Sul, ou de qualquer outra parte da costa Leste.

E também não podia negar que quando eram adolescentes, estivera apanhada por ele, mas que rapariga da escola não estivera louca por Eli, o rapaz que jogava na equipa de râguebi?

Bom, a verdade era que até então Laurel não tinha mostrado muito interesse nele. Ela e os seus irmãos sempre tinham sido amigos daquele rapaz solitário que vivia com os Young na mesma rua, mas a relação entre Laurel e Eli só tinha começado alguns anos depois, e só há uns meses tinham ficado noivos.

E não era que não ficasse contente por eles, mas não era nada fácil para ela organizar um casamento quando a noiva era a sua irmã e o noivo um homem pelo qual tinha suspirado durante os últimos dez anos.

Mas estava a esforçar-se por fazê-lo o melhor possível. E para isso, para que fosse o casamento do ano, tinha de deixar de lado o turbilhão de sentimentos que se revolvia no seu interior. Para ela aquilo supunha um desafio tanto pessoal como profissional.

Esticou o braço para pegar nos seus óculos e pô-los. Na realidade não precisava deles para ver ao perto, mas faziam-na sentir-se mais segura e, naquele momento, mais um pouco de confiança em si mesma não calhava nada mal.

– Quando tu e a Laurel decidirem o que querem que sirva no coquetel será mais fácil reduzir o número de opções para o copo-d’água – disse a Eli. – E vais gostar dessa parte, porque aí vão poder provar os diferentes menus antes de escolherem um.

Eli inclinou-se para trás, apoiando os braços nas costas do sofá e cruzando as pernas.

– Acho que devíamos deixar isso para a Laurel. Não quero que a nossa primeira discussão seja no coquetel no dia do nosso casamento, porque te pedi que pusessem frango frito, em vez de acepipes de caranguejo.

Kara olhou para o relógio. A sua irmã estava atrasada, e já passavam mais de vinte minutos. Tinham combinado encontrarem-se os três ali, no escritório de Eli, para não perturbar a agenda complicada dele, mas se Laurel não chegasse rapidamente seria precisamente isso que aconteceria.

– Aposto que a Laurel está mesmo a chegar – disse a Eli.

Ele assentiu com a cabeça.

– Pois claro; não há problema.

Parecia tão seguro... e tão paciente. Mais paciente do que ela seria se estivesse no seu lugar, pensou Kara.

Há anos que organizava eventos e tivera de lidar com noivas nervosas, malcriadas e algumas exigentes e meticulosas, mas nunca com nenhuma que mostrasse tão pouco interesse como a sua irmã.

Claro que a situação também não era normal, com tudo pelo que a sua família estava a passar há uns meses. O seu pai fora assassinado, descobriram que tinha uma vida dupla e que tinha um filho de outra mulher; para cúmulo, a sua mãe fora acusada de tê-lo matado.

Ainda que o seu pai lhes tivesse escondido algumas coisas e a sua mãe se tivesse sentido magoada, Kara negava-se a acreditar que tivesse sido capaz de algo assim. A sua mãe não mataria nem uma mosca. Como ia dar um tiro na cabeça do homem que fora seu marido durante quarenta anos?

Não, era impossível, e os seus irmãos eram da mesma opinião: não havia qualquer sombra de dúvida da inocência da mãe. A justiça não via as coisas assim, mas felizmente soubera-se de uma informação que, em princípio, permitiria que, pelo menos, concedessem à sua mãe sair sob fiança: tinham visto um misterioso desconhecido a entrar nos escritórios do Grupo Kincaid pouco antes do assassinato.

Com tudo aquilo, era normal que Laurel tivesse demasiadas coisas na cabeça e não se conseguisse concentrar no casamento, mas ainda assim era estranho que a sua irmã não tivesse uma ideia definida de como queria que fosse a cerimónia. A maioria das mulheres imagina muitas vezes como seria para elas o casamento perfeito. É algo com que se começa a fantasiar quando se chega à puberdade.

Por exemplo, nunca tinha conhecido uma noiva que não tivesse a certeza da cor que queria para as flores da igreja e para os vestidos das damas de honor, ou que não tivesse uma ideia de como queria que fosse o seu vestido.

Laurel decidira que ia levar um vestido vintage dos anos vinte em tom pérola, mas só porque ela não tinha feito outra coisa senão insistir que era necessário que se decidisse rapidamente para que a costureira tivesse tempo suficiente para fazer ao vestido os arranjos necessários.

Também nunca conhecera uma noiva que se atrasasse cada vez que se reuniam, fosse para escolher as flores, marcar o dia da despedida de solteira, ou fazer o ensaio da cerimónia.

Perguntava-se se Eli não teria reparado também na peculiar atitude da sua noiva e se não estaria tão perplexo como ela, ainda que parecesse que, ou não tinha dado por nada, ou não lhe incomodava que Laurel chegasse sempre atrasada. A verdade era que não o via nada preocupado; nem sequer com o preço do casamento. Era tradição que fosse a família da noiva a suportar as despesas, e claro que para eles o dinheiro não era um problema, mas como estavam envolvidos num mar de problemas, Eli tinha dito a Kara que lhe mandasse todas as faturas.

Aquele gesto não a tinha surpreendido em nada. Eli sempre fora amável, generoso e compreensivo. Como crescera em lares de acolhimento sabia o que era não ter nada, e ainda que tivesse feito uma fortuna, não era um mísero avarento.

Só esperava que continuasse a ser igualmente benévolo quando visse as faturas que lhe caíam em cima. O valor já ascendia aos seis dígitos

Enquanto os segundos continuavam a passar, marcados pelo pesado tiquetaque do antigo relógio de pé que havia na parede oposta, Kara perguntou-se que outros detalhes poderia discutir com Eli sobre o casamento até que chegasse a sua irmã.

Poderia voltar ao princípio do catálogo de catering e explicar-lhe com mais detalhe todos os pratos que podia escolher, mas tinha a certeza que ele perceberia a sua jogada: ganhar tempo.

Por sorte não foi necessário, porque precisamente naquele momento a porta abriu-se e entrou Laurel, tão feminina e chique como sempre. Era realmente uma beldade, como a sua mãe, e sempre tivera vários pretendentes, ainda que até ao seu noivado com Eli, não tivesse evidenciado demasiado interesse em namorar com nenhum.

– Perdoem-me pelo atraso – murmurou sem os olhar nos olhos, enquanto guardava na sua carteira de marca uns enormes óculos de sol.

Eli, que se tinha posto de pé no momento em que tinha entrado, dirigiu-se a ela e beijou-a na face.

– Não te preocupes; a tua irmã manteve-me muito entretido. Ao que parece podemos escolher entre não sei quantos acepipes e aperitivos para o coquetel – disse-lhe, – mas bom, agora explicar-to-á a ti também – acrescentou dirigindo um sorriso a Kara.

Não parecia nada incomodado perante a ideia de ter de voltar a ouvi-la recitar o catálogo, e isso fê-la sorrir.

Laurel sorriu também, mas o sorriso não atingiu os seus olhos, e a sua expressão era tensa. De facto, como advertiu Kara naquele momento, estava a apertar com tanta força a alça da carteira que tinha os nós dos dedos brancos.

– Podemos falar? – perguntou a Eli baixando a voz. Depois, olhando para Kara, disse-lhe: – Desculpa, mas podíamos fazer isto noutra altura? Preciso de falar com o Eli; é importante.

– Claro – respondeu Kara pondo-se de pé para pegar nas suas coisas.

Com as pastas debaixo do braço, ia dirigir-se à porta, mas parou um momento em frente ao casal. Eli estava muito relaxado, mas Laurel irradiava tensão.

– Liguem-me para saber quando podemos falar – disse, e apertou suavemente o braço a Laurel para que soubesse que estava preocupada e que podia contar com ela.

Depois saiu fechando a porta devagar atrás de si e rogando para que não se tratasse de nada sério.

Mais tarde, quando estivesse em casa, ligaria a Laurel para saber o que se estava a passar.

 

 

O facto de Laurel estar tão séria de repente e ter pedido à sua irmã que saísse fez intuir a Eli que algo não estava bem.

Esperava que não fosse nada de grave. Ela e o resto da sua família já estavam a sofrer o suficiente com tudo pelo que estavam a passar.

Claro que, se houvesse alguma novidade na investigação do assassinato, o normal seria que quisesse que Kara ouvisse também, em vez de lhe pedir que os deixasse para falarem a sós.

Aquele pensamento fê-lo franzir a testa.

– Anda, vamo-nos sentar – disse-lhe, e ao pegar na mão dela viu que estava gelada. – Está tudo bem? – perguntou-lhe quando se sentaram no sofá.

Pelo modo como fazia questão de evitar olhar para ele era evidente que algo não estava bem.

– Desculpa, Eli – a voz tremia um pouco a Laurel. Finalmente, levantou o olhar para ele, e inspirou profundamente, como se estivesse a encher-se de coragem para lhe dizer o que lhe queria dizer. – Desculpa – disse de novo, e depois as palavras saíram da sua boca de rajada, – mas temo que não posso fazer isto, não posso seguir em frente com o casamento.

Por um segundo, Eli achou que tinha ouvido mal.

– Como?

Laurel pôs-se de pé rapidamente e atirou a sua carteira para o sofá para depois dar a volta à mesinha e pôr-se a andar muito agitada de um lado para o outro.

– Cometemos um erro tremendo – disse torcendo as mãos. – Precipitámo-nos. E ainda que ao princípio parecesse que era uma boa ideia, as coisas mudaram – parou e virou-se para ele deixando cair os braços. – A minha vida neste momento é uma desgraça, Eli. Mataram o meu pai, a minha mãe é acusada de ter cometido o assassinato, de repente tenho um meio-irmão que não sabia sequer que existia...

Ainda que a voz dela tremesse, as suas palavras estavam marcadas por uma firme convicção.

– Tens sido um grande apoio para mim nestes meses, e a minha mãe tem-se comportado com uma integridade incrível, sempre com um sorriso nos lábios, a dizer para seguirmos com o casamento... – inspirou trémula e deixou escapar um suspiro. – Mas não o posso fazer. Todo o meu mundo está de pernas para o ar e não sei o que acontecerá amanhã. Não me posso casar, por muito que dececionemos toda a gente. Desculpa.

Eli ficou sentado em silêncio, vendo como os olhos verdes de Laurel brilhavam por causa das lágrimas contidas, e como os seus lábios apertados tremiam, enquanto aguardava a sua resposta.

Perguntou-se se esperava que ele se chateasse, que se pusesse de pé, vermelho de ira, e começasse a gritar com ela por tê-lo feito perder tempo e dinheiro. Ou quiçá pensasse que não ia consentir uma mudança de planos, que faria questão de que seguissem em frente com o casamento apesar de ela estar a viver um inferno com o que se estava a passar com a sua família.

Provavelmente, deveria sentir-se assim... pelo menos até certo ponto. Afinal, estava a dar-lhe um pontapé, deixando-o de lado. Não deveria estar indignado, com o seu ego masculino ferido?

A verdade era que nem sequer se sentia especialmente dececionado. Estranhamente o pensamento que atravessou a sua mente naquele instante foi que os olhos de Laurel não eram de um verde tão intenso como os da sua irmã Kara.

Eram bonitos, naturalmente, e não havia dúvidas de que Laurel era uma mulher encantadora, mas o verde dos seus olhos parecia mais jade, enquanto os de Kara eram de um verde intenso e brilhante que o fazia lembrar o verde-esmeralda dos pântanos da Carolina do Sul.

O facto de lhe estarem a passar pela cabeça pensamentos assim num momento como aquele provavelmente era um sinal de que Laurel tinha razão quanto ao facto de cancelarem o casamento.

Talvez os problemas pelos quais estava a atravessar a sua família fossem só uma desculpa, mas a verdade era que ele também começava a pensar que era possível que simplesmente não fossem feitos um para o outro.

A relação deles não tinha sido incrivelmente romântica, muito menos uma paixão repentina. Ele tinha chegado àquele ponto em que um homem considera que tem de assentar a cabeça, e tinha-lhe parecido que Laurel poderia ser uma boa esposa. Tinham crescido juntos, tinham sido amigos durante anos, e quando a tinha pedido em casamento, ela tinha dito que sim com a cabeça e tinha-o beijado na cara. E sendo sincero consigo mesmo, a sua maneira de lhe pedir para se casar com ele também não fora especialmente romântica; mais parecera uma proposta de negócios.

A partir daí, os acontecimentos tinham-se sucedido de um modo sistémico e bem planeado, tal como a vida de ambos, cujo dia a dia estava invariavelmente planeado.

Naquele momento, Eli deu conta de que durante todos aqueles meses que tinham estado comprometidos nem sequer tinham feito amor, e o facto de nem sequer lhe ter parecido estranho deveria ter feito soar na sua cabeça os sinais de alarme.

Levantou-se para se chegar a Laurel, segurou-a pelos braços com suavidade e examinou os seus olhos preocupados antes de se inclinar para reconfortá-la com um beijo na cara.

– Entendo –abraçou-a com ternura e inclinou-se para trás para dar-lhe ânimo com um sorriso. – Não te preocupes com nada. Eu próprio falo com a Kara para que cancele tudo. Trata só da tua família e de ti.

Viu como a tensão de Laurel se dissipava.

– Obrigada – murmurou ela apoiando a cabeça no seu ombro. – Não sabes como te agradeço.

– Quero que sejas feliz, Laurel. A última coisa que quereria seria que te casasses comigo, porque vias isso como uma obrigação e que fosses infeliz.

Ela levantou a cabeça e sorriu, com os olhos cheios de lágrimas, mas daquela vez de alívio.

– És um bom homem, Eli, e um dia serás um marido maravilhoso para uma esposa muito sortuda. Só lamento não ser eu essa mulher.

Pôs-se em pontas dos pés e apertou suavemente a sua mão contra a face dele antes de pegar na carteira e sair do gabinete, deixando-o de novo sozinho e livre.