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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2009 Margaret Mayo

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Uma ilha para o amor, n.º 1238 - março 2018

Título original: The Santorini Marriage Bargain

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-016-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Rhianne ouviu o ruído de travões antes de ver o carro. Contudo, então, já era demasiado tarde. Absorta no seu sofrimento, não se lembrara de olhar antes de atravessar a rua. A parte dianteira do veículo chocou contra ela e atirou-a para o outro lado da calçada. Ficou deitada sobre o asfalto em completo silêncio. Sentiu-se como se tudo tivesse parado. Não ouviu o ruído do trânsito, nem nenhuma voz, nem pássaros a cantar. Nada. Só imperou uma estranha calma.

Porém, então, ouviu uma voz. Uma voz profunda de homem.

– Porque não olhou para onde ia?

Ela própria perguntou-se porque não teria olhado ao atravessar. Obrigou-se a virar a cabeça e a olhar para o possuidor daquela voz profunda. Obviamente, era o homem que a atropelara. Atrás dele estava o seu carro com a porta do condutor aberta e o motor ligado.

– Porque não olhei? – perguntou Rhianne com a mesma dureza que aquele homem usara. – Porque é que o senhor não olhou? Isto é uma rua muito transitada e devia ter estado muito atento.

– Está ferida?

O facto de ele ter demorado tanto a perguntar-lhe aquilo zangou ainda mais Rhianne. Fechou os olhos, já que precisou de parar de olhar para aquela bonita cara de homem, cara que se aproximou demasiado dela. O homem baixara-se e estava a olhar para ela.

– Consegue ouvir-me?

Aquele estranho pensava que ela desmaiara! Rhianne abriu os olhos e levantou-se. Sentiu-se fraca, mas pensava que não partira nada. As suas pernas ainda a mantinham de pé e conseguia mexer os braços. Sentiu a anca um pouco dorida e supôs que, no dia seguinte, estaria arroxeada, contudo, além disso, estava bem.

Quando olhou à sua volta, apercebeu-se de que uma multidão se congregara no lugar. As pessoas tinham curiosidade e preocupação reflectidas nas suas caras. Contudo, a única cara que ela viu com clareza foi a do homem que lhe estendera a mão para a ajudar a levantar-se… mão que ignorara.

– A culpa foi minha. Desculpo-me – disse ele, olhando para ela intensamente com uns lindos olhos castanhos.

Sob qualquer outra circunstância, ter-lhe-iam parecido uns olhos muito atraentes. Porém, naquele momento, só viu os olhos de um homem que interpretara um papel decisivo no facto de ela ter feito uma figura ridícula em público. Ainda que, na verdade, a culpa não fosse só dele… Contudo, nunca o admitiria.

Ouviu o murmúrio das vozes das pessoas à medida que a multidão dispersava.

Desejou que não tivesse acontecido nada, que nada tivesse mudado… que ela continuasse a estar no emprego que adorava e que não tivesse feito aquela descoberta horrível sobre Angus.

– Desculpas aceites – respondeu, apercebendo-se de que o homem ainda estava a olhar para ela de perto.

– Foi, certamente, um erro da minha parte – insistiu ele. – Desculpo-me sinceramente. Se puder fazer alguma coisa para…

Pela primeira vez desde o incidente, Rhianne apercebeu-se de que aquele homem não era inglês. Tinha a pele azeitonada e o cabelo escuro e ondulado, assim como um sotaque profundo e atraente.

– Não se preocupe – replicou. – Não estou ferida. Pode ir-se embora. Eu… – repentinamente, a cabeça começou a dar-lhe voltas e levou uma mão à testa.

Imediatamente, uns braços fortes seguraram-na e apoiaram-na num corpo musculado. Mesmo estando atordoada, conseguiu perceber que aquele homem se cuidava muito. Respirou fundo, mas, ao sentir como a fragrância dele invadia os seus sentidos, desejou não o ter feito. Soube que sempre que cheirasse aquele cheiro recordaria aquele momento.

– Está ferida – insistiu o homem que a atropelara. – Deixe-me levá-la a casa, é o mínimo que posso fazer. Ou precisa de um médico? Levo-a a…?

– Não, não é nada! – interrompeu ela.

– Então, levá-la-ei a casa.

– Não! – exclamou Rhianne, com mais determinação. Não tinha nenhum lar… acabara de sair do único que tivera até àquele momento. Não conseguiria suportar regressar.

– Nesse caso, levá-la-ei para minha casa – declarou ele, de maneira imperativa. – Não posso deixá-la sozinha nestas condições.

– Em que condições? – perguntou ela, chegando-se para atrás. Os seus olhos azuis ficaram esbugalhados. – Estou bem. Só tenho algumas nódoas negras, é só isso.

– O que precisa é de uma boa chávena de chá, não é essa a maneira inglesa de fazer as coisas? A culpa é minha por a ter atropelado e tenho de me certificar de que não sofre nenhum efeito secundário sério.

Rhianne já não conseguiu continuar a protestar. Com o braço apoiado no dele, deixou-se guiar por aquele estranho até ao seu veículo. Ao ajudá-la a entrar no carro, apercebeu-se de outro cheiro, a couro, um couro luxuoso e suave. Era um veículo grande. E caro.

Perguntou-se quem seria aquele homem. Apercebeu-se de que estava preocupado. Tinha um fato cinzento-escuro elegante, uma camisa branca e uma gravata cor de mostarda.

– Posso fazê-lo sozinha – declarou, quando ele se aproximou para a ajudar a pôr o cinto de segurança.

Contudo, aquele homem ignorou as suas queixas e pôs-lhe o cinto. Ao tê-lo tão perto, ela sentiu-se chocada com tanta beleza masculina. Era um estranho perigosamente atraente.

Novamente, a fragrância dele encheu o ar. Era uma leve fragrância a almíscar. Rhianne apercebeu-se de que ele estava a ter um grande impacto nela e desejou não estar a cometer um grande erro ao permitir que a levasse a sua casa.

Na verdade, não sabia nada a respeito dele. Nem sequer sabia o seu nome. Pensou que obviamente aquele homem se sentia culpado pelo acidente, já que, se não, ela não estaria ali sentada. O esforço de pensar foi demasiado e teve de fechar os olhos. Só os abriu outra vez quando o veículo parou.

Olhou à sua volta e viu um edifício impressionante. Mas não era uma casa, era um hotel. Inquieta, perguntou-se para o que o usaria e se tinha por hábito levar mulheres indefesas para lá.

– Vive num hotel? – perguntou-lhe, alheia ao nervosismo que a sua voz reflectiu. Sentiu que o seu coração acelerava e deu por si estranhamente maldisposta.

– Vivo nas águas-furtadas, que é uma suíte. Venha… – respondeu, estendendo-lhe a mão, – permita-me que a ajude a subir. Garanto-lhe que estará perfeitamente segura. O meu principal objectivo é certificar-me de que não sofreu nenhum mal. Sou completamente responsável pela situação.

– A culpa não foi sua – declarou Rhianne. – Eu não vi por onde ia.

Aquele estranho arqueou uma sobrancelha em jeito de aviso da declaração enfática que ela realizara quando afirmara que a culpa fora toda dele.

– Eu devia tê-la visto e ter conseguido esquivá-la. Mas não falemos disso agora. Vamos para a minha suíte para que beba uma chávena de chá. Depois, poderá contar-me o que a perturbava tanto… a ponto de nem sequer me ver aproximar.

Rhianne quase respondeu que não havia nada que a perturbasse. Mas mudou de ideias. Certamente, aquele homem estava a pô-la à prova, estava a tentar descobrir que problema havia. No entanto, ela não tinha nenhuma intenção de partilhar as suas intimidades com um estranho.

Enquanto se aproximavam do hotel a pé, sentiu como ele a segurava pelo cotovelo e não conseguiu evitar perguntar-se novamente se estava a fazer o correcto. Não queria beber chá nem que tivesse pena dela. Na verdade, não devia estar ali. Invadida pelo pânico, afastou-se dele e teria saído a correr se aquele homem não a tivesse agarrado pelo braço.

– Não está em condições de ir sozinha a lado nenhum – insistiu ele, com firmeza. – Se tem medo de mim, posso pedir que um membro feminino do pessoal do hotel suba para cuidar de si. Embora lhe garanta que não será necessário – acrescentou, olhando para ela fixamente.

Tudo o que Rhianne conseguiu ver nos olhos dele foi sinceridade. Sentiu-se um pouco parva e respirou fundo.

– Não será necessário – indicou, sem saber que outra coisa dizer para não parecer ainda mais idiota.

Aquele era o pior dia da sua vida e o facto de um completo estranho ser amável com ela quando a tinham traído de uma maneira tão horrível fê-la sentir-se agradecida e com vontade de chorar ao mesmo tempo. E aquilo não era uma coisa que costumasse fazer. Era muito raro chorar, já que crescera num ambiente familiar no qual fora necessário ser forte e sempre se sentira orgulhosa do facto de conseguir lidar com qualquer situação.

Contudo, naquele momento, aquele homem estava a vê-la no seu momento mais difícil… coisa que não era boa para o seu orgulho. Enquanto subiam no elevador até às águas-furtadas do hotel, sentiu-se desassossegada. Tinha o seu cabelo castanho despenteado e o medo reflectido nos olhos.

– Esta é a sua residência permanente? – perguntou, para quebrar o silêncio. Não compreendeu porque alguém escolheria viver num hotel. – Ou está aqui por assuntos de negócios?

– Ambas as coisas. São os negócios que me mantêm aqui e esta suíte é muito conveniente. Tem tudo o que preciso.

Aquele homem tinha aspecto de ter muito dinheiro. Via-se na maneira como estava vestido, na sua forma de se comportar e na confiança que irradiava. Mas havia mais do que aquilo. Mesmo no seu estado de angústia, Rhianne apercebeu-se de que era um encanto. Supôs que deslumbrava todas as mulheres que conhecia. Era bonito, doce, tinha um corpo perfeito e um brilho nos seus olhos castanhos que, se ela não estivesse tão consternada, talvez lhe tivesse afectado os sentidos.

Porém, naquele momento, era imune a qualquer homem, por muito bonito e rico que fosse. Não queria ter nenhuma relação sentimental durante muito tempo.

Perguntou-se o que estava a fazer ali e porque permitira que ele a convencesse a ir à sua suíte. Na verdade, aquele homem não podia fazer nada por ela. Não estava ferida e não houvera motivo para ele insistir tanto em certificar-se de que estava bem. Estava a acompanhar um completo estranho à sua suíte de hotel. Era uma estúpida!

Como se lhe tivesse lido os pensamentos, o seu acompanhante estendeu-lhe a mão.

– Acho que já é hora de nos apresentarmos. Sou Zarek Diakos. E a menina é…?

Rhianne sorriu levemente. Zarek Diakos! Aquele nome parecia grego e não conseguiu evitar perguntar-se que tipo de negócios o trouxera a Inglaterra.

– Eu sou Rhianne Pickering – apressou-se a dizer.

O elevador parou e as portas abriram-se silenciosamente.

– Bom, Rhianne Pickering, bem-vinda à minha humilde moradia.

Nervosa, ela saiu do elevador e andou sobre um bonito tapete. Zarek guiou-a para uma sala do mesmo tamanho que o apartamento que ela partilhara com a sua amiga. Nem sequer se apercebeu de que ficara boquiaberta. As paredes estavam cobertas de quadros venezianos e candeeiros de cristal. Um luxo extremo.

– Aluga esta suíte? – perguntou, alheia ao facto de o seu tom ser foi pouco mais do que um sussurro.

– Talvez pareça um pouco ostentosa, não é assim? Na minha experiência, vale o que pago. Posso fazê-lo por isso… Porque não havia de me rodear de coisas bonitas? Trabalho arduamente durante o dia e é um prazer regressar a casa.

Rhianne pensou que não conseguiria viver num lugar como aquele, nem sequer durante umas férias. Perguntou-se como é que alguém conseguia sentir-se confortável naquelas poltronas excessivamente decoradas.

– Por favor, sente-se – convidou ele. – Vou pedir o chá.

Ela sentou-se na beira de uma cadeira e observou como Zarek regressou ao seu lado depois de acabar de fazer o seu pedido.

– Conte-me como se sente verdadeiramente – pediu ele, ao sentar-se numa cadeira junto dela.

– Dorida – respondeu Rhianne, suspirando. – Mas, à excepção disso, estou bem. Realmente não tenho de estar aqui.

– Agradeça o facto de eu não estar a conduzir mais depressa, já que, nesse caso, talvez não tivesse a sorte de estar só magoada. Importava-se de me contar o que fez com que tentasse atravessar a rua sem olhar?

– Estava muito pensativa, é só isso.

– Ah… – disse Zarek, arqueando as sobrancelhas como se não acreditasse.

– Tenho uma dor de cabeça terrível. Tem alguma aspirina?

Ele levantou-se imediatamente e Rhianne conseguiu o que queria, que não continuasse a fazer perguntas. Mas aquela pausa não durou muito. Zarek regressou com um copo de água e comprimidos. Entregou-lhos e ficou de pé junto dela até ela os tomar.

– Gostaria de se deitar? – perguntou-lhe.

– Não, ficarei bem – respondeu Rhianne com firmeza, pensando que deitar-se numa cama na suíte daquele homem não lhe parecia muito boa ideia.

– Podia chamar um médico.

– Disse que ficarei bem – disse ela. – Mas gostaria de ir à casa de banho.

– Certamente, como não tinha pensado nisso? – perguntou ele, aproximando-se de uma porta do outro lado da sala.

Rhianne levantou-se e olhou lá para dentro, mas só conseguiu ver uma cama. Uma cama com quatro colunas! O seu coração acelerou. Pensou que estava a pisar em território perigoso.

– A casa de banho é à direita – explicou Zarek, como se lhe tivesse lido os pensamentos. A sua cara não reflectiu nada senão uma sincera preocupação pelo bem-estar dela. Porém, Zarek Diakos era um homem perigoso. Era extremamente sexy e Rhianne não teria sido humano se não tivesse sentido uma certa reacção. Tinha uns olhos castanhos realmente atraentes e possuidores de umas longas pestanas. O seu nariz era muito recto, de aspecto imperial, e tinha uns lábios carnudos. Naquele momento, estavam fechados, mas sabia que escondiam uns dentes brancos perfeitos.

Era muito masculino. Até o seu corpo era bonito. Tirara o casaco e pendurara-o com muito cuidado num bengaleiro que havia na entrada da suíte. Através do algodão delicado da sua camisa, ela conseguiu ver os pêlos escuros que cobriam o seu peito.

Angus não tinha pêlos no peito. O seu corpo era suave, sem pêlos e… Zangada, Rhianne apressou-se a afastar qualquer pensamento dele da sua mente. Aquele homem já não merecia um lugar nas suas lembranças. Então, apressou-se a dirigir-se para a casa de banho.

Zarek supôs que se preocupava com mais coisas do que com as nódoas negras que sofrera. Cada vez que pensava nas consequências que o acidente podia ter tido ficava doente. Ainda bem que reagira depressa. Rhianne começara a atravessar a rua à frente dele como se desejasse morrer. Ainda nem sequer compreendia como não a ferira gravemente.

Teve a impressão de que ela ainda não se apercebera de como estivera perto da morte. Era uma mulher atraente com um bonito cabelo castanho que caía ondulado sobre os seus ombros e uns lindos olhos azuis. Pensou que era uma pena que reflectissem tanta tristeza, tristeza que ele não achava que fosse causada pelo acidente. Havia alguma coisa que a perturbava.

Talvez Rhianne começasse a relaxar e a confiar os seus problemas. Pensou que lhe faria bem. Ele nunca se encontrara numa situação como aquela, contudo, sentiu que ela precisava de desabafar. Dissera que não queria ir a sua casa, por isso obviamente era uma coisa que acontecera lá que a preocupava.

Quando serviram o chá, Rhianne saiu da casa de banho e voltou a sentar-se na sala. Depois de beber duas chávenas, pareceu um pouco mais animada. Deixou de estar tão pálida e até conseguiu esboçar um leve sorriso. Foi um sorriso encantador que fez com que a sua cara se iluminasse e com que parecesse ainda mais bela.

Zarek estivera com muitas mulheres, mas Rhianne era… bom, era Rhianne. Uma mulher atraente sem nenhum tipo de interesse nele e com muitos problemas sobre os seus ombros.

Beberam ainda mais chá e, finalmente, ele sugeriu levá-la a casa.

Contudo, naquele momento, a tristeza voltou a apoderar-se dos olhos dela.

– Não posso regressar – comentou, com o olhar cheio de lágrimas.

Imediatamente, sem sequer pensar no que estava a fazer nem que as suas acções podiam ser mal interpretadas, Zarek ajoelhou-se em frente dela e abraçou-a. Rhianne apoiou a cabeça no seu ombro e permaneceu daquela maneira durante vários segundos. Ele inalou a fragrância do seu champô e, ao acariciar-lhe a cabeça, apercebeu-se do cabelo abundante que tinha.

Mas não gostou daquilo. Nem sequer um bocadinho. Não gostou das sensações que tinham começado a apoderar-se do seu corpo. Estava a comportar-se como um bom samaritano e disse para si mesmo que o que estava a sentir não era permitido.

Com delicadeza, afastou-a do seu lado.

– Sentes-te melhor?

Rhianne assentiu e ele deu-lhe um lenço para que pudesse secar as lágrimas.

– Importavas-te de me contar o que se passa?

– É íntimo.

– E eu sou um estranho que possivelmente nunca mais voltarás a ver. Sabes o que dizem a respeito de partilhar os problemas. Nunca se sabe, talvez te sintas melhor. Prometo que não contarei a ninguém.

Ela esboçou um sorriso involuntário. Aquele homem parecia compreender as suas necessidades. Era verdade, o mais provável era que depois daquele dia não voltasse a vê-lo. Eram simplesmente estranhos… apesar do facto de ele a ter convidado para sua casa e de ela ter chorado no seu ombro.

Mas pensou que não podia contar-lhe uma coisa tão pessoal… embora repentinamente desejasse fazê-lo.

Sentia-se muito infeliz e partilhar as suas mágoas com um estranho não seria tão difícil como contar à sua mãe ou a uma amiga. Elas fariam perguntas. Conheciam Angus. Mas aquele homem simplesmente a ouviria e consolaria.

– Não sei por onde começar – disse, finalmente.

– Pelo princípio é sempre melhor – respondeu Zarek.

Rhianne manteve o silêncio durante tanto tempo que ele se aproximou para segurar nas suas mãos.

– Foi um homem que te deixou neste estado? – perguntou, em voz baixa.

Ela assentiu e as lágrimas começaram a cair repentinamente pelas suas faces.

Ele odiava ver uma mulher chorar já que o fazia sentir-se incomodado. Nunca soubera como as tratar quando estavam nesse estado. Ainda que, na verdade, as mulheres que tinham chorado à frente dele anteriormente o tivessem feito para conseguirem alguma coisa. Mas Rhianne era diferente, não conseguira conter-se. Algum homem a magoara profundamente e ela estava realmente angustiada. Não estranhou que não se incomodasse em olhar ao atravessar a rua.

Em silêncio, observou como ela limpava as lágrimas com o lenço que lhe dera. Sentiu uma necessidade intensa de a abraçar até ela parar de chorar. Mas conteve-se.

– Esta manhã perdi o meu trabalho – começou a explicar Rhianne, olhando para o chão em vez de olhar para ele. – A empresa para que trabalhava foi absorvida e despediram metade da equipa. Eu trabalhava como secretária do director, mas não fez diferença. Ordenaram-me que limpasse a minha secretária e que me fosse embora. Simples.

– Estou a ver – comentou ele, em voz baixa. – Não é uma prática que eu aprove, mas infelizmente acontece. O que é que o teu noivo tem a ver com tudo isso?

Rhianne tremeu. Mais uma vez, Zarek desejou consolá-la, mas conteve-se.

– Fui para casa. Estava zangada e triste. Tinha perdido um emprego que eu adorava. E o que encontrei? O meu noivo, o homem com que ia casar-me, a fazer amor com a minha melhor amiga – confessou ela, recomeçando a chorar.