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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2015 Caitlin Crews

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Laços de Sangue, n.º 1740 - fevereiro 2018

Título original: Protecting the Desert Heir

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-979-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Da última vez em que fugira para salvar a vida, Sterling McRae era uma adolescente rebelde com mais coragem do que bom senso. Hoje, tratava-se mais de uma negociação do que uma fuga em si, graças ao bebé que carregava e que precisava de proteger a todo o custo, agora que Omar estava morto, mas o princípio continuava a ser o mesmo.

Sai. Foge. Vai para qualquer sítio onde nunca consigam encontrar-te.

Pelo menos agora, doze anos mais velha e séculos mais sábia do que a rapariga de 15 anos que fugira do lar adotivo em Cedar Rapids, Iowa, não dependia da rodoviária local para fugir. Desta vez, tinha cartões de crédito sem limites e um SUV à sua disposição, com motorista para levá-la onde quisesse ir.

Teria de dispensar tudo isso assim que saísse de Manhattan, mas pelo menos começaria a sua segunda reinvenção com um pouco mais de estilo.

Obrigada, Omar, pensou Sterling. Os saltos que fazia questão de usar, apesar da gravidez avançada, ecoavam no chão da cobertura que ela e Omar tinham partilhado desde que se tinham conhecido, quando ele estava fazer a sua pós-graduação. Uma vaga de tristeza ameaçou derrubá-la, mas ela lutou, determinada, e cerrou os dentes.

Não tinha tempo para tristezas. De manhã, vira as notícias na televisão: Rihad al Bakri, o temido irmão mais velho de Omar e agora ditador do minúsculo país no Golfo Pérsico de onde Omar fugira aos 18 anos, acabara de chegar a Nova Iorque.

Sterling não tinha dúvidas de que ele viria procurá-la.

Ela sabia que havia a hipótese de já estar a ser vigiada, de o xeique ter enviado com antecedência uma equipa para localizá-la, mesmo tendo ele próprio chegado há menos de meia hora. Este pensamento fez com que abrandasse os seus passos, para que parecesse calma, apesar do coração acelerado. Sorriu ao atravessar o pátio, como se fosse um dia qualquer. Não honraria Omar se se deixasse cair – ou pior ainda, o seu bebé – nas garras das pessoas contra quem ele lutara tanto. E ela sabia como os predadores reagiam ao verem as suas presas a agirem como presas.

Quanto mais medo mostrasse, com mais força eles atacavam. Sterling sabia disso muito bem.

Por isso, limitou-se a caminhar como a modelo que fora antes de, há muitos anos, assumir a sua posição ao lado de Omar, o seu papel de amante sensual e famosa do playboy internacional, como Omar era visto pelo mundo. Saiu para a manhã de Nova Iorque e não olhou em volta para a cidade que tanto amava. Não tinha tempo para despedidas. Não, se quisesse manter a salvo o bebé dela e de Omar.

Podia ter perdido Omar, mas com a ajuda de Deus, não perderia o seu bebé.

A manhã de verão estava soalheira e quente, dando-lhe uma desculpa para esconder a sua tristeza e ansiedade, e as lágrimas que se recusava a deixar correr, atrás dos óculos de sol. Levou algum tempo mais do que deveria a perceber que, embora o SUV preto estacionado junto ao passeio fosse o de Omar, não era o seu motorista que estava parado ao lado.

Este homem estava encostado ao carro como se estivesse num trono e ele fosse o seu rei por direito próprio. Estava concentrado no telemóvel e algo no modo como ele tocava no ecrã lhe disse que era insolente. Ou talvez tivesse sido o modo como ele se moveu, levantou os olhos, escuros e desaprovadores, e encarou-a como se a esmurrasse.

Sterling teve de parar para não cair. E isso não teve nada a ver com tristeza.

Porque aquele olhar parecia um toque íntimo e de luxúria. E apesar da imagem de mulher dada aos prazeres da carne que Sterling trabalhara arduamente para construir, ela não gostava de ser tocada. Nunca.

Nem mesmo assim. Quando sabia que não era real.

Parecia real.

Este motorista era muito… Muito alto, muito sólido. Muito real. Vestia um fato escuro, o que fazia o seu corpo esbelto e perigoso parecer letal. O cabelo escuro era espesso mas curto, como para evitar os caracóis naturais, e tinha a pele morena e os lábios mais sensuais que Sterling já vira num homem.

Ele era incrivelmente bonito.

Mas era também a última pessoa que ela deveria querer que a guiasse para a sua liberdade, ou a primeira, mas Sterling não tinha tempo para decidir isso. Não tinha tempo para nada. Sentiu o seu telemóvel vibrar no bolso e sabia o que isso significava.

Rihad al Bakri. O rei em pessoa, desde que o pai dele e de Omar morrera, há alguns anos. Ele estava finalmente aqui, em Manhattan, como ela receara. Os seus amigos e os amigos de Omar estavam a enviar-lhe mensagens para avisá-la e para terem a certeza de que ela estava consciente da ameaça iminente. Porque, independentemente do que viesse a acontecer, do que lhe acontecesse a ela agora, sem o homem que era tudo para ela, o irmão de Omar não podia saber nada sobre o bebé.

Foi por isso que ela suportou tantas dores para esconder a gravidez nos últimos meses. Até hoje, quando já não importava, porque estava a fugir definitivamente desta vida. Ela faria o que tinha feito da última vez. Uma cidade distante. O cabelo pintado de outra cor e/ou com um corte radicalmente diferente. Um novo nome e um novo guarda-roupa. Não era difícil escolher uma vida nova, ela sabia-o. O mais difícil era manter-se nela depois de escolhida, porque os fantasmas eram poderosos e sedutores, principalmente quando se está sozinho.

Mas já o fizera uma vez e, agora, tinha até mais razões para fazê-lo.

Isso significava que não tinha tempo para olhar para o maldito motorista, ou perguntar-se o que dizia dela o facto de o primeiro homem em que reparava em anos parecer ter-lhe uma aversão imediata, a julgar pela sua expressão. Parecia-lhe que isso não queria dizer nada de bom. Mas talvez fosse apenas a sua tristeza a falar mais alto.

– Onde está o Muhammed? – perguntou ela, forçando-se a continuar a andar.

O novo motorista limitou-se a fitá-la e, ao aproximar-se, ela deu por si a sentir-se como que arrebatada pela linha majestosa do seu nariz e pelos olhos que brilhavam como ouro escuro sob o sol. Só não conseguia compreender o seu ar ofendido. O seu telemóvel continuava a vibrar, a sua respiração estava ofegante e estava quase a começar a chorar ali mesmo, no meio da rua. Por isso, ignorou a beleza daquele homem estranhamente calado e observador e abriu a porta do SUV.

– Na verdade, nem quero saber onde ele está – disse ela, respondendo-se a si própria, enquanto sentia o pânico a bater dentro dela como um tambor. – Vamos. Estou cheia de pressa.

Ele continuou encostado à porta, com uma expressão atenciosa e, ao mesmo tempo, de surpresa. Só quando ela atirou a sua enorme mala para dentro do carro é que ele olhou para ela. Ela nunca agira como uma diva, por mais dinheiro que Omar lhe desse para gastar. Mas hoje era um dia terrível, depois de uma semana ainda pior, desde que recebera, a meio da noite, aquela chamada da polícia francesa a avisar-lhe que Omar morrera num terrível acidente de carro, perto de Paris. E não lhe restava nenhuma das cortesias sociais a que se dedicara tanto a aprender. Nem mesmo uma palavra educada.

Não para um homem como este, que a fitava como se fosse ele a decidir para onde e quando partiriam, e não ela. Então, percebeu que um motorista rude era um alvo muito melhor do que ela ou do que o temido irmão de Omar que, como ela sabia muito bem, poderia aparecer a qualquer momento e destruir tudo.

Pelo que se lembrava das histórias que Omar contava, era mais ou menos isso que o xeique fazia.

– Como conseguiste este emprego? – perguntou ela, dirigindo o seu medo e raiva para o homem. – Não pareces ser bom nisto. Não sabes que deves abrir a porta aos passageiros?

– Claro – respondeu ele, surpreendendo-a tanto com a sua voz profunda que ela sentiu a garganta seca e pôs a mão de um modo protetor sobre a sua grande barriga. – Desculpa, erro meu. O meu único objetivo na vida é servir americanas como tu. O meu objetivo e o meu sonho.

Sterling pestanejou. Se ele tivesse dito aquilo de outro modo, ela teria ignorado. Mas a forma como ele a fixava! Como se ele fosse poderoso, faminto, feroz e mal conseguisse esconder tudo isso sob uma aparência civilizada. Aquilo atingiu-a.

E fez com que ela se lembrasse, pela primeira vez em muito tempo, que era uma mulher. Não apenas a mãe do filho do seu melhor amigo, mas uma fêmea, dos pés à cabeça.

E em muitos pontos entre esses dois extremos.

O bebé escolheu aquele momento para dar-lhe um pontapé com força e Sterling decidiu que era por isso que não conseguia respirar. Era por isso que o seu corpo estava tenso e dolorido.

– Então, deves estar muito desiludido com a tua vida – disse ela quando voltou a conseguir respirar, ou pelo a menos a fingir que conseguia.

– Perdão – respondeu de imediato o motorista com uma voz suave, mas com aquele tom forte que fez Sterling sentir-se aturdida. – Distraí-me.

Então, ele endireitou-se, o que não melhorou nada a situação. Ele era alto e grande, ocupava o mundo inteiro, e ela não se surpreenderia se ele a levantasse, com barriga e tudo, com apenas uma mão…

Mas ele não fez isso. Claro que não.

Na sua mente começaram a surgir imagens impossíveis, cada uma mais inapropriada, e mais nua, que a anterior. O que estava a acontecer-lhe? Sterling não tinha pensamentos assim, tão cheios de desejo e paixão. Tão… nus. Ela não gostava de ser tocada de maneira nenhuma, muito menos gostava… daquilo.

– Bom – disse ela após um momento tenso e elétrico. Sentia-se fraca e não conseguia afastar o olhar dele, porque sabia que ele era a causa disso. – Tenta não voltar a fazê-lo.

Os olhos de ouro escuro ficaram ainda mais intensos e aquela boca perturbadora tomou uma forma que só podia ser descrita como troça. Deu uma ordem a si mesma para não estremecer, mas não resultou.

– Temos mesmo de ir embora – disse, num tom mais suave, calmo, como aprendera a fazer com todos os homens, ou melhor, com todas as pessoas, ao longo dos anos. Isso tornara-se a sua arte, embora a sua vida com Omar a tivesse levado a pensar que não iria precisar de continuar a viver assim. Não existem finais felizes, lembrou-se ela. Não para ti. – Tenho uma longa viagem pela frente e já estou muito atrasada.

– Claro – disse ele de forma convidativa, como um lobo teria feito, com um sorriso na sua boca sensual. – Entra. Eu detestaria causar-te qualquer incómodo.

Então, ele estendeu uma mão para ajudá-la a entrar.

E foi como fogo-de-artifício.

Foi pura loucura.

A sensação atravessou o seu corpo, começando pelo ponto do toque, envolvendo-a. Mudando-a. Fazendo a cidade desaparecer. Fazendo toda a história sair da sua cabeça como se nunca tivesse ocorrido. Deixando-lhe o corpo tão tenso quanto relaxado. Fazendo-a querer, desejar…

A sua vontade era retirar a mão, como fazia sempre quando alguém lhe tocava sem permissão, mas não o fez. Porque, pela primeira vez em muito tempo, Sterling queria que ele continuasse a tocar-lhe mais do que queria que ele parasse.

Aquela verdade invadiu o seu corpo como uma descarga de adrenalina.

– Não posso ser-te útil se não entrares no carro – disse o motorista após um momento, o olhar fixo no dela de um modo que a deixou sem ar. E a voz dele atiçava o fogo dentro dela, como se o toque das suas mãos fosse um ato sexual. – E isso seria uma tragédia, não?

Sterling mal conseguia respirar. E estava aterrorizada porque aquele sentimento não era pânico. Ela conhecia o pânico. O que ela sentia agora era mais profundo.

Era uma daquelas sensações que podem mudar-nos a vida, pensou espantada.

Mas, agora, só podia permitir-se pensar no seu bebé. Por isso, apagou todas as sensações confusas e tentou entrar no carro, afastando-se dele antes que perdesse a força nas pernas.

Ou antes que fizesse algo de que fosse arrepender-se depois, como aproximar-se dele em vez de afastar-se.

 

 

Havia algumas coisas que Rihad al Bakri, xeique e Rei do Império Bakrian, não percebia.

Primeiro, como podia o seu falecido irmão não ter-lhe contado que engravidara a amante, e já há algum tempo, a julgar pela barriga dela? E como conseguira essa americana enganar os seus agentes e estar agora a sair da cidade como se ainda desfilasse nas passarelas, como quando era adolescente? Por último, ele era suficientemente arrogante para também se perguntar como podia ela tê-lo confundido com um simples motorista.

Já para não falar na sua tristeza infinita pela morte do irmão. Por Omar ter desaparecido de repente, uma noite, depois de ter desperdiçado tantos anos com aquela mulher inapropriada.

Rihad não se conformava e tinha a certeza de que nunca se conformaria.

Ainda assim, tudo isso se desvaneceu quando Rihad segurou a mão dela para ajudá-la, como qualquer empregado faria.

A barulhenta cidade de betão à sua volta pareceu perder o ritmo e parar, ficando tão imóvel quanto a agonia que ecoava dentro dele.

A mão dela era, ao mesmo tempo, delicada e forte, e Rihad não gostava disso. Nem da forma como ela cerrava os lábios, como se quisesse disfarçar o seu tremor, porque desejava testar a sua teoria.

Claro que não.

O cabelo louro acobreado dela devia parecer-lhe uma confusão, entre madeixas douradas e cobre, mas, em vez disso, dava-lhe um ar de frescura. Ela vestia uma túnica sobre umas calças de ganga justas e saltos absurdamente altos, como se não estivesse grávida e apenas tivesse enfiado uma bola gigante por baixo da roupa. Pior ainda, ela era graciosa, movendo-se facilmente do passeio para o veículo, fazendo-o imaginar como seriam os seus movimentos quando não estava grávida.

Melhor ainda, por baixo dele.

Rihad não queria imaginar nada sobre aquela mulher, muito menos aquilo. Queria apenas tirar a mancha que ela deixara na vida do seu irmão, apagar a sua marca na família real Bakrian de uma vez por todas. Por isso, ele viera aqui pessoalmente, diretamente do enterro de Omar, quando poderia facilmente ter enviado os seus agentes para expulsá-la da sua propriedade.

Bastava de escândalos. Bastava de egoísmo, de comportamentos escusos. Rihad passara a vida a resolver as parvoíces que o pai fazia, que Omar fazia, e até que a sua meia-irmã Amaya fazia. Sterling McRae era o símbolo da devassidão da sua família e Rihad queria apagá-la a ela e a todos os vestígios das decisões erradas do seu irmão.

Portanto, ela estava grávida.

Incontestavelmente grávida.

Claro.